
No Feminino Negócios | Entrevistas | De Miróbriga aos “Itinerários”
Guardar imagens de sítios, de lugares, onde me parecia restar um equílibrio entre o território, os seus habitantes, a sua história, o seu Tempo.
À medida que algumas dessas imagens foram sendo editadas, visualizadas e a sua selecção efectuada, muitas questões se foram levantando.
Que faria agora com elas?
Porque se teria fixado neste lugar ou noutro lugar a minha "eleição"?
Onde residiria nas imagens retidas o "equílibrio" que causara ao meu olhar?
Porque julguei vislumbrar aqui uma harmonia e não noutro lugar qualquer?
Considerei então ser importante anexar a este trabalho de captação fotográfica um conjunto de perguntas, algumas das quais sem resposta, e de reflexões, de memórias, de testemunhos, onde tentasse espelhar o que, inconsciente ou conscientemente, me deveria ter motivado a fixar determinados momentos e situações.
Talvez porque, subjacentes, estejam preocupações que desde há longa data me acompanham, aspectos para os quais gostaria de ter certezas, quando o que me continua a perseguir genericamente são dúvidas e a angústia de não saber afinal como se tece o equíbrio da vida, das suas memórias e geografias afectivas.
De desconhecer o segredo dessa fina rede ou malha que torna os Humanos mais felizes num tempo e num lugar.
Exactamente porque, quem sabe se por motivos profissionais ou outros, incorremos tantas vezes numa leitura quase pragmática dos lugares que visitamos, pois já urge o tempo para problematizar e resolver, pouco restando para o «estar» ou «sentir», gostaria de tentar fazer com este espaço uma espécie de caderno de campo das impressões que me causaram alguns percursos, sítios e paisagens do Alentejo onde as «margias» e as «calmas» ainda se conseguem espraiar.
Tentar partilhar um pouco do equílibrio inexplicável que ainda reside em cada um desses sítios que parecem, afinal, querer fugir a todas as dúvidas ou a todas as certezas que sobre eles se semeiam, tão alheios que se mostram estar de todas as nossas reflexões. Simplesmente estão lá, como que ETERNOS!
E contar, a meu modo as histórias que com eles conheci.
Aprender também com eles a aceitar que a História tem a sua própria História. E os Sítios, as pessoas, os sentimentos têm tempo, desgastam-se, consomem-se, findam-se levando com eles estórias desvendadas ou eternamente encobertas.
E que não podemos fugir sempre a esse tempo, mascarando-o de uma possível Eternidade, plastificando-o até ao seu limite físico, como se tratasse do retrato de Dorien Grey. ..
Mas, também, paralelamente, é verdade, sobrevivem como que por milagre na memória de todos nós se soubermos contar histórias partilhadas, manter os rituais, dar sentido à Palavra.
Foi, assim, minha intenção partilhar uma busca, um olhar, como que uma reportagem fotográfica, mostrando os múltiplos caminhos, que tantas vezes atravessei, no encalço de um lugar pré-determinado ou de um lugar qualquer. Assinalando presenças físicas actuais ou passadas e as marcas que deixaram/deixam no território e na paisagem: das pessoas que se fixaram; das que apenas os atravessaram.
Quem sabe, talvez assim possamos beber um pouco delas, das suas vozes, dos seus silêncios, ou dos seus mistérios e segredos.
Permitindo assim aos múltiplos «utilizadores» dessas paisagens que, para cada uma deles, os lugares desempenhem um papel que é afinal também só seu e atingir, desse modo, a Eternidade que mais não é mais do que uma busca, uma projecção sempre solitária e pessoal.