Peça do mês de Outubro no Museu Nacional de Arqueologia
O Museu Nacional de Arqueologia (MNA) possui um acervo de muitos milhares, na verdade centenas de milhares, de objetos. Provêm eles de intervenções arqueológicas programadas ou de achados fortuitos, mas também de aquisições. As peças foram incorporadas por iniciativa do próprio Museu ou por depósito e doação de investigadores e colecionadores. Às coleções portuguesas acrescentam-se ainda as estrangeiras, igualmente de períodos e regiões muito diversificadas.Todos os períodos cronológicos e culturais, desde a mais remota Pré-História até épocas recentes, relevando-se, neste caso, as peças etnográficas, estão representados no MNA.O MNA é ainda o museu português que possui no seu acervo a maior quantidade de bens culturais classificados como “tesouros nacionais”.Existe, pois, motivo constante para a redescoberta das coleções do Museu Nacional de Arqueologia e é esse o sentido da evocação que fazemos, em cada mês que passa, em diálogo com o diferente tipo de actividades que o mesmo desenvolve.
CAMAFEU COM REPRESENTAÇÃO DE MEDUSA
Tratando-se de um camafeu de proveniência desconhecida, pertencendo à Colecção Bustorff Silva, integrada no Museu Nacional de Arqueologia em 1969, tem sido datada de Época Romana, embora especialistas em glíptica, a exemplo de Graça Cravinho, defendam tratar-se de um exemplar neo-clássico, tanto mais que é comum desde a Época Renascentista que haja cópias de peças clássicas também na Glíptica.O camafeu de base oval, esculpida em ametista, tem uma representação frontal da cabeça de Medusa. Os cabelos ondulados molduram a cara; no topo e ao centro, sob as asas, duas serpentes enodadas, cujas caudas surgem, sob o queixo, enlaçadas. Trata-se de um trabalho muito delicado e de grande pormenor, embora apresente lacunas na asa do lado esquerdo e na base, bem como algumas fendas também localizadas na base.
A Medusa representada neste camafeu é esse monstro que tem o poder de transformar em pedra todos aqueles que a olham directamente, era uma das Górgonas. A mitologia grega tardia, referia a existência de três : Medusa, Esteno e Euríale. Ao contrário das outras duas, a Medusa era mortal e, por isso, foi decapitada por Perseu que a ofereceu à deusa Atena, razão pela qual aparece fazendo parte da égide da divindade.Também por esse mesmo motivo, com carácter igualmente protector, a imagem da cabeça da Medusa surge, em época romana, com um valor apotropaico de protecção, quer representada em mosaicos, a exemplo do de Abelterium/Alter do Chão, em camafeus, em páteras, como a da Lameira Larga, Penamacor, pertencente também ao MNA, em escudos, couraças ou mesmo em elementos arquitectónicos decorativos. Ou seja, o valor apotropaico da Medusa ultrapassa o âmbito estritamente bélico, de tal forma que, embora mantendo o seu lugar primordial em couraças e escudos, passa a marcar presença em lugares públicos, para os proteger.Comum é, portanto, a representação da cabeça de Medusa em alguns clipei que fazem parte da ornamentação dos edifícios públicos romanos dos séculos I-II, como sucede nos fora de Mérida e de Tarragona, que têm também um poder de amparo, protegendo os lugares das forças malignas.Com o testemunho de Jorge António, que nos falará do Mosaico da Casa da Medusa em Alter do Chão, e de Filomena Barata que introduzirá o tema, falaremos da Medusa no próximo Sábado, dia 8 de Outubro, pelas 15h 30m, no Museu Nacional de Arqueologia.
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