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TOURO (?) ESCULPIDO DE MIRÓBRIGA, SANTIAGO DO CACÉM.
Nota: Decorridos anos sobre este trabalho, mereceria o mesmo ser objecto de novo estudo, pois nos surge, cada vez mais, como um bovídeo e não, especificamente, um touro.
Assim a sua função poderia ser muito mais comercial, mascando uma das tabernae que envolviam o forum. Mantenho-o, contudo, disponível até que possa ser actualizado com os novos dados trazidos pelas actuais escavações coordenadas por José Carlos Quaresma.
Maria Filomena Santos Barata
Maria Filomena Santos Barata
Julho de 2024.
O aspecto sacrificial do touro é uma constante no mundo mediterrânico oriental e greco-latino, onde esse sacrifício assume um caracter fundacional. O culto deste animal, enraizado nas religiões do Mediterrâneo e do Próximo Oriente, deve-se ao facto de que, a partir do Neolítico, as populações consideravam o touro, enquanto "pai do rebanho", uma fonte de riqueza de primeiríssima ordem (Blanco, 1961-62, p. 164). Em termos gerais, a sacralidade do touro funda-se na dupla percepção do seu vigor físico e genésico (op. cit., p. 171). Em Portugal, são conhecidas figurações de bucrânios na arte rupestre, pelo menos, desde o Calcolítico (Gomes, 1987, p.35)
" A fecundidade é uma especialização da ... vocação essencial de criadores. (...) Por isso os deuses celestes das religiões indo-mediterrânicas se identificam, desta ou daquela maneira, com o touro". (Eliade, 1992, pp. 114 e 115).
Na "Lenda da Europa" é Zeus, transformado em Touro, que rapta a filha do rei de Sídon. Trata-se não de um touro vulgar, mas do mais belo touro jamais visto: castanho-vivo, com um círculo prateado na testa e belos chifres em forma de quarto crescente . Nesta narrativa o touro não aparece associado ao aspecto sacrificial, mas assume também o papel criador pois, raptando a Europa ao mundo mediterrânico oriental e conduzindo-a para Creta, origina uma geração de "filhos gloriosos cujos ceptros dominarão todos os homens da Terra" (Hamilton, 1983, p.110). Ser em Creta que se afirmar o terrível poder do Minotauro, cuja morte será libertadora.
Ligado a um poder fecundante, a força genésica e a violência cósmica do touro contrapõem-se, de certo modo, à do boi, mais ligado aos cultos agrícolas e, de alguma maneira, à pacificidade e à abnegação do trabalho. Não deixa de ser curioso que nos rituais ligados à fundação de uma cidade romana previamente se faça a marcação do espaço "sagrado" com um boi que puxa um arado, também ele sacralizado.
Os cultos orientais vão ter também durante o império romano particular adesão, quer pelos orientais com domicílio no Ocidente, quer pelos cidadãos romanos, como se verifica com o culto do deus de origem persa, Mitra. No entanto, a penetração dos cultos orientais já se havia feito no Ocidente em período muito anterior ao romano (Padro Parcerisa, 1981, pp. 337-350), alguns dos quais poderão ter prevalecido por um longo período.
Quer na cidade romana de Tróia, Grândola, quer em Beja está comprovado o Culto Mitraico, que se expandiu na Hispânia a partir de finais do século II – inícios do século III d. C., a par de outros cultos orientais, tais como de Serápis, Ísis, Cibele-Magna Mater.
O Sol ou Ormuzd, para os Persas, enquanto fonte de Luz, representava a Vida, a Saúde e a Fertilidade da terra enquanto criadora de todas as coisas necessárias à sobrevivência do Homem.
Mitra surge assim como um terceiro elemento, como uma espécie de divindade mediadora entre duas forças antagónicas (o Sol e a Lua), viabilizando o nascer de um novo dia, ou seja, não permitindo que a Lua ocultasse o Sol.
Mais do que o Sol, Mitra representa a Luz Celestial, ou a essência da Luz, que desponta antes do Astro-Rei raiar e que ainda ilumina depois dele se pôr e, porque dissipa as trevas, é também o deus da Integridade, da Verdade e da Fertilidade, motivo pelo que também surge associado ao Touro primordial que Mitra é incumbido de matar, como de seguida falaremos.
Segundo as lendas de origem persa, Mitra terá recebido uma ordem do deus-Sol, seu pai, através de um seu mensageiro, na figura de um corvo. Deveria matar um touro branco no interior de uma caverna.
O ritual de iniciação nos mistérios de Mitra era o Taurobólio, porque exigia esse sacrifício do touro. É através da sua morte ritual que se dá origem à vida com o seu sangue, à fertilidade, à dádiva das sementes que, recolhidas e purificadas pela Lua, concebem os “frutos” e as espécies animais, pois a sua carne é comida e o seu sangue bebido.
Os candidatos à iniciação dos mistérios mitraicos, praticados quer na Pérsia, quer em Roma, tinham vários graus de iniciação, passando por provas severas, e o iniciado, antes de fazer o seu voto sagrado (sacramentum) prometia não trair o que lhe havia sido revelado. Depois, o iniciado subia os sete degraus, recebendo em cada um deles um nome diferente.
O banquete ritual da morte do touro, o taurobolium, sempre em companhia do Sol, viabiliza ainda aos adeptos do culto mitraico o “nascimento para uma nova vida” ou "Renascimento" que o Cristianismo, que baniu a ideia de sacrifício iniciático, transformou na água do baptismo e, através da Eucaristia, em pão e vinho, substituindo o sangue e a carne do touro divino.
O deus solar Mitra parece ter nascido numa gruta que simboliza o firmamento e, a sua abóbada, o céu de onde sairá a Luz para a Terra. Por isso mesmo os rituais de iniciação mitraicos eram também praticados em gruta.
Geralmente Mitra, que se faz sempre acompanhar do Sol, tem ainda um corvo à sua esquerda – que curiosamente é também o totem do deus solar de origem celta Lug - e no ângulo esquerdo tem a figura do Sol e, à direita, da Lua.
Na Península, os touros são com os leões os animais mais representados na escultura zoomórfica ibérica, quer derivada de uma tradição orientalizante quer de um influxo grego antigo ou de tipo helenístico (Chapa, 1980, p. 251). Entre os animais relacionados com as divindades, o touro foi um dos que teve maior expansão. "Este bovídeo era muito apreciado na Península desde épocas remotas, inserindo-se este culto em raízes comuns a todo o Mediterrâneo. Ao seu inegável valor económico, o touro unia importantes características, como a força, o valor e o poder, sendo amiúde símbolo de deuses guerreiros" (Chapa, p. 261).
A chegada dos invasores romanos, e particularmente dos exércitos, deve ter originado, na Península, um novo surto de cultos orientalizantes.
Com o principado de Augusto assiste-se, por um lado, a um retorno dos valores antigos e, por outro, à oficialização de alguns desses cultos de origem oriental. A "nova ordem" foi assegurada pela "restauração" dos valores ancestrais (Wallace-Hadrill, 1993, p. 12) Muito provavelmente por isso, na iconografia do século I há tal frequência na representações de touros, particularmente os bucrânios descarnados.
"Tendo em conta a extraordinária importância que tinham os sacrifícios e os ritos na vida quotidiana, não surpreende que os signos correspondentes dominassem a nova linguagem das imagens. Praticamente não existe nenhum monumento ou edifício em cuja decoração não figurassem caveiras dos animais sacrificados, mesmo nos que não tinham carácter sagrado. Signos alusivos aos sacrifícios, que no passado serviam apenas como elementos decorativos convencionais, passaram a ser símbolos relevantes da nova pietas" imperial (Zanker, 1992, p. 146). Fundando-se o culto deste animal no seu vigor físico e genésico (Blanco,1961-1962, p. 171) é natural que tenha sido adoptado pela nova iconografia imperial que pretende assumir uma nova energia vital.
No culto mitraico de que acima falámos, introduzido em Roma no século I d.C., o touro sacrificado, degolado, através do taurobolium, dá origem à vida com o seu sangue. Assume, deste modo, uma feminilidade (/masculinidade?) geradora.
No entanto, neste culto de origem oriental, não era admitida qualquer mulher. Muito provavelmente trazido pelos soldados que fizeram campanha na Arméria, durante o principado de Nero, este culto oriental ganhar uma expansão enorme ao ponto de, durante algum tempo, ter competido com o próprio Cristianismo.
O baixo-relevo de Tróia e uma inscrição de Pax Iulia atestam a sua penetração na Lusitânia. No baixo-relevo citado é clara a representação do taurobolium.
M.N.A. Baixo relevo de Tróia
Os cultos de Cybele, introduzidos em Roma no final da Segunda Guerra Púnica, foram reconhecidos no principado de Cláudio. Estão também eles associados a este aspecto sacrificial do touro, cujo sangue é utilizado na cerimónia do baptismo, com um significado profundo do novo nascimento, renovação e relação mais íntima com a divindade (Maciel, 1988, p.110). Toda a mitologia clássica assenta nesse aspecto sacrificial: Da união de Urano (o C‚u) e de Geia (Terra) foram criadas todas as essencias divinas: Titƒndes, Titãs e Ciclopes. O sangue de Urano decapado é o elemento fecundador da terra.
Com o cristianismo, que tenta banir a ideia de sacrifício iniciático, a água assume definitivamente a ideia de salvação através do baptismo (renascimento) e o vinho substituiu, na Eucaristia, o sangue divino (Maciel, op. cit., loc.cit.).
O touro esculpido de Miróbriga
O forum de Miróbriga desenvolve-se em terraços que vencem a topografia do local e que permitem uma intervenção arquitectónica em patamares, conferindo monumentalidade ao conjunto. No mais alto destes patamares foi edificado, no 3º quartel do século I d.C.(Burgholzer), um templo in antis, muito provavelmente dedicado ao culto imperial, cujo podium coroa a praça pública.
O traçado da praça segue uma orientação Noroeste/Sudeste, sendo ainda desconhecida a função da maioria das edificações que se desenvolvem em seu redor. No declive do lado Sul, e vencendo-o, desenvolve-se um conjunto de construções que têm sido identificadas como tabernae, pelas características arquitect¢nicas que apresentam. Este conjunto obedece à mesma orientação geral da praça, à excepção de algumas construções, ligeiramente desviadas, a Ocidente, e que, muito possivelmente, devem pertencer a um outro momento construtivo. O aspecto geral do forum e da zona comercial apresenta, pois, semelhanças com alguns fora imperiais (Balty, 1993, pp.21-32), em que as actividades comerciais manifestam tendência para ser afastadas do forum, à excepção do comércio oficial. Os aspectos mercantis passaram a agrupar-se em mercados independentes, em alguns dos casos situados nas imediações dos fora (Jim‚nez, 1987, p.173 e Balty, 1993, P.31).
Nesse declive desenvolvem-se construções de diferentes tamanhos, sendo, em algumas delas, bem notória a zona de entrada.
Uma dessas edificações construídas em opus incertum tem um tamanho irregular, pois alarga no sentido da rua. Tem 8,70m de comprimento e 1,88m de largura no topo Norte e 2,58m de largura na zona sul. Situa-se junto a uma zona onde afloram calc rios e onde existiria uma escadaria que ligava a rua das tabernae ao forum (Almeida, 1964, p. 30; Soren et alii, 1992, p.37)
Num silhar aparelhado, de relativamente grandes proporções (Alt.: 38cm; comp.92cm; espes.:43cm), foi esculpida uma cabeça de touro naturalista sem ser descarnado, que se assemelha a algumas imitações dos motivos helenísticos datadas do século I a.C. A cabeça de touro ocupa um campo quadrangular de 22cmx22cm, enquadrando-se no lado esquerdo. O silhar está fragmentado, pelo que é constituído actualmente por duas partes. Deve estar fora do seu contexto (Biers et alii, 1981, p. 34), uma vez que se encontra no nível térreo das construções e não tem qualquer ligante que o una aos próximos. Nas redondezas, há outros blocos de grandes dimensões, colocados de uma forma indiscriminada. Muito possivelmente provêm das construções do forum e devem aí ter sido colocados em trabalhos arqueológicos anteriores, mas de que infelizmente não há registo.
Tratando-se de um motivo decorativo com as características que tem, deveria estar implantado num lugar visível da construção a que pertencia. Não existe, no entanto, qualquer referência à sua deslocação para este local*, pelo que só futuras escavações poderão contribuir para um melhor conhecimento dos espaços arquitectónicos no seu conjunto.
Paralelos:
Existem em Portugal várias representações de bucrânios e de bovídeos do período romano.
Do distrito de Beja são procedentes três esculturas de mármore, integrando actualmente o acervo do Museu Regional de Beja. Estes exemplares escultóricos foram publicados por Vasco de Souza com os n£meros 18, 19 e 20 não lhes sendo atribuída qualquer cronologia ( Souza, 1990, pp.15 e 16). Deveriam servir como aduelas no fecho de arcos (Trillmich et alii, 1993, p. 365, est. 150 b). Leite de Vasconcelos havia já publicado cinco cabeças de touro provenientes de Beja (Vasconcelos, ed. 1981, 3§ vol. pp. 514-518) e que, segundo este autor, se deveriam tratar de ex-votos.
No Museu de Évora existe um friso dórico de granito, também publicado por Vasco de Souza com o número 75 (Souza, 1990, p.33), originário de Évora, e atribuível ao período alto-imperial. Alguns autores admitiram que o mesmo pertencesse ao Templo de Évora, opinião essa que tem sido contestada nos últimos anos. Este friso é composto por métopas com bucrânios e páteras. Os bucrâneos têm algum paralelismo formal com o exemplar de Mir¢briga.
Um bom paralelo para esta cabeça de touro é também um exemplar esculpido num silhar, encontrado em La Loma, actualmente depositado no Museu Arqueológico de Teruel (Atrian, 1980). Se bem que ladeado por folhas de acanto e relevado de uma forma mais acentuada, parece pertencer também ao período alto-imperial.
Na Península Ibérica o Touro surge em vários motivos decorativos de arae funerárias e votivas romanas (Beltran Fortes, 1984-85, pp. 163-176), como já acontecia no mundo funerário ibérico (Chapa, 1980, p. 265). Símbolo da força fecundadora, aparece ligado a crenças astrais de imortalidade . Não deixa de ser curioso que no silhar de La Loma o touro apareça associado às folhas de acanto, que são, também, símbolos de imortalidade (Blázquez, 1982, p.190). Nas arae alto-imperiais, e particularmente no reinado de Augusto, os bucrânios descarnados aparececem, aliás, comummente associados a grinaldas (Beltran Fortes, 1984-85, p.164) de clara conotação sacrificial.
As arae cilindricas emeritenses, datadas do período de Augusto, e os frisos relevados com cabeças de touro e grinaldas aparecem associados a construções de culto imperial, onde está presente uma iconografia escult¢rica típica dos séculos I-II - os clipei relevados com as Medusas e Zeus Ammon (Barata, 1993, p.2).
Poderemos ainda citar - se bem que com características formais diferentes, pois o bucrânio ‚ aqui muito mais estilizado - um friso de bronze proveniente de Cuenca, que deveria pertencer a um altar, datável dos séculos I-II d.C. (Trillmich et alii, 1993,p. 390, est. 189). Neste friso estão representados um bucranium e um guttus .
Na Bética existem também vários exemplares de arae com representações de bucrânios associados a grinaldas (Beltran Fortes, p. 165).
São conhecidas também várias cunhagens hispânicas do período pré-augustano e augustano com representações de touros no reverso, muito comuns na época de César. Com bucrƒnios foram tamb‚m identificadas algumas moedas, nomeadamente as provenientes de Calagurris, sendo uma anterior a 27 a.C. e uma outra posterior (Villaronga, 1979, p.245 e p.262).
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* ver Arque¢logo Português, nº 8, 1903 (artº de José Leite de Vasconcelos)
O aspecto sacrificial do touro é uma constante no mundo mediterrânico oriental e greco-latino, onde esse sacrifício assume um caracter fundacional. O culto deste animal, enraizado nas religiões do Mediterrâneo e do Próximo Oriente, deve-se ao facto de que, a partir do Neolítico, as populações consideravam o touro, enquanto "pai do rebanho", uma fonte de riqueza de primeiríssima ordem (Blanco, 1961-62, p. 164). Em termos gerais, a sacralidade do touro funda-se na dupla percepção do seu vigor físico e genésico (op. cit., p. 171). Em Portugal, são conhecidas figurações de bucrânios na arte rupestre, pelo menos, desde o Calcolítico (Gomes, 1987, p.35)
" A fecundidade é uma especialização da ... vocação essencial de criadores. (...) Por isso os deuses celestes das religiões indo-mediterrânicas se identificam, desta ou daquela maneira, com o touro". (Eliade, 1992, pp. 114 e 115).
Na "Lenda da Europa" é Zeus, transformado em Touro, que rapta a filha do rei de Sídon. Trata-se não de um touro vulgar, mas do mais belo touro jamais visto: castanho-vivo, com um círculo prateado na testa e belos chifres em forma de quarto crescente . Nesta narrativa o touro não aparece associado ao aspecto sacrificial, mas assume também o papel criador pois, raptando a Europa ao mundo mediterrânico oriental e conduzindo-a para Creta, origina uma geração de "filhos gloriosos cujos ceptros dominarão todos os homens da Terra" (Hamilton, 1983, p.110). Ser em Creta que se afirmar o terrível poder do Minotauro, cuja morte será libertadora.
Ligado a um poder fecundante, a força genésica e a violência cósmica do touro contrapõem-se, de certo modo, à do boi, mais ligado aos cultos agrícolas e, de alguma maneira, à pacificidade e à abnegação do trabalho. Não deixa de ser curioso que nos rituais ligados à fundação de uma cidade romana previamente se faça a marcação do espaço "sagrado" com um boi que puxa um arado, também ele sacralizado.
Os cultos orientais vão ter também durante o império romano particular adesão, quer pelos orientais com domicílio no Ocidente, quer pelos cidadãos romanos, como se verifica com o culto do deus de origem persa, Mitra. No entanto, a penetração dos cultos orientais já se havia feito no Ocidente em período muito anterior ao romano (Padro Parcerisa, 1981, pp. 337-350), alguns dos quais poderão ter prevalecido por um longo período.
Quer na cidade romana de Tróia, Grândola, quer em Beja está comprovado o Culto Mitraico, que se expandiu na Hispânia a partir de finais do século II – inícios do século III d. C., a par de outros cultos orientais, tais como de Serápis, Ísis, Cibele-Magna Mater.
O Sol ou Ormuzd, para os Persas, enquanto fonte de Luz, representava a Vida, a Saúde e a Fertilidade da terra enquanto criadora de todas as coisas necessárias à sobrevivência do Homem.
Mitra surge assim como um terceiro elemento, como uma espécie de divindade mediadora entre duas forças antagónicas (o Sol e a Lua), viabilizando o nascer de um novo dia, ou seja, não permitindo que a Lua ocultasse o Sol.
Mais do que o Sol, Mitra representa a Luz Celestial, ou a essência da Luz, que desponta antes do Astro-Rei raiar e que ainda ilumina depois dele se pôr e, porque dissipa as trevas, é também o deus da Integridade, da Verdade e da Fertilidade, motivo pelo que também surge associado ao Touro primordial que Mitra é incumbido de matar, como de seguida falaremos.
Segundo as lendas de origem persa, Mitra terá recebido uma ordem do deus-Sol, seu pai, através de um seu mensageiro, na figura de um corvo. Deveria matar um touro branco no interior de uma caverna.
O ritual de iniciação nos mistérios de Mitra era o Taurobólio, porque exigia esse sacrifício do touro. É através da sua morte ritual que se dá origem à vida com o seu sangue, à fertilidade, à dádiva das sementes que, recolhidas e purificadas pela Lua, concebem os “frutos” e as espécies animais, pois a sua carne é comida e o seu sangue bebido.
Os candidatos à iniciação dos mistérios mitraicos, praticados quer na Pérsia, quer em Roma, tinham vários graus de iniciação, passando por provas severas, e o iniciado, antes de fazer o seu voto sagrado (sacramentum) prometia não trair o que lhe havia sido revelado. Depois, o iniciado subia os sete degraus, recebendo em cada um deles um nome diferente.
O banquete ritual da morte do touro, o taurobolium, sempre em companhia do Sol, viabiliza ainda aos adeptos do culto mitraico o “nascimento para uma nova vida” ou "Renascimento" que o Cristianismo, que baniu a ideia de sacrifício iniciático, transformou na água do baptismo e, através da Eucaristia, em pão e vinho, substituindo o sangue e a carne do touro divino.
O deus solar Mitra parece ter nascido numa gruta que simboliza o firmamento e, a sua abóbada, o céu de onde sairá a Luz para a Terra. Por isso mesmo os rituais de iniciação mitraicos eram também praticados em gruta.
Geralmente Mitra, que se faz sempre acompanhar do Sol, tem ainda um corvo à sua esquerda – que curiosamente é também o totem do deus solar de origem celta Lug - e no ângulo esquerdo tem a figura do Sol e, à direita, da Lua.
Na Península, os touros são com os leões os animais mais representados na escultura zoomórfica ibérica, quer derivada de uma tradição orientalizante quer de um influxo grego antigo ou de tipo helenístico (Chapa, 1980, p. 251). Entre os animais relacionados com as divindades, o touro foi um dos que teve maior expansão. "Este bovídeo era muito apreciado na Península desde épocas remotas, inserindo-se este culto em raízes comuns a todo o Mediterrâneo. Ao seu inegável valor económico, o touro unia importantes características, como a força, o valor e o poder, sendo amiúde símbolo de deuses guerreiros" (Chapa, p. 261).
A chegada dos invasores romanos, e particularmente dos exércitos, deve ter originado, na Península, um novo surto de cultos orientalizantes.
Com o principado de Augusto assiste-se, por um lado, a um retorno dos valores antigos e, por outro, à oficialização de alguns desses cultos de origem oriental. A "nova ordem" foi assegurada pela "restauração" dos valores ancestrais (Wallace-Hadrill, 1993, p. 12) Muito provavelmente por isso, na iconografia do século I há tal frequência na representações de touros, particularmente os bucrânios descarnados.
"Tendo em conta a extraordinária importância que tinham os sacrifícios e os ritos na vida quotidiana, não surpreende que os signos correspondentes dominassem a nova linguagem das imagens. Praticamente não existe nenhum monumento ou edifício em cuja decoração não figurassem caveiras dos animais sacrificados, mesmo nos que não tinham carácter sagrado. Signos alusivos aos sacrifícios, que no passado serviam apenas como elementos decorativos convencionais, passaram a ser símbolos relevantes da nova pietas" imperial (Zanker, 1992, p. 146). Fundando-se o culto deste animal no seu vigor físico e genésico (Blanco,1961-1962, p. 171) é natural que tenha sido adoptado pela nova iconografia imperial que pretende assumir uma nova energia vital.
Fragmentos de um grande relevo dedicado a Agripa, oficiante num sacrifício, realizado na época de Cláudio. Fazia parte da decoraçáo do pórtico do Forum de Augusta Emerita.
Fotografia e informação a partir de: La Ciutat Hispano-Romana.
No culto mitraico de que acima falámos, introduzido em Roma no século I d.C., o touro sacrificado, degolado, através do taurobolium, dá origem à vida com o seu sangue. Assume, deste modo, uma feminilidade (/masculinidade?) geradora.
No entanto, neste culto de origem oriental, não era admitida qualquer mulher. Muito provavelmente trazido pelos soldados que fizeram campanha na Arméria, durante o principado de Nero, este culto oriental ganhar uma expansão enorme ao ponto de, durante algum tempo, ter competido com o próprio Cristianismo.
O baixo-relevo de Tróia e uma inscrição de Pax Iulia atestam a sua penetração na Lusitânia. No baixo-relevo citado é clara a representação do taurobolium.
M.N.A. Baixo relevo de Tróia
Os cultos de Cybele, introduzidos em Roma no final da Segunda Guerra Púnica, foram reconhecidos no principado de Cláudio. Estão também eles associados a este aspecto sacrificial do touro, cujo sangue é utilizado na cerimónia do baptismo, com um significado profundo do novo nascimento, renovação e relação mais íntima com a divindade (Maciel, 1988, p.110). Toda a mitologia clássica assenta nesse aspecto sacrificial: Da união de Urano (o C‚u) e de Geia (Terra) foram criadas todas as essencias divinas: Titƒndes, Titãs e Ciclopes. O sangue de Urano decapado é o elemento fecundador da terra.
Com o cristianismo, que tenta banir a ideia de sacrifício iniciático, a água assume definitivamente a ideia de salvação através do baptismo (renascimento) e o vinho substituiu, na Eucaristia, o sangue divino (Maciel, op. cit., loc.cit.).
O touro esculpido de Miróbriga
O forum de Miróbriga desenvolve-se em terraços que vencem a topografia do local e que permitem uma intervenção arquitectónica em patamares, conferindo monumentalidade ao conjunto. No mais alto destes patamares foi edificado, no 3º quartel do século I d.C.(Burgholzer), um templo in antis, muito provavelmente dedicado ao culto imperial, cujo podium coroa a praça pública.
O traçado da praça segue uma orientação Noroeste/Sudeste, sendo ainda desconhecida a função da maioria das edificações que se desenvolvem em seu redor. No declive do lado Sul, e vencendo-o, desenvolve-se um conjunto de construções que têm sido identificadas como tabernae, pelas características arquitect¢nicas que apresentam. Este conjunto obedece à mesma orientação geral da praça, à excepção de algumas construções, ligeiramente desviadas, a Ocidente, e que, muito possivelmente, devem pertencer a um outro momento construtivo. O aspecto geral do forum e da zona comercial apresenta, pois, semelhanças com alguns fora imperiais (Balty, 1993, pp.21-32), em que as actividades comerciais manifestam tendência para ser afastadas do forum, à excepção do comércio oficial. Os aspectos mercantis passaram a agrupar-se em mercados independentes, em alguns dos casos situados nas imediações dos fora (Jim‚nez, 1987, p.173 e Balty, 1993, P.31).
Nesse declive desenvolvem-se construções de diferentes tamanhos, sendo, em algumas delas, bem notória a zona de entrada.
Uma dessas edificações construídas em opus incertum tem um tamanho irregular, pois alarga no sentido da rua. Tem 8,70m de comprimento e 1,88m de largura no topo Norte e 2,58m de largura na zona sul. Situa-se junto a uma zona onde afloram calc rios e onde existiria uma escadaria que ligava a rua das tabernae ao forum (Almeida, 1964, p. 30; Soren et alii, 1992, p.37)
Num silhar aparelhado, de relativamente grandes proporções (Alt.: 38cm; comp.92cm; espes.:43cm), foi esculpida uma cabeça de touro naturalista sem ser descarnado, que se assemelha a algumas imitações dos motivos helenísticos datadas do século I a.C. A cabeça de touro ocupa um campo quadrangular de 22cmx22cm, enquadrando-se no lado esquerdo. O silhar está fragmentado, pelo que é constituído actualmente por duas partes. Deve estar fora do seu contexto (Biers et alii, 1981, p. 34), uma vez que se encontra no nível térreo das construções e não tem qualquer ligante que o una aos próximos. Nas redondezas, há outros blocos de grandes dimensões, colocados de uma forma indiscriminada. Muito possivelmente provêm das construções do forum e devem aí ter sido colocados em trabalhos arqueológicos anteriores, mas de que infelizmente não há registo.
Tratando-se de um motivo decorativo com as características que tem, deveria estar implantado num lugar visível da construção a que pertencia. Não existe, no entanto, qualquer referência à sua deslocação para este local*, pelo que só futuras escavações poderão contribuir para um melhor conhecimento dos espaços arquitectónicos no seu conjunto.
Paralelos:
Existem em Portugal várias representações de bucrânios e de bovídeos do período romano.
Do distrito de Beja são procedentes três esculturas de mármore, integrando actualmente o acervo do Museu Regional de Beja. Estes exemplares escultóricos foram publicados por Vasco de Souza com os n£meros 18, 19 e 20 não lhes sendo atribuída qualquer cronologia ( Souza, 1990, pp.15 e 16). Deveriam servir como aduelas no fecho de arcos (Trillmich et alii, 1993, p. 365, est. 150 b). Leite de Vasconcelos havia já publicado cinco cabeças de touro provenientes de Beja (Vasconcelos, ed. 1981, 3§ vol. pp. 514-518) e que, segundo este autor, se deveriam tratar de ex-votos.
No Museu de Évora existe um friso dórico de granito, também publicado por Vasco de Souza com o número 75 (Souza, 1990, p.33), originário de Évora, e atribuível ao período alto-imperial. Alguns autores admitiram que o mesmo pertencesse ao Templo de Évora, opinião essa que tem sido contestada nos últimos anos. Este friso é composto por métopas com bucrânios e páteras. Os bucrâneos têm algum paralelismo formal com o exemplar de Mir¢briga.
Um bom paralelo para esta cabeça de touro é também um exemplar esculpido num silhar, encontrado em La Loma, actualmente depositado no Museu Arqueológico de Teruel (Atrian, 1980). Se bem que ladeado por folhas de acanto e relevado de uma forma mais acentuada, parece pertencer também ao período alto-imperial.
Na Península Ibérica o Touro surge em vários motivos decorativos de arae funerárias e votivas romanas (Beltran Fortes, 1984-85, pp. 163-176), como já acontecia no mundo funerário ibérico (Chapa, 1980, p. 265). Símbolo da força fecundadora, aparece ligado a crenças astrais de imortalidade . Não deixa de ser curioso que no silhar de La Loma o touro apareça associado às folhas de acanto, que são, também, símbolos de imortalidade (Blázquez, 1982, p.190). Nas arae alto-imperiais, e particularmente no reinado de Augusto, os bucrânios descarnados aparececem, aliás, comummente associados a grinaldas (Beltran Fortes, 1984-85, p.164) de clara conotação sacrificial.
As arae cilindricas emeritenses, datadas do período de Augusto, e os frisos relevados com cabeças de touro e grinaldas aparecem associados a construções de culto imperial, onde está presente uma iconografia escult¢rica típica dos séculos I-II - os clipei relevados com as Medusas e Zeus Ammon (Barata, 1993, p.2).
Poderemos ainda citar - se bem que com características formais diferentes, pois o bucrânio ‚ aqui muito mais estilizado - um friso de bronze proveniente de Cuenca, que deveria pertencer a um altar, datável dos séculos I-II d.C. (Trillmich et alii, 1993,p. 390, est. 189). Neste friso estão representados um bucranium e um guttus .
Na Bética existem também vários exemplares de arae com representações de bucrânios associados a grinaldas (Beltran Fortes, p. 165).
São conhecidas também várias cunhagens hispânicas do período pré-augustano e augustano com representações de touros no reverso, muito comuns na época de César. Com bucrƒnios foram tamb‚m identificadas algumas moedas, nomeadamente as provenientes de Calagurris, sendo uma anterior a 27 a.C. e uma outra posterior (Villaronga, 1979, p.245 e p.262).
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