quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Os Trabalhos de Valorização de Miróbriga


Assinatura do protocolo entre a Secretaria de Estado do Turismo e Secretaria de Estado da Cultura, em 1994, Miróbriga.

















Os trabalhos de valorização de Miróbriga


«Programa de Valorização»
Balanço das actividades dos últimos cinco anos

Desde o início da década de 90, que se vêm a desenvolver trabalhos arqueológicos promovidos pelo IPPAR e que haviam sido contemplados no "Projecto de Valorização de Miróbriga".
Este foi um dos Sítios Arqueológicos integrados no protocolo assinado entre a Secretaria de Estado da Cultura e a Secretaria de Estado do Turismo «Itinerários Arqueológicos do Alentejo e do Algarve», tendo sido consideradas prioritárias as seguintes intervenções, a que se deu continuidade no anterior projecto entregue e aprovado pelo Instituto Português de Arqueologia:

1 - Criação de um centro de Acolhimento e Interpretação

Esta infra-estrutura que contempla uma sala de exposições, um pequeno auditório, uma recepção, uma cafetaria, salas de trabalho e um laboratório e que se encontra concluída e aberta ao público desde Maio de 2001, tem como finalidade apoiar os trabalhos arqueológicos a desenvolver em Miróbriga e ainda servir de local de acolhimento aos visitantes.

O facto de estar concluída a sua construção e de possuir uma sala polivalente permitiu realizar um ciclo de conferências ao abrigo do Programa «Cultura 2000» e um conjunto de outras iniciativas, nomeadamente de índole expositiva.

2 - Sinalização das estruturas visitáveis




A sinalização das estruturas arqueológicas está concluída. No entanto, a continuação dos trabalhos arqueológicos permitiu obter novas informações sobre o Sítio Arqueológico, pelo que, pontualmente, foi modificada.

3 - Arranjo paisagístico das ruínas e sua envolvente;

O Sítio Arqueológico tem sido objecto de vários estudos de fauna e flora, que visaram, fundamentalmente, conhecer as características da biodiversidade do local, que possui, de facto, peculiaridades ambientais únicas, e valorizar essa componente.

Está também em curso um estudo do arranjo paisagístico global de Miróbriga, tendo já sido implementada uma 1ª fase do mesmo.

4 – Aquisição de imóveis, terrenos e sua vedação

Uma vez que existiam estruturas arqueológicas numa zona mais extensa da que anteriormente se conhecia, o Estado Português através do IPPAR adquiriu mais 8ha de terreno, onde se situavam também dois imóveis em estado de degradação. Esses imóveis já recuperados funcionam como apoio para os trabalhos arqueológicos, estando previsto que um deles possa vir a albergar os investigadores que se desloquem futuramente a Miróbriga.

Toda a área adquirida foi vedada.

5 - Execução de material promocional e de divulgação

Foi editado um roteiro e um desdobrável bem como um conjunto de postais dedicado ao Sítio Arqueológico e à sua fauna e flora.

Foi ainda executado um conjunto de outros materiais de divulgação do sítio arqueológico que poderão ser adquiridos no local e foram feitas várias acções junto de especialistas.

6 - Escavações arqueológicas e trabalhos de conservação, manutenção e restauro

As escavações têm sido efectuadas com carácter sistemático ao longo destes anos, prioritariamente para delimitar o local onde se implantou o “Centro Interpretativo” e também em zonas onde se previa efectuar os trabalhos de conservação e restauro, como por exemplo na ponte romana e no talude limite dos balneários (este e oeste) e no interior dos edifícios, de acordo com os relatórios entregues ao (ex) Instituto Português de Arqueologia.








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7 – Levantamento topográfico e georeferênciação

Deu-se continuidade ao levantamento topográfico de pormenor de algumas áreas do Sítio Arqueológico que, gradualmente, tem vindo a ser integrado numa planta geral digitalizada.




Levantamento topográfico do Forum de Miróbriga. Armando Guerreiro

8 – Acções de divulgação e de sensibilização junto da comunidade local e do público em geral.

Têm vindo a ser feitas acções de formação junto dos professores e alunos das escolas da região, bem como para a comunidade local.



9 – Arranjos na Capela de S. Brás

A capela de S. Brás funciona deverá funcionar como serviço educativo de Miróbriga, promovendo-se no local um conjunto de iniciativas de sensibilização aos alunos que visitam Miróbriga.



10 – Classificação de materiais arqueológicos e Estudos

No âmbito da preparação da exposição inaugurada no «Centro Interpretativo de Miróbriga» os arqueólogos que colaboram no «Projecto de Valorização de Miróbriga» procederam à classificação e estudo sumário de materiais arqueológicos, designadamente:


Emilio Ambrona e Jorge Vilhena – Materiais da Idade do Ferro

José Carlos Quaresma – materiais cerâmicos (sigillatas e outros)

Carolina Grilo e Emilio Ambrona – materiais anfóricos

Teresa Ricou da Ponte – Numismas

Isabel Inácio – materiais de construção

Maria Filomena Barata – materiais de construção, objectos de adorno e materiais vítreos.



O Arqueólogo José Carlos Quaresma elaborou um estudo mais pormenorizado das Terra Sigillata de Miróbriga que parcialmente enformou a tese de mestrado defendida na Faculdade de Letras de Lisboa, sob o título «Terra Sigillata Sud-Gálica num Centro de Consumo: Chãos Salgados, Santiago do Cacém (Mirobriga)».

Foi feito, por Jorge Vilhena, um levantamento pormenorizado da toponímia que indiciasse uma ocupação humana no território que consideramos ser o pertencente à ciuitas de Miróbriga e foram feitas algumas acções de prospecção direccionada, tendo em vista conhecer melhor o processo de romanização deste mesmo território.

11 – Publicações e conferências

Foram publicados os seguintes trabalhos e realizadas as seguintes conferências pela coordenadora do Projecto de Valorização de Miróbriga:

1998:


Barata, Maria Filomena, «Miróbriga: A investigação e caracterização», in Anaes de Arqueología Cordobesa, Córdova.

Idem, apresentou, no encontro Ciudad y Patrimonio, promovido pelo Consórcio da Cidade Monumental de Mérida, em Novembro de 1998, a seguinte comunicação « Miróbriga; Últimos Trabalhos Arqueológicos e de Valorização do Sítio», publicada na revista Mérida, Ciudad y Patrimonio, 1999.

Idem, participou, nos dias 4 e 5 de Julho de 1998, como representante do IPPAR no encontro Estado do Património em Santiago do Cacém, tendo apresentado uma comunicação sobre «Miróbriga e a romanização do Sudoeste alentejano».

1999:

Barata, Maria Filomena, «Trabalhos Arqueológicos na Ponte Romana de Miróbriga», Vipasca, nª 8, Aljustrel;

Idem, «Balanço dos últimos Trabalhos de Investigação e de Valorização de Miróbriga», Vipasca, nª 8, Aljustrel.

Idem, «As Habitações de Miróbriga e os Ritos Domésticos Romanos» para a Revista Portuguesa de Arqueologia, IPA.

No encontro Arqueologia no Distrito de Setúbal, Maria Filomena Barata (que se fez representar), José Carlos Quaresma e Teresa Ricou da Ponte apresentaram «Últimos trabalhos de investigação e de valorização em Miróbriga», tendo em vista dar a conhecer os últimos trabalhos arqueológicos promovidos no Sítio e os estudos que estes arqueólogos têm vindo a efectuar.

2001



Barata, Maria Filomena, «Miróbriga, Ruínas Romanas», inserida na colecção Roteiros da Arqueologia Portuguesa, IPPAR, Lisboa.

Idem, «O Sítio Arqueológico de Miróbriga», Revista Património-Estudos, IPPAR, Lisboa.

Idem, «Miróbriga, Musealización y Difusión de una Ciudad Romana», Revista de Arqueologia, nº 250, Madrid.

Fez uma conferência no dia 7.06.2001 sobre «À Descoberta de Miróbriga» a convite da Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos.

Fez uma comunicação em no Museo Nacional de Arte Romano, Mérida, sobre o «Hipódromo ou circo de Miróbriga» (no prelo).

Foram ainda publicadas por José Carlos Quaresma:

1999:

Quaresma, José Carlos, «Terra Sigillata Hispânica, Africana, Foceense Tardia e cerâmica Africana de Cozinha de Miróbriga», Conímbriga, Coimbra, pp. 137-200.

Idem, «Terra Sigillata Africana D e Foceense Tardia de escavações recentes em Miróbriga», Revista Portuguesa de Arqueologia, IPA, Lisboa, pp. 69-81.



PROJECTO DE INVESTIGAÇÃO E VALORIZAÇÃO DE MIRÓBRIGA
2002-2005

Equipa:

Maria Filomena Barata (arqueóloga) – responsável pela coordenação do projecto e pelo estudo da arquitectura.

José Carlos Quaresma (arqueólogo) – responsável pela continuação de estudos de cerâmica comum (almofarizes); cerâmica campaniense; paredes finas e terra sigillata ou coordenação do seu estudo.

Jorge Vilhena (arqueólogo) – Responsável pelas prospecções direccionadas que tenham em vista melhor conhecer o fenómeno de romanização do território da ciuitas de Miróbriga.

Carolina Grilo (arqueóloga) – responsável pela continuação do estudo das ânforas.

Teresa Ricou da Ponte (arqueóloga) – continuação do estudo dos numismas.

Isabel Inácio (arqueóloga) – continuação do estudo dos materiais cerâmicos de construção e estudos dos materiais de cerâmica comum tardia.

Antónia González Tinturé e Joaquim Ascensão Garcia – responsáveis pela coordenação dos trabalhos de conservação e restauro.

José Raúl Tiago e António Calisto Bairinhas (assistente de arqueólogo e desenhador/topógrafo) – responsáveis pela coordenação do desenho e topografia.

De salientar que os arqueólogos acima mencionados poderão pontualmente ser co-responsáveis, ou mesmo responsáveis, por escavações a efectuar em Miróbriga tendo como base um plano previamente delineado para o Sítio e com o acordo da responsável deste projecto geral.



CONSERVAÇÃO E INVESTIGAÇÃO


Em termos genéricos, o plano quadrianual que apresentamos obedece aos mesmos princípios do programa anteriormente aprovado, uma vez que consideramos que a conservação do Sítio e o seu melhor conhecimento continuam a ser as prioridades, bem como a publicação do catálogo de peças em exposição no «Centro Interpretativo de Miróbriga».

Há que referir que, enquanto na zona central do aglomerado houve um grande investimento no que respeita aos trabalhos de conservação, tendo paralelamente sido feitas escavações que contribuíram para o esclarecimento parcial de situações, já o hipódromo de Miróbriga, onde foram apenas feitas intervenções pontuais nos últimos anos, deverá merecer neste programa uma particular atenção. Do ponto de vista da sua conservação foi já elaborado uma ficha-diagnóstico, da autoria de Antónia Tinturé e Joaquim Ascensão Garcia, prevendo-se, a curto prazo, a elaboração de um diagnóstico exaustivo.

O mesmo se poderá dizer relativamente a aspectos fundamentais do conhecimento da zona nuclear do aglomerado, onde se presume ter havido a implantação da Idade do Ferro e ter-se iniciado a Romanização, ou seja a zona do Forum e áreas limítrofes, onde deveria haver lugar a escavações e, paralelamente, a trabalhos de conservação. Especificando melhor, referimo-nos à zona compreendida entre o templo centralizado e a muralha da Idade do Ferro e à zona das tabernae que se adossam à plataforma do Forum.

Deverá ainda dar-se continuidade aos trabalhos de escavação dos balneários tendo em vista a conservação de algumas zonas e o conhecimento de todo o complexo balnear, que ainda é parcial.

Paralelamente deverá dar-se continuidade aos registos pormenorizados dos vestígios dispersos na envolvente da zona nuclear do aglomerado urbano e sua digitalização, de molde a haver uma melhor definição da sua extensão.

Deverá ainda dar-se continuidade ao levantamento fotográfico e gráfico (desenho) de todas as estruturas arqueológicas postas a descoberto em antigas escavações, nomeadamente dos seus alçados, para que se possa continuar o estudo arquitectónico das mesmas.

Tal como no projecto anteriormente aprovado pelo Instituto Português de Arqueologia, pretendemos ainda dar continuidade à investigação da ciuitas de Miróbriga, contribuindo assim para um melhor entendimento da forma como se processou a ocupação deste território. Do nosso ponto de vista, deverá, por um lado, ser feito um estudo mais aprofundado dos vestígios da ocupação sidérica em Miróbriga, que não foi possível desenvolver durante o período em que decorreu o anterior projecto, e, por outro, prosseguir com o levantamento exaustivo dos povoados da Idade do Ferro que foram romanizados nesta região. Estes dados deverão ser confrontados com as cronologias apontadas para os vestígios de ocupação romana ex-novo, de molde a poder aferir-se a existência (ou não) de um possível modelo de romanização no Sudoeste Peninsular e as cronologias respeitantes a uma ocupação plena do território.

Apesar de terem sido já referenciados bastantes vestígios que parecem corresponder a uillae e a antigas minas, é também imprescindível, por um lado, dar continuidade ao levantamento sistemático dos recursos que justificam a implantação romana, e, por outro, tentar identificar os mecanismos de produção e de circulação de bens e mercadorias, pois só assim é possível uma melhor caracterização da ciuitas de Miróbriga, no que diz respeito a:

- Recursos metalúrgicos.

Deverá ser feito um levantamento ainda mais exaustivo das minas e dos fornos metalúrgicos e averiguar a sua origem romana, nomeadamente na área compreendida pelo actual concelho de Santiago do Cacém, com particular incidência na Serra do Cercal, que deveria ser um dos locais de maior exploração mineira, utilizando os registos e a análise da toponímia já realizados e prospecções de campo mais sistemáticas, uma vez que só se fizeram direccionadas;

- Recursos agrícolas e organização da produção.

É também fundamental proceder a prospecções mais sistemáticas tendo em vista confirmar a existência de casas agrícolas romanas na envolvente de Miróbriga e da sua interligação com o aglomerado urbano.

- Produção de preparados piscícolas.

Deverá ser efectuado um levantamento de possíveis complexos fabris de transformação do pescado, nomeadamente na periferia do que seria a Lagoa de Pêra e a Lagoa de Santo André.

- Produção oleira.

Torna-se necessário proceder ao reconhecimento de fornos de produção de ânforas e das cerâmicas locais características de Miróbriga, identificadas pela equipa luso-americana como “Pink Miróbriga”, tarefa esta que não foi possível desenvolver durante a vigência do anterior projecto.

- Eixos de circulação viária.

Deverá proceder-se a prospecções sistemáticas no sentido de clarificar a existência de vestígios de possíveis estradas vicinais.

- Limites da Ciuitas

Deverão ser incentivadas mais prospecções que colaborem numa melhor definição dos limites da ciuitas, tentando localizar possíveis termini.



PUBLICAÇÕES E CONFERÊNCIAS


Prevemos ainda no prazo deste «Projecto de investigação e Valorização» publicar o catálogo das peças em exposição e respectivos comentários gerais, como já dito anteriormente, propor a publicação da tese de mestrado a defender a curto prazo por José Carlos Quaresma e editar um trabalho relativo às escavações e à conservação efectuadas nas «Termas Oeste», da autoria de Isabel Inácio e Joaquim Ascensão Garcia.

Contamos ainda desenvolver actividades várias de índole formativa, a exemplo do curso de restauro já mencionado e ciclos de conferências, como o já agendado para Maio próximo, neste caso específico referente ao tema «O Sítio Arqueológico de Miróbriga e sua envolvente». Gostaríamos de no próximo ano fazer um encontro relativo ao Processo de Romanização do Sudoeste Peninsular, contando convidar vários especialistas para o efeito.

A partir de artigo escrito em Évora, 28 de Abril de 2002 (Maria Filomena Barata)

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