quinta-feira, 25 de junho de 2020

O Fogo


Há evidências de que o fogo já fosse utilizado pelo Homem no Paleolítico Superior.

Contudo, parece que o seu uso habitual terá sido por volta de 350.000-320.000 anos atrás, no Pleistoceno Médio, de acordo com uma análise de detritos de sílex, encontados numa caverna em Israel. Com base no aumento da frequência de pedras queimadas, a equipa concluiu que o uso regular do fogo se desenvolveu, no mediterrâneo oriental, por essa altura.

Os primeiros contactos que o Homem teve com o fogo devem ter ocorrido com as árvores atingidas por raios ou com as lavas provenientes das actividades dos vulcões ao entrarem em erupção, causando as queimadas das florestas.

Destes encontros o Homem terá aprendido quais as propriedades inerentes ao fogo; calor e luz, e a capacidade de egar fogo a alguns elementos secos, a exemplo das madeiras.

E assim, gradualmente, o fogo foi levado ao interior das cavernas e, mais tarde, das habitações, onde o fogo se podia manter como fonte de calor e de luz.


TÓPICOS


As várias dimensões do Fogo nas diferentes mitologias

 

Zeus – o Senhor dos Fenómenos atmosféricos

 

Na mitologia grega antiga, Zeus atirava flechas do céu quando fica enfurecido, a mesma arma que manejara com destreza para derrotar os inimigos, os Titãs, que o permitiu tornar-se o deus dos deuses. Era ele, Zeus, que tinha poder sobre os fenómenos atmosféricos, lançando a chuva com a sua mão direita e usando a sua força de forma destruidora, mas também para que fosse benfazeja com as plantações. Por isso, Zeus é representado na própria estatuária grega com os seus atributos: o relâmpago ou raio na mão direita, sendo também seus atributos a águia, o touro e o carvalho, que simbolizam reciprocamente a rapidez, a força, a energia e o poder do comando.

 

As flechas de Zeus brilhando por entre as nuvens fazem um barulho ensurdecedor, como descreviam os Antigos, povoando as suas mentes de medo, mas também de fascínio por tão grande poder.
Do mesmo modo, os Gregos criam que os Cíclopes, os gigantes de um só olho (chamados Arges, Brontes e Estéropes,32), forjavam raios para Zeus, pai dos deuses do Olimpo, para lançá-los sobre os mortais.

Mas subjacente à mesma ideia, esse castigo infligido aos deuses ou Humanos que pretendem alcançar aquilo que à Divindade Suprema pertence é também o mito Grego do Gigante Prometeu de quem Zeus temia o poder e que, segundo o mito, criou, a partir de um bloco de argila misturada com água, o primeiro Homem.

É Prometeu que vai roubar do Carro do Sol uma faísca e vem oferecer aos Homens o Fogo divino.

Desta e outras afrontas feitas ao Pai dos Deuses, Zeus enfurecido oferece aos Humanos Pandora, criada pelo deus Hefesto, e que, segundo o mito, abre uma Caixa e espalha sobre a Terra todos os males.

A Prometeu restou-lhe ser acorrentado no cume do Monte do Cáucaso, onde o seu fígado era devorado por uma águia, até ter sido libertado por Héracles desse flagelo.

 

Festival de Vestália, em honra a Vesta, deusa do lar e senhora do fogo sagrado.

Entre os romanos, eram sacerdotisas, as vestais, que guardavam nos seus templos o fogo sagrado, e esse nunca deveria se apagar.

A Vestália era um festival em homenagem ao culto da deusa romana Vesta, deusa que personificava o fogo sagrado que, segundo a lenda, tinha sido trazido de Troia por Eneias e era perpetuamente preservado pelas sacerdotisas da deusa, as vestais, no seu santuário, em Roma. Ocorria entre os dias 7 e 15 de junho, quando o templo, era aberto para as mulheres de Roma.

A principal atividade das vestais era manter sempre aceso o fogo sagrado no Templo de Vesta. Deixar o fogo apagar-se equivalia a deixar o Império Romano sofrer a ira dos deuses.

Vesta estava diretamente ligada ao fogo sagrado que mantém acesa a luz de Roma e, por isso mesmo, a origem da deusa Vesta e, especialmente, das Virgens Vestais, está ligada à criação da cidade de Roma como um espaço sagrado.


Nos dias da Vestália as mulheres entravam no templo descalças e com os cabelos soltos para orar e pedir pelo bem de sua casa e sua família. Em épocas de seca, vinham a Júpiter pedir por chuva. Elas 4costumavam levar para o templo pratos com várias iguarias e as vestais ofereciam-lhe uma farinha de trigo branca que era moída, torrada e salgada, utilizada em todos os sacrifícios oficiais.
Devido a inviolabilidade do Templo de Vesta e das próprias sacerdotisas, as mesmas também guardavam os objetos sagrados, tratados solenes e testamentos de várias pessoas, entre elas como dos próprios imperadores romanos: Augusto, Tibério, entre outros; como cita Suetónio no seu livro “Vidas dos Doze Césares”.

O Templo de Vesta, cujo acesso sempre era proibido para homens, abria suas portas no dia 7 de junho para as matronas (as parteiras). Normalmente só quem tinha acesso ao templo eram as vestais e o pontífice máximo (pontifex maximus), mas este não podia entrar no Peno das Vestais (Penus Vestae), o recinto secreto da deusa.

A 9 de junho decorria a festa era mais popular: era a festa dos padeiros e moleiros, devido à sua relação com o fogo, já que eles o utilizavam nos fornos para fazer pão. Os burros que ajudavam no trabalho e as rodas dos moinhos eram enfeitados com grinaldas de violetas.

Eis o pescoço do jumento decorado
com guirlandas e rolos pendurados,
viam-se grinaldas robustas trançadas
nos moinhos de pedra.

(Ovídio, Os Fastos)

Segundo Ovídio (OVIDIO, Fastos) a ausência de uma estátua que representasse a deusa era suprimida pela figura do fogo perene e inextinguível de Roma, da lareira acesa que deveria queimar incessantemente.



Imagem: Áureo de Faustina I com representação de Vesta, Época Romana.
http://www.matriznet.dgpc.pt/…/Obje…/ObjectosConsultar.aspx…
Composição a partir de duas fotografias de Mathias Tissot.

 

«A Alma terra, por seu turno, rodeada que estava pelo mar,

entre as águas oceânicas e as fontes que, por toda a parte,
encolhidas, buscam refúgio nas escuras entranhas da mãe,
ergueu a custo, árida, até ao pescoço, o rosto sufocado;
e pondo a mão à frente da testa, com um enorme safanão
tudo fez estremecer. Instalando-se um pouco mais baixo
do que é costume, com voz alquebrada, assim falou:
«Se é isto que queres e mereci, que aguardam os teus raios,
ó deus supremo? Se vou perecer pela violência do fogo,
dá-me perecer pelo teu fogo para a desgraça ser mais leve,
sendo tu o autor (...)
Esta é a paga que me dás, esta a recompensa pela fertilidade
e os meus serviços, por eu suportar as feridas do arado
adunco e das enxadas, e por me afatigar o ano inteiro
por prover o gado de folhagens e a raça humana de cereais
(...)
Pois se consideração nem por teu irmão nem por mim te toca,
ao menos condói-te do teu próprio céu!
(...)
Se os mares, se as terras, se o palácio celeste perecerem,
voltamos à amálgama do Caos primordial. Salva das chamas
o que ainda restar, se ainda restar algo, e olha pelo universo».
Assim falara a Terra (já não conseguia mais aguentar
o calor, nem dizer nada mais). E enfiou de volta a cabeça
em si mesma e nos antros mais próximos dos defuntos.
Então, o pai omnipotente chama os deuses para testemunhar. (...)
Depois, sobe à cidadela lá no alto (...)
Troveja, e, balançando um raio junto à orelha direita,
dispara-o contra o cocheiro, cuspindo-o, a um tempo, da vida
e do carro. E assim, com o seu cruel fogo, extinguiu o fogo».

 

Hefesto

 

Filho de Zeus e de Hera

 

Deus do Fogo e da Metalurgia

Reina sobre os vulcões

 

Prometeu

 

Filho do titã Japeto e da ninfa Clímene

 

Tomou o partido de Zeus

Roubou o fogo da «Roda do Sol» ou da Roda de Hefesto e leva-o escondido para os mortais, no caule de um sabugueiro.

 

Ovídio refere que o carro de Apolo foi oferecido por Vulcano.

 

terça-feira, 16 de junho de 2020

E já agora, conhece o Convento da Conceição, hoje Museu Rainha D. Leonor, em Beja? (reed.)

Sabia que a sua construção se deve a D. Beatriz, conhecida como "Rainha Velha", ao que parece alcunha dada por Gil Vicente ? ... Neta, mãe e sogra de reis, nunca foi rainha. Mas, mesmo assim, foi mulher de grandes posses e poder, tendo mesmo estado à frente dos destinos do Mestrado da Ordem de Cristo e foi agente directa da Epopeia dos Descobrimentos, tendo colaborado activamente com D. João II. Para melhor conhecer esta personagem, leia a excelente obra de Fina d'Armada «O Segredo da Rainha Velha». Fotografia: Janela onde (reza a história) séculos mais tarde Mariana Alcoforado olhava a planície alentejana e onde se inspirava para escrever as suas «Cartas Portuguesas».