domingo, 10 de fevereiro de 2013

Santana do Campo, Arraiolos




Regressando, novamente ao Alentejo, 

Por ali o Tempo todo escorre. Santana do Campo, no concelho de Arraiolos de cuja sede dista aproximadamente 20 km, teve primitivamente a designação de Santana da Franzina, sabendo-se que já existia no século XVI (em 1534).
As paredes de um antigo templo romano guardam quietas entre a edificação da antiga igreja paroquial de Santana do Campo.

Sirvo-me aqui da informação publicada em http://santana6.no.sapo.pt/aldeia_santana.htm
cuja consulta recomendo:

«A Direcção Geral dos Edificios e Monumentos Nacionais descreve assim o nosso monumento:

“ -Edifício de planta rectangular centralizada, composta pela articulação horizontal de nave e ábside, com cobertura homogénea de telhado de duas águas para os dois elementos, que de resto se articulam em continuidade plena. Fachada principal virada a O., rasgada pelo vão do pórtico de cantaria granítica esquadriada, com o lintel datado de 1715, sobre o qual o paramento cego é ornamentado com tabela ovalada de estuque, com a data de 1884; remate triangular definido pelo pendente dos beirados. As fachadas N., S. e E. são marcadas por sequências de gigantescos pilares graníticos de silharia almofadada, com secção quadrada, que parecem reforçar e ornamentar os paramentos de imponente construção romana, que devem andar embebidos no revestimento de alvenaria do templo cristão.

Época Construção : Romana

Cronologia : Séc. 2 / 3 d. C. - templo romano cujas ruínas ficaram incorporadas na cabeceira da Igreja; Séc. 15 - fundação do templo cristão, deduzida do vestígio mais antigo, imagem da padroeira (ESPANCA, 1975); 1534, após - reforma geral do templo cristão; 1715 - data aposta no dintel do pórtico, correspondente a reforma integral da fachada e interior.

Bibliografia : PEREIRA, Gabriel, Antiguidades Romanas em Évoa e seus Arredores in Estudos Eborenses, Évora, 1891; CORREIA, Vergílio, Monumentos e Esculturas, Coimbra, 1924; ALARCÃO, Jorge, Portugal Romano, Lisboa, 1973; ESPANCA, Túlio, Inventário Artístico de Portugal-Distrito de Évora, Vol. 8, Lisboa, 1975; ALARCÃO, Jorge, Roman Portugal, London, 1988.”

Refira-se que “em 1916 o ilustre arqueólogo Vergílio Correia estudou o edifício, confirmou a importância das milenárias ruínas e admitiu, com bases cientificas as suas características, projectou uma planta conjectural e atribuiu, ao TEMPLO, o culto de “Carneus”, dinvidade lutitânica ou cúnea.

Se este monumento prova que a povoação é antiga, certa é ainda na área envolvente a presença humana deste o IV Milénio a.C., como o atestam as Antas das Coelhas, das Picanceiras e da Freixa, importantes monumentos megalíticos referenciados nos estudos para a “Carta Arqueológica de Arraiolos”.

Nesta publicação, António Carlos Silva e José Perdigão referenciam ainda que os vestigios romanos em Santana do Campo, poderiam corresponder a um “vicus” em resultado da romanização de uma anterior localidade indígena.

Se os estudos realizados e as referências escritas deixaram dúvidas quanto a datas e factos vejamos os dados irrefutáveis:

O Padre Luis Cardoso diz no Diccionario Geographico – tomo 1º pág 486: Santana. Freguesia na província do Alentejo, Arcebispado de Évora, comarca de Vila Viçosa, termo da Vila de Arraiolos... A paróquia tem por orago Santana ... E a capela-mor e a parte da Igreja feita de pedras de demarcada grandeza, lavrada, e fabricada; tem cal até ao telhado e dizem fora obra dos romanos, o que se parece se prova de uma pedra mármore, onde se vêem umas letras latinas, nesta forma:


AFCA

NANII

IERME

LAVS


Está outro pedaço de pedra, que parece ser de algum edifício, na qual, por estar quebrado se veêm somente as letras seguintes:

CARNEO

CALANTICE

Parece que assim se prova que neste local fosse algum dia a cidade de Calantica.


Autores há que defendem que aqui se situou a dita cidade, provavelmente fundada por Galo-Celtas nos anos 360 A.C..

Nisto das antiguidades é difícil ser perentório quanto a certos acontecimentos, mas sabemos que Mário Saa se referiu à nossa terra como localizada sobre a antiga estrada de Évora a Santarém, e, portanto local de passagem, antes da vila de Arraiolos.

Certo será também que a ruína do Templo, o fim do império romano e as diversas invasões terão tirado importância a este local».


E rumei eu, depois de ver saciada o templo romano que se esconde nas paredes da Igreja,quando a luz filtrada pelas nuvens deixa mais nítidas as marcas, para a sede do concelho, pois o caminho o caminho me levou entre a chuva até Arraiolos, onde circular já espreitava espreita o seu Castelo.


Ali, sob a praça onde tem o Município a sua sede e onde a Caixa Geral de Depósitos nos fala da melhor arquitectura contemporânea que Portugal tem, se hoje escondem as titurarias que denunciam que, desde a Idade Moderna, ali se tingiam as lãs dos mais belos tapetes de Portugal.

Marcando a praça, não a fazendo esquecer o tempo que ela já tem, pontua o pelourinho, tão belo como poucos há, pois fica naquele lugar especial e não noutro qualquer.
Actualmente sede do concelho, conhecida internacionalmente pela qualidade e beleza dos seus tapetes, o cabeço de Arraiolos parece ter sido ocupado desde o século III a.C.
Após a reconquista Cristã, as terras de Arraiolos foram entregues ao cabido de Évora.
Teve 1º Foral, de D. Dinis, em 1290, tendo sido o Castelo - em cujo interior se confirmou arqueologicamente uma ocupação anterior - mandado edificar em 1305, durante esse mesmo reinado.

O primeiro conde de Arraiolos e donatário da vila, D. Álvaro Pires de Castro, irmão de Inês de Castro, a “rainha depois de morta” celebrizada pelo grande poeta nacional Camões, mandou edificar os seus paços no Vale de Flores ou Vale Formoso, muito próximo da vila.
A partir de 1387, foi doado por D. João I a D. Nuno Álvares Pereira, o Condestável do reino, o 2º conde de Arraiolos – que ali permaneceu longos períodos, antes de ter recolhido ao Convento do Carmo em Lisboa.

Com D. Manuel, Arraiolos recebe Foral Novo, em 1511.

O pelourinho a que nos referimos, implantado na praça central de Arraiolos, é o símbolo dessa autonomia concelhia.
Em 1527 inicia-se a construção do mosteiro dos Lóios, onde actualmente se localiza a Pousada de nossa Senhora da Assunção, de acordo com o orago da Igreja, pelo que são evidentes as características renascentistas do seu claustro. A Igreja, datada de 1585, sofreu obras no século XVIII, tendo sido por essa altura coberta de azulejaria, ao que se sabe, da autoria de Gabriel del barco.
Os limites do concelho são definidos Com a partir de 1736, tendo sofrido, contudo, várias alterações do ponto de vista administrativo, pois, em 1835, foi incluída no distrito de Évora e sido integrada ora no concelho de Vimieiro (1855) ; ora no de Mora (1895) de que foi desanexada em 1898.
De características profundamente rurais, Arraiolos ocupa 684,08Km2, e tem uma população de 8207 habitantes (segundo os censos de 1991) e é constituído pelas seguintes freguesias: Arraiolos, Vimieiro, Igrejinha, S. Pedro da Gafanhoeira, Sabugueiro, S. Gregório e Santa Justa.



Conhecida, como anteriormente dissemos, pelos seus Tapetes de Arraiolos, um dos mais belos bordados nacionais, chegaram até aos nossos dias graças a gerações e gerações de bordadeiras que lhes imprimiram com traços da vida da grande planície alentejana.

Ao que reza a História, nos finais do século XV, ali se terão fixado várias famílias mouriscas que, por mandato de D. Manuel I, terão sido expulsas da Mouraria (Lisboa) e que se dirigiam ao norte de África e ao sul de Espanha.

Tratando-se de artesãos exímios e face à receptividade da população local, estes indivíduos que se tornaram “Cristãos-Novos” dedicaram-se à manufactura de tapeçarias.

Os documentos mais antigos que se referem ao fabrico destes tapetes na vila de Arraiolos datam de finais do seculo XVI, supondo-se, no entanto, que a sua date de tempos mais recuados, como parece terem confirmado as escavações arqueológicas efectuadas no centro da vila.


E depois de tudo isto ver, vou encontrar o silêncio no espaço que, hoje pousada, outrora foi Convento dos Lóios, retirados do Tempo ali naquele lugar onde se acorda ouvindo os sinos a tocar.