A comemoração da Vida e da Morte: um conjunto excecional em Pax Iulia
Através deste tão frágil objecto de vidro de Época Romana, aparecido em Beja, num contexto funerário, falaremos da Vida e da Morte. Porque ele espelha a crença de uma vida para além da terrena, sendo, por isso, os defuntos acompanhados pelos objectos que afectivamente estavam ligados ou que simbolicamente os representavam. As uvas e o vinho são recorrentes na iconografia romana, quer em contexto funerário, a exemplo dos sarcófagos com esse tema, mas também em contexto dos Vivos. Estamos ainda agora em época em que se prova o vinho novo, que, na Cristandade, se centrou em S. Martinho, mas que remonta à Antiguidade, pois, os cortejos do antigo deus Baco que lhe antecedeu consagrava também a Fertilidade, através do vinho. E lembraremos ainda que, a par do azeite e do pão, o vinho faz parte da dieta mediterrânica que ainda nos caracteriza e que tem origens muito remotas.
Oradores
Filomena Barata (Museu Nacional de Arqueologia - Direção Geral do Património Cultural)
Miguel Serra (Palimpsesto, Estudo e Preservação do Património Cultural, Lda.)
Pode consultar o powerpoint em:
https://www.academia.edu/35244495/A_COMEMORA%C3%87%C3%83O_DA_VIDA_E_DA_MORTE
terça-feira, 21 de novembro de 2017
segunda-feira, 13 de novembro de 2017
O Vinho e a Alimentação em Época Romana, Filomena Barata
O Vinho e a Alimentação em Época Romana
Foto: Dioniso (o romano Baco), ostentando os seus atributos clássicos: um triso (thyrsus) na mão esquerda, um Kantharus na mão direita, uma coroa de cachos de uva na cabeça.
Mosaico da Villa Romana de Vale de Mouro.
Dioniso (o romano Baco), ostentando os seus
atributos clássicos: um triso (thyrsus) na mão esquerda, um Kantharus na
mão direita, uma coroa de cachos de uva na cabeça.
Mosaico da Villa Romana de
Vale de Mouro.
“Agora o chão da casa está limpo, as mãos de todos e as taças; um cinge as cabeças com guirlandas de flores, outro oferece odorante mirra numa salva; plena de alegria, ergue-se uma cratera, à mão está outro vinho, que promete jamais faltar, vinho doce, nas jarras cheirando a flor; pelo meio perpassa sagrado aroma de incenso, fresca é a água, agradável e pura; ao lado estão pães tostados e suntuosa mesa carregada de queijo e espesso mel; no centro está um altar todo recoberto de flores, canto e graça envolvem a casa. É preciso que alegres os homens primeiro cantem os deuses com mitos piedosos e palavras puras. Depois de verter libações e pedir forças para realiza
o que é justo - isto é que vem em primeiro lugar -, não é excesso beber quanto te permita chegar à casa sem guia, se não fores muito idoso. É de louvar-se o homem que, bebendo, revela atos nobres como a memória que tem e o desejo de virtude, sem nada falar de titãs, nem de gigantes, nem de centauros, ficções criadas pelos antigos, ou de lutas civis violentas, nas quais nada há de útil. Ter sempre veneração pelos deuses, isto é bom”
Ateneu, X, 462 C. Citado a partir de: http://www.antoniomiranda.com.br/poesiamundialportugues/ateneu%20de%20naucratis.ht ml
Friso de sarcófago do banquete. Troia. Século IV d.C
MNA Nº Inv. 994.21.1 Fotografia: José Pessoa Localização: DDF-DGPC http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.aspx?IdReg=110267
«O que mais perturbação traz ao homem é o ventre, para o qual vive a maioria dos mortais. Umas vezes não deixa passar os alimentos, outras vezes não os retêm, outras não os aceita, outras vezes não os digere. Os costumes chegaram a tal ponto que é pela comida que se dá a maioria das mortes. A prior das entranhas do corpo é exigente como um credor e insiste várias vezes ao dia. É sobretudo por causa dele que a ganância se agita, qua a luxúria se espevita, por ele se navega até ao Fásis, por ele são devassados os abismos do mar. E ninguém avalia a sua baixeza pela imundice do resultado. Por isso, é também ele que dá mais trabalho à medicina». Plínio (N.H. 26.43)
Citado a partir de: Francisco Oliveira, “Gastronomia em Plínio-o-Velho”, in Convivium: el arte de comer en Roma (1993). Associacion de Amigos del Museo – Mérida.
RESUMO:
A imagem de luxúria alimentar da Sociedade Romana é muito exagerada e a maioria das pessoas normais tinha uma dieta vulgar, não podendo sequer provar as iguarias descritas literariamente, a exemplo das que são referidas no célebre banquete descrito no Satíricon de Petrónio. Na Roma Antiga, o ideal da culinária tradicional era uma dieta vegetariana, com base nos produtos da terra, socorrendo-se dos frutos. Os mais comuns eram: o figo, as romãs, as laranjas, as peras, as maçãs e uvas. Também as papas (puls) de cereais torrados ou em farinha, simplesmente cozidas ou enriquecidas com favas, lentilhas, hortaliças ou outros produtos, eram a grande base da alimentação. Os pobres raramente comiam carne, geralmente de carneiro, burro, porco, ganso, pato ou pombo. A maioria dos romanos nem sempre podia consumir alimentos frescos, pelo que os mesmos eram fumados, salgados, secos ou conservados em vinagre. O célebre molho que se misturava em praticamente todos os alimentos, o garum, bem como os condimentos e ervas ajudavam a disfarçar o sabor que os menos frescos pudessem ter. Em território atualmente português são conhecidas inúmeras unidades fabris de conserva de peixe e de produção de garum, a exemplo de Lisboa, Setúbal, Troia, Ilha do Pessegueiro e muitas do Algarve. O prato mais típico dos Romanos mais pobres era a já referida mistura ou papa de água, cevada, aveia, ou trigo, a puls, podendo juntar-se vinho e miolos de animais ou ser acompanhada com azeitonas, feijão, figos, queijo ou mesmo porco, tornando-a uma versão mais enriquecida. Existiam algumas outras variantes da puls: a puls fabata (feita com favas) e a puls punica (que continha queijo, mel e uma gema de ovo) ou a puls juliana que continha ostras fervidas e vinho. O alimento base no mundo romano é, também, o cereal transformado em pão. Os próprios soldados eram, muitas vezes, recompensados em trigo. O arroz era somente usado para engrossar os molhos. Os cereais, legumes, hortaliças, leite e ovos faziam também parte da dieta elementar, existindo em Apício inúmeras receitas com a sua utilização. Alimentavam os porcos com figos para que sua carne ficasse perfumada e criavam os gansos de maneira especial para com eles preparar patês. Um tratamento similar era feito com os frangos, que eram alimentados com anis e outras especiarias. Sabe-se também que, até ao século II a.C., a base alimentar dos grupos sociais diferia pouco, e só após a Expansão do Império se verifica uma crescente diferenciação. A importância da arte de comer é testemunhada pela existência de tratados, a exemplo de De Re Coquinaria, de Apício.
A temática da alimentação também está presente em tratados de agronomia de Columela, Varrão e Catão, na História Natural de Plínio-o-Velho, que abordam a preparação e modo de conservação dos alimentos, já para não falar das Geórgicas de Vergílio, quando se refere aos produtos da natureza.
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Dos Romanos ficou-nos um pouco a imagem das grandes orgias que nos foi dada por muitas obras literárias, designadamente a que servirá de base a este texto, o Satíricon, onde se descreve um lauto banquete. Também Juvenal (Sátira XII) refere que era frequente os convidados sujarem o chão com vómito resultante dos seus excessos. Apício, o grande gastrónomo romano, nascido cerca de 25 a. C, terá vivido durante o tempo de Augusto e de Tibério. Pertencia à aristocracia, filho de cavaleiro e amigo de membros da família imperial, graças à sua fortuna e fama dá-nos a conhecer grandes iguarias e contribui para essa imagem excessiva da alimentação. Não pode, portanto, ser representativo da Sociedade Romana
Museo della Civilta Romana, Rome, Italy / Giraudon / The Bridgeman Art Library
Thermopolium di Via de Diana, Ostia Antica.
Fotografia a partir de:
https://www.pinterest.pt/pin/144607838014053925/
A imagem de luxúria alimentar é, portanto, muito exagerada e a maioria das pessoas normais tinha uma dieta vulgar, não podendo sequer provar as iguarias que nos foram descritas por alguns autores. Também Macróbio, autor das Saturnais, nos deixou, no início do século V d. C, a descrição de um banquete, onde constavam em primeiro lugar, mariscos, ostras, mexilhão, tordo com espargos, galinha cozida, castanhas e molho de mexilhão e ostras. Estas iguarias eram consumidas como entrada e acompanhadas de vinho doce. Seguia-se o primeiro prato com outros mariscos, peixes, papa-figos, filetes de javali, pasta de carne de aves e de caça. O prato principal incluía úberes de porca, cabeça de porco, guisados de peixe, de pato, de lebre e aves assadas. Infelizmente, ignoramos qual foi a sobremesa. Estas iguarias eram servidas simultaneamente a todos os convivas, em tabuleiros, que escolhiam a seu gosto. Os convidados encontravam-se deitados em três leitos rodeando uma mesa e dispostos em ferradura: era o triclinium - mas este nome designava, também, toda a sala de jantar. Cada leito continha três lugares, de tal maneira que a maior parte dos jantares não tinha mais de nove convivas - o número das Musas. Em volta dos leitos circulavam os criados. Os escravos pessoais dos convidados encontravam-se presentes, atentos aos desejos dos amos. Terminada a refeição, começava-se a beber. Era o início da comissatio, mais ou menos ruidosa consoante o temperamento e o humor dos convivas.
No entanto, sabe-se que, na Roma Antiga, o ideal da culinária tradicional era uma dieta com base nos produtos da terra, socorrendo-se dos frutos, sendo os mais comuns o figo, as romãs, as laranjas, as peras, as maçãs e uvas, e as papas (puls) de cereais torrados ou em farinha simplesmente cozidas ou enriquecidas com favas, lentilhas, hortaliças ou outros produtos, como falaremos de seguida.
Eram sobretudo os mais ricos que comiam carne, geralmente de carneiro, burro, porco, ganso, pato ou pombo, para os quais também havia ementas ricas, a exemplo de uma referida por Apício. Podemos, pois, dizer que, a partir de certa altura e com o crescimento do Império, o regime alimentar frugal fica, assim, praticamente circunscrito aos camponeses e classes mais pobres, iniciando-se um crescente consumo de carne, de peixe fresco e de pão, pois a circulação de artigos e a sua importação assim o permite. Citando as palavras de Annamaria Ciarallo, bióloga e investigadora do meio ambiente em Pompeios, poder-se-ia resumir do seguinte modo: "El alimento entonces se basaba principalmente en cereales, verduras, queso y pescado, con sólo un poco de carne. Era muy saludable la dieta mediterránea original". cit. a partir de: «El "snack-bar" de Pompeya resurge de sus cenizas después de 2.000 anos». Publicado por Guillermo Caso de los Cobos el marzo 21, 2010
http://terraeantiqvae.com/profiles/blogs/el-snackbar-de-pompeya-resurge#.VGimOPl_vQw
Do que se sabe, por volta de uns 3 mil anos a. C., os egípcios ter-se-ão apercebido que os gansos selvagens que imigravam para o Nilo tinham o fígado muito maior, mais gorduroso e com uma textura diferente dos fígados de outros gansos. Percecionaram, ainda, que os gansos que imigravam tinham ingerido demasiada comida para aguentar o inverno e isso afetava os seus fígados. Assim, começaram a desenvolver a engorda das aves, hábito que parece ter sido comum aos Judeus que necessitavam de gordura alimentar e não ingeriam porco. Em Roma, o " foie gras" (que ainda não se denominava assim) tornou-se um ícone nos banquetes, sendo acompanhado com figos. Aliás, a origem da palavra “fígado” e “foie” é latina, “ficatum”, que significa exatamente “com figos”. A Gália, província romana, é um dos locais de grande produção o que deve ter contribuído para que se tornasse um alimento tão utilizado em Roma.
No entanto, sabe-se que, na Roma Antiga, o ideal da culinária tradicional era uma dieta com base nos produtos da terra, socorrendo-se dos frutos, sendo os mais comuns o figo, as romãs, as laranjas, as peras, as maçãs e uvas, e as papas (puls) de cereais torrados ou em farinha simplesmente cozidas ou enriquecidas com favas, lentilhas, hortaliças ou outros produtos, como falaremos de seguida.
Eram sobretudo os mais ricos que comiam carne, geralmente de carneiro, burro, porco, ganso, pato ou pombo, para os quais também havia ementas ricas, a exemplo de uma referida por Apício. Podemos, pois, dizer que, a partir de certa altura e com o crescimento do Império, o regime alimentar frugal fica, assim, praticamente circunscrito aos camponeses e classes mais pobres, iniciando-se um crescente consumo de carne, de peixe fresco e de pão, pois a circulação de artigos e a sua importação assim o permite. Citando as palavras de Annamaria Ciarallo, bióloga e investigadora do meio ambiente em Pompeios, poder-se-ia resumir do seguinte modo: "El alimento entonces se basaba principalmente en cereales, verduras, queso y pescado, con sólo un poco de carne. Era muy saludable la dieta mediterránea original". cit. a partir de: «El "snack-bar" de Pompeya resurge de sus cenizas después de 2.000 anos». Publicado por Guillermo Caso de los Cobos el marzo 21, 2010
http://terraeantiqvae.com/profiles/blogs/el-snackbar-de-pompeya-resurge#.VGimOPl_vQw
Do que se sabe, por volta de uns 3 mil anos a. C., os egípcios ter-se-ão apercebido que os gansos selvagens que imigravam para o Nilo tinham o fígado muito maior, mais gorduroso e com uma textura diferente dos fígados de outros gansos. Percecionaram, ainda, que os gansos que imigravam tinham ingerido demasiada comida para aguentar o inverno e isso afetava os seus fígados. Assim, começaram a desenvolver a engorda das aves, hábito que parece ter sido comum aos Judeus que necessitavam de gordura alimentar e não ingeriam porco. Em Roma, o " foie gras" (que ainda não se denominava assim) tornou-se um ícone nos banquetes, sendo acompanhado com figos. Aliás, a origem da palavra “fígado” e “foie” é latina, “ficatum”, que significa exatamente “com figos”. A Gália, província romana, é um dos locais de grande produção o que deve ter contribuído para que se tornasse um alimento tão utilizado em Roma.
Pintura de Pompeia com representação de um banquete em família, Museo Archeologico Nazionale (Nápoles),
my scan.Unknown painter before 79 AD - Theodore H. Feder, Great Treasures of Pompeii and Herculaneum (Abbeville, 1978) pp. 24-25
Também do que se conhece, até ao século II a. C., a base alimentar dos grupos sociais pouco diferia. Trabalhos de análise efetuadas nas cloacas de Pompeios e Herculano, para onde eram deitados restos de alimentos, vieram confirmar muitos dos hábitos alimentares dos Romanos da época anterior à erupção do Vesúvio, em 79 d.C. Dessa análise parece concluir-se que grande parte deles eram de origem local, designadamente conchas e molúsculos que, segundo os arqueólogos, provinham das praias de Herculano.
«Excepciones notables son los granos, que muy probablemente eran importados de Egipto, dátiles del norte de África y pimienta de la India. Aunque no había rastros de harina, luego de un tiempo tan largo, gorgojos de trigo al parecer sobrevivieron el proceso de molido y terminaron en una alcantarilla en Herculano». Los romanos de la actualidad disfrutan la carne de cerdo -lonjas de cerdo conocidas como porchetta son populares en sándwiches. Depósitos de basura que datan de entre el siglo I a.C. hasta la primera mitad del siglo I d.C. en el barrio de Porta Stabia, en Pompeya, arrojaron montones de huesos de cerdo, claro indicio de que era popular también en aquel entonces, dijo Michael MacKinnon». cit.: http://terraeantiqvae.com/profiles/blogs/las-cloacas-de-pompeya-revelan-detalles-de-ladieta-de-losantigu?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+ TerraeAntiqvaeRevistaDeArqueologaEHistoria+%28Terrae+Antiqvae%29#.VGiJs_l_vQw
Era comum consumir alimentos fora de casa, pelo que existem vários tipos de locais onde se vendiam, a exemplo das cuppediae, frequentadas por clientes mais ricos. As popinae eram as mais populares, onde se podia comer ou comprar para levar. Similares às popinae, eram as cauponae, onde se vendia vinho e se podia também pernoitar. Havia, ainda, as "tascas", normalmente mal-afamadas, onde se podia comer e beber vinho, thermopolia.
Assim no-las define Javier Ramos em La vida en la antigua Roma:
• «Las thermopolia eran los snack-bar de la Roma antigua. Vendían alimentos en un mostrador y era donde los romanos solían acudir a beber vino. • Las cauponae y popinae eran lugares de comida rápida, una especie de McDonals de hoy en dia, parada obligada de muchos transeúntes. • Estos locales eran locales impropios de las clases altas. • La entrada de mujeres estaba terminantemente prohibida • Cerraban mas tarde que el resto de negocios
Las funciones de lacauponae, popinae y thermopolia terminaron por confundirse, de modo que en todos ellos solía ofertarse comida e, incluso, alojamiento. Los más pobres, aquellos que no disponían de hornos en los exiguos cubículos de las viviendas de alquiler, podían acudir a estos establecimientos para calentar la comida. Algunas caupona eran posadas u hoteles que proveían alojamiento y en algunos casos un menú en base a vino, carne y pan».
Taberna. Pompeia. Imagem a partir de: De bares por la Roma antiguaTexto de Javier Ramos/ La vida en la antigua Roma.
Através da análise de um thermopolium de Pompeia, sabe-se que, para os clientes que preferiam reclinar-se, havia um triclinium ou sala de refeições com leitos. «Fue decorado con una hermosa pintura que muestra la violación de Europa con Júpiter disfrazado de toro. Había un jardín interior o viridarium, ubicado en otra zona de descanso, y que las excavaciones sugieren que alguna vez dió sombra mediante una pérgola cubierta con hojas de parra, y que había flores y hierbas usadas en la cocina que se cultivaban. La casa del propietario y su familia estaban adyacentes a los locales. El larario, o santuario del hogar, está decorado con columnas corintias. Las pinturas murales representan a los dioses del hogar y el espíritu de compañía personal, llevandose a cabo un sacrificio en el altar. Mercurio, el dios del comercio, y de Dionisio, el dios del vino, también están pintados en el santuario»
cit. a partir de: «El "snack-bar" de Pompeya resurge de sus cenizas después de 2.000 anos». Publicado por Guillermo Caso de los Cobos el marzo 21, 2010 Aqui
cit. a partir de: «El "snack-bar" de Pompeya resurge de sus cenizas después de 2.000 anos». Publicado por Guillermo Caso de los Cobos el marzo 21, 2010 Aqui
Insulae. Fotografia a partir de:
http://romewiki.wikifoundry-mobile.com/m/page/Housing+in+Ancient+Rome
http://romewiki.wikifoundry-mobile.com/m/page/Housing+in+Ancient+Rome
As refeições principais eram:
Ientaculum
A primeira refeição do dia - ientaculum - fazia-se logo que se levantavam, sendo composta por pão, queijos, ovos e leite de cabra ou ovelha, nas casas mais abastadas. O pão era embebido em vinho ou regado a azeite, e o leite era o de cabra ou de ovelha.
Durante o período imperial, devido a preceitos médicos, o ientaculum caiu em desuso e apenas passaram a tomar água ao pequeno almoço e, para a maior parte da população, esta refeição era constituída apenas por pão e água.
Prandium
Por volta do meio-dia, tomava-se uma refeição mais substancial, geralmente em pé (sine mensa), o prandium. Poderia incluir restos da comida do dia anterior, carnes frias, peixe, frutas e queijo. Não era muito usual beber vinho durante essa refeição, pois ela era consumida durante as horas de trabalho, mas era corrente tomar-se mulsum. Os alimentos eram as sobras da cena do dia anterior - carnes, queijos e frutas, e, para bebida, usava-se um vinho misturado com mel, chamado mulsum. A seguir ao prandium, principalmente no Verão, era hábito fazer-se uma breve sesta.
Cena
A cena era a principal refeição do dia e iniciava-se entre a nona e a décima hora, no Inverno, o que corresponde às três/quatro horas da tarde (a partir do nascimento do sol), como nos informa Plínio (Ep. III, 1) e Cícero (Fam. IX 26), prolongando-se até de noite, após o trabalho e uma ida aos balneários. Era, normalmente, para esta refeição que os mais ricos convidavam os amigos e clientes e alguns podiam transformar-se, em dias festivos, em verdadeiros banquetes. Quando se recebia convidados, a refeição era mais elaborada e tratava-se do convivium. Podia ser
também sucedido pela Comissatio – que, segundo VEYNE (2009: 171), constituía o banquete propriamente dito, altura em que se bebia fartamente, se conversava sobre temas diversos, se assistia a espetáculos de danças e se ouvia música. A cena dividia-se em três partes: gustatio (ou gustus ou promulsio), prima mensa e secunda mensa. A gustatio era composta por aperitivos, como cogumelos, saladas, rábanos, couve, ovos, trufas, atum e ostras. Os caracóis também eram consumidos, existindo receitas para os mesmos, a exemplo da de Apicius, (25 a.C. – 37 d.C.), o suposto autor do tratado de culinária DE RE COQVINARIA.
A cena era a principal refeição do dia e iniciava-se entre a nona e a décima hora, no Inverno, o que corresponde às três/quatro horas da tarde (a partir do nascimento do sol), como nos informa Plínio (Ep. III, 1) e Cícero (Fam. IX 26), prolongando-se até de noite, após o trabalho e uma ida aos balneários. Era, normalmente, para esta refeição que os mais ricos convidavam os amigos e clientes e alguns podiam transformar-se, em dias festivos, em verdadeiros banquetes. Quando se recebia convidados, a refeição era mais elaborada e tratava-se do convivium. Podia ser
também sucedido pela Comissatio – que, segundo VEYNE (2009: 171), constituía o banquete propriamente dito, altura em que se bebia fartamente, se conversava sobre temas diversos, se assistia a espetáculos de danças e se ouvia música. A cena dividia-se em três partes: gustatio (ou gustus ou promulsio), prima mensa e secunda mensa. A gustatio era composta por aperitivos, como cogumelos, saladas, rábanos, couve, ovos, trufas, atum e ostras. Os caracóis também eram consumidos, existindo receitas para os mesmos, a exemplo da de Apicius, (25 a.C. – 37 d.C.), o suposto autor do tratado de culinária DE RE COQVINARIA.
“Apanhe os caracóis, limpe-os com uma esponja e retire-lhes a membrana para poderem sair. Deite-os num recipiente com leite e sal durante um dia, apenas leite nos dias seguintes, e limpe de hora a hora a sujidade. Quando estiverem gordos de modo a não entrarem na concha (…) frite-os em azeite. Junte garum de vinho. Podem ser igualmente engordados com papas.”
In «Livro de Cozinha de Apício – Um breviário do gosto imperial romano» de Inês de Ornellas e Castro.
Mosaico com representação de espargos (Museums Rome-Lácio )
Detalhe de mosaico paleocristão, séc. IV d.C., Basílica Patriarcal de Aquileia, Itália.
Bebia-se mulsum na primeira parte da cena, chamada promulsio, que servia para abrir o apetite, dizendo-se que contribuía para a saúde e para prolongar a vida. Tal como o azeite, o mel era utilizado nas civilizações antigas quer para a culinária, como para usos medicinais ou estéticos. Em Roma, o mulsum era, assim, um vinho misturado com mel, a exemplo do que já faziam os Gregos com o Melicraton, mas muitos outros pratos o utilizavam como aditivo. O latino Apício refere o seu uso para fins mais refinados: ensinava a engordar gansas com figos
secos para logo depois matá-las, dando de beber vinho e mel, fazendo patés e, ainda, noutros alimentos. Mas bebia-se também o passum, um vinho de passas (Vinho de UvaPassa), muito doce, supostamente originário de Cartago, e foi usado pelos Romanos como molho adoçante, nos seus alimentos.
O autor grego Políbio referia-se-lhe do seguinte modo: "entre os romanos as mulheres estão proibidas de beber vinho, e podem beber o que é chamado passum ". (Políbio, Histórias, Fragmentos, 4.6.2)
A prima mensa era composta, entre outras coisas, por vegetais e carnes, cabrito, frango, presunto e marisco. O peixe mais apreciado era o salmonete. As secundae mensae consistiam na sobremesa, de que constavam frutas ou doces. Em síntese, diríamos que, para a maioria dos habitantes das cidades que vivem em apartamentos coletivos, desprovidos de fogões, as tabernae oferecem alimentos quentes para levar, salsichas, caldo de ervilhas e variedades de salgados. Nas famílias mais abastadas, a cena é tomada no triclinium (sala de jantar): a mesa (ou as mesas) sobre o qual os criados põem os pratos é cercada por sofás-camas em que se recostam os convivas. Os cozinheiros, muitas vezes comprados a preço de ouro, têm a arte de temperar carnes e peixes com especiarias de origem italiana (funcho, cominho, hortelã) ou exótica (pimenta, gengibre), e com condimentos, dentre os quais o mais requisitado é o garum, à base de intestinos de peixes. Eles esmeram-se também para encontrar mercadorias excecionais, como ostras, certos peixes, crustáceos ou carne de caça proveniente de regiões remotas». In Pompeia: uma cidade congelada no tempo in: http://oridesmjr.blogspot.pt/2011/03/pompeia-uma-cidade-congelada-no-tempo.html
O lugar onde se tomava a cena chamava-se Cenaculum, cenáculo, e, mais tarde, passou a denominar-se triclinium, do grego treis klinai, três leitos, «porque os Romanos não comiam sentados como nos dias de hoje, mas sim deitados em leitos dispostos ao redor da mesa. Quando havia somente dois leitos na sala, era denominado Biclinium. Na verdade, o número de leitos dependia do número de convidados, e Varrão dizia que não deviam ser menos que as Graças, ou seja, três, nem mais que as Musas, isto é, nove. Quando um convidado tinha a liberdade de levar consigo mais alguém, a estes denominavam de umbrae, sombras, para designar assim que eram hóspedes ou convivas não convidados pelo dono do banquete (cf. Horácio, Sat. II 8 22 e Ep. I, V). in Paulo Barbosa, «Um pouco sobre a Gastronomia romana» http://civilizacaoeambiente.blogspot.pt/2011/01/um-pouco-sobre-gastronomia-romana.html
O triclinium, era, portanto, a sala de jantar das casas da elite romana, conforme se pode concluir através das fontes escritas e das escavações arqueológicas, sendo mais do que um simples espaço para tomar os alimentos: era um lugar de representação, pois esperava-se que um romano abastado recebesse com frequência e bem. Ali, exibia-se a riqueza do
cidadão, através da decoração, do serviço e do requinte dos pratos dos banquetes servidos na cena ou no convivium. A denominação de triclinium deve-se ao facto de ser, normalmente, composto por três sofás, onde se instalavam os convidados de acordo com o grau de precedência de cada um. Em épocas posteriores, já na Época Imperial, o stibadium, uma espécie de leito semicircular, substituiu os três sofás. A posição reclinada durante as refeições conduziu à preferência por alimentos moídos ou cortados em pequenos pedaços.
Além destas três refeições, havia, ainda, entre o prandium e a cena a merenda ou antecena. «Plauto informa que esta merenda era dada àqueles que serviam por dinheiro, assalariados, aos mercenários, antes de serem mandados do trabalho, pelo senhor ou patrão, "... dabatur iis qui aere merebant, mercenariis, antequam labore mitterentur a domino suo conductore" (Most. IV, 2.50).
Vê-se logo o parentesco entre merenda e merecer. Em latim, mereri é ganhar salário, é servir em troca de salário, e esta refeição - a merenda -, era uma parte deste soldo dada pelo patrão antes de o assalariado ir embora para casa. - [Quiçá fosse assim ainda em nossos dias, nos estabelecimentos escolares. Os estudantes só receberiam a refeição - a merenda - se realmente merecessem, ou seja, se cumprissem a finalidade para a qual ali estão, estudar e aprender]». Cit. Paulo Barbosa, «Um pouco sobre a Gastronomia romana» http://civilizacaoeambiente.blogspot.pt/2011/01/um-pouco-sobre-gastronomia-romana.html
secos para logo depois matá-las, dando de beber vinho e mel, fazendo patés e, ainda, noutros alimentos. Mas bebia-se também o passum, um vinho de passas (Vinho de UvaPassa), muito doce, supostamente originário de Cartago, e foi usado pelos Romanos como molho adoçante, nos seus alimentos.
O autor grego Políbio referia-se-lhe do seguinte modo: "entre os romanos as mulheres estão proibidas de beber vinho, e podem beber o que é chamado passum ". (Políbio, Histórias, Fragmentos, 4.6.2)
A prima mensa era composta, entre outras coisas, por vegetais e carnes, cabrito, frango, presunto e marisco. O peixe mais apreciado era o salmonete. As secundae mensae consistiam na sobremesa, de que constavam frutas ou doces. Em síntese, diríamos que, para a maioria dos habitantes das cidades que vivem em apartamentos coletivos, desprovidos de fogões, as tabernae oferecem alimentos quentes para levar, salsichas, caldo de ervilhas e variedades de salgados. Nas famílias mais abastadas, a cena é tomada no triclinium (sala de jantar): a mesa (ou as mesas) sobre o qual os criados põem os pratos é cercada por sofás-camas em que se recostam os convivas. Os cozinheiros, muitas vezes comprados a preço de ouro, têm a arte de temperar carnes e peixes com especiarias de origem italiana (funcho, cominho, hortelã) ou exótica (pimenta, gengibre), e com condimentos, dentre os quais o mais requisitado é o garum, à base de intestinos de peixes. Eles esmeram-se também para encontrar mercadorias excecionais, como ostras, certos peixes, crustáceos ou carne de caça proveniente de regiões remotas». In Pompeia: uma cidade congelada no tempo in: http://oridesmjr.blogspot.pt/2011/03/pompeia-uma-cidade-congelada-no-tempo.html
O lugar onde se tomava a cena chamava-se Cenaculum, cenáculo, e, mais tarde, passou a denominar-se triclinium, do grego treis klinai, três leitos, «porque os Romanos não comiam sentados como nos dias de hoje, mas sim deitados em leitos dispostos ao redor da mesa. Quando havia somente dois leitos na sala, era denominado Biclinium. Na verdade, o número de leitos dependia do número de convidados, e Varrão dizia que não deviam ser menos que as Graças, ou seja, três, nem mais que as Musas, isto é, nove. Quando um convidado tinha a liberdade de levar consigo mais alguém, a estes denominavam de umbrae, sombras, para designar assim que eram hóspedes ou convivas não convidados pelo dono do banquete (cf. Horácio, Sat. II 8 22 e Ep. I, V). in Paulo Barbosa, «Um pouco sobre a Gastronomia romana» http://civilizacaoeambiente.blogspot.pt/2011/01/um-pouco-sobre-gastronomia-romana.html
O triclinium, era, portanto, a sala de jantar das casas da elite romana, conforme se pode concluir através das fontes escritas e das escavações arqueológicas, sendo mais do que um simples espaço para tomar os alimentos: era um lugar de representação, pois esperava-se que um romano abastado recebesse com frequência e bem. Ali, exibia-se a riqueza do
cidadão, através da decoração, do serviço e do requinte dos pratos dos banquetes servidos na cena ou no convivium. A denominação de triclinium deve-se ao facto de ser, normalmente, composto por três sofás, onde se instalavam os convidados de acordo com o grau de precedência de cada um. Em épocas posteriores, já na Época Imperial, o stibadium, uma espécie de leito semicircular, substituiu os três sofás. A posição reclinada durante as refeições conduziu à preferência por alimentos moídos ou cortados em pequenos pedaços.
Além destas três refeições, havia, ainda, entre o prandium e a cena a merenda ou antecena. «Plauto informa que esta merenda era dada àqueles que serviam por dinheiro, assalariados, aos mercenários, antes de serem mandados do trabalho, pelo senhor ou patrão, "... dabatur iis qui aere merebant, mercenariis, antequam labore mitterentur a domino suo conductore" (Most. IV, 2.50).
Vê-se logo o parentesco entre merenda e merecer. Em latim, mereri é ganhar salário, é servir em troca de salário, e esta refeição - a merenda -, era uma parte deste soldo dada pelo patrão antes de o assalariado ir embora para casa. - [Quiçá fosse assim ainda em nossos dias, nos estabelecimentos escolares. Os estudantes só receberiam a refeição - a merenda - se realmente merecessem, ou seja, se cumprissem a finalidade para a qual ali estão, estudar e aprender]». Cit. Paulo Barbosa, «Um pouco sobre a Gastronomia romana» http://civilizacaoeambiente.blogspot.pt/2011/01/um-pouco-sobre-gastronomia-romana.html
Para a maioria dos romanos, nem sempre era possível consumir alimentos frescos, pelo que os mesmos eram fumados, salgados, secos ou conservados em vinagre.
O célebre molho que se misturava em praticamente todos os alimentos, o garum, bem como os condimentos e ervas, ajudavam a disfarçar o sabor que os menos frescos pudessem ter.
Mosaico com cesto de peixes. Tunísia
Fotografia a partir de: https://www.pinterest.pt/pin/495396027732150363/
O prato mais típico dos Romanos mais pobres era uma mistura ou papa de água, cevada, aveia, ou trigo, a puls, podendo juntar-se, na versão mais enriquecida, vinho e miolos de animais e ser acompanhada com azeitonas, feijão, figos, queijo ou mesmo porco, tornandoa mais rica. Existiam algumas outras variantes da puls: a puls fabata (feita com favas) e a puls punica (que continha queijo, mel e uma gema de ovo) ou a puls iuliana que continha mioleiras e vinho. Mas também, não deixamos de salientar, davam grande utilização aos legumes e aos produtos hortícolas.
Porca alimentando os filhos. Proveniente da colina do Viminale em Roma. Museu Vaticano
Fotografia obtida de: https://www.facebook.com/pages/Traianvs-Ingenier%C3%ADa-Romana/151487124895824
Fotografia obtida de: https://www.facebook.com/pages/Traianvs-Ingenier%C3%ADa-Romana/151487124895824
O alimento base no mundo romano é, portanto, o cereal transformado em pão. Os próprios soldados eram, muitas vezes, recompensados em trigo. O arroz era somente usado para engrossar os molhos. Os cereais, legumes, hortaliças, leite e ovos faziam também parte da dieta elementar, existindo, em Apício, inúmeras receitas com a sua utilização. Sobre a utilização da bolota, diz-nos Estrabão que os habitantes da Lusitânia eram, no que respeita à alimentação, frugais - bebiam água, cerveja, leite de cabra e vinho em ocasiões festivas, comiam bolota moída grande parte do ano.
“Todos os montanheses são frugais: bebem só água, dormem no chão...” “Os montanheses, durante dois terços do ano alimentam-se de lande de carvalho. Secamnas, trituram-nas, moem-nas e fazem com elas pão que pode guardar-se durante muito tempo. Bebem também cerveja. Vinho, têm falta dele, e o pouco que logram, rapidamente o consomem nos banquetes…” “Em vez de azeite, usam manteiga.” (ESTRABÃO, III, 3, 6-7).
Sabe-se que um legionário podia comer apenas um prato de legumes, umas peças de fruta e um pedaço de pão. A carne era mais regularmente consumida pelas classes mais ricas e era utilizado o carneiro, burro, porco, ganso, pato ou pombo. Sabe-se ainda que, a partir do século III, os imperadores incluíram a carne suína entre os alimentos distribuídos ao povo.
Para a confeção mais sofisticada, os porcos eram alimentados com figos para que a sua carne ficasse perfumada e criavam os gansos de maneira especial para com eles preparar patês. Faziam o mesmo com os frangos, alimentando-os com anis e outras especiarias.
«Os ricos também podiam comprar carnes vermelhas, ricas em gorduras, e mais pão branco do que os pobres, cuja dieta era constituída essencialmente por pão de má qualidade (panis sordidus) e azeite». in O Homem Romano; p. 235. Contudo, sabe-se que existiam talhantes ou carniceiros em Roma e muitas outras cidades, a exemplo de Óstia, como se pode ver no relevo que se apresenta.
“Todos os montanheses são frugais: bebem só água, dormem no chão...” “Os montanheses, durante dois terços do ano alimentam-se de lande de carvalho. Secamnas, trituram-nas, moem-nas e fazem com elas pão que pode guardar-se durante muito tempo. Bebem também cerveja. Vinho, têm falta dele, e o pouco que logram, rapidamente o consomem nos banquetes…” “Em vez de azeite, usam manteiga.” (ESTRABÃO, III, 3, 6-7).
Sabe-se que um legionário podia comer apenas um prato de legumes, umas peças de fruta e um pedaço de pão. A carne era mais regularmente consumida pelas classes mais ricas e era utilizado o carneiro, burro, porco, ganso, pato ou pombo. Sabe-se ainda que, a partir do século III, os imperadores incluíram a carne suína entre os alimentos distribuídos ao povo.
Para a confeção mais sofisticada, os porcos eram alimentados com figos para que a sua carne ficasse perfumada e criavam os gansos de maneira especial para com eles preparar patês. Faziam o mesmo com os frangos, alimentando-os com anis e outras especiarias.
«Os ricos também podiam comprar carnes vermelhas, ricas em gorduras, e mais pão branco do que os pobres, cuja dieta era constituída essencialmente por pão de má qualidade (panis sordidus) e azeite». in O Homem Romano; p. 235. Contudo, sabe-se que existiam talhantes ou carniceiros em Roma e muitas outras cidades, a exemplo de Óstia, como se pode ver no relevo que se apresenta.
Relevo encontrado em Óstia, datado do século II d.C,
Representa a loja de um carniceiro ou talhante.
Há, ainda, autores que defendem que a cabeça de boi (ou touro ?) encontrada em Miróbriga, na zona das tabernae, possa corresponder à existência dessa profissão.
Cabeça de boi - touro (?) esculpido de Miróbriga
Os porcos eram alimentados com figos, como antes vimos, que aromatizavam a carne e já eram criados gansos de forma a poderem ser preparados patês, bem como se alimentavam os frangos com anis e outras especiarias. Em Apício, na sua obra De Re Coquinaria, são referidas inúmeras receitas com porco, centrando-se, aliás, a maioria delas neste alimento. Poderíamos, ainda, referir a faustosa ceia de Trimalquião (Petrónio), onde o porco recheado tem marcada a sua presença. Sabe-se, também, ser comum o uso de aves na alimentação: perdizes, tordos e pássaros.
Em contrapartida, os legumes eram utilizados nos pratos vulgares, tal como as couves - em grande parte eram cultivadas nos jardins, sendo apenas minoritariamente adquiridas nos mercados. Mas a couve era usada com fins digestivos. Também a abóbora era muito consumida e só Apício refere nove receitas. Quer na Grécia Antiga, quer em Roma, era usual comer couve antes de uma refeição farta, para prevenir doenças do estômago ou alguma indisposição. Consumia-se, também, muita couve a seguir ao estado de embriaguez, tendo-se confirmado mais tarde que a couve tem, de facto, um efeito desintoxicante sobre o fígado. Sabe-se que as couves são consumidas desde tempos pré-históricos, já há 4000 a.C. Já no Egipto havia o hábito de ingerir algumas folhas de couve em vinagre antes de um grande banquete ou festa, obviando a eventuais ressacas, qualidades que foram confirmadas pela medicina recente, sabendo-se que é realmente eficaz devido à sua composição nutricional e por ser um anti-inflamatório, antibiótico e anti irritante natural. Mas os brócolos também eram muito usados, referindo-se também Apício aos mesmos. Também se sabe que, desde a época do Imperador Domiciano, era costume as elites servirem alface como entrada, antes do prato principal, com rabanetes e outros legumes crus. Numa carta de Plínio a Septício (1.15) o primeiro queixa-se que o amigo prometera vir jantar e lhe preparara um banquete de honra - para cada convidado tinha previsto uma alface, três caracóis, dois ovos, entre outros acepipes. A cenoura não era muito apreciada, embora Apicius tenha receitas para ela. Da beterraba era mais comum a utilização das folhas. O uso do alho, da cebola e do nabo era vulgar, bem como das saladas frescas, temperadas com garum, azeite e vinagre. As ervilhas eram também apreciadas.
Alimentare (latim) – alimentar
Através do Satíricon de Petrónio, pode verificar-se alguns dos pratos servidos no lauto banquete, descrito como se se passasse em casa do liberto Trimalquião.
Nessa obra, são nomeados:
- lebres e aves de capoeira (p: 39) - empadas, bolos armados (p. 41) - galo guisado (p: 51) - várias especiarias (pimenta e cominhos) (p: 53) - porcos (p: 53) - presunto (p: 60) - bolos e frutos vários (p: 65) - vinho e água (p: 70) - porco coroado de morcela; miúdos de ave; pão integral; mel quente; grão de bico; tremoços; avelãs; maçãs (p: 72) - passas de uvas e nozes; marmelos (p: 76) - ostras e conchas (p: 77) - vinho (p: 116) - queijo de vaca prensado à mão; figos; pão molhado em água fresca; pepino (p: 108).
Referência Bibliográfica: BLANCHARD-Lemée, M. et alii . Mosaicos da África romana;
Pavimento Mosaicos.Tunísia.Londres: British Museum Press, 1996, p. 75, fig. 47.
Pavimento Mosaicos.Tunísia.Londres: British Museum Press, 1996, p. 75, fig. 47.
Sabe-se, também, que, em
alguns desses grandes banquetes, quer a avestruz, quer o pavão podiam fazer
parte das iguarias.
O ganso era engordado
para os célebres patés, como o pato era usado em numerosos pratos, como bem refletem
as receitas fornecidas por Apício, como já acima mencionámos.
Ver: http://www.elsgnoms.com/receptes/apicio_aves.htm
Também os ouriços eram apreciados como iguaria e faziam parte das entradas de grandes banquetes romanos, a par de mariscos e ovos; mamas de porco recheadas com ouriços-do-mar salgados; pasta de miolos com leite e ovos ou cogumelos cozidos com molho de peixe gordo apimentado, rãs ou ostras. Ver «No Banquete» de Plutarco.
«De Re Coquinaria» Apício. Ver tb: http://imperioroma.blogspot.com/2010/01/festa-em-roma-os-banquetes-e-as-orgias.html http://fogaodobocao.wordpress.com/2010/01/22/apicio-de-re-coquinaria/ «O Banquete» de Ovídio
Mas, para a maior parte dos romanos, a grande base da gastronomia baseava-se nos vegetais (fruges) e nos frutos. Os romanos apreciavam alho, cebola, nabo, o rábano, o figo, romãs, laranjas, peras, maçãs e uvas. As hortaliças eram também muito utilizadas, quer as cultivadas, quer as selvagens.
«Considerada por Catão (De
Re Rustica 156, 1), o vegetal mais saudável, a couve, nas suas
diferentes variedades, teria sido uma das primeiras espécies selecionadas pelo
homem». Por vezes, em saladas, nos legumes usavam molhos avinagrados.
Mosaico com representação de homem com bácoro, regressando da caça.
Museu Monográfico de Conímbriga
Mosaico com cena de caça com a representação de uma lebre. Oderzo. Museu Civico.
Na sua origem, o pão era fabricado em casa, situação que, com o crescimento das cidades e do Império, se alterou. Segundo Plínio-o-Velho, isto ter-se-á dado a partir da conquista da Macedónia, em 168 a.C. Ao que se sabe, foi com os Gregos que os Romanos aprenderam a melhorar o pão e, durante o Império, os padeiros eram geralmente Gregos. Consta que, em 100 a.C., haveria, em Roma, cerca de 258 padeiros, tendo a técnica sido difundida por todo o Império. O pão mais comum era um pão redondo, feito de farro um cereal da família do trigo. A grande expansão do pão, em Roma, causou o nascimento da primeira associação oficial de panificadores. Os seus membros gozavam de um estatuto muito privilegiado - eram livres de alguns deveres sociais e isentos de muitos impostos. A panificação tornou-se tão prestigiada durante o Império Romano que beneficiava de vários benefícios ficais. (CAPEL, 1993, pp 175-184). Havia variadíssimos tipos de pão usados na Roma Antiga, apresentando-vos alguns deles com o apoio do seguinte blogue: http://www.pousadadascores.com.br/culinaria/historia_pao/historia_pao.htm
Panis quadratus - pese o nome, este pão não é quadrado, mas circular. O nome deve-se às barras no topo do pão que a divide em quartos.
Panis quadratus - pese o nome, este pão não é quadrado, mas circular. O nome deve-se às barras no topo do pão que a divide em quartos.
Panis mustaceus - pão comumente
cozido em forma de anel, com uma coroa de louros no topo. Catão dá-nos uma
lista de ingredientes: 660g de gordura, 330g de queijo fresco, 8,7 litros de farinha,
anis e cominho. (Cat. RR CXXI). Este pão era comumente consumido em casamentos,
festas - daí as quantidades maiores de ingredientes.
Panis farreus - pão feito de farinha
grossa para ser partido e partilhado por uma noiva e noivo, na noite de
núpcias.
Panis adipatus - Uma pizza de
pão achatado, contendo uma boa quantidade de bacon e gordura de bacon.
Panis militaris - pão de
soldado. É comumente feito em duas variedades:
Panis castrensis:
Pão de acampamento
Mundus: Pão de marcha
Ambos foram um
tipo de biscoito seco duro que tinha de ser embebido antes de comer. (N.H.
Plinio. XVIII-68)
Panis nauticus - Muito parecido com pão de soldado.
Conhecido como biscoitos navio. (XXII-Plinio. N.H. 138).
Panis picentinus - Outro
tipo de pão duro que exigia a imersão, geralmente no leite ou mulsum (vinho
adocicado), antes de comer. Picentino era um pão de luxo,
encharcado nove dias e depois amassado com sumo de uvae passae (o
sumo doce de uvas secas ou sumo de uva). Era moldado com um rolo, colocado num
vaso de argila e cozido no forno até à rutura do pote. (Plinio. N.H.
XVIII-106)
Panis boletus - Pão que
sobe na forma de um cogumelo. Era coberto com sementes de papoila e colocado
num molde de vidro. As sementes de papoila garantiam que o pão não grudasse. Tinha a cor do queijo defumado.
Panis alexandrinus - não era
um pão popular, sendo frequentemente mencionado em receitas e textos. Não se
sabe os ingredientes exatos ou receita para este pão, mas continha cominho
egípcio e foi importado de Alexandria, a razão do nome.
Panis cappadocianus - Um pão
estilo 'turco' que era produzido fazendo uma massa muito líquida de farinha e
leite. A isto era adicionada uma grande quantidade de sal. Era
cozido num forno muito quente, durante um curto período de tempo e tinha uma
crosta suave.
Panis secundarius -Um tipo comum
de pão branco.
Durante a República, comer pão branco era considerado
muito luxo, pois era muito caro. No período em que o Império estava
no auge, o pão branco era considerado um alimento comum e, portanto, conhecido
como uma segunda escolha ou secundus. Com o imperador Augusto, surgiu a
popularidade de pão integral ou de produtos menos refinados, pelo que pães mais
pesados estiveram, novamente, na moda.
Orindes - pão feito de farinha de arroz
Cybus Cube - pão em forma
com anis, queijo de ovelha fresco e azeite de oliva.
Mazas- biscoitos de cevada
Cribana - Pão feito com
queijo coalho. A sua forma assemelhava-se ao peito de uma mulher.
Tipos de Pão. Baseado em: Cibo e alimentazione nella Roma antica. Aqui.
Buccellatum - Uma espécie de bolachas
salgadas usadas pelos soldados em campanha.
http://es.blastingnews.com/gastronomia/2018/02/gastronomia-romana-en-campana-la-receta-del-buccellatum-o-galletitas-saladas-002341669.html
Panis alexandrinus - não era
um pão popular, sendo frequentemente mencionado em receitas e textos. Não se
sabe os ingredientes exatos ou receita para este pão, mas continha cominho
egípcio e foi importado de Alexandria, a razão do nome.
Panis cappadocianus - Um pão
estilo 'turco' que era produzido fazendo uma massa muito líquida de farinha e
leite. A isto era adicionada uma grande quantidade de sal. Era
cozido num forno muito quente, durante um curto período de tempo e tinha uma
crosta suave.
Panis secundarius -Um tipo comum
de pão branco.
Durante a República, comer pão branco era considerado
muito luxo, pois era muito caro. No período em que o Império estava
no auge, o pão branco era considerado um alimento comum e, portanto, conhecido
como uma segunda escolha ou secundus. Com o imperador Augusto, surgiu a
popularidade de pão integral ou de produtos menos refinados, pelo que pães mais
pesados estiveram, novamente, na moda.
Orindes - pão feito de farinha de arroz
Cybus Cube - pão em forma
com anis, queijo de ovelha fresco e azeite de oliva.
Mazas- biscoitos de cevada
Cribana - Pão feito com
queijo coalho. A sua forma assemelhava-se ao peito de uma mulher.
Tipos de Pão. Baseado em: Cibo e alimentazione nella Roma antica. Aqui.
Sobre o Pão: Historia del Pan en Roma
Aqui
Buccellatum - Uma espécie de bolachas
salgadas usadas pelos soldados em campanha.
http://es.blastingnews.com/gastronomia/2018/02/gastronomia-romana-en-campana-la-receta-del-buccellatum-o-galletitas-saladas-002341669.html
Detalhe da orla de folhas de sobreiro e bolotas que rodeia um dos clípeos da coleção do Museu. Pertenceria à decoração arquitectónica do conhecido como pórtico do Forum. Mérida.
Fotografia Museo Nacional de Arte Romano, Teatro Romano de Mérida
Em Apício, são
inúmeras as receitas com pão, de vários pontos do Império.
Sabe-se, ainda, que o pão se comia acompanhado por figos (frescos ou secos).
Plínio faz referência ao pão feito com bolota: «É coisa certa que mesmo hoje em dia a bolota constitui uma riqueza para muitos povos, mesmo em tempo de paz. Havendo escassez de cereais secam-se as bolotas, monda-se e amassa-se a farinha em forma de pão. Atualmente, mesmo nas Hispânias, a bolota figura entre as sobremesas». Plínio, NH. XVI, 15.
Segundo Estrabão, a principal base alimentar dos povos do N e NO peninsular era a bolota, com cuja farinha faziam pão. Estrabão, III, 3, 7. «Em três quartas partes do ano os montanheses não se alimentam de outra coisa senão de bolotas, que, secas e trituradas, servem para fazer pão».
Dioscórides referia mesmo o uso das bolotas na cura de chagas, contra inflamações e mordeduras venenosas, tendo um efeito diurético.
O legionário romano também subsistia de bolote, que era a farinha de castanhas secas amassada em forma de pão.
A romanização deu um forte incremento à produção de cereais, notando-se o abandono da bolota para a panificação.
Plínio informa-nos, também, que, na Hispânia, o trigo se guarda em silos e que «assim, se não penetra qualquer ar no trigo, é seguro que não haverá qualquer dano» Plínio, XVIII, 306-307.
Columella, assim nos indica, segundo levantamento efetuado por Luís Fraga da Silva:
«I. VI.10... os celeiros [GRANARIA] devem ser acedidos por escadas e receber ventilação através de pequenas aberturas [MODICIS FENESTELLIS] feitas do lado nordeste [AQUILONIBUS] pois é a exposição mais fria e menos húmida, e ambas estes factores contribuem para a preservação do cereal armazenado.
I. VI.11O mesmo raciocínio aplica-se na localização das adegas [VINARIAE CELLAE] no piso térreo, que devem ficar bem longe dos banhos [BALINEIS], forno [FURNO], estrumeira [STERCILINO] e de outros lugares sujos que libertam mau cheiro e, não menos distantes das cisternas [CISTERNIS] e da água corrente [AQUISVE SALIENTIBUS], que libertam humidade que estraga o vinho. I. VI.12... alguns consideram que o melhor lugar para guardar os cereais é um celeiro com um tecto abobadado [HORREUM CAMARA CONTECTUM]...
I. VI.13Mas os celeiros [GRANARIA] também são divididos para permitir a armazenagem separada de cada tipo de legumes [LEGUMINA]...
I. VI.15 Mas o tipo de celeiros [HORREI] acima descrito, a menos que se situe na parte seca da villa [SICCA POSITIONE VILLAE], causa a putrefacção húmida mesmo do grão mais duro; e, se não fosse [pela humidade] seria mesmo possível guardar o grão enterrado... onde a terra, escavada à maneira de um poço [PUTEORUM IN MODUM] a que chamam silos [SIRI], retoma os frutos que produziu. Mas nós, que vivemos em zonas húmidas, preferimos antes os celeiros suspensos acima do solo [PENSILIS HORREI] e a atenção especial à feitura dos pavimentos e paredes, já descritas...I
VI.18 Sobretudo os lagares [TORQULARIA] e as despensas de azeite [CELLAEQUE OLEARIAE] devem estar aquecidas, porque qualquer líquido fica mais fluído com o calor e mais espesso com o frio; e se o azeite congela, o que acontece raramente, fica rançoso [FRACESCIT]. Mas como é o calor natural que se deseja, originado pelo clima e pela exposição solar, não há necessidade de fogo ou chama, pois o sabor do azeite estraga-se com o fumo e a fuligem. Por esta razão o lagar [TORQULAR] deve ser iluminado do lado sul [A MERIDIANA PARTE], de modo a não ser necessário usar fogos e lâmpadas quando as azeitonas estão a ser prensadas [PREMETUR OLEA]».
In: Preceitos dos agrónomos latinos sobre as villae rurais. Comentários sobre a villa rural romana ideal. A propósito de uma leitura dos agrónomos e arquitetos latinos:
http://imprompto.blogspot.pt/2010/07/preceitos-dos-agronomos-e-arquitectos.html
Mosaico com representação de figos e pão. Pompeios
Segundo a lenda, o queijo terá mais
de 12 mil anos, tendo sido descoberto por um dos filhos de Apolo, o deus do Sol
e da Luz, Aristeu.
Aristeu, ao nascer, foi confiado
pelo seu pai à Terra e às Horae, ou, conforme outra
versão do mito, ao centauro Quíron e às Ninfas. Estas ensinaram-lhe
a arte de coalhar leite, cultivar as oliveiras e criar abelhas.
Nessa altura, o queijo não passaria
por todas as etapas do fabrico que agora conhecemos, surgindo apenas da
coagulação do leite e era totalmente desprovido de soro e sal.
Inicialmente fabricado apenas a
partir de leite de cabra e de ovelha, gradualmente passa a usar o leite de
bovinos.
Os Gregos adotaram-no como alimento,
no entanto, os Romanos foram os responsáveis pela sua divulgação pelo Império,
fabricando inúmeras variedades.
Era utilizado na alimentação dos
soldados e atletas, mas, também, transformado em iguaria indispensável nos
grandes banquetes imperiais.
Era, ainda, usado como sobremesa e
misturado quer no pão, a exemplo do cribana, pão confecionado com
queijo coalho que tinha uma forma a assemelhar-se ao peito de uma mulher, quer
noutros alimentos.
Da Época Romana, existe um fresco pompeiano
representando a coalhada feita com moldes de junco, bem como outros exemplares
onde aparece com espargos.
Os romanos, sobretudo os de condição
mais modesta, consumiam muitos queijos feitos de leite de ovelha ou de cabra,
mais raramente de vaca.
O leite coalhado era posto para coar
em cestos de palha ou junco, ou, então, no chamado enxugador, um tipo de tigela
com orifícios, feito de terracota. Eram consumidos frescos ou secos,
curados.
Por ali se comia o moretum,
queijo seco macerado com ervas aromáticas, alho, aipo, arruda, coentro, azeite
e vinagre.
Existem inúmeras referências latinas
ao queijo, salientando que Plínio-o-Velho menciona o queijo proveniente da
Grécia, dos Alpes e da Gália.
Na Villa Romana do
Rabaçal foram encontrados vestígios arqueológicas que indiciam o fabrico de
queijo desde remotas alturas.
O queijo também é nomeado na obra Satiricon, de
Petrónio, que assim nos elucida:
«O prato seguinte foi pastéis de
queijo frios, com uma cobertura de mel quente, regado por um vinho hispânico de
excelente qualidade. Em boa verdade, aos pastéis nem os provei, mas de mel até
me besuntei. À volta havia grãos-de-bico, tremoços, nozes descascadas à
discrição e uma maçã para cada pessoa. Mesmo assim, eu agarrei em duas e
tenho-as aqui escondidas no guardanapo; é que se não levo algum presente ao meu
escravito, tenho logo algazarra. Mas em boa hora a minha patroa mo recorda:
puseram à nossa disposição uns nacos de carne de urso; sem pensar, Cintila
provou-a e esteve quase a ponto de vomitar as próprias entranhas. Eu, pelo
contrário, despachei mais de uma libra, pois tinha o mesmo sabor que o javali.
No que me toca é assim: se o urso devora o pobre do homem, muito mais deve o
pobre do homem devorar o urso! No final, tivemos queijo fresco, vinho recozido,
um caracol por pessoa, tripas aos bocados, fígado no prato, ovos embarretados,
rábanos, mostarda e um prato cheio de merda — e pára, Palamedes! Circularam
ainda, numa tina, azeitonas picantes, das quais alguns descarados sacaram umas
boas três punhadas. Ao presunto, deixámo-lo ir em liberdade.»
E dá-nos ainda nota da existência de uma torta de queijo num dos signos que ornavam uma baixela:
«Era uma peça de baixela circular, com os doze signos do zodíaco em volta, e em cada um dos signos o cozinheiro havia colocado uma iguaria condizente: no carneiro, grão-de-bico cornudo; no Toro, um pedaço de boi; nos Gémeos, testículos e rins; no Câncer, uma coroa; no Leão, figos de África; na Virgem, uma vulva de porca estéril; na Balança, uma balança, tendo num dos pratos uma torta de queijo e no outro um bolo; no Escorpião, uma lagosta; no Aquário, um ganso; nos Peixes, dois sargos. No centro havia um torrão arrancado com a erva e no qual se via um favo de mel. Um criado egípcio servia a cada um pão num forno de prata. […]
A estas palavras, quatro dançarinos avançaram ao som de música e tiraram a tampa da baixela. Vimos, então, no fundo, aves de capoeira, tetas e, no meio, uma lebre ornamentada de penas, que a tornavam parecida com Pégaso. Notámos também, nos cantos da baixela, quatro Mársias, segurando pequenos odres donde se escapa uma salmoura apimentada que escorria sobre peixes que nadavam nessa espécie de euripo.[…]
Quanto a Trimalquião, tem propriedades até onde voa o milhafre e os escudos dos seus escudos. No cubículo do seu porteiro há mais prata do que no património de qualquer outra pessoa. […]».
Fresco pompeiano representando a coalhada feita com moldes de junco
Na Villa
Romana do Rabaçal, foram encontrados vestígios arqueológicos que indiciam o
fabrico de queijo desde remotas épocas.
Como acima
referimos, é conhecido o uso do queijo em múltiplas situações, a exemplo de
receitas de pão.
Inicialmente, o queijo era fabricado apenas a partir de leite de cabra e de ovelha, mas, gradualmente, em Época Romana, passa a ser usado o leite de vaca. Era já utilizado o cardo como coalho que produz a primeira etapa de formação do queijo, a coagulação. Os Gregos eram muito apreciadores desta iguaria que era dada a comer em banquetes às classes privilegiadas.
Mas também o vinho era fundamental à alimentação, havendo-o de muitos
tipos. Segundo informação de Estrabão, «Da Turdetânia exporta-se trigo, muito vinho
e azeite; este, para mais, não só em quantidade, como de qualidade
insuperável», bem como cera, mel, pez. Estrabão III, 2, 613.
São inúmeras as representações de uvas, quer em ambiente natural, quer em
sarcófagos, bem como as referências à produção e comercialização do vinho.
Erotes representando a fase final da produção do vinho, e procedendo à degustação para verificar se se encontra em condições de ser vendido. Casa de Vettii, Pompeios.
Mosaico com representação da pisa da uva. Séculos II - início do século III , Saint-Romain-en-Gal.
Na sua obra, Apício dá-nos também conta da utilização do vinho como tempero em múltiplas receitas, lembrando que se confeccionavam omoletes usando-o, entre as quais destacamos uma feita com espargos, vinho, alho, pimenta, azeite e liquamen.
Mosaico com representação de espargos (Museums Rome-Lácio )
Mas podemos ainda ver uma receita levando pêssegos, pimenta, cominho, menta, aipo, coentro, poejo, tâmara, mel, vinho, liquamen, azeite e vinagre.
Baixo relevo de uma sepultura com representação de carro puxado a bois, para venda de vinho. Museu Romano de Augsburgo
Também aqui, e servindo-me da informação gentilmente
cedida por Raul Villanueva, somos novamente confrontados com uma representação
relacionada com o vinho, nesta belíssima ara proveniente da necrópole de
"El Arenal".
« D(is) M(anibus) S(acrum) / VRSA SE / V(era)
São estas as suas palavras: «Apareció junto con otras 28 por los años 50 del pasado siglo en la necropolis de "El Arenal" a pie de la calzada "per loca maritima" en Vigo la antigua "Vico Spacorum"
Algunas de ellas formaban parte de la cubrición de un pequeño regato»
Museo Municipal de Vigo Quiñones de León.
E podemos ainda falar do variadíssimo tipo de representação associado ao deus do vinho, Baco.
Gema de pasta vítrea com representação de vindima.Feita por três Erotes, com o auxílio de escadas e com um cesto no chão para irem colocando as uvas.
Fotografia e legenda de Graça Cravinho a quem agradecemos.
Zeus «E também a cadmeia Sémele
lhe gerou um filho ilustre,
unida a ele com amor, Diónisos
que traz muitas alegrias,
um imortal nascido de uma
mortal; agora são ambos deuses.
(...)
Diónisos de cabelos de ouro
tomou a loira Ariadne,
a filha de Minos, para sua feliz
esposa
e o Crónida tornou-a imortal e
isenta de velhice.»
Hesíodo, Teogonia, Ed. Imprensa
Nacional Casa da Moeda, 2014.
Baco, deus do vinho, o Dioniso grego, cujo culto parece ter penetrado em Roma no século IV a.C., foi também considerado pelos romanos como um amante da paz e promotor da civilização.
De acordo com a mitologia romana e também como antes referimos, atribui-se
a Baco a forma de extrair o sumo da uva e produzir o vinho. Com inveja, a deusa
Juno (Hera no panteão grego) transforma Baco num louco a vagar pelo mundo. Ao passar pela Frígia, foi curado e instruído nos rituais religiosos pela deusa
Cíbele.
O vinho chegou ao sul da Itália através dos gregos, a partir de cerca de
800 a.C. No entanto, os etruscos já viviam ao norte, na região da atual
Toscana, e elaboravam vinhos, que comercializavam até na Gália e, provavelmente,
na Borgonha. Não se sabe, no entanto, se eles trouxeram as videiras de sua
terra de origem, provavelmente da Ásia Menor ou da Fenícia, ou se cultivaram
uvas nativas da Itália, onde já havia videiras desde a pré-história. Deste
modo, não é possível dizer quem as usou primeiro para a elaboração de vinhos. A
mais antiga ânfora de vinho encontrada na Itália é etrusca e data de 600 a.C.
O estudo de Marie-Adeline Le Guennec, «Les femmes et le vin dans la Rome antique.
Bilan documentaire et historiographique», que vem equacionar muitas das ideias
convencionadas sobre o consumo do vinho pelas matronas romanas, assim se
refere à introdução do vinho em Roma : «Du reste, c’est justement à la
période des VIIIe-VIIe s. que les historiens anciens (ayant il est vrai
reconstruit a posteriori l’histoire de l’Urbs pour
ces périodes pour lesquelles aucune source textuelle directe n’a été conservée)
assignent la diffusion de la culture de la vigne dans la cité romaine, en
l’associant en particulier à l’action du roi Numa, dont le règne se serait déroulé,
selon la chronologie traditionnelle, entre 715 et 672 (voir en particulier
Piccaluga 1962 et Gras 1983). Ainsi, selon les auteurs anciens, c’est Numa
Pompilius qui aurait réglementé la taille de la vigne et introduit
certaines interdictions religieuses en matières de libations (interdiction de
faire des libations avec des vins issus de vignes non taillées). Selon Pine
l’Ancien, c’est d’ailleurs lui qui a fortiori aurait introduit les
libations par le vin, quand l’usage était, sous Romulus, de les faire avec du
lait: Romulus faisait des libations de lait, non de vin, comme le prouvent
les cérémonies religieuses qu’il institua et dont le rite demeure aujourd’hui.
Une loi du roi Numa, son successeur, porte: « N’arrose pas de vin le bûcher. »
On ne peut douter que le motif d’une telle prescription n’ait été la rareté de
cette denrée. Dans la même loi, il déclara impie les libations faites aux dieux
avec des vins de vigne non taillée, moyen de contraindre à la taille ces purs
laboureurs peu désireux de se risquer sur les arbres qui la
portent. (Plin., N. H., 14, 88, trad. J. André, CUF, 1958) »
https://hospitam.hypotheses.org/621
Lucerna do tipo "Dressel-Lamboglia, 30 A". Disco decorado por busto de Baco com pâmpanos e cachos, proveniente de Troia.
Fotografia a partir de:
http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.aspx?IdReg=134167
Na análise acima mencionada, de Marie-Adeline Le Guennec, refere-se os
preconceitos associados tradicionalmente ao consumo do vinho pelas mulheres,
designadamente atribuindo-lhe características adúlteras, informando-nos a
autora que outras bebidas com base no vinho, as dulcia, eram permitidas
às matronas. «Certes, on pourrait penser qu’il s’agit d’un aménagement
postérieur à l’interdit originaire, d’une concession faite aux usages du temps
(tout comme Pline évoquait rapidement en h. n. 14, 89 la
possibilité faite aux femmes au IIe s. av. J.-C. de boire du vin valetudinis
causa, pour se soigner). Et puis, dira-t-on, ne s’agissait-il pas de
boissons moins alcoolisées, plus « politically correct », à
l’égal de notre panaché contemporain, et donc moins susceptibles de provoquer
chez les femmes avortements ou dérives sexuelles?»
O ponto crítico da história do vinho em Roma foi a vitória na longa guerra
com o Império de Cartago, no norte da África, para controlar o Mediterrâneo
Ocidental, entre 264 e 146 a.C. Após as vitórias sobre o general Aníbal e, a
seguir, sobre os macedónios e os Sírios, houve mudanças importantes.
«Os romanos começaram a investir na agricultura com seriedade e a
vitivinicultura atingiu o seu clímax» - in “Confraria do Vinho, Bento
Aguinaldo Gonçalves”.
Para além do aspeto alimentar, pois não só acompanhava as refeições, como servia para temperar os alimentos, conhecem-se as qualidades terapêuticas e medicinais do vinho, para as quais existem, aliás, inúmeras receitas.
Marco
Pórcio Catão (234 a.C. - 149 a.C.), escreveu um tratado, uma espécie
de manual, chamado De Agri Cultura, no qual se podem
encontrar orientações para os cuidados médicos para com os escravos
e o gado.
No De Agri Cultura,
ele recomendava remédios para vários tipos de afeções e apresentava a
receita detalhada para a preparação e uso do medicamentum. Catão
defendia o uso do vinho misturado com flores de certas plantas (zimbro, murta)
para combater mordidas de cobra, gota, obstipação intestinal e indigestão. Já
para a diarreia, indicava associar heléboro ao vinho, e para as verminoses ele
indicava uma mistura de vinho e romã.
Para dores abdominais e problemas
intestinais causados por ténias e lombrigas, ele recomendava: «Pegue 30 romãs
ácidas, esmague, coloque numa jarra com três congii (plural
de congius, medida de volume romano que corresponde a cerca de 3,25
litros atuais) de vinho preto forte e feche o recipiente. Trinta
dias depois abra e use. Tome uma hemina (medida de volume romana que
correspondia a cerca de 270 ml) antes de comer.
Com uma receita com folha de
romã, vinho envelhecido, raiz de funcho, incenso, mel cozido e vinho de
manjericão, era possível eliminar os vermes e tratar a dispepsia. Era
necessário, entretanto, que o paciente subisse para uma pilastra e pulasse para
baixo dez vezes». Catão, De Agri Cultura.
Segundo João Pedro Bernardes e Luís Filipe Oliveira, referindo-se
ao atual Algarve, «a importação de vinho grego na região está testemunhada em
variadíssimos fragmentos de vasos gregos de verniz negro ou de figuras
vermelhas que ocorrem em povoados algarvios nos séculos V/IV a.C. (Alcoutim,
Castro Marim, Faro, Cerro da Rocha Branca-Silves) e que se relacionam com o
consumo de vinho, como é o caso de Krateres e Kylikes (Arruda, 1997). Nesta
altura, a importação de vinho e de vasos relacionados com o seu consumo
insere-se num comércio a longa distância protagonizado pelas aristocracias
indígenas que viam nessas importações e consumos símbolos de poder e de
manifestação do seu status social. Paralelamente iniciam-se as primeiras
experiências de cultivo da vinha na região. A videira selvagem crescia de forma
espontânea em território português, como é demonstrado por análises polínicas
efectuadas no estuário do Tejo, mas só sob as influências de Fenícios e
sobretudo Gregos se passará a fazer o seu cultivo a par do da oliveira. A
generalização do consumo e cultivo da vinha na região algarvia ocorrerá nos
séculos seguintes, com a chegada das legiões romanas. De acordo com o
testemunho de Políbio (XXXIV, 8) para a Lusitânia, dado a conhecer por Athenaeus
de Naucratis (VIII, 330c), parece poder inferir-se que, em meados do
século II a.C., já existiriam vinhas no sul de Portugal que produziriam vinho
suficiente para manter um preço bastante acessível». p: 13
Ainda os mesmos autores, debruçando-se sobre a qualidade e a conservação do vinho da Lusitânia, assim referem: «Columela faz a partir do processo utilizado num lagar que o seu tio possuía na região de Cádiz, de onde era natural. Diz-nos o agrónomo, nascido igualmente em Cádiz, que se adicionava ao mosto 1/48 de defrutum (espécie de vinho abafado ou moscatel) obtido pela redução a 1/3, por ebulição, de uma porção de mosto, com o objectivo de aumentar o teor alcoólico e contribuir para a conservação do vinho. Acrescentavam-se ainda pequenas porções de ervas aromáticas que, para além de apaladar o vinho, tinham função anti-séptica. O sal, numa proporção de 0,7 gr. por litro, permitia, segundo os antigos, acentuar o gosto e cor do vinho levando ainda à sua clarificação. Finalmente, acrescentava-se, na mesma proporção do sal, gesso que tinha a função que hoje tem o ácido tartárico, essencial à conservação do vinho, sobretudo em climas quentes onde a percentagem de acidez das uvas é reduzida» p: 16.
Friso
decorativo «em forma de paralelipípedo, tendo na face lateral mais estreita um
chanfro para encaixe. A face anterior é decorada com um ramo de videira com
cachos, entre duas molduras em forma de corda».
Legenda
a partir de: Museu Monográfico de Conímbriga - Coleções. IPM, 1994.
O vinho aparece associado a Liber Pater e sua divina esposa,
Libera, e, gradualmente, estas duas divindades relacionadas com a
fertilidade foram assimiladas por Dionysus/Bacchus.
Mas a vinha também aparece relacionada com Saturno e com Priapo, como nos
refere Virgílio, em Geórgicas, datada do Século I da nossa era.
A 19 de Agosto, comemoravam-se as Vinalia Rustica, festa para
invocar a proteção da vinha e o Flamen Dialis sacrificava um
cordeiro para que assim se garantisse a abundância nas vindimas.
Nas Festas dedicadas a Baco, noturnas, secretas e frequentadas
exclusivamente por mulheres durante três dias no ano, eram centrais o vinho e a
abundância.
“(…)
o celebrante Baco instiga-as à corrida / e às danças, sacode as
transviadas (…) que as mulheres nos abandonam as casas para irem a umas
supostas bacanais, e que vagueiam pelas montanhas umbrosas, dançando em honra
desse deus de última hora, esse Diónisos (…) e que no meio dos seus tíasos
estão krateres cheios e que uma a uma se refugiam num recanto isolado para aí
se submeterem à lascívia masculina. De pretexto servem-lhes, sem dúvida, os
rituais das Ménades, mas à frente do culto de Baco colocam o de Afrodite. (…)
Pois onde entra o fulgente líquido da videira em festins de mulheres, garanto
que em tais mistérios já não há nada de são”!
EURÍPIDES, As Bacantes, 218-226
«(...) Ora, o sacerdote ordenara que um festival
fosse
celebrado, e que as servas e as matronas, dispensadas
dos seus
afazeres, cobrissem o peito com peles de animais,
soltassem do
cabelo as fitas, e, de grinaldas na cabeça, tirsos
frondosos empunhassem.
Vaticinara ainda que a ira do deus,
se ofendido,
seria terrível. Obedecem matronas e jovens.
Pousam os
teares e os cestos e os novelos deixados a meio,
queimam
incenso, invocam Baco: chamam-lhe Brómio, Lieu,
Filho do Fogo,
Nascido duas vezes, único a ter duas mães.
A estes somam o
nome Niseu, o de Tioneu de cabelo intonso,
E, com o de
Leneu, o de Plantador da videira festiva,
e o de Nictélio
e o de seu pai, Eleleu, e de Iaco e de Évan,
e todos os
outros títulos sem conta que os povos da Grécia
te conferem, ó
Líber. Tu tens uma juventude inesgotável,
tu és o menino
eterno, tu és admirado nas alturas dos céus
como o mais
belo; tu, quando estás presente sem cornos,
tens um rosto
divinal.
(...)
Seguem-te Bacantes
e sátiros,
e o velho ébrio
que sustém o corpo cambaleante com o bastão
e nem se
aguenta bem sobre a garupa encurvada do burrico»
(Ovídio, Metamorfoses, Livro IV vv: 1-25, Bolso Cotovia, Clássicos, 2004)
Podemos dizer que Dioniso ou Baco, em Roma, filho de Zeus e da princesa
Sémele, era o deus grego das festas, do vinho, da fecundidade, do lazer e do
prazer, símbolo do desejo e da libertação de qualquer inibição.
Apresenta-se, geralmente, como um jovem imberbe, risonho e de ar festivo,
de longa cabeleira, pegando um cacho de uvas ou uma taça numa das mãos e
empunhando na outra um tirso (bastão envolvido em hera e ramos de videira e
encimado por uma pinha). Tem sido sugerido o carácter fálico do tirso, no qual
a pinha seria o símbolo do sémen.
Dioniso é, por vezes, figurado com o corpo coberto por um manto de pele de
leão ou de leopardo, com uma coroa de pâmpanos na cabeça e conduzindo um carro
puxado por leões. Pode, igualmente, ser apresentado sentado num tonel,
segurando numa das mãos uma taça donde absorve a embriaguez que o faz
cambalear.
Podemos dizer que Dioniso ou Baco, em Roma, filho de Zeus e da princesa
Sémele, era o deus grego das festas, do vinho, da fecundidade, do lazer e do
prazer, símbolo do desejo e da libertação de qualquer inibição.
Apresenta-se. Geralmente, «como um jovem imberbe, risonho e de ar festivo,
de longa cabeleira, pegando um cacho de uvas ou uma taça numa das mãos e
empunhando na outra um tirso (bastão envolvido em hera e ramos de videira e
encimado por uma pinha)”. Tem sido sugerido o carácter fálico do tirso, no qual
a pinha seria o símbolo do sémen.
Dioniso é, por vezes, figurado com o corpo coberto por um manto de pele de leão
ou de leopardo, com uma coroa de pâmpanos na cabeça e conduzindo um carro
puxado por leões. Pode, igualmente, ser apresentado sentado num tonel,
segurando numa das mais uma taça donde absorve a embriaguez que o faz
cambalear.
Na época romana, a 23 de abril, realizava-se a festividade Vinalia Urbana, fechando e iniciando-se o ciclo produtivo vitivinícola. As Vinalia eram as festas romanas de celebração da viticultura. Festejada em honra de Júpiter Pater e Vénus, a Vinalia Priora ("primeira vinália"), também conhecida como " Vinália Urbana ", celebrava-se nesta data de 23 de abril, para abençoar e provar o vinho do ano anterior e pedir aos deuses uma boa colheita para a próxima vindima. A Vinalia Rustica realizava-se a 19 de agosto, anunciando o início do período de vindima com a colheita e prensagem das uvas.
Dioniso/Baco é comummente
representado fazendo-se acompanhar de outros bebedores:
Sileno – tutor de Dioniso,
companheiro fiel e o mais velho, sábio e beberrão dos seus seguidores, que,
embriagado, tinha o poder da profecia. É representado quase sempre bêbado,
amparado por sátiros ou carregado por um burro, como se pode verificar nas
estátuas, representando Sileno, do Museu do Teatro Romano de Lisboa, Mármore
branco. Século I d.C.
Prov.: Ruínas do Teatro romano. Peça
recolhida em 1798. MNA - essa figura da mitologia greco-romana, tutor e
companheiro do deus Dionísio/Baco, apresenta-se numa posição reclinada,
segurando um odre na mão esquerda e denotando o estado ébrio com que ele
frequentemente se encontra.
Sátiros - divindades menores da
natureza, com aspeto humano, cabelos eriçados, com grande cauda e orelhas
bicudas de bode, pequenos cornos na testa, narizes achatados, lábios grossos,
barbas longas e órgãos sexuais de proporções sobre-humanas, frequentemente
mostrados em estado de ereção. Viviam nos campos e nos bosques, onde tinham
relações sexuais frequentes com as Ninfas e as Ménades, que a eles se juntavam
no cortejo de Dionisio, além de copularem com mulheres e rapazes humanos,
cabras e ovelhas.
A embriaguez era a fonte inesgotável
da sua perpétua jovialidade e lubricidade.
As Bacantes eram as celebrantes dos festivais que se realizavam na Antiga Grécia, e de que há relato escrito desde o século V a.C., na célebre obra de Eurípides.
Os mistérios que envolviam o deus
Dioniso provocavam nelas um estado de êxtase absoluto - entregavam-se à
desmedida violência, derramamento de sangue, sexo, embriaguez e autoflagelação.
Estavam sempre acompanhadas dos sátiros, embalados pelos sons dos tamborins dos
coribantes, formando uma espécie de trupe que acompanhava o deus do vinho nas
suas aventuras. Andavam nuas ou vestidas só com peles, grinaldas de hera e
empunhavam um tirso - um bastão envolto em ramos de videira.
Por onde passavam, atuavam como
chamariz na conversão de outras mulheres, atraindo-as para a vida lasciva.
Evidentemente que o comportamento livre e desregrado delas causava apreensão,
senão pânico, nos lugarejos e cidades onde o cortejo báquico passava. Quando
assaltadas por um furor qualquer, não conheciam limites ao descarregar a sua
cólera. O maior divertimento das Ménades ou Bacantes era submeter os homens ao
sofrimento, despedaçando-os antes de comê-los enquanto estavam em transe. Por
isso, obrigavam-se a procurar refúgio no alto das montanhas, onde podiam
exercer a sua estranha liturgia sem a presença de olhares de censura ou
reprovação.
Festa dies Veneremque vocat cantusque merumque.
[Ovídio, Amores 3.10.47]
(O dia de festa convida Vénus, o canto e o vinho.)
«Musgosas fontes, vós, e tu, ó relva
mais repousante que o melhor dos sonos,
e tu, ó verde arbusto que proteges,
que a vós protege com a breve sombra,
defendei o meu gado do calor
pois chega o Verão, tórrido tempo,
e já nas vinhas, nas tão tenras vinhas
incham rebentos».
Bucólicas, Virgílio
Ménade dançando. Cópia romana de um relevo grego de finais do século V a.C. Museu do Prado.
As Ménades são personagens míticas
ligadas ao culto de Baco, que buscavam a vida nos bosques e se dedicavam à
dança, a festins de embriaguez e dilaceramento de animais selvagens.
Tal como se pode ver neste fragmento
exposto no Museu de Évora, que deve ter pertencido a um friso, as Ménades
aparecem figuradas, normalmente, em grupos de 9, e em posição de dança.
Descoberto em Beja no século XVIII, atesta o movimento e graça com que as
mesmas se faziam representar, onde o ondulado das vestes transparentes deixa
perceber as linhas e o volume das pernas da bailarina.
Deve tratar-se,
provavelmente, de um friso de edifício público de Pax Iulia, e era
uma das principais peças da coleção arqueológica do Bispo Frei Manuel do
Cenáculo (1725-1814), como consta da ficha de inventário do Museu de Évora.
Inscrição funerária de Sentia Amarantis com baixo-relevo em mármore com a representação de uma taberna romana ou termopolium de Emerita Augusta (c. 150-250 d.C.)
Museo Nacional de Arte Romano (Mérida, España).
Inscripción: D(is) M(anibus) S(acrum) / Sent(iae) Amarantis / ann(orum) XLV Sent(ius) / Victor uxori / carissimae f(aciendum) c(uravit) cun cua vix(it) ann(os) XVII
Tradução: Consagrado aos Deuses Manes, Sencio Victor mandou fazer para sua querida mulher Sencia Amarantis de 45 anos com a qual viveu 17 anos.
Mas também são conhecidos inúmeros utensílios ligados à poda, não podendo esquecer os belíssimos exemplares de S. Cucufate.
Sarcófago-das-Vindimas-prov.-Castanheira-do-Ribatejo. M.N.A.
A
propósito do cultivo da vinha, citaremos aqui um elucidativo texto de Carlos
Brochado:
Relativamente aos contentores vinícolas, ao que se sabe,
um tipo muito comum de ânfora, classificada como Haltern 70, «transportaria
preferencialmente, sapa, mulsum e defructum, com
predomínio deste último.
Todavia não há unanimidade entre os autores que se
pronunciaram sobre esta problemática.
Para alguns autores as ânforas Haltern 70 eram
essencialmente vinárias e consideram despropositada a discussão à volta
do defructum como conteúdo privilegiado destas ânforas,
considerando que os seus defensores não levam na devida conta o carácter sempre
residual deste produto no contexto da vinicultura
Para outros, as ânforas Haltern 70 transportavam
predominantemente o defructum que eles consideram unicamente
um condimento obtido a partir do mosto cozido, com propriedades edulcorantes;
produtos como o defructum não eram mais do que uma
espécie de xarope muito concentrado que podia, inclusivamente, ser utilizado
como substituto do mel.
Outros autores (Van der Werff 1984, 171; Dángreaux e
Desbat 1987-88; Liou 1988, 171) consideram que o defructum, além
das utilizações referidas, podia ainda ser comercializado como produto
alcoólico, mais ou menos equivalente aos vinhos doces actuais entre os quais,
alguns vinhos gregos. Para estes autores tratava-se de um vinho cozido com
possibilidades de fermentação e com um papel importante na composição de outros
produtos apreciados, como os frutos macerados em álcool semelhantes».
citação e imagem (ânfora vinária) a partir de: http://www.exofficinahispana.org/Articulos%20y%20Comunicaciones/BO0225.pdf
Ânfora bética Haltern 70 de Cerro da Vila
Por sua vez, passum é
um vinho de passas (Vinho de Uva-Passa), muito doce, supostamente originário de
Cartago, e foi usado pelos Romanos como molho adoçante nos seus
alimentos. O autor grego Políbio referia-se-lhe do seguinte modo:
"entre os romanos as mulheres estão proibidas de beber vinho, e podem
beber o que é chamado passum ". (Políbio, Histórias,
Fragmentos, 4.6.2).
Copo. Vidro. Época Romana, séc. I d.C. Necrópole da Rua da Lavoura, Beja
Créditos: Miguel Serra
Era ainda conhecido o vinho utilizado nas libações, bem como a mola salsa, preparação de espelta salgada usada nos rituais. (Plínio,H.N, 18, 7).
Terminando, gostaríamos
de apresentar alguns objetos utilizados na alimentação, a exemplo dos mortaria,
ou recipientes de cozinha, ou ainda o célebre skyphos de
Alenquer, em cerâmica vidrada e o exemplar vítreo do século I, recentemente
encontrado em Beja.
Festa dies Veneremque vocat cantusque merumque.
[Ovídio, Amores 3.10.47]
(O dia de festa convida Vénus, o canto e o vinho.)
Skyphos ou taça baixa com duas asas dotadas de apoio para os dedos. Copiavam taças de prata ou de cerâmica usadas para beber vinho. Proveniência: Pax Iulia. Créditos: Miguel Serra.
Ovídio (43 a.C. —17 ou 18 d.C.)
Sobre o azeite, existem, também, inúmeras referências, de que saliento as
de Plínio: «Há também azeitonas muito doces que se secam por si, mais doces que
uvas passas; são bastante raras e produzem-se na África e próximo de Emérita,
na Lusitânia» Plínio, NH, XV, 17.
Mosaico com representação de prensa da azeitona. Saint-Romain-en-Gal, Roman, (Século III d. C.). Musee des Antiquites Nationales, St. Germain-en-Laye, France
Este autor latino refere, ainda, que
a Bética obtinha as suas mais ricas colheitas das oliveiras e que o solo
cascalhoso era muito apto para plantar olivais.
A par do seu uso na alimentação, o
azeite era usado, durante o Período Romano, para tratamentos capilares,
sendo também aproveitado na iluminação, designadamente nas lucernas, ou
candeias, como lubrificante de ferramentas e alfaias agrícolas,
impermeabilizante e, ainda, em rituais religiosos, tendo mantido, contudo, o
seu tradicional uso na alimentação e para efeitos medicinais.
O mel, esse manjar divino, aparece
também citado em inúmeras fontes clássicas e sabe-se que era usado tanto para
fins medicinais, como condimento, ou mesmo comido ao natural:
Segundo Plínio (Plínio HN XI),
as abelhas fazem cera com as flores das plantas, exceto algumas; «é erróneo
exceptuar o esparto, pois na Hispânia há muitos meles que procedem de espartos
e têm gosto a esta planta. Julgo igualmente engano esquecer a oliveira, porque
é certo que a abundância de oliveiras favorece a multiplicação dos enxames»,
Plínio, N.H., XI, 18. Ver também Plínio, XXI, 74.
Para Vergílio, as abelhas possuem
uma parcela da inteligência divina. Segundo informação de Estrabão, «Da Turdetânia
exporta-se trigo, muito vinho e azeite; este, para mais, não só em quantidade,
como de qualidade insuperável», bem como «cera, mel, pez»… Estrb. III, 2, 6
Para nos apercebermos bem do que era
a alimentação dos romanos de condições elevadas, valerá a pena ver com atenção
alguns mosaicos, que são como que um espelho do que era considerada uma
"mesa farta".
Mosaico "chão sem varrer" do Triclinium da villa da época de Adriano, Aventino.
A representação de naturezas mortas e de mosaicos, como o que acima se
mostra, tem uma grande importância para os estudos da gastronomia romana,
revelando quais os alimentos que eram consumidos e apreciados nas diferentes
fases, ajudando a datar os hábitos alimentares. Existem representações de
frutas, produtos da terra, peixes, moluscos, alhos, caças, suínos, e vários
frutos que são retratados em cestas de vime, ou pratos de prata ou de terra
sigillata, a exemplo destas peças e pintura a fresco.
Cesto contendo figos. Pompeios.
Bibliografia muito sumária
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