Hermes e Maia, detalhe de uma ânfora ática, 500 a.C., Coleções Estatais de Antiguidades (Inv. 2304)
Fotografia a partir de:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Maia_(mitologia)
As Geórgicas de Vergílio, Ed. Sá da Costa, 1948. (vv 335-355)
Maias: a mais antiga celebração religiosa
Filomena Barata - Museu Nacional de Arqueologia
As Maias constituem um ciclo de festivais que, em Roma, se relacionavam com o despertar da natureza, lembrando antiquíssimos cultos agrários.
Para os gregos, Maia era a mais velha das Plêiades, uma das sete filhas de Atlas e que, unida a Zeus, foi mãe de Hermes, o mensageiro dos deuses, conhecido por Mercúrio entre os romanos, ancestralmente considerado uma divindade agrária e da pastorícia.
Já na mitologia romana, Maia surge-nos como uma antiga divindade itálica, filha de Fauno e esposa de Vulcano, o deus romano do fogo (Hefesto na mitologia grega). Era designada de Maia Maiesta e também de Fauna ou Bona Dea (deusa das Deusas).
Deusa da primavera, Maia deu nome ao mês de maio, que lhe era consagrado. No primeiro dia de maio, o flâmine de Vulcano sacrificava-lhe uma porca grávida.
Era essencialmente venerada por mulheres, sendo os homens excluídos do perímetro sagrado dos seus templos.
Embora não estando relacionadas originalmente, as duas divindades de origem grega e romana acabaram por ser identificadas uma com a outra.
Muito provavelmente associando-se remotamente a esses rituais de sagração da primavera, provém o hábito de pendurar giestas às portas e janelas, nos portões, cancelas, carros de lavoura e até nos próprios animais, em muitas localidades portuguesas, afastando o “burro”, igualmente chamado em algumas zonas o “carrapato”, ou seja, o mau agouro que possa ser nefasto para as colheitas, no início do mês de maio.
E as Maias, meninas vestidas de branco e coroadas de flores, ou as “marafonas”, as bonecas de pano ou de palha vão sentar-se à porta de casa, na esquina da rua ou na praceta, pedindo “um tostãozinho para a Maia”.
Regiões há onde se enfeitam ruas e edifícios com coroas de flores de giestas, chamadas maia ou maio.
Ainda hoje as Mais se podem considerar um dos rituais mais expressivos do ponto de vista da história religiosa antiga, que permaneceu, segundo alguns estudiosos, sem grandes alterações desde o século V, e que se exprime, com variantes, em vários pontos do País, celebrando, tal como acontecia na Roma Antiga, o despertar da natureza, a fertilidade vegetativa.
José Leite de Vasconcelos, nos seus Opúsculos, Volume V – Etnologia, publicado em 1938, refere que a mais “antiga menção desta festa popular, festa evidentemente naturalística, posto mais ou menos desviada da sua significação primitiva, já pelo próprio Paganismo, já pelo Cristianismo, creio que se acha nestas linhas da Postura da câmara de Lisboa de 1385: ‘Outro sim estabelecemos que daqui em diante em esta Cidade e em seu termo não se cantem as Janeiras nem Maias, nem outro nenhum mês do ano’”.
Aceita-se ainda que a tradição das Maias possa remontar ao episódio da fuga de Jesus para o Egito, dada a perseguição de Herodes que ordenara a morte do Menino. Quando se identificou a porta da casa onde pernoitou, foi colocado um ramo de giesta na porta para que os soldados de Herodes a pudessem reconhecer e o fossem buscar. Milagrosamente, quando os soldados se dirigiam à cidade, foram confrontados com as casas todas enfeitadas com ramos de giesta florida, não podendo assim cumprir a sua missão. Mas há quem recorde também o caminho da sagrada família para o Egito, quando Maria, para se orientar, terá colocado giestas no seu caminho.
Contudo, dada a altura do ano, correspondendo à época de florestação, da plenitude da primavera, aceitamos que os seus antecedentes possam filiar-se em cultos bem mais antigos.
Derivando da palavra latina flos (flores), Flora era, por sua vez, uma ninfa romana das flores, também intimamente ligada à primavera. Porque um novo ciclo começa com a entrada dessa estação, Flora surge-nos assim como deusa da fertilidade. Durante os festejos que lhe eram dedicados em Roma, atiravam-se sementes sobre a multidão para atrair a abundância, situação em que podemos encontrar algum paralelismo no hábito de deitar arroz aos recém-casados.
Eram também sacrificadas ovelhas e ofertado mel e sementes de flores. O mel era exatamente considerado um dos presentes que Flora tinha dado aos seres humanos, simbolizando, neste caso, a abelha a força feminina da natureza. Flora foi inúmeras vezes associada a Deméter, a Ceres dos romanos de que falaremos, e o poeta Ovídio (43 a.C. — 17 ou 18 d.C.) chega mesmo a relacioná-la com a mitologia grega, identificando-a com a ninfa grega Cloris, embora a origem da divindade seja também itálica.
Segundo a versão do Mito de Ovídio, um certo dia de primavera, Zéfiro, o vento oeste, avistou a ninfa Cloris, apaixonou-se por ela e transformou-a em Flora. Como prova de seu amor, Zéfiro nomeou a sua amada como rainha das flores, das árvores frutíferas e concedeu-lhe o poder de germinar as sementes das flores de cultivo e ornamentais, entre elas o cravo.
Já em abril, mês de Vénus e das rosas que eram seu atributo, se elogiava na antiguidade o renascer da vida.
A rosa, considerada “a rainha das flores” pela poetisa Safo no século VI a.C., teria sido criada, segundo a mitologia grega, por Cloris, essa deusa das flores a partir do corpo inanimado de uma ninfa.
Essa bela flor foi consagrada a Afrodite, a Vénus da época romana, que, segundo as lendas, nasceu das espumas do mar que se transformaram numa rosa branca, representando a pureza e a inocência.
Dioniso ou Baco entre os latinos, segundo a tradição mais difundida do mito, ofereceu-lhe o seu perfume, e as Três Graças deram-lhe o encanto e o brilho com que ela pasmava os que a contemplavam.
Também Cupido, o deus do Amor, filho de Marte, deus da guerra, e de Vénus, usava uma coroa de rosas, assim como Príapo, deus dos jardins e da fecundidade.
Também a mitologia nos diz que quando a apaixonada Afrodite viu o seu amado Adónis ferido, pairando sobre ele a morte, a deusa foi socorrê-lo, tendo-se picado num espinho e o seu sangue coloriu de vermelho as rosas que lhe eram consagradas. Assim, na antiguidade, as rosas eram também usadas sobre os túmulos como símbolo de luto.
Em Roma existia um festival em honra de Flora e de Vénus chamado “Rosália”, e todos os anos, no mês de maio, as sepulturas eram adornadas com essas flores, provavelmente em alusão à morte de Adónis.
As papoilas bailantes que ainda hoje enchem os nossos campos são, a par das espigas, atributos de Deméter-Ceres, a deusa da fertilidade e do trigo, considerado símbolo da civilização, enquanto capacidade dos humanos moldarem a natureza.
Como era a deusa da agricultura, fez muitas viagens em companhia de Dioniso, deus da vinha e do vinho, para ensinar os homens a cultivarem a terra.
Teve Deméter, a Ceres romana, uma filha do seu irmão Zeus chamada Perséfone que vivia meio ano nas profundezas da Terra e outra metade vinha ajudar a sua mãe. Com o seu regresso inaugurava-se a primavera.
Também a 23 de abril se comemoravam as vinalia, festa dedicada à proteção das vinhas sob a proteção de Vénus que concedeu, segundo a mitologia, aos humanos o vinho corrente vinum spurcum. A Júpiter, como deus que regulava o clima, eram-lhe oferecidas libações com vinho benzido pelo sumo sacerdote.
Por sua vez, no templo de Venus Ericina, jovens e prostitutas reuniam-se procurando relacionamentos e ofereciam à deusa mirto, menta e juncos entre ramos de rosas, pedindo beleza.
Vivamos assim as Maias, abençoando a Terra Mãe, cultuada desde as mais remotas alturas.
Para os gregos, Maia era a mais velha das Plêiades, uma das sete filhas de Atlas e que, unida a Zeus, foi mãe de Hermes, o mensageiro dos deuses, conhecido por Mercúrio entre os romanos, ancestralmente considerado uma divindade agrária e da pastorícia.
Já na mitologia romana, Maia surge-nos como uma antiga divindade itálica, filha de Fauno e esposa de Vulcano, o deus romano do fogo (Hefesto na mitologia grega). Era designada de Maia Maiesta e também de Fauna ou Bona Dea (deusa das Deusas).
Deusa da primavera, Maia deu nome ao mês de maio, que lhe era consagrado. No primeiro dia de maio, o flâmine de Vulcano sacrificava-lhe uma porca grávida.
Era essencialmente venerada por mulheres, sendo os homens excluídos do perímetro sagrado dos seus templos.
Embora não estando relacionadas originalmente, as duas divindades de origem grega e romana acabaram por ser identificadas uma com a outra.
Muito provavelmente associando-se remotamente a esses rituais de sagração da primavera, provém o hábito de pendurar giestas às portas e janelas, nos portões, cancelas, carros de lavoura e até nos próprios animais, em muitas localidades portuguesas, afastando o “burro”, igualmente chamado em algumas zonas o “carrapato”, ou seja, o mau agouro que possa ser nefasto para as colheitas, no início do mês de maio.
E as Maias, meninas vestidas de branco e coroadas de flores, ou as “marafonas”, as bonecas de pano ou de palha vão sentar-se à porta de casa, na esquina da rua ou na praceta, pedindo “um tostãozinho para a Maia”.
Regiões há onde se enfeitam ruas e edifícios com coroas de flores de giestas, chamadas maia ou maio.
Ainda hoje as Mais se podem considerar um dos rituais mais expressivos do ponto de vista da história religiosa antiga, que permaneceu, segundo alguns estudiosos, sem grandes alterações desde o século V, e que se exprime, com variantes, em vários pontos do País, celebrando, tal como acontecia na Roma Antiga, o despertar da natureza, a fertilidade vegetativa.
José Leite de Vasconcelos, nos seus Opúsculos, Volume V – Etnologia, publicado em 1938, refere que a mais “antiga menção desta festa popular, festa evidentemente naturalística, posto mais ou menos desviada da sua significação primitiva, já pelo próprio Paganismo, já pelo Cristianismo, creio que se acha nestas linhas da Postura da câmara de Lisboa de 1385: ‘Outro sim estabelecemos que daqui em diante em esta Cidade e em seu termo não se cantem as Janeiras nem Maias, nem outro nenhum mês do ano’”.
Aceita-se ainda que a tradição das Maias possa remontar ao episódio da fuga de Jesus para o Egito, dada a perseguição de Herodes que ordenara a morte do Menino. Quando se identificou a porta da casa onde pernoitou, foi colocado um ramo de giesta na porta para que os soldados de Herodes a pudessem reconhecer e o fossem buscar. Milagrosamente, quando os soldados se dirigiam à cidade, foram confrontados com as casas todas enfeitadas com ramos de giesta florida, não podendo assim cumprir a sua missão. Mas há quem recorde também o caminho da sagrada família para o Egito, quando Maria, para se orientar, terá colocado giestas no seu caminho.
Contudo, dada a altura do ano, correspondendo à época de florestação, da plenitude da primavera, aceitamos que os seus antecedentes possam filiar-se em cultos bem mais antigos.
Derivando da palavra latina flos (flores), Flora era, por sua vez, uma ninfa romana das flores, também intimamente ligada à primavera. Porque um novo ciclo começa com a entrada dessa estação, Flora surge-nos assim como deusa da fertilidade. Durante os festejos que lhe eram dedicados em Roma, atiravam-se sementes sobre a multidão para atrair a abundância, situação em que podemos encontrar algum paralelismo no hábito de deitar arroz aos recém-casados.
Eram também sacrificadas ovelhas e ofertado mel e sementes de flores. O mel era exatamente considerado um dos presentes que Flora tinha dado aos seres humanos, simbolizando, neste caso, a abelha a força feminina da natureza. Flora foi inúmeras vezes associada a Deméter, a Ceres dos romanos de que falaremos, e o poeta Ovídio (43 a.C. — 17 ou 18 d.C.) chega mesmo a relacioná-la com a mitologia grega, identificando-a com a ninfa grega Cloris, embora a origem da divindade seja também itálica.
Segundo a versão do Mito de Ovídio, um certo dia de primavera, Zéfiro, o vento oeste, avistou a ninfa Cloris, apaixonou-se por ela e transformou-a em Flora. Como prova de seu amor, Zéfiro nomeou a sua amada como rainha das flores, das árvores frutíferas e concedeu-lhe o poder de germinar as sementes das flores de cultivo e ornamentais, entre elas o cravo.
Já em abril, mês de Vénus e das rosas que eram seu atributo, se elogiava na antiguidade o renascer da vida.
A rosa, considerada “a rainha das flores” pela poetisa Safo no século VI a.C., teria sido criada, segundo a mitologia grega, por Cloris, essa deusa das flores a partir do corpo inanimado de uma ninfa.
Essa bela flor foi consagrada a Afrodite, a Vénus da época romana, que, segundo as lendas, nasceu das espumas do mar que se transformaram numa rosa branca, representando a pureza e a inocência.
Dioniso ou Baco entre os latinos, segundo a tradição mais difundida do mito, ofereceu-lhe o seu perfume, e as Três Graças deram-lhe o encanto e o brilho com que ela pasmava os que a contemplavam.
Também Cupido, o deus do Amor, filho de Marte, deus da guerra, e de Vénus, usava uma coroa de rosas, assim como Príapo, deus dos jardins e da fecundidade.
Também a mitologia nos diz que quando a apaixonada Afrodite viu o seu amado Adónis ferido, pairando sobre ele a morte, a deusa foi socorrê-lo, tendo-se picado num espinho e o seu sangue coloriu de vermelho as rosas que lhe eram consagradas. Assim, na antiguidade, as rosas eram também usadas sobre os túmulos como símbolo de luto.
Em Roma existia um festival em honra de Flora e de Vénus chamado “Rosália”, e todos os anos, no mês de maio, as sepulturas eram adornadas com essas flores, provavelmente em alusão à morte de Adónis.
As papoilas bailantes que ainda hoje enchem os nossos campos são, a par das espigas, atributos de Deméter-Ceres, a deusa da fertilidade e do trigo, considerado símbolo da civilização, enquanto capacidade dos humanos moldarem a natureza.
Como era a deusa da agricultura, fez muitas viagens em companhia de Dioniso, deus da vinha e do vinho, para ensinar os homens a cultivarem a terra.
Teve Deméter, a Ceres romana, uma filha do seu irmão Zeus chamada Perséfone que vivia meio ano nas profundezas da Terra e outra metade vinha ajudar a sua mãe. Com o seu regresso inaugurava-se a primavera.
Também a 23 de abril se comemoravam as vinalia, festa dedicada à proteção das vinhas sob a proteção de Vénus que concedeu, segundo a mitologia, aos humanos o vinho corrente vinum spurcum. A Júpiter, como deus que regulava o clima, eram-lhe oferecidas libações com vinho benzido pelo sumo sacerdote.
Por sua vez, no templo de Venus Ericina, jovens e prostitutas reuniam-se procurando relacionamentos e ofereciam à deusa mirto, menta e juncos entre ramos de rosas, pedindo beleza.
Vivamos assim as Maias, abençoando a Terra Mãe, cultuada desde as mais remotas alturas.
Filomena Barata
Em Beja pediu-se “uma moedinha para a Maia que não tem saia”
A festa das Maias é um dos rituais mais expressivos do culto religioso da Roma antiga, associada à Primavera e à fertilidade que se comemora em Beja como há 2000 anos.
https://www.publico.pt/2017/05/09/local/noticia/uma-moedinha-para-a-maia-que-nao-tem-saia-1771365
https://www.publico.pt/2017/05/09/local/noticia/uma-moedinha-para-a-maia-que-nao-tem-saia-1771365
«Beja festejou, no último fim-de-semana, a festa das Maias, culto religioso que, na Beja festejou, no último fim-de-semana, a festa das Maias, culto religioso que, na antiga Roma, celebrava o despertar da natureza e a fertilidade. As ruas encheram-se de meninas de branco e coroas de flores na cabeça, como as suas avós o fizeram e muitas outras antes delas. Pedem moedas que, em tempos mais duros, serviam para fazer face à pobreza, hoje mais por brincadeira. E assim se celebrou a chegada de Maio.
Há 2000 anos, as Maias apresentam-se vestidas de branco e coroadas de flores silvestres, andavam pelas ruas de Roma a chamar pela Prosepina, uma das mais belas deusas de Roma que, na mitologia romana, é filha de Júpiter com Ceres. Foi raptada por Plutão, enquanto colhia flores, para fazer dela sua esposa. Simboliza pureza, a regeneração da natureza. “Era essencialmente venerada por mulheres, sendo os homens excluídos do perímetro sagrado dos seus templos”, assinalou a arqueóloga durante uma exposição sobre o tema, realizada na biblioteca de Beja na última semana.Este é, ainda hoje, considerado “um dos rituais mais expressivos” do ponto de vista da história religiosa antiga que permaneceu, segundo alguns estudiosos, “sem grandes alterações desde o século V”, sublinha a arqueóloga Fernanda Barata.
Nas festas de Beja, as mulheres deram lugar às meninas que se sentam num trono à porta de casa, na esquina da rua ou na praceta, a pedir uma moedinha.
O historiador Florival Baiôa, presidente da Associação para a Defesa do Património Cultural da Região de Beja (ADPCRB), entidade organizadora do evento, que tem pesquisado sobre a antiga celebração profana, explicou ao PÚBLICO que os cristãos tentaram anular as festividades ao longo de mais de 2 mil anos. Filomena Barata cita José Leite de Vasconcelos, nos seus Opúsculos, Volume V — Etnologia, publicados em 1938, onde destaca uma postura da Câmara de Lisboa de 1385: “Outrossim, estabelecemos que daqui em diante em esta Cidade e em seu termo não se cantem as Janeiras nem Maias, nem outro nenhum mês do ano”.
Mesmo assim, a festividade “atravessou todo o período medieval e até a Inquisição, resistindo às sistemáticas proibições e perseguições dos cristãos, conseguindo manter intacta a linguagem e o ritual”, reforça Baiôa. Há apenas uma diferença, salienta o historiador: Há 60
70 anos, os níveis de pobreza falavam mais alto e o dinheiro recolhido nas colectas servia “para se divertirem na feira de Beja que se realizava durante o mês de Maio ou, como acontecia para a maioria, sempre dava para ajudar a comprar uns sapatos umas saias ou umas calças”. Ele próprio, foi “obrigado” por outros moços, por ser o mais novo, a vestir-se de Maia. “Mantive-me no trono durante horas, sem me poder mexer para ganhar moedinhas. Nós precisávamos de dinheiro para o carrocel da feira de Maio”.
A ladainha “uma moedinha para a Maia que não tem saia” repetiu-se no último sábado numa das ruas mais movimentadas de Beja. Já não é ditada pelas necessidades básicas, quando as aias e os aios (na antiga Roma eram os sacerdotes dos deuses) interpelavam quem passava. Nem as pequenas Maias conseguiam ficar quietas nos seus tronos. Cirandavam pelo espaço da festa, rodeando quem passava e implorando sorridentes um tostãozinho ou um moedinha para colocar no cestinho de vime que foi acrescentado ao ritual.
Queremos notas
Um dos interpelados lamentou não ter mais para dar. Trocou 20 euros em moedas e “já as levaram todas”, contou com um sorriso nervoso dada a insistência das moças que não desistiam. Notaram que os seus bolsos tinham alguma coisa dentro mas eram apenas chaves e... algumas notas. Ao vê-las, o coro das Maias e dos seus aios e aias, ouviu-se sonoro: “Queremos notas, notas, notas”. Sinal dos tempos, a juntar a um outro pormenor: são, sobretudo, as avós que vestem as suas netas de Maias e as acompanham à festa.
Teresa Malveiro é um desses casos. Vestiu as suas duas netinhas de 5 e 7 anos como determina o ritual pagão. Já a mãe a vestia de Maia há 60 anos, recordando o encantamento que sentia com as vestes brancas e os malmequeres amarelos e brancos a adornarem-lhe a cabeça ou o colar que trazia ao pescoço. Tradição que manteve com as filhas e que está a ter continuidade com as netas.
Assim que juntaram algumas moedas, as Maias reuniam o pecúlio e colocavam-no numa caixa que escondiam atrás de um dos “tronos”. Os cestinhos de vime apareciam sempre limpos de moedas.
As festividades das Maias só se realizam, desta forma, em Beja. Noutras regiões do país recorre-se as bonecas de palha ou pano ou, como no Minho e Trás-os-Montes, colocam-se flores nas portas. Há apenas um outro local onde a festa das Maias se assemelha à de Beja: Olivença “mas com um pormenor que a valoriza: a dança das Maias, que não acontece em Beja”, refere Florival Baiôa, lamentando que a associação de defesa do património não tenha verba para custear a deslocação das crianças oliventinas até à capital do Baixo Alentejo.
Maia, a deusa da Primavera que deu nome ao mês de Maio
Para os gregos, Maia era a mais velha das Plêiades, uma das sete filhas de Atlas e que, unida a Zeus, foi a mãe de Hermes, o mensageiro dos deuses, conhecido por Mercúrio entre os romanos, considerado uma divindade agrária e da pastorícia.
Na mitologia romana, Maia é uma antiga divindade itálica, filha de Fauno e esposa de Vulcano, o deus do fogo. Era designada Maia Maiestas e também de Fauna ou Bona Dea (deusa das deusas).
Deusa da Primavera, Maia deu nome ao mês de Maio, que lhe era consagrado por ser a força protectora das casas, da agricultura, das flores, do mundo da ruralidade»
Nas festas de Beja, as mulheres deram lugar às meninas que se sentam num trono à porta de casa, na esquina da rua ou na praceta, a pedir uma moedinha.
O historiador Florival Baiôa, presidente da Associação para a Defesa do Património Cultural da Região de Beja (ADPCRB), entidade organizadora do evento, que tem pesquisado sobre a antiga celebração profana, explicou ao PÚBLICO que os cristãos tentaram anular as festividades ao longo de mais de 2 mil anos. Filomena Barata cita José Leite de Vasconcelos, nos seus Opúsculos, Volume V — Etnologia, publicados em 1938, onde destaca uma postura da Câmara de Lisboa de 1385: “Outrossim, estabelecemos que daqui em diante em esta Cidade e em seu termo não se cantem as Janeiras nem Maias, nem outro nenhum mês do ano”.
Mesmo assim, a festividade “atravessou todo o período medieval e até a Inquisição, resistindo às sistemáticas proibições e perseguições dos cristãos, conseguindo manter intacta a linguagem e o ritual”, reforça Baiôa. Há apenas uma diferença, salienta o historiador: Há 60
70 anos, os níveis de pobreza falavam mais alto e o dinheiro recolhido nas colectas servia “para se divertirem na feira de Beja que se realizava durante o mês de Maio ou, como acontecia para a maioria, sempre dava para ajudar a comprar uns sapatos umas saias ou umas calças”. Ele próprio, foi “obrigado” por outros moços, por ser o mais novo, a vestir-se de Maia. “Mantive-me no trono durante horas, sem me poder mexer para ganhar moedinhas. Nós precisávamos de dinheiro para o carrocel da feira de Maio”.
A ladainha “uma moedinha para a Maia que não tem saia” repetiu-se no último sábado numa das ruas mais movimentadas de Beja. Já não é ditada pelas necessidades básicas, quando as aias e os aios (na antiga Roma eram os sacerdotes dos deuses) interpelavam quem passava. Nem as pequenas Maias conseguiam ficar quietas nos seus tronos. Cirandavam pelo espaço da festa, rodeando quem passava e implorando sorridentes um tostãozinho ou um moedinha para colocar no cestinho de vime que foi acrescentado ao ritual.
Queremos notas
Um dos interpelados lamentou não ter mais para dar. Trocou 20 euros em moedas e “já as levaram todas”, contou com um sorriso nervoso dada a insistência das moças que não desistiam. Notaram que os seus bolsos tinham alguma coisa dentro mas eram apenas chaves e... algumas notas. Ao vê-las, o coro das Maias e dos seus aios e aias, ouviu-se sonoro: “Queremos notas, notas, notas”. Sinal dos tempos, a juntar a um outro pormenor: são, sobretudo, as avós que vestem as suas netas de Maias e as acompanham à festa.
Teresa Malveiro é um desses casos. Vestiu as suas duas netinhas de 5 e 7 anos como determina o ritual pagão. Já a mãe a vestia de Maia há 60 anos, recordando o encantamento que sentia com as vestes brancas e os malmequeres amarelos e brancos a adornarem-lhe a cabeça ou o colar que trazia ao pescoço. Tradição que manteve com as filhas e que está a ter continuidade com as netas.
Assim que juntaram algumas moedas, as Maias reuniam o pecúlio e colocavam-no numa caixa que escondiam atrás de um dos “tronos”. Os cestinhos de vime apareciam sempre limpos de moedas.
As festividades das Maias só se realizam, desta forma, em Beja. Noutras regiões do país recorre-se as bonecas de palha ou pano ou, como no Minho e Trás-os-Montes, colocam-se flores nas portas. Há apenas um outro local onde a festa das Maias se assemelha à de Beja: Olivença “mas com um pormenor que a valoriza: a dança das Maias, que não acontece em Beja”, refere Florival Baiôa, lamentando que a associação de defesa do património não tenha verba para custear a deslocação das crianças oliventinas até à capital do Baixo Alentejo.
Maia, a deusa da Primavera que deu nome ao mês de Maio
Para os gregos, Maia era a mais velha das Plêiades, uma das sete filhas de Atlas e que, unida a Zeus, foi a mãe de Hermes, o mensageiro dos deuses, conhecido por Mercúrio entre os romanos, considerado uma divindade agrária e da pastorícia.
Na mitologia romana, Maia é uma antiga divindade itálica, filha de Fauno e esposa de Vulcano, o deus do fogo. Era designada Maia Maiestas e também de Fauna ou Bona Dea (deusa das deusas).
Deusa da Primavera, Maia deu nome ao mês de Maio, que lhe era consagrado por ser a força protectora das casas, da agricultura, das flores, do mundo da ruralidade»
Nenhum comentário:
Postar um comentário