A Fauna e flora de Miróbriga
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16-May-2007
A Fauna
Renato Neves
Rui Rufino
Marina Sequeira
Flora
Pedro Ivo Arriegas
Lurdes Carvalho
Ilustrações
Marcos Oliveira
Foto-interpretação
Ana Salvador
Mapas e SIG
Henrique Tato Marinho
Os trabalhos de campo decorreram entre meados de Outubro de 1998 e meados de Janeiro de 1999 e, tal como prevíramos na nossa proposta inicial, este calendário veio a ter algumas implicações na detectabilidade de várias espécies.
Procurou dar-se cumprimento, na íntegra, ao caderno de encargos, tendo inclusivamente sido realizados alguns trabalhos que não estavam previstos, mas cuja execução se considerou importante para a valorização deste relatório. Foi o caso da foto-interpretação do sítio e da área envolvente, a qual permite uma melhor percepção do território onde Miróbriga se insere, e das ilustrações relativas a propostas de arranjos paisagísticos, que permitem visualizar com maior eficácia o tipo de intervenções preconizadas.
A filosofia subjacente aos trabalhos realizados baseou-se em duas premissas:
- inventariação o mais rigorosa possível das espécies presentes, refereindo o seu valor em termos de
conservação da natureza e a sua interacção com as ruínas.
- tratamento da informação relativa à flora e à fauna do sítio vocacionada para a divulgação junto dos visitantes, propondo abordagens e metodologias que, ao divulgarem e valorizarem o Património Natural de Miróbriga, permitam atrair novos sectores do público.
Assim, além das listas de espécies, aborda-se a sua relação com o meio, bem como a sua ligação ao Mundo Clássico, na Mitologia, Agricultura ou Medicina. Este material e as ilustrações produzidas, poderão apoiar futuras edições de postais e folhetos.
Propõem-se ainda medidas de promoção da biodiversidade a uma escala local e arranjos paisagísticos que permitam uma melhor fruição do espaço.
Esperamos que os resultados, propostas e ideias traçadas neste relatório, possam contribuir decisivamente para a dinamização de Miróbriga, constituindo assim uma acção pioneira na salvaguarda e divulgação do Património Cultural e Ambiental.
Finalmente, cabe-nos referir os nossos agradecimentos à Drª Filomena Barata, responsável pelo Sítio
Arqueológico de Miróbriga, por todo o apoio e colaboração prestada no decurso dos trabalhos.
Enquadramento Ambiental, Histórico e Geográfico.
O território em que Miróbriga se insere está localizado em plena Charneca de Grândola, embora já com algumas cambiantes introduzidas pela proximidade da Gândara marítima. São dois ambientes distintos, perfeitamente visíveis a partir dos pontos mais elevados da área das ruínas: o primeiro de relevos ondulados sobre solos xistosos, onde dominam os sobreirais, o segundo de terras baixas, arenosas e palustres que correm paralelamente à costa.
Na ausência de análises polínicas do sítio e da região envolvente, a caracterização do coberto vegetal e do uso do solo na época romana é de certa forma, especulativa, reportando-se por isso apenas a conhecimentos genéricos abordados no capítulo Os Romanos e as plantas úteis. No entanto, a abordagem fitossociológica permite-nos afirmar que durante a época romana, a vegetação na zona envolvente de Miróbriga corresponderia a estádios com maiores semelhanças com o clímax sucessional e por isso menos degradados que o estado actual. Contudo não deixariam já de se reflectir alguns efeitos dos usos do solo que já então se praticavam, nomeadamente a agricultura e a pastorícia.
É de supor que nessa época a região em análise apressentasse um coberto vegetal dominado por um sobreiral de estrato arbustivo mais preenchido nas zonas mais declivosas, onde o grau de inclinação tornaria a agricultura menos apetecível e onde, provavelmente, apenas a pastorícia teria lugar. Como transição entre as áreas agrícolas e as áreas de floresta autóctone, estaria presente o montado, estrutura criada e conduzida pelo Homem, que nesta zona seria dominado pelo sobreiro e cuja principal utilização seria como pastagem, nomeadamente para gado suíno.
Nas zonas mais aplanadas, os sectores mais secos seriam ocupados sobretudo pelo cultivo de cereais, da vinha e da oliveira, com a eliminação dos estratos arbustivo e herbáceo, e a diminuição dos efectivos arbóreos, cuja madeira seria aproveitada para múltiplos fins. Nas zonas mais húmidas a vegetação natural estaria decerto substituída por culturas hortícolas e fruteiras.
Uma hipótese credível é a de que os campos agrícolas circundariam a urbe, sendo por sua vez envoltos por um anel mais amplo de montado, com área suficiente para permitir uma gestão de pastos suficiente à alimentação das varas e dos rebanhos. O sobreiral, mais longínquo, e menos utilizado apresentaria características mais naturais.
Neste ambiente, de vegetação bem mais luxuriante do que aquela que actualmente conhecemos, existiria uma fauna composta por grandes herbívoros e predadores desaparecidos em épocas históricas indeterminadas. Cardoso (1993 in Silva e Soares) ao analisar restos de mamíferos utilizados na alimentação do entreposto romano da Ilha do Pessegueiro, situado a escassos quilómetros de Miróbriga, detectou a presença de veado Cervus elaphus, corço Capreolus capreolus, javali Sus scrofa, e cavalo Equus caballus. Esta última espécie dado o contexto em que foi encontrada e a idade do animal (jovem), levou o autor a admitir tratar-se de um animal selvagem.
De salientar a presença do corço, espécie exigente de ambientes florestais algo higrófilos, longe portanto dos padrões climáticos actuais na região, evidenciando assim algumas hipotéticas diferenças no tipo de clima. Esta hipótese é corroborada também pelo regime hidríco que possibilitava a existência de umas termas com as dimensões das de Miróbriga, cujo funcionamento não se coadunaria com o regime e tipo torrencial da actualidade.
É difícil situar o desaparecimento da região de algumas das espécies referidas. Sabe-se, no entanto, que o lobo sobreviveu até ao nosso século, sendo ainda em 1839 obrigatória, por postura municipal específica, a presença de uma pessoa por cada fogo em montarias destinadas a capturar estes animais. A sua ocorrência regular motivou alguns topónimos: Lobais, Mata Lobos, Bica do Pego do Lobo, Monte da Lobata e Fojo.
Relativamente aos cervídeos, cremos que a sua extinção deverá ter ocorrido em épocas relativamente remotas, visto a sua presença toponímica ser apenas episódica - Vale da Cerva -, estando igualmente ausente das tributações relativas à caça, as quais referem apenas espécies de caça menor.
Curiosa e interessante é a presença na toponímia do urso - Vale da Ursa - visto os vestígios toponímicos da espécie em Portugal serem relativamente escassos e confinados normalmente a regiões serranas do interior norte do país.
Bastante estranha é a ausência de referências a javali, espécie actualmente abundante, mas cuja área de
distribuição e densidade populacional em Portugal, tem variado consideravelmente ao longo dos anos.
Ainda no âmbito da análise do elenco faunístico potencial, devemos referir a presença de duas espécies
emblemáticas das paisagens do domínio do sobreiral e dos matagais mediterrânicos ibéricos: a águia-imperial Aquila adalberti e o lince-ibérico Lynx pardina. A primeira deverá ter sido extinta como nidificante na Serra e Charneca de Grândola, nos anos sessenta ou setenta, uma vez que existem testemunhos da sua nidificação confirmada até meados dos anos setenta, um pouco a norte dessa área. O lince, cuja presença discreta e furtiva nas brenhas e barrancos o torna ausente da toponímia e das fontes escritas, sobrevive ainda em condições precárias na Serra a escassos quilómetros de Miróbriga. Desconhece-se se esta população, de características reliquiais, está ou não em contacto com outros núcleos no Baixo-Sado, temendo-se que em consequência da fragmentação do habitat se encontre completamente isolada, facto que, a verificar-se condicionará fortemente a sua sobrevivência.
A ausência de informação não nos permite especular acerca da evolução da paisagem durante o período
romano, nem nos períodos que antecederam a introdução de novas culturas pelos árabes. Diversos autores têm situado o início de profundas transformações nas paisagens agrícolas alentejanas, nos finais do século XIX, com o advento de medidas proteccionistas à cultura do trigo. Estas transformações vieram a agudizar-se ainda mais com a célebre campanha do trigo, promovida pelo Estado Novo e pela carência de combustíveis em períodos de crise entre as duas guerras mundiais. Estes factores foram responsáveis pela degradação e destruição de milhares de hectares de sobreirais e azinhais.
Relativamente ao Concelho de Santiago do Cacém, a existência de referências fidedignas, provenientes dos Anais do Município, diligentemente compilados pelo Padre António de Macedo e Silva em 1869, permite-nos obter um retrato nítido do que seria a ocupação do solo, em períodos anteriores às transformações referidas.
Através desta obra verificamos existirem posturas municipais de várias épocas (1680 e 1730) tendentes a assegurar a protecção aos montados, proibindo o corte de sobreiros e regulando as queimadas das charnecas.
As oliveiras e zambujeiros são igualmente alvo de medidas proteccionistas, que incluiam a obrigatoriedade da plantação anual por parte dos proprietários ou rendeiros de seis pés destas plantas. No entanto em finais do século XIX apenas a freguesia de Santiago do Cacém produzia azeite, podendo por isso considerar-se uma cultura em declínio.
A produção de cortiça constituia, a par com as laranjas, a principal fonte de rendimento agrícola do concelho, sendo os dois produtos exportados sobretudo para Inglaterra. Porém, tal como aconteceu com outras regiões produtoras deste fruto, nomeadamente os Açores, o aparecimento de pragas a partir da segunda metade do século XIX, determinou um forte declínio na produção.
Embora na época em que o Padre António Macedo e Silva escreveu os Anais, a cultura da vinha estivesse restrita aos terrenos da Gândara, as posturas municipais anteriores evidenciam a existência desta cultura um pouco por todo o território. Pela análise desses mesmos regulamentos, verificamos a importância e ampla distribuição da cultura do linho nas várzeas e terras baixas, justificando posturas específicas em sucessivas épocas, relativamente aos lugares onde o seu tratamento era possível, acautelando o uso colectivo das águas.
A minúcia do autor permite-nos situar no tempo a introdução da cultura do arroz, nas áreas palustres e o início da florestação dos areais ou arneiros litorais, que alteraram radicalmente a fisionomia da Gândara.
A leitura dos Anais deixa-nos uma curiosa imagem de um vasto território à beira de profundas transformações, mas cujas colinas e barrancos estão salpicados em todas as direcções de casais isolados, nos quais os habitantes sobrevivem explorando todos os recursos possíveis: fabricando farinha da bolota, aproveitando os magros aluviões para mimos hortícolas e frutas, apascentando gado míudo, colocando colmeias junto aos matagais abundantes em plantas melíferas e transformando o vento nas cumeadas e a água nos côrregos, na energia propulsora de moinhos e azenhas.
Uso do Solo
O que hoje observamos e descrevemos neste capítulo, é evidentemente, o resultado de um vasto e complexo universo de interacções, no qual a grande propriedade ou Herdade de exploração agro-florestal extensiva, coexistiu com as pequenas parcelas fundiárias de hortas e courelas, unidades de auto-subsistência com aproveitamento de pequenos regadios hortícolas e árvores de fruto.
Como é natural a toponímia regional dos lugares e acidentes geográficos está repleta de topónimos relativos à espécie dominante no estrato arbóreo: nomes como Chaparral, Chaparreira, Chaparrinho, Cortiçada, Sobral, Sobreira, Sobreirinha, Sobralinho, e Sobreirinho ocorrem profusamente em locais de abundância de sobreiro.
Porém, denunciando a vocação frutífera de muitos desses pequenos locais, os topónimos de árvores de fruto são também abundantes: Abrunheira, Amoreira, Fonte Figueira, Feitães dos Figos, Monte das Figueiras, Rio da Figueira, Laranjeira, Laranjeirinha, Marmeleiros, Nogueira, Peral, Peralinho, Pereiras, Pessegueiro, são alguns dos muitos topónimos directamente relacionados com a produção frutícola.
No sentido de identificar correctamente as diversas tipologias de uso do território presentes na área envolvente às Ruínas de Miróbriga, recorreu-se à análise diacrónica a qual permite identificar, e mesmo quantificar, a variabilidade de utilizações que um espaço está sujeito ao longo de um determinado período de tempo.
Deste modo, com base numa análise diacrónica, identificam-se as diferentes tipologias de uso territorial presentes na zona envolvente às Ruínas de Miróbrica, ao longo de diferentes épocas, permitindo cartografar as transformações ocorridas ao nível da utilização do espaço.
Assim, por forma a alcançar estes objectivos foram analisadas diversas fotografias aéreas à escala 1:15 000 (vôo de 1990, falsa côr; vôo de 1979, monocromática), bem como ortofotomapas da região (1978), instrumentos que serviram de base para a identificação e delimitação de áreas tendencialmente homógeneas, em termos de utilização territorial, de acordo com o seguinte critério:
Áreas Sociais (S) - nas quais se englobaram todas as áreas habitacionais, de serviços e infraestruturas de apoio
Áreas Agrícolas - as quais foram subdivididas em 4 sub-unidades, de acordo com as diferentes características de utilização que apresentavam;
- Culturas Arvenses de Sequeiro (CAS), baseadas na produção cerealífera;
Pomares (P), os quais se encontram dominados predominantemente por laranjais;
Olivais (O);
Áreas Florestais - as quais foram subdivididas em 3 sub-unidades,
Montado de Sobro (SB), manchas constituídas por sobreiros cuja a densidade de arvoredo varia entre baixa
(SB0) a média/elevada (SB1)
Eucaliptais (EU)
Outras (OU) (esta sub-unidades incluí todas as espécies vegetais de porte arbóreo que não se incluem nas duas sub-unidades definidas anteriormente)
Matos - esta unidade inclui duas sub-unidades
Sebes, constituídas por material vegetal vivo de porte essencialmente arbóreo, geometrizando desta forma o território, e ilustrando simultaneamente limite da propriedade.
Matos esclerófilos (M)
Os resultados da análise efectuada, para o período correspondente à décda de oitenta, podem sintetizar-se nos seguintes pontos:
as áreas urbanas, nomeadamente as zonas envolventes a Santiago do Cacém, sofreram uma expansão, que, no entanto, não poderá ser considerada significativa; a edificação de novos "montes" isolados e dispersos pela área de estudo; o desaparecimento de algumas áreas destinadas à produção olivícola e de citrinos; ao contrário do que seria expectável, houve um aumento das áreas de montado.
Pode pois cocluir-se que existe uma certa tendência para a edificação da envolvente e para o abandono de algumas práticas agrícolas, facto que acarreta alguma "suburbanização" desta paisagem, podendo, no caso de vir a agudizar-se no futuro, comprometer a qualificação do sítio arquelógico. Esta evolução deverá ser contida com a adopção de medidas correctivas de ordenamento do território.
Enquadramento fitossociológico da área de estudo
A área de estudo e sua envolvente inserem-se no andar bioclimático termomediterrânico sub-húmido (600 a 1000 mm), de acordo com os dados da estação metereológica de Santiago de Cacém, (Rivas-Martínez et al.,1990). Esta zona integra-se nas seguintes unidades biogeográficas:
Província Luso-Estremadurense
Sector Mariânico-Monchiquense
Sub-Sector Baixo Alentejano-Monchiquense
Super Distrito Serrano-Monchiquense
Este Sub-Sector é caracterizado por possuir uma vegetação fruticosa muito original de onde se destacam os estevais ricos em tojos Cisto ladaniferi-Ulicetum argentei. Quanto às Séries de Vegetação do sul de Portugal, a série climatófila para a área de estudo e zona envolvente é o Myrto communis-Querceto suberis sigmetum, a série termomediterrânica sub-húmida, silicícola, luso-estremadurense e algarbiense do sobreiro.
Nisa & Correia (1998) numa análise do coberto vegetal da Herdade da Ribeira Abaixo, no concelho de Grândola, que se poderá considerar como uma amostra do coberto vegetal da região, apesar de se encontrar nalguns pontos, muito degradado, referem que "a vegetação do montado apresenta vários estádios da sucessão evolutiva, sendo dominantes as espécies da Classe Cisto Lavanduletea"; e que surgem espécies características de etapas mais avançadas na sucessão ecológica, inclusivé da associação clímax Sanguisorbo hybridae-Quercetum suberis (Quercion broteroi, Quercetalia ilicis, Quercetea ilicis).
Considerando que as formações vegetais, nas ruínas de Miróbriga, se encontram de tal forma fragmentadas e degradadas, e de muito difícil enquadramento fitossociológico, procurou-se, através do óptimo territorial das espécies observadas, reportar à vegetação da região que anteriormente estaria presente na área de estudo e que de modo igualmente degradado, se encontra na envolvente directa das ruínas de Miróbriga.
Quercetea ilicis Br.-Bl. (1947)
Classe que descreve os bosques e formações arbustivas densas, esclerófilas, que podem, nalguns casos,
constituir a etapa mais desenvolvida das séries de vegetação climatófila. Ampla distribuição mediterrânea.
Espécies observadas cujo óptimo territorial se enquadra nesta Classe: Asparagus acutifolius L., Asparagus
aphyllus L., Daphne gnidium L., Olea europea L. var. sylvestris (Miller) Lehr, Rubia peregrina L. e Smilax aspera L.
A Quercetea ilicis Br.-Bl. (1947), integra duas Ordens: a Quercetalia ilicis Br.-Bl. Ex. Molinier 1934 em. Rivas-Martínez 1975 e a Pistacio lentisci-Rhamnetalia alaterni Rivas-Martínez 1975, que frequentemente representam duas das etapas de substituição da formação mais avançada. Observaram-se escassos elementos de cada uma das citadas formações, embora no segundo caso se tenham detectado os taxa que constituem "cabeças-de-série";:
Quercetalia ilicis Br.-Bl. ex. Molinier 1934 em. Rivas-Martínez 1975
Quercus suber L.
Ruscus aculeatus L.
Pistacio lentisci-Rhamnetalia alaterni Rivas-Martínez 1975
Asparagus albus L.
Pistacia lentiscus L.
Rhamnus alaternus L.
Cisto Lavanduletea Br.-Bl. (1940) 1952
Classe que descreve etapas avançadas da regressão dos bosques mediterrâneos, inclui
Lavanduletalia stoechadis Br.-Bl. 1940 em. Rivas-Martínez 1968
Cistus crispus L.
Cistus ladanifer L.
Cistus monspeliensis L.
Ulici argentei-Cistion ladanifer Br.-Bl., P. Silva & Rozeira 1964 em. Rivas-Martínez 1979
Lavandula luisieri (Rozeira) Rivas-Martínez
Ruderali-Secalietea
Beta vulgaris L.
Centranthus calcitrapae (L.) Dufesne
Senecio gallicus Vill.
Tuberarietea guttatea
Briza maxima L.
Pallenis spinosa (L.) Cass.
Trifolium campestre Schreber
Existem ainda outras espécies que se podem reportar, através dos seus óptimos territoriais (in Rivas-Martínez et al., 1990), nomeadamente no que se refere a situações mais higrófilas, encontrando-se elementos da Classe Querco-Fagetea Br.-Bl. & Vlieger 1937 (Lonicera periclymenum L.) e representados nas Ordens: Populetalia albae Br.-Bl. 1931 (Arum italicum Miller e Vinca difformis Pourr.) e Prunetalia spinosae R.Tx. 1952 (Crataegus monogyna subsp. brevispina ). Em situações de encharcamento observam-se elementos da Holoschoenetalia (Scirpus holoschoenus L.) e da Isoeto-Nano juncetea (Juncus buffonius L.).
O elenco florístico de Miróbriga
Foram colhidos um total de 162 taxa, que se distribuem por 56 famílias. Uma observação ao elenco florístico colectado revela-nos que praticamente todos os taxa identificados são vulgares, ruderais ou que se encontram disseminados por quase todo o país. Não foram encontradas espécies raras, ameaçadas de extinção, protegidas legalmente ou constantes de listas de Convenções Internacionais ou Directivas Comunitárias.
Tal é o resultado de séculos de utilização agro-pecuária, inicialmente com a transformação da floresta autóctone (sobreiral) num remanescente esquelético (o montado onde o estrato arbóreo é reduzido, o arbustivo eliminado e o herbáceo, mediante a progressiva utilização, se vai homogeneizando), e mais tarde com a própria substituição dessa estrutura vegetal por pastos ou campos de cultivo, onde ainda sobrevivem alguns exemplares arbóreos.
A flora listada apresenta uma elevada percentagem de Compostas (Asteraceae), um défice de Gramíneas
(Poaceae) e a ausência de Amarilidáceas (Amaryllidaceae), o que contudo não é de admirar se atendermos à época do ano em que as colheitas foram efectuadas (final de Outono e início do Inverno) muito pouco propícia para um estudo completo da flora existente. Tal explica também a ocorrência de alguns espécimes cuja identificação é salvaguardada por confirmação (Género cf. espécie) e pela ocorrência de outros, onde a escassez de caracteres diagnosticantes impossibilitou a determinação a espécie (Género sp.).
Foram observadas várias espécies exóticas, mas à excepção da azeda (Oxalis pes-caprae L.), nenhuma se revelou especialmente infestante. É também de assinalar a existência de diversas árvores fruteiras, testemunho da exploração hortícola que decorreu outrora em terrenos de Miróbriga.
Deverão ser preservadas as árvores fruteiras e deverá ser reconstituído o ambiente próprio da quinta, através da manutenção de uma pequena exploração detentora de grande diversidade de espécies úteis, o que era (e é) o indicado numa agricultura hortícola para auto-consumo. Deverão ser protegidas, e eventualmente reforçadas as espécies tradicionais de características mediterrânicas, nomeadamente o sobreiro, a oliveira, a videira e o pinheiro-manso. A zona do hipódromo deverá ser mantida como pasto mantendo as características para que foi construído.
Família, espécie, ecologia, distribuição em Portugal e nome vulgar
Agavaceae
Agave americana L.
ecologia: sebes, valados, taludes e sítios pedregosos áridos
distribuição: centro e sul, originária do México
nome vulgar: piteira
Amaranthaceae
Amaranthus albus L.
ecologia: ruderal ou infestante
distribuição: vulgar, quase todo o país
nome vulgar: bredo-branco
Anacardiaceae
Pistacia lentiscus L.
ecologia: matos esclerofílicos
distribuição: centro e sul, raro no Douro
nome vulgar: aroeira
Apiaceae (Umbelliferae)
Daucus carota L. subsp. maritimus (Lam.) Batt. & Trabut.
ecologia: terras cultivadas e incultos
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: erva-coentreira
Eryngium campestre L.
ecologia: sítios secos, incultos
distribuição: bacia do Minho, nordeste, centro, sudoeste setentrional e sudeste
nome vulgar: cardo-corredor
Foeniculum vulgare Miller
ecologia: sebes, margens dos campos, entulhos, incultos e rochas
distribuição: principalmente norte e centro
nome vulgar: funcho
Petroselinum crispum (Miller) A.W.Hill
ecologia: frequentemente cultivado como condimentar, por vezes fugido de cultura
distribuição: vulgar, de origem incerta, talvez o sudeste da Europa ou Ásia ocidental
nome vulgar: salsa
Smyrnium olusatrum L.
ecologia: sítios sombrios e húmidos, nitrófila
distribuição: bacia do Alto Douro e Douro Superior, centro e sul
nome vulgar: cegudes
Torilis arvensis (Hudson) Link subsp. purpurea (Ten) Hayek
ecologia: ruderal ou invasora
distribuição: nordeste, centro e sul
nome vulgar: salsicha
Apocynaceae
Vinca difformis Pourr.
ecologia: sebes valados, lugares húmidos e sombrios, margens dos campos
distribuição: quase todo o país, frequente
nome vulgar: pervinca
Araceae
Arisarum vulgare Targ.-Toz.
ecologia: terras cultivadas, sebes, lugares húmidos
distribuição: centro e sul
nome vulgar: candeias
Arum italicum Miller
ecologia: terras cultivadas, sebes, lugares húmidos
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: jarro
Arecaceae (Palmae)
Phoenix canariensis Hort.
ecologia: cultivada, principalmente em zonas quentes
distribuição: originária do arquipélago das Canárias, principalmente no centro e sul
nome vulgar: palmeira-das-Canárias
Asteraceae (Compositae)
Andryala integrifolia L.
ecologia: sítios arenosos, pedregosos ou áridos, e muros
distribuição: vulgar
nome vulgar: alface-do-monte
Anthemis fuscata Brot.
ecologia: campos cultivados, incultos, lugares húmidos, valas, caminhos
distribuição: quase todo o país, frequente
nome vulgar: margaça-fusca
Aster squamatus (Sprengel) Hieron.
ecologia: ruderal
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: mata-jornaleiros
Asteriscus aquaticus (L.) Less.
ecologia: valas, caminhos, areias, campos, entulhos
distribuição: Minho e Algarve
nome vulgar: pampilho-aquático
Atractylis gummifera L.
ecologia: terrenos secos e áridos, margens dos caminhos e dos campos
distribuição: Beira Litoral, Estremadura, Alto Alentejo e Algarve
nome vulgar: cardo-do-visco
Calendula arvensis L.
ecologia: terrenos incultos e cultivados, margens dos campos e dos caminhos
distribuição: quase todo o país, muito frequente
nome vulgar: erva-vaqueira
Carlina corymbosa L.
ecologia: sítios áridos
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: cardo-amarelo
Carlina racemosa L.
ecologia: sítios áridos e charnecas
distribuição: centro e sul
nome vulgar: cardo-asnil
Cichorium intybus L.
ecologia: terras cultivadas e incultos, também ruderal, por vezes cultivado como sucedâneo do café
distribuição: muito vulgar
nome vulgar: chicória
Conyza bonariensis (L.) Cronq.
ecologia: invasora de terras cultivadas e sítios ruderalizados
distribuição: frequente
nome vulgar: avoadinha
Crepis vesicaria L. subsp. haenseleri (DC.) P.D.Sell
ecologia: terras cultivadas e incultos
distribuição: quase todo o país, vulgar
nome vulgar: almeirôa
Cynara humilis L.
ecologia: incultos secos
distribuição: centro e sul
nome vulgar: alcachofra-brava
Dittrichia graveolens (L.) W.Greuter
ecologia: pousios e sítios secos
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: erva-dos-bálsamos
Dittrichia viscosa (L.) W.Greuter subsp. viscosa
ecologia: matos xerofílicos, pousios velhos e margens dos caminhos
distribuição: Terra Quente, centro e sudoeste setentrional
nome vulgar: táveda
Galactites tomentosa Moench
ecologia: ruderal e pousios
distribuição: vulgar, até 700 m.s.m.
nome vulgar: cardo
Leontodon taraxacoides (Vill.) Mérat subsp. longirostris Finch & P.D.Sell
ecologia: arrelvados, pousios e sítios ruderalizados
distribuição: quase todo o país, vulgar
nome vulgar: leituga-dos-montes
Leontodon tuberosus L.
ecologia: arrelvados e sítios pedregosos
distribuição: vulgar, quase todo o país
Pallenis spinosa (L.) Cass. subsp. spinosa
ecologia: ruderal
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: pampilho-espinhoso
Phagnalon saxatile (L.) Cass.
ecologia: muros e fendas de rochas
distribuição: vulgar, quase todo o país
nome vulgar: alecrim-das-paredes
Picris echioides L.
ecologia: margens de caminhos, campos e pousios
distribuição: centro e sul
nome vulgar: repassage
Pseudognaphalium luteo-album (L.) Hilliard & B.L.Burtt
ecologia: sítios húmidos-geralmente arenosos
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: perpétua-silvestre
Pulicaria odora (L.) Reichenb.
ecologia: incultos, charnecas e clareiras de matas
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: erva-montã
Reichardia intermedia (Schultz Bip.) Samp.
ecologia: sítios secos e descampados, cultivados ou não
distribuição: Terra Quente, centro e sul
Scolymus maculatus L.
ecologia: searas, caminhos, terrenos secos
distribuição: Beira, Estremadura, Alentejo e Algarve
nome vulgar: escólimo-malhado
Senecio gallicus Vill.
ecologia: areias marítimas, terras cultivadas e outros sítios descampados
distribuição: noroeste, Terra Quente, centro-oeste plistocénico, sudoeste
Senecio jacobaea L.
ecologia: sítios húmidos e prados, por vezes ruderal
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: tasneira
Senecio vulgaris L.
ecologia: terras cultivadas, incultos e areias marítimas
distribuição: vulgar até aos 700 m.s.m.
nome vulgar: cardo-morto
Sonchus sp.
Sonchus cf. oleraceus L.
ecologia: hortas,jardins, terrenos ricos, entulhos, muros, caminhos
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: serralha-macia
Sonchus tenerrimus L.
ecologia: terras cultivadas, fendas de rochas e muros
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: serralha
Boraginaceae
Echium sp.
Echium plantagineum L.
ecologia: terras cultivadas, margens dos caminhos e areias, desde muito húmidos a secos
distribuição: quase todo o país, excepto sudoeste meridional e montanhoso
nome vulgar: soagem
Brassicaceae (Cruciferae)
Brassica barrelieri (L.) Janka
ecologia: lugares arenosos e secos, campos cultivados e incultos
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: couve-da-praia
Capsella bursa-pastoris (L.) Med.
ecologia: terras cultivadas e incultos, caminhos
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: bolsa-de-pastor
Raphanus raphanistrum L.
ecologia: searas, campos cultivados, pousios, incultos, entulhos
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: cabresto
Sinapis arvensis L.
ecologia: terrenos cultivados e incultos, caminhos relvados
distribuição: Estremadura e Alentejo
nome vulgar: mostarda-dos-campos
Sisymbrium officinale (L.) Scop.
ecologia: incultos, restolhos, entulhos, muros, sebes
distribuição: quase todo o país, vulgar
nome vulgar: rinchão
Caprifoliaceae
Lonicera peryclimenum L. subsp. hispanica (Boiss. & Reuter) Nyman
ecologia: sebes, margens dos campos
distribuição: Terra Quente, centro-este e sudoeste montanhosos, rara no centro-oeste calcícola
nome vulgar: madressilva
Caryophyllaceae
Polycarpon tetraphyllum (L.) L.
ecologia: sítios arenosos ou rochosos
distribuição: vulgar
nome vulgar: saboneteira
Silene sp.
Stellaria media (L.) Vill. subsp. media
ecologia: ruderal ou invasora de culturas
distribuição: vulgar
nome vulgar: morugem-branca
Chenopodiaceae
Beta vulgaris L. subsp. maritima (L.) Arcangeli
ecologia: sítios secos ou litorais
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: acelga-brava
Chenopodium album L. subsp. album
ecologia: em terras cultivadas ou não, pousios e sítios ruderalizados
distribuição: quase todo o país, vulgar
nome vulgar: catassol
Chenopodium vulvaria L.
ecologia: margens dos caminhos, entulhos, muros, incultos
distribuição: nordeste setentrional, centro e sul, pouco vulgar
nome vulgar: vulvária
Cistaceae
Cistus crispus L.
ecologia: charnecas, matos, pinhais e sebes
distribuição: noroeste, centro e sul
nome vulgar: roselha
Cistus ladanifer L.
ecologia: charnecas, pinhais
distribuição: muito abundante, mais raro no noroeste e centro-oeste
nome vulgar: esteva
Cistus monspeliensis L.
ecologia: colinas secas, charnecas, matos, pinhais
distribuição: frequente, sobretudo no centro-oeste, centro-sul e sul
nome vulgar: sargaço
Convolvulaceae
Bryonia cretica L. subsp. dioica (Jacq.) Tutin
ecologia: sebes, valados e matas
distribuição: muito vulgar, excepto sudeste meridional
nome vulgar: briónia
Convolvulus sp.
Convolvulus cf. althaeoides L.
ecologia: sítios secos
distribuição: centro e sul
nome vulgar: corriola-rosada
Crassulaceae
Crassula tillaea Lester-Garland
ecologia: descampados, pousios, terras cultivadas
distribuição: vulgar
Umbilicus rupestris (Salisb.) Dandy
ecologia: muros, telhados, fendas de rochas e cascas de árvores
distribuição: muito vulgar, quase todo o país
nome vulgar: couxilhos
Cupressaceae
Cupressus sempervirens L.
ecologia: cultivada, excepto nas áreas mais frias
distribuição: frequente no centro e sul, originário da Egeia
nome vulgar: cipreste
Cyperaceae
Cyperus sp.
Scirpus holoschoenus L.
ecologia: lugares húmidos e arenosos
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: junco
Dipsacaceae
Dipsacus comosus Hoffmanns. & Link
ecologia: sítios secos e pedregosos
distribuição: centro e sul
nome vulgar: cardo-penteador-das-folhas-recortadas
Scabiosa atropurpurea L.
ecologia: sítios secos, geralmente descampados
distribuição: centro e sul
nome vulgar: saudades
Euphorbiaceae
Euphorbia falcata L. subsp. lusitanica Dav.
ecologia: searas, pousios, restolhos
distribuição: Alto e Baixo Alentejo
nome vulgar:
Fabaceae (Leguminosae)
Lathyrus sp.
Ornithopus compressus L.
ecologia: ruderal ou arvense em solos ácidos
distribuição: muito frequente
nome vulgar: erva-carniçoila
Ornithopus pinnatus (Miller) Druce
ecologia: terrenos cultivados ou incultos, descampados e pousios
distribuição: vulgar
nome vulgar: serradela delgada
Trifolium angustifolium L.
ecologia: ruderal ou sítios secos
distribuição: muito vulgar em quase todo o país
nome vulgar: trevo-de-folhas-estreitas
Trifolium campestre Schreber
ecologia: arrelvados secos
distribuição: muito vulgar
nome vulgar: trevão
Scorpiurus vermiculatus L.
ecologia: searas, arrelvados e pousios
distribuição: centro e sul
nome vulgar: cornilhão-grosso
Vicia sp.
Fagaceae
Quercus suber L.
ecologia: matas estremes (sobreirais) ou consociadas, também cultivada em zonas quentes
distribuição: quase todo o país, vulgar
nome vulgar: sobreiro
Geraniaceae
Erodium sp.
Erodium malacaoides (L.) L' Hér.
ecologia: ruderal
distribuição: centro e sul, raro no norte
nome vulgar: erva-garfo
Erodium moschatum (L.) L' Hér.
ecologia: terras cultivadas e sítios ruderalizados
distribuição: vulgar
nome vulgar: agulha-de-pastor-moscado
Geranium molle L.
ecologia: ruderal
distribuição: vulgar
nome vulgar: bico-de-pomba-menor
Geranium purpureum Vill.
ecologia: ruderal
distribuição: vulgar, excepto noroeste montanhoso
nome vulgar: erva-de-S.-Roberto
Geranium rotundifolium L.
ecologia: ruderal e campos
distribuição: vulgar, excepto no noroeste oidental e centro-este
nome vulgar: gerânio-peludo
Hypericaceae (Guttiferae)
Hypericum sp.
Hypericum perforatum L.
ecologia: campos, sebes, prados e margens de caminhos
distribuição: muito vulgar
nome vulgar: hipericão
Iridaceae
Iris foetidissima L.
ecologia: sebes e lugares húmidos e sombrios
distribuição: noroeste, centro e sul
nome vulgar: lírio-fétido
Juglandaceae
cf. Juglans regia L.
ecologia: cultivado pelos seus frutos em sítios frescos e margens de cursos de água, até 700 m.s.m.
distribuição: originária do sudeste da Europa e Ásia ocidental e central
nome vulgar: nogueira
Juncaceae
Juncus bufonius L.
ecologia: lugares húmidos e inundados de Inverno
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: junco-dos-sapos
Juncus glaucus Ehrh
ecologia: lugares húmidos, nitreiros
distribuição: centro e sul
Lamiaceae (Labiatae)
Calamintha baetica Boiss. & Reuter
ecologia: sebes, taludes e sítios húmidos
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: calaminta
Lavandula luisieri (Rozeira) Rivas-Martínez
ecologia: termófila, solos xistosos ou calcários
distribuição: centro e sul, rara na Terra Quente
nome vulgar: rosmaninho
Marrubium vulgare L.
ecologia: campos incultos e cultivados, caminhos, entulhos e muros
distribuição: quase todo o país, frequente
nome vulgar: marroio-branco
Mentha sp.
Mentha suaveolens Ehrh.
ecologia: sítios frescos e ruderais
distribuição: muito vulgar
nome vulgar: mentastro
Rosmarinus officinalis L.
ecologia: lugares secos e pedregosos, charnecas, pinhais
distribuição: quase todo o país, principalmente no centro e sul
nome vulgar: alecrim
Salvia verbenaca L.
ecologia: incultos, margens de caminhos
distribuição: Beira Litoral, Alentejo e Algarve
nome vulgar: erva-crista
Lauraceae
Laurus nobilis L.
ecologia: espontâneo ou cultivado, em matas, lugares sombrios, margens dos rios
distribuição: quase todo o país, principalmente no centro e sul
nome vulgar: loureiro
Liliaceae
Allium cf. ampeloprasum L.
ecologia: terras cultivadas, incultos, pousios, sítios arenosos ou rochosos, dunas e sapais
distribuição: Terra-Quente, centro e sul, área de ocorrência ampliada por acção humana
nome vulgar: alho-porro-bravo
Asparagus sp.
Asparagus acutifolius L.
ecologia: matos xerofílicos e outros locais secos
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: corruda-menor
Asparagus albus L.
ecologia: sebes, lugares secos, muros
distribuição: centro e sul
nome vulgar: estrepe
Asparagus aphyllus L.
ecologia: incultos e matos xerofílicos, sebes, margens dos campos e muros
distribuição: Noroeste, Terra Quente, principalmente no centro e sul
nome vulgar: corruda-maior
Asparagus officinalis L.
ecologia: cultivado e às vezes subespontâneo
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: espargo-hortense
Asphodelus cf. ramosus L.
ecologia: incultos, sítios pedregosos, matas abertas
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: abrótea
Ruscus aculeatus L.
ecologia: matos mais ou menos xerofílicos, subcoberto de matas e areias litorais
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: gilbardeira
Smilax aspera L.
ecologia: matas e matos relativamente húmidos, sebes e muros velhos
distribuição: quase todo o país, excepto no norte
nome vulgar: alegra-campo
Urginea maritima (L.) Baker
ecologia: terrenos pedregosos, incultos e solos arenosos
distribuição: noroeste ocidental, Terra-Quente, centro e sul
nome vulgar: cebola-albarrã
Linaceae
Linum tenue Desf.
ecologia: terrenos secos, colinas
distribuição: centro e sul
nome vulgar: linho-das-pétalas-grandes
Linum trigynum L. subsp. trigynum
ecologia: campos incultos, preferencialmente em solos arenosos
distribuição: centro e sul, raro no nordeste
nome vulgar: linho-bravo
Malvaceae
Malva sp.
Moraceae
Ficus carica L.
ecologia: cultivado pelo fruto (figo), sobretudo nas regiões mais quentes e secas
distribuição: subespontâneo, originário do médio oriente, Ásia Menor e norte de África
nome vulgar: figueira
cf. Morus alba L.
ecologia: cultivada
distribuição: originária do Japão e da China ocidental
nome vulgar: amoreira-branca
Myrtaceae
Eucalyptus globulus Labill.
ecologia: cultivada
distribuição: originária da Austrália e Tasmânia, quase todo o país
nome vulgar: eucalipto
Orchidaceae
Aceras anthropophora (L.) R. Br.
ecologia: terrenos secos e incultos
distribuição: quase todo o país, frequente
nome vulgar: erva-do-enforcado
Oleaceae
Olea europaea L. var. europaea
ecologia: abundantemente cultivada pelo fruto (azeitona), matas xerofílicas e sítios rochosos secos
distribuição: noroeste ocidental, Terra-Quente, centro e sul
nome vulgar: oliveira
Olea europaea L. var. sylvestris (Miller) Lehr
ecologia: matas xerofílicas e matos em sítios rochosos secos
distribuição: noroeste ocidental, Terra-Quente, centro e sul
nome vulgar: zambujeiro
Onagraceae
Epilobium tetragonum L.
ecologia: lugares húmidos, margens de campos e cursos de água
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: erva-bonita
Orobanchaceae
Orobanche sp.
Orobanche cf. ramosa L. subsp. nana (Reuter) Coutinho
ecologia: epífito em variadíssimos hospedeiros
distribuição: vulgar, quase todo o país
nome vulgar: erva-toira-ramosa
Oxalidaceae
Oxalis pes-caprae L.
ecologia: terras cultivadas e outros sítios descampados, sobretudo em solos argilosos
distribuição: subespontânea, por vezes com abundância, centro e sul
nome vulgar: azeda
Papaveraceae
Fumaria sp.
Pinaceae
Pinus halepensis Mill.
ecologia: cultivado com certa frequência em terrenos calcáreos, em zonas quentes
distribuição: originário da zona mediterrânica
nome vulgar: pinheiro-de-Alepo
Pinus pinea L.
ecologia: matas estremes (pinhais mansos) ou consociadas, zonas de clima ameno, não muito seco
distribuição: noroeste ocidental, centro-oeste, centro-sul, sudoeste e Algarve
nome vulgar: pinheiro-manso
Plantaginaceae
Plantago sp.
Plantago coronopus L. subsp. coronopus
ecologia: ruderal, terras cultivadas, areias, rochedos litorais
distribuição: vulgar
Plantago lagopus L. subsp. cylindrica (Boiss.) Franco
ecologia: sítios secos, arenosos ou pedregosos
distribuição: sul
Plantago lanceolata L.
ecologia: ruderal, segetal e de sítios húmidos
distribuição: vulgar
nome vulgar: tanchagem
Polygonaceae
Rumex pulcher L. subsp. pulcher
ecologia: norte, centro e sudoeste setentrional
distribuição: ruderal
nome vulgar: labaça
Poaceae (Gramineae)
Agrostis cf. stolonifera L.
Agrostis stolonifera L.
ecologia: margens dos ribeiros, sítios húmidos, solos arenosos
distribuição: quase todo o país, frequente
nome vulgar: erva-fina
Arundo donax L.
ecologia: margens dos rios, lugares húmidos
distribuição: quase todo o país, principalmente no centro e sul
nome vulgar: cana
Avena sp.
Avena sativa L.
ecologia: cultivado
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: aveia
Briza maxima L.
ecologia: terras cultivadas e incultos
distribuição: quase todo o país, frequente
nome vulgar: bole-bole
Cynodon dactylon (L.) Pers.
ecologia: terras cultivadas e incultos, caminhos
distribuição: quase todo o país, muito frequente
nome vulgar: grama
Cynosurus echinatus L.
ecologia: sebes, arrelvados, terrenos incultos e muros
distribuição: quase todo o país, frequente
nome vulgar: rabo-de-cão
Dactylis glomerata L.
ecologia: lameiros, arrelvados, terras cultivadas e incultos
distribuição: quase todo o país, frequente
nome vulgar: panasco
Holcus lanatus L.
ecologia: lameiros, pastagens e terras cultivadas
distribuição: quase todo o país, frequente
nome vulgar: erva-lanar
Hordeum histrix Roth
ecologia: campos, caminhos
distribuição: vulgar
Phalaris tuberosa L.
ecologia: terras cultivadas e incultos
distribuição: centro e sul
Poa annua L.
ecologia: terras cultivadas, muros, beiras de caminhos
distribuição: quase todo o país, vulgar
nome vulgar: cabelo-de-cão
Setaria glauca (L.) P. Beauv.
ecologia: terras cultivadas e sítios frescos
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: milhã-amarela
Portulaceae
Portulaca oleracea L.
ecologia: campos cultivados, hortas e leitos dos rios, algo infestante
distribuição: quase todo o país, frequente
nome vulgar: beldroega
Rhamnaceae
Rhamnus alaternus L.
ecologia: matos xerofílicos e sebes
distribuição: centro e sul
nome vulgar: sanguinho-das-sebes
Rosaceae
Crataegus monogyna Jacq. subsp. brevispina (G.Kuntze) Franco
ecologia: sebes e bosquetes, geralmente próximo de cursos de água
distribuição: vulgar, mais raro no sudeste
nome vulgar: pilriteiro
Cydonia oblonga Miller
ecologia: cultivado em sebes pelos seus fruto (marmelo), por vezes subsespontâneo ou casual
distribuição: frequente no Centro, originário do sudoeste e centro da Ásia
nome vulgar: marmeleiro
Eriobotrya japonica (Thunb.) Lindley
ecologia: cultivada pelo fruto (nêspera), por vezes fugida de cultura
distribuição: centro e sul, frequente
nome vulgar: nespereira-japonesa
Prunus sp.
Malus domestica Borkh.
ecologia: largamente cultivado pelo seu fruto (maçã), em pomares ou isoladamente
distribuição: sobretudo norte e centro
nome vulgar: macieira
Prunus persica (L.) Batsch.
ecologia: extensivamente cultivado pelo seu fruto (pêssego), por vezes casual
distribuição: originário da China
nome vulgar: pessegueiro
Pyrus sp.
Rosa sp.
Rubus ulmifolius Schott
ecologia: sebes, valados, barrancos, terrenos incultos e ruderalizados
distribuição: muito vulgar
nome vulgar: silva
Sanguisorba hybrida (L.) Nordborg
ecologia: margens dos cursos de água e de matas
distribuição: bacia do Douro, centro e sul
nome vulgar: agrimónia-bastarda
Rubiaceae
Rubia peregrina L.
ecologia: sebes, matos xerofílicos e sitios rochosos
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: ruiva-brava
Rutaceae
Citrus cf. limon (L.) Burm. fil.
ecologia: muito cultivado pelo fruto (limão)
distribuição: derivada de plantas espontâneas de regiões tropicais e subtropicais do sudeste da Ásia
nome vulgar: limoeiro
Citrus sinensis (L.) Osbeck
ecologia: muito cultivado pelo fruto (laranja doce)
distribuição: derivada de plantas espontâneas de regiões tropicais e subtropicais do sudeste da Ásia
nome vulgar: laranjeira
Ruta montana (L.) L.
ecologia: outeiros áridos, terrenos estéreis
distribuição: vulgar, raro no noroeste
nome vulgar: arrudão
Scrophulariaceae
Scrophularia sp.
Scrophularia auriculata L.
ecologia: margens dos rios, valas, lugares húmidos
distribuição: quase todo o país, frequente
nome vulgar: escrofulária-dos-rios
Scrophularia scorodonia L. subsp. multiflora
ecologia: sítios frescos e sombrios, entulhos
distribuição: quase todo o país
Verbascum sinuatum L.
ecologia: terrenos secos, incultos, margens de caminhos
distribuição: quase todo o país, frequente
nome vulgar: verbasco-ondeado
Solanaceae
Solanum nigrum L. subsp. nigrum
ecologia: sítios ruderalizados ou terras cultivadas
distribuição: muito vulgar
nome vulgar: erva-moira
Thymelaeaceae
Daphne gnidium
ecologia: matos esclerofílicos
distribuição: muito vulgar
nome vulgar: trovisco-fêmea
Urticaceae
Parietaria punctata Willd.
ecologia: ruderal
distribuição: vulgar, excepto centro-sul meridional e sudoeste setentrional
nome vulgar: alfavaca-de-cobra
Urtica dubia Forskål
ecologia: ruderal
distribuição: noroeste ocidental, centro e sul
nome vulgar: urtiga
Valerianaceae
Centranthus calcitrapae (L.) Dufesne subsp. calcitrapae
ecologia: ruderal e terras cultivadas
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: calcitrapa
Verbenaceae
Lippia citriodora (Ort.) H.B. et K.
ecologia: cultivada
distribuição: originária da América do Sul
nome vulgar: lúcia-lima
Verbena officinalis L.
ecologia: lugares húmidos e assombreados, sebes, caminhos
distribuição: quase todo o país, frequente
nome vulgar: gerbão
Vitaceae
Vitis vinifera L. subsp. vinifera
ecologia: cultivada pelos frutos (uvas de mesa ou de vinho), por vezes fugida de cultura
distribuição: quase todo o país
nome vulgar: videira
Nota: as plantas abaixo citadas forma colectadas na zona do Hipódromo e integram também o elenco referido anteriormente.
Andryala integrifolia
Anthemis fuscata
Arisarum vulgare
Asparagus aphyllus
Atractylis gummifera
Atractylis gummifera
Carlina racemosa
Convolvulus sp.
Crataegus monogyna subsp. brevispina
Crepis vesicaria subsp. haenseleri
Cichorium intybus
Cynara humilis
Daphne gnidium
Dipsacus comosus
Dittrichia graveolens
Epilobium tetragonum
Eryngium campestre
Foeniculum vulgare
Geranium rotundifolium
Leontodon tuberosus
Linum tenue
Olea europaea var. sylvestris
Ornithopus pinnatus
Oxalis pes-caprae
Pallenis spinosa
Pallenis spinosa
Phagnalon saxatile
Picris echioides
Pistacia lentiscus
Prunus sp.
Pyrus sp.
Reichardia intermedia
Rosa sp.
Rubia peregrina
Rubus ulmifolius
Rumex pulcher subsp. pulcher
Salvia verbenaca
Scabiosa atropurpurea
Scolymus maculatus
Senecio jacobaea
Torilis arvensis
Trifolium angustifolium
Verbascum sinuatum
Vicia sp.
Os romanos e as plantas utéis
A domesticação de plantas é uma actividade que data de tempos muito remotos (as culturas mais antigas do
Velho Mundo são o trigo e a cevada). A região circum-mediterrânica, próxima do denominado berço da agricultura, é considerada um centro de diversidade agrícola, sendo-o reconhecidamente para 246 espécies (de 56 famílias), que representam 9.9% das espécies domesticadas.
Numa tentativa de relacionar as espécies da flora presentes em Miróbriga com espécies que possam estar associadas às actividades agrícolas ou outras actividades desenvolvidas na época romana foram pesquisadas diversas fontes bibliográficas. Refira-se a escassez deste tipo de informação, já que a maior parte das fontes citadas se reporta à História Natural de Plínio.
Aquando da conquista romana já na Gália se cultivava a vinha e a oliveira, mas a ocupação incentivou a
actividade comercial em torno destas culturas (Goudineau e Guilaine, 1989). Também em Portugal, de acordo com Saramago (1997) "não houve modificações estruturais no tipo de cultura; o Alentejo já tinha na época uma agricultura de tipo mediterrânico e o que realmente aconteceu foi a tomada de conhecimento de práticas de intensificação para as culturas existentes";.
Corroborando estas afirmações, Alarcão (1997) ao descrever as actividades agrícolas na época romana refere que as sementeiras de trigo e cevada eram feitas entre Outubro e Dezembro, fazendo-se posteriormente a monda. O mesmo autor afirma que "o consórcio entre a vinha e o trigo parece ter sido comum no "Portugal Romano";. Alguns dos aspectos da pecuária extensiva são abordados na fonte acima citada, nomeadamente o facto de que "o nosso Alentejo reunia particulares condições para criação de suínos nos montado";.
A existência de um hipódromo romano na região leva a supor que os tão apreciados cavalos da Lusitânia seriam possivelmente criados e mantidos nas proximidades, afirmando Alarcão op. cit. que "o melhor meio de criar equídeos é nos prados", podendo inferir-se que o sub-bosque de alguns dos montados então existentes na região estaria afecto à criação destes cavalos".
No pomar cultivava-se sobretudo a figueira (Ficus carica L.), a nogueira (Juglans regia L.), a macieira (Malus domestica Borkh.) e a pereira (Pyrus communis L.)". Todavia, e de acordo com Saramago (1997), as árvores de fruto eram já abundantes, em Portugal, quando os romanos ocuparam a Península Ibérica, uma vez que as culturas da figueira, da macieira, da romanzeira (Punica granatum L.) e da amendoeira (Prunus dulcis L.), tinham sido trazidas para Ocidente pelos fenícios, durante o século VII AC.
De acordo com os diversos autores consultados, na época da ocupação romana as leguminosas ocupavam um lugar de relevo na dieta: favas (Vicia faba L.), grãos (Cicer arietum L.), lentilhas (Lens esculenta Moench); ervilhas (Pisum sativum L.) e ervilhacas (Vicia sativa L.), algumas delas (ervilhas, lentilhas, grãos e favas) já consumidas em Portugal anteriormente, por influência dos fenícios.
Os vegetais de cujo consumo existe referência são as couves (Brassica oleracea L.), os nabos (Brassica napus L.), os rábanos (Raphanus sativus L.), as cebolas (Allium cepa L.), as alfaces (Lactuca sativa L.), os alhos-porros (Allium ampeloprasum L. var. porrum (L.) Gay), as cenouras (Daucus carota L.) e os espargos espontâneos (Asparagus spp.). Carcopino (1939) cita ainda as abóboras (Cucurbitaceae), a eruca (Eruca sativa Gars.), habitualmente conhecida como fedorenta, e a espelta, uma espécie do género Triticum (T. spelta L.) que seria possivelmente utilizada para o fabrico de pão.
Alarcão (1997) refere que os romanos cultivavam também alcachofras (Cynara humilis L.), alhos (Allium sativum L.) e pepinos (Cucumis sativus L.). Estes últimos, conjuntamente com o alho-porro, acima citado, eram já cultivados intensivamente no Alentejo, na sequência da influência fenícia. As uvas e o vinho (Vitis vinifera L.) eram muito comuns, registando-se o elevado número de referências a passas e a vinho de passas "extremamente perfumado e saboroso"; que era frequentemente misturado com vinho de Aloe.
Carcopino (1939), ao descrever a vida quotidiana em Roma, cita algumas plantas aromáticas e/ou medicinais nomeadamente as malvas (Malvaceae), com efeito laxativo, e a hortelã (desconhece-se se será a hortelã-romana-de-laguna ou a hortelã-francesa - Balsamita suaveolens Perr., in Feijão, 1961). Porém, segundo Saramago (1997), foi no Alentejo que "os romanos tiveram notícia de uma quantidade apreciável de ervas aromáticas que a cozinha romana desconhecia: hortelã-da-ribeira (Mentha rotundifolia (L.) Hudson), segurelha (Satureja hortensis L.) ou poejos (Mentha pulegium L.)".
Note-se que de acordo com este autor existem registos da ocorrência de poejo na região do Alentejo desde as culturas dolménicas (aproximadamente 2000 AC.).
Durante o séc. V AC. o grego Hipócrates, "o pai da medicina moderna"; (460-370 AC.), deslocou-se ao Egipto para estudar esta ciência, pois aí esta encontrava-se bastante desenvolvida. Mais tarde também aí se dirigiram Dioscórides e Galeno. Este último consultou os papiros de Menfis no templo de Imhotep, onde sete séculos antes havia estudado Hipócrates. No Próximo Oriente o saber dos médicos da Antiguidade que era usualmente transmitido por via oral, foi passado à eternidade nos papiros das bibliotecas egípcias e aí foram estudar as grandes figuras da medicina grega no afã de se instruirem e incrementarem o seu conhecimento, apesar da medicina egípcia ter muito de magia e mitologia, não sendo propriamente uma ciência experimental. Os textos hipocráticos (o tratado "Da Medicina Antiga"; onde era descrita a utilização de 237 plantas medicinais) eram já muito superiores ao saber dos médicos egípcios, qualificados por Platão como feirantes.
Dioscórides nasceu seis séculos depois de Hipócrates, na Ásia Menor. Este grego tornou-se uma eminência da medicina prática e que foi médico dos exércitos de Neron. A vida castrense permitiu-lhe viajar, conhecer muitas terras e descobrir os seus segredos médicos, que compilou no tratado "Matéria médica", escrito na segunda metade do séc. I, onde estão presentes remédios e virtudes de cerca de cinco centenas de espécies.
É de crer que os Romanos Antigos tenham retirado muitos ensinamentos médicos desta obra e de que a medicina por eles praticada teria bastantes semelhanças com a descrita por Dioscórides, tanto que a obra deste estudioso chegou até nós num manuscrito ilustrado, datado de 512 DC., mandado executar por um aristocrata Romano.
Plantas úteis identificadas no campo arqueológico de Miróbriga:
Agave americana L. - A piteira é originária do México. A primeira menção a esta espécie é da autoria de Peter
Martyr, contemporâneo de Cristovão Colombo. É cultivada em Itália desde 1586, e é citada um pouco mais tarde por Clusius para Espanha. Tem actualmente múltiplas utilizações (farmacêuticas, alimentares, téxteis).
Allium ampeloprasum L. - O alho, sensu lato, é oriundo da Ásia, tendo chegado ao Próximo Oriente há pelo menos quatro mil anos. Os Egípcios utilizavam-no em abundância como alimento, condimento e medicinalmente.
Dioscórides refere-lhes múltiplas virtudes. O alho-porro é uma espécie de alho muito variável, com uso
alimentar, e que provavelmente tem a sua área de ocorrência ampliada por acção humana. A variedade porrum (L.) Gay, conhecida como alho-francês, é uma forma seleccionada a partir do A. ampeloprasum L., sendo cultivada desde a antiguidade. Era denominada prason pelos Gregos e porrum pelos Romanos.
Arum italicum Miller - este jarro que ocorre nos países mediterrânicos, foi descrito pelo grego Dioscórides (séc. I DC.), que o apresenta como comestível, tanto cru, como cozinhado. Dioscórides refere-o também como útil no alívio da gota.
Arundo donax L. - Dioscórides refere que untando o couro cabeludo com cinza de cana misturada com vinagre se previne a calvície.
Asparagus acutifolius L.- a corruda-menor é usada como alimentar no mediterrâneo ocidental e Península Ibérica.
Asparagus albus L. - o estrepe é tido como comestível na Sicília.
Asparagus officinalis L. - o espargo-hortense é alvo de cultura e muitas vezes subespontâneo, pelo que é difícil determinar a sua origem. Parece ter sido cultivado no Egipto desde há seis mil anos, mas era desconhecido do grego Teofrasto. Do Egipto foi levado pelos Gregos, tendo sido mais tarde transportado pelos Romanos para o sul de Itália e depois para a Hispânia. Foi amplamente citado e elogiado pelas suas qualidades alimentares pelos Romanos desde 200 A.C. (Catão), séc. I (Columela, Plínio), séc. II (Pomponius e Suetonius) e séc. III (Palladius). Introduzido em França na época galo-romana, a sua cultura só estabilizou a partir do séc. XV.
Dioscórides fala-nos também de diversas utilizações medicinais para os espargos.
Asparagus aphyllus L. - a corruda-maior é tida como comestível na Grécia.
Asphodelus ramosus L. - a gravura mais antiga de Materia Medica relativa a esta espécie foi executada e ilustrada em Constantinopla, em 512 DC., por Juliana Anicia, filha do Imperador Flavius Anicius Olybrius e integra o intitulado Codex Vibonensis.
Avena sativa L. - a aveia é cultivada há mais de 2000 anos pelos Celtas e Germanos e era conhecida dos
Egípcios, Hebreus, Gregos e Romanos. É citada pelos romanos Virgílio e Plínio, mas os Romanos Antigos usavam-na provavelmente como forragem, e não como alimento humano. A sua domesticação é considerada como secundária, pois antes de o ter sido, era considerada uma erva daninha dos campos de cereais (cereal vem de Ceres, deusa romana das colheitas). Dioscórides descreve esta planta como anti-tússica.
Beta vulgaris L. subsp. maritima (L.) Arcangeli. - a acelga-brava, planta que ocorre nas costas litorais da
Mancha, do Atlântico e do Mediterrâneo, parece já ser utilizada em 800 AC. pelos Assírios, que consumiam as suas folhas. É também citada, mas num contexto medicinal, pelos gregos Galeno (célebre médico de gladiadores, 131-199 DC.) e Dioscórides. Este que cita as suas virtudes no tratamento das dores de ouvidos, contra a caspa e a tinha, e a cicatrização de feridas e queimaduras. No séc. III é de novo mencionada como alimentar por Apicius e Ateneus (170-230 DC.). Os Romanos apreciavam-nas em caldo e cozidas com malvas silvestres (Malva sp.).
Bryonia cretica L. subsp. dioica (Jacq.) Tutin - a briónia é citada por Dioscórides como provocadora da micção, capaz de relaxar o ventre e cicatrizante de chagas provocadas por gangrena. Considera-a também útil contra as verrugas e as queimaduras solares. Entre muitas mais capacidades serve ainda para o tratamento de inflamações e para extrair esquírolas ósseas.
Chenopodium album L. subsp. album - o efeito do catassol como laxante é assinalado por Dioscórides.
Cichorium intybus L. - a chicória é por vezes cultivada como sucedâneo do café e as suas folhas podem ser utilizadas em saladas. Já conhecido em 4000 AC., como refere o papiro Ebers, um dos mais antigos textos egípcios que chegaram até à actualidade. Dioscórides refere-o e Galeno chama-lhe "amigo do fígado";.
Cistus ladanifer L. - embora a esteva não fosse referida por Dioscórides, por não ser por ele conhecida, o médico grego referia-se ao Cistus creticus (de Creta), de onde era extraído o láudano, utilizado como calmante e cicatrizante. É de crer que na Península Ibérica a preparação obtida da resina da esteva tenha sido utilizada com fins semelhantes. Na actualidade é apenas utilizado na indústria de perfumaria.
Citrus limon (L.) Burm. fil. - o limoeiro é uma árvore é muito cultivada pelo seu fruto, o limão. É desconhecido dos Romanos e dos Gregos e o seu cultivo estende-se para Ocidente com as conquistas dos Árabes.
Citrus sinensis (L.) Osbeck) - a laranjeira é amplamente cultivada pelo seu fruto , a laranja-doce. As sua origens geográficas serão provavelmente as regiões tropicais e subtropicais do sudoeste da Ásia. Foi introduzida na Europa em 1548, por João de Castro que a trouxe para Lisboa. Desta única árvore se propagaram todas as árvores desta variedade plantadas na Europa, onde começou a ser cultivada em meados do séc. XV.
Crataegus monogyna Jacq. subsp. brevispina (G.Kuntze) Franco - segundo Dioscórides, o fruto do pilriteiro comido ou bebido retem os fluxos ventrais e menstruais.
Cupressus sempervirens L. - o cipreste é frequentemente plantado, excepto nas áreas mais frias. É originário das ilhas do mar Egeu, sendo também espontâneo na Síria e no Irão. A sua madeira é bastante rija e era principalmente usada na construção naval, no fabrico de sarcófagos e de portas de santuários, ocupando um lugar importante nos ritos funerários dos povos antigos. Simbolizava a morte e a eternidade e era plantado em bosquetes sagrados ao redor dos templos Gregos e Mesopotâmios. Os textos das leis salomónicas estariam também gravados em pranchas de madeira de cipreste. É uma das plantas medicinais mais antigas, sendo mencionado num escrito assírio com 35 séculos. Os discípulos de Hipócrates conheciam já as suas características de adstringente e o seu poder anti-hemorrágico. É também citado por Dioscórides como possuindo uso medicinal (entre outras aplicações, como anti-diurético e anti-tússico). Não existe contudo a certeza que tenha sido utilizado pelos Romanos, por ser originário do Oriente. Propagou-se desde há muito por todas as costas do Mediterrâneo, pela Ásia e até pela China.
Cydonia oblonga Miller - o marmeleiro é cultivado em sebes pelo seu fruto, o marmelo, mas é por vezes
subsespontâneo ou casual. É originário do centro e sudoeste da Ásia. Era tido em alta estima pelos Antigos e mencionado pelos gregos Teofrasto e Dioscórides. Ateneus, no seu "Banquete dos Sofistas", afirma que Corinto fornecia marmelos aos atenienses. De acordo com Plínio, o marmeleiro foi importado para Itália vindo de Kydron, uma cidade cretense. É citado por Hipócrates pelas suas virtudes adstringentes e anti-diarreicas.
Dioscórides refere-o como útil no combate à desinteria, indisposições de fígado e rins, e dificuldades mictórias.
Daphne gnidium L. - a utilidade medicinal do trovisco-fêmea, nomeadamente como purgante, é conhecida desde tempos remotos e Dioscórides cita-o também nessa qualidade.
Daucus carota L. subsp. maritimus (Lam.) Batt. & Trabut. - a erva-coentreira, parente das cenouras cultivadas, era conhecida como alimentar pelos Gregos e Romanos antigos, mas não era cultivada com tal fim, sendo muito provavelmente usada apenas medicinalmente. O grego Dioscórides disserta sobre as suas capacidades para provocar a menstruação, a micção, para alívio das dores nas costas, para despertar a "virtude genital, e, quando aplicada, arrancar a criatura do ventre";.
Dittrichia viscosa (L.) W.Greuter subsp. viscosa - Dioscórides cita a táveda como útil contra as mordeduras das cobras e como cicatrizante de feridas e afirma ainda que se espalhada no chão e queimada afugenta as feras, extermina os mosquitos e mata as pulgas.
Eriobotrya japonica Lindl. - a nespereira-japonesa, originária do Japão e da China, foi trazida para a Europa pelos franceses em 1784.
Eryngium campestre L. - este é um género bem conhecido dos farmacólogos da Antiguidade. Dioscórides cita a raíz do cardo-corredor como sendo capaz de provocar a menstruação e a micção, e como possuindo efeitos benéficos contra as cólicas intestinais.
Ficus carica L. - a figueira é cultivada pelo figo e por vezes subspontânea, sobretudo nas regiões mais quentes e secas. É originária do Médio Oriente, Ásia menor e norte de África e uma das mais antigas árvores de fruto, sendo já cultivada na idade do Bronze (primeira metade do 3º milénio AC.). Embora surja numa pintura egípcia de Beni-Hassan, com 4500 anos de idade, onde se representa uma colheita de figos, foi a partir de 1500 AC. que no Egipto, após o estabelecimento do Novo Império, se deu a introdução de numerosas árvores e flores provenientes do Leste e Sudeste do Mediterrâneo, entre elas a figueira. No Antigo Testamento surge como um dos símbolos da abundância da Terra Prometida. Os figos tiveram, além do trigo e da azeitona, um papel importante na alimentação dos antigos povos mediterrânicos, sobretudo da Grécia e de Roma. É mencionada por Ateneus, Columela e Macrobius. No tempo de Catão eram conhecidas em Itália 6 variedades, mas Plínio enumera já 29. Dioscórides assinala o efeito laxativo dos frutos e descreve-os como muito úteis no tratamento das afecções da garganta, bexiga e rins, mas as suas virtudes são inúmeras.
Foeniculum vulgare Miller - o funcho era cultivado pelos Romanos antigos como erva de jardim e muito usado no tempero de carnes e na composição de molhos de vinagre. Era utilizado medicinalmente pelos antigos egípcios e Dioscórides também o refere nesta condição.
Galactites tomentosa Moench - o cardo é uma planta mediterrânica, descrita por Dioscórides como comestível enquanto nova, sendo cozinhada em óleo e temperada com sal.
Hypericum perforatum L. - Dioscórides refere o hipericão como cicatrizante.
Iris foetidissima L. - Dioscórides dá o lírio-fétido como útil no tratamento de feridas e fracturas na cabeça, para extrair farpas ou setas, e contra equimoses e inchaços. Também o refere no tratamento a esgotamentos nervosos e espasmos, ciática e incontinência urinária.
Juglans regia L. - a nogueira é cultivada pelos seus frutos, as nozes, em sítios frescos e margens dos cursos de água, sendo originária do sudeste da Europa e da Ásia ocidental e central, com uma vasta distribuição desde os
Balcãs e Creta ao norte da China. A nogueira foi extinta na Europa ocidental pela última glaciação quaternária, reaparecendo no final da Idade do Bronze. Já referida por Teofrasto, foi, de acordo com Plínio, introduzida em
Itália vinda da Pérsia, e é também mencionada em Itália por Varro (nascido em 116 AC.). Pouco reputada, como a maioria dos frutos, na opinião dos médicos da Antiguidade e da Idade Média, a noz teve no entanto um papel importante na alimentação dos nossos antepassados, especialmente através do seu óleo, outrora utilizado, juntamente com o fruto da faia, na Europa não Mediterrânica. Segundo Dioscórides, as nozes são úteis, entre outras coisas, contra os venenos, provocando o vómito, contra as gangrenas e as lombrigas.
Laurus nobilis L. - o loureiro é oriundo da Ásia Menor, alcançou a Grécia onde era dedicado ao deus Apolo e coroava os heróis gloriosos, simbolizando a vitória, a celebridade e o respeito. Dioscórides concede-lhe múltiplas qualidades, dando-o como útil, entre outras aplicações, contra as picadas de insectos, inflamações, a tuberculose e a asma.
Lippia citriodora (Ort.) H.B. et K. - a lúcia-lima é cultivada para ser usada em infusões, sendo originária da América do Sul.
Malus domestica Borkh. - a macieira é cultivada desde tempos remotos, pelo seu fruto, a maçã. Era plantada nos jardins fenícios e foi citada por Sapho, pelo poeta pastor Teócrito e por Tibulus. Teofrasto conhecia 2 variedades, Catão descrevia 7, mas Plínio já enumerava 36 e Palladius 37. É também citada por Dioscórides.
Marrubium vulgare L. - o marroio-branco é apreciado desde épocas muito remotas pelas suas diversas virtudes medicinais. Os antigos egípcios acreditavam que era um remédio para as perturbações respiratórias e o grego Dioscórides cita-o como útil contra a asma, tuberculose e tosse. Plínio referia-o como medicinal de elevado valor e foi também mencionado por Columela.
Mentha suaveolens Ehrh. - o mentastro é citado por Dioscórides num contexto medicinal.
Morus alba L. - a amoreira-branca, árvore originária do Japão e China, foi trazida do Oriente para a Tuscânia em 1434, tendo substituído quase por completo a amoreira-negra (Morus nigra L.) na alimentação dos bichos-da-seda.
Olea europaea L. var. europaea - a oliveira, planta originária da região mediterrânica, foi domesticada na Ásia ocidental. É cultivada desde a Antiguidade pela azeitona, sendo-o largamente desde a Idade do Bronze (primeira metade do 3º milénio AC) e constituindo uma das mais antigas fontes de óleo alimentar. O grego Homero cita azeitonas verdes no jardim de Alcino e Laertes, trazidas para a Grécia por Cecrops, o fundador de Atenas e só no final da época de Homero a oliveira começa a ter importância económica. Esta árvore foi introduzida na Itália em 571 AC. Durante o consulado de Appius Claudius a oliveira era ainda bastante rara em Roma e na época de Catão os Romanos conheciam 9 variedades e na época de Plínio 12, altura em que foi transportada através dos Alpes para a Gália e a Hispânia. É actualmente cultivada em cerca de 30 países dos cinco continentes.
Dioscórides registou a distinção entre a variedade selvagem (var. sylvestris (Miller) Lehr) e a cultivar, e cita-a como útil contra a sarna.
Olea europaea L. var. sylvestris (Miller) Lehr - o zambujeiro é citado por Dioscórides como cicatrizante.
Petroselinum crispum (Miller) A.W.Hill - a salsa é frequentemente cultivada como condimentar, estando por vezes fugida de cultura. A sua origem é incerta, sendo talvez do sudeste da Europa ou da Ásia ocidental. Os naturalistas da Antiguidade, de Hipócrates a Galeno, falam da sua capacidade de provocar a micção e a menstruação. Dioscórides considera ainda as suas propriedades contra as dores nas costas, rins e bexiga.
Pinus halepensis Mill. - O reino de Toutankhamon, faraó da 18ª dinastia, só durou oito anos, de 1339 a 1327 A.C., pois este morreu com dezoito anos, tendo sido enterrado com as suas riquezas, para que estas se lhe juntassem no Além. Em 1922, passados 3300 anos, os tesouros foram descobertos no seu túmulo em Tebas.
Com ele tinha também tudo o que era necessário para sobreviver: pão, fruta, vinho, unguentos e outros
elementos de origem vegetal. Para estes preparos foram utilizadas plantas com determinadas propriedades de preservação num clima seco, tendo a resina do pinheiro-de-Alepo sido uma das substâncias empregue. Este pinheiro era a árvore preferida de Réa, mãe do deus Zeus, simbolizando a ligação entre o céu e a terra.
Teofrasto recomendava a utilização da sua madeira na construção naval.
Pinus pinea L. - o pinheiro-manso era cultivado em Nápoles pelo pinhão, sendo conhecido pelos Antigos. Os Gregos considerava-no sagrado para o deus Neptuno e os contemporâneos de Platão (circa 338 A.C.) introduziram árvores florestais, tendo o pinheiro-manso sido uma das espécies utilizadas, para ensombramento dos passeios propícios às discussões filosóficas, numa função comparável à exercida nos claustros dos conventos cristãos. O uso das resinas é conhecido desde tempos muito remotos, e a sua principal utilização medicinal era contra o cansaço.
Pistacia lentiscus L. - a aroeira é uma árvore, por vezes plantada para extracção da sua resina o mastique, mascado em larga escala na Turquia. Do fruto pode ser extraído um óleo, bom para uso alimentar. A resina da aroeira foi também utilizada na preservação do diversificado conteúdo do túmulo do faraó Toutankhamon.
Dioscórides deixou-nos uma receita para a preparação do vinho lentiscino, utilizado contra as indisposições estomacais e diarreias, e fala-nos, não apenas das suas propriedades contra a tuberculose e a tosse mas, também do seu efeito contra o mau hálito.
Plantago coronopus L. subsp. coronopus - Dioscórides dá-o como útil contra a azia.
Portulaca oleracea L. - a beldroega é uma planta infestante, originária de regiões tropicais e subtropicais, estando actualmente espalhada por quase todo o mundo, designadamente na região mediterrânica. É mencionada por Teofrasto e Dioscórides. Este destaca-a como sendo útil contra as cefaleias, inflamações oculares, azia, dores da bexiga e do estômago, refreia a vontade exagerada de fornicar e abranda os "calores";.
Prunus persica (L.) Batsch. - o pessegueiro é uma árvore, extensivamente cultivada pelo seu fruto, o pêssego.
Os primeiros sinais do seu cultivo datam do 1º milénio AC., sendo originária da China onde as mais antigas poesias celebram as suas flores, como símbolos de renovação, de juventude e de amor fugaz. Muito tempo após ter chegado o Médio Oriente pela rota das caravanas, o pessegueiro foi introduzido na Grécia pelos soldados de Alexandre, o Magno. As pinturas murais de Pompeia, em Itália, são o testemunho do seu desenvolvimento. O pessegueiro ainda não era conhecido do grego Xenophon em 401 AC., data em que escreveu os seus relatos das guerras persas, mas Teofrasto refere-o como um fruto da Pérsia. Parece ter alcançado a Europa no início da era cristã. Dioscórides fala do pêssego em 60 DC. e Plínio afirma, em 79 DC., que era importado da Pérsia pelos Romanos e que a árvore foi trazida do Egipto para a ilha de Rhodes e daí para Itália. Nessa época não era comum na Grécia. Plínio diz que o epíteto persica vem do rei Perseo que o mandou plantar em Menfis.
Quercus suber L. - o sobreiro é cultivado pelas bolotas comestíveis e pelo seu revestimento, a cortiça.
Dioscórides cita as bolotas como úteis na cura de chagas, contra inflamações e mordeduras venenosas, e como possuindo efeito diurético.
Rosmarinus officinalis L.- o alecrim na Grécia antiga era considerado um presente de Afrodite aos humanos, sendo utilizado como substituto do incenso como perfumador. Esta erva aromática e condimentar, foi mencionada por Dioscórides, que o indica contra icterícia, e por Galeno. As suas virtudes foram também descritas por Plínio.
Rubus ulmifolius Schott - a silva tem bagas comestíveis, as amoras-silvestres.
Ruscus aculeatus L. - Dioscórides refere a gilbardeira como útil para provocar a micção e a menstruação, contra a pedra da bexiga, a icterícia e as dores de cabeça.
Salvia verbenaca L. - Dioscórides assinala a erva-crista como útil no combate às afecções oculares.
Scolymus maculatus L. - o escólimo-malhado é citado por Dioscórides, como tendo folhas (quando jovens) comestíveis como se fossem espinafres.
Senecio vulgaris L. - Dioscórides destaca o cardo-morto como antipirético, cicatrizante e indicado contra as dores estomacais.
Smilax aspera L. - Dioscórides concede ao alegra-campo capacidades como antídoto para venenos.
Smyrnium olusatrum L. - Dioscórides fala das propriedades alimentares (folhas e raíz guisadas) do cegudes,
enquanto Columela e Plínio registam o seu cultivo. Galeno cita-o como comestível e Apicius dá-nos uma receita para a sua preparação culinária. É mencionado por Teofrasto como farmacêutico e Dioscórides conta que as
suas sementes, bebidas com vinho e mel, provocam a menstruação e resolvem a incontinência urinária.
Solanum nigrum L. subsp. nigrum - a erva-moira é mencionada por Galeno como comestível e antipirética, e Dioscórides concede inúmeras propriedades a esta planta (antipiréctica, cicatrizante, contra as cefaleias, as dores de ouvido e a azia). Plínio não a trata em profundidade por considerá-la alucinogénica e muito tóxica, propriedade que hoje se sabe ser característica de muitas solanáceas.
Sonchus oleraceus L. - Plínio regista que o hospitaleiro Hecate ofereceu um prato de serralha-macia a Theseus, antes do seu encontro com o touro de Maratona. Dioscórides assinala-o como antipirético e contra as picadas de escorpião.
Stellaria media (L.) Vill. subsp. media - Dioscórides refere a morugem-branca como útil no alívio das inflamações oculares.
Umbilicus rupestris (Salisb.) Dandy - Dioscórides destaca os couxilhos no tratamento da pedra do rim e contra as inflamações. Hipócrates recomendava comer as suas folhas para procriar varões.
Urginea maritima (L.) Baker - a cebola-albarrã é empregada medicinalmente desde a Antiguidade, pelos Egípcios e pelos Gregos. Dioscórides refera-a como possuindo múltiplas utilizações farmacológicas.
Verbena officinalis L. - os Celtas e os Germanos utilizavam o gerbão nas suas práticas de magia e feitiçaria, considerando-a uma poderosa panaceia. Dioscórides sublinha as suas capacidades cicatrizantes, contra a icterícia, inchaços e inflamações.
Vitis vinifera L. subsp. vinifera - a videira é largamente plantada para uvas de mesa ou de vinho, estando por vezes fugida de cultura. Existe em estado selvagem na costa do Cáspio, Arménia e Caramânia. É uma das mais antigas culturas que se conhecem. Originária do Próximo Oriente, era cultivada na Palestina Calcolítica (circa 3700-3500 AC.), sendo-o já largamente na idade do Bronze (primeira metade do 3º milénio AC.). Era conhecida na Babilónia e descrições pormenorizadas sobre o seu cultivo e a produção de vinho datam da 4ª (2240 AC.), 17ª (1680 AC.) e 18ª (1525 AC.) dinastias egípcias. A Bíblia cita o vinho 165 vezes e conta-nos que Noé plantou uma vinha. Da Ásia foi trazida primeiro para a Grécia e daí para a Sicília. Os Fenícios foram responsáveis pelo seu transporte da Palestina e introdução nas ilhas mediterrânicas e levaram-na para o sul de França em 600 AC.
Os Gregos, que em 1500 AC. a cultivavam e a consideravam uma criação de Dionísio e a ele a consagravam, e os Romanos, que contribuiram amplamente para a sua disseminação na Europa e a plantavam nas margens do Reno, melhoraram significativamente o processo de vinificação. Virgílio exaltava a profusão de variedades e a sua nomenclatura, comparando-as com as quantidades de areia lançadas pelo Zephyr no mar líbio e as inúmeras ondas do mar jónio que chegavam à linha costeira, quando Eurus, mais violento, atingia os navios. Hipócrates refere-nos um preparado que ficaria conhecido como vinho hipocrático (vinho doce com canela, gengibre ou outra especiaria, passado por um passador), com qualidades estimulantes e reconfortantes.
Considerando a estrutura presente em Miróbriga, foi igualmente pesquisada a utilização de espécies da flora nos banhos termais, tendo contudo tal pesquisa sido infrutífera.
A Flora e a Mitologia
Existem abundantes referências à ligação da Flora com a Mitologia, quer através do atributo de determinadas espécies a certas divindades, quer através do simbolismo dos ciclos vegetativos das plantas. Assim por exemplo Adónis é frequentemente associado à vegetação, simbolizando a sua morte o repouso invernal das plantas, dando-se a sua ressureição na Primavera. As árvores eram encaradas como moradas de ninfas cuja vida decorria em simbiose com a árvore que lhes servia de morada.
Nas plantas presentes no actual elenco florístico de Miróbriga, podemos encontrar as seguintes espécies ligadas à Mitologia:
Loureiro- Surge ligado a Apolo e Dafne. Encontra-se ainda associado à divindade Liberdade.
Pinheiro- Átis foi transformado por castigo divino nesta árvore.
Cipreste- Simboliza o Mundo do Além, encontrando-se associado aos Cabiros.
Amoras- Segundo Ovídio a cor deste fruto deriva do sangue derramado por dois amantes, Píramo e Tisbe.
Fauna
Conforme foi abordado nos capítulos anteriores os habitats naturais e agro-sistemas existentes em Miróbriga e na sua envolvente imediata, encontram-se algo simplificados e até em alguns casos degradados. Como é natural, estes factores têm implicações sobre as comunidades faunísticas, muito particularmente aquelas que apresentam menor mobilidade espacial, como o caso dos micro-mamíferos, répteis e determinadas espécies de anfíbios. A redução da actividade ou hibernação de algumas das espécies pertencentes a estes grupos, determina, a sua subvalorização neste relatório.
Relativamente aos carnívoros, a vedação das ruínas introduz um efeito de barreira, verificando-se apenas episodicamente a sua ocorrência no perímetro do sítio arqueológico. No entanto a sua difícil detectabilidade poderá camuflar uma presença mais assídua.
Devemos referir no entanto a que a existência fragmentada de vários ambientes e formações distintas propicia também, um efeito de ecótono benéfico para determinadas espécies ou grupos, como as aves, para as quais foi encontrada uma diversidade de espécies notável. De facto, a existência dos prados associados a pequenos núcleos de oliveiras e sobreiros, os silvados dos antigos terraços hortícolas e o ambiente saxícola das ruínas, propiciam uma enorme variedade de habitats com potencialidades para serem explorados pelas aves, particularmente passeriformes. No futuro esta diversidade poderá, através da implementação de meios de divulgação adequados, constituir um motivo de atracção suplementar para Miróbriga.
A presente lista reporta-se apenas às espécies observadas ou referenciadas nas ruínas, hipódromo e sua
envolvente imediata, sendo referido o seu estatuto de conservação reportado no Livro Vermelho dos
Vertebrados de Portugal.
No caso das aves é igualmente referido o estatuto fenológico que se atribui à espécie no local. Em algumas situações esta designação surge interrogada, facto que só poderá ser colmatado através da realização de trabalhos em outras épocas do ano, nomeadamente Primavera/Verão, de modo a aferir localmente o referido estatuto. As situações em que para a mesma espécie surgem dois estatutos, significa que poderemos estar em presença de diferentes populações, mas que no entanto o primeiro dos atributos será sempre o principal.
Mamíferos
Erinaceus europaeus
Ouriço-cacheiro
Referenciado diversas vezes na área.
Talpa occidentalis
Toupeira
Abundantes vestígios na área dos prados. Possível, mas indeterminada utilização das suas galerias por micro-mamíferos do Género Microtus sp.Oryctolagus cuniculus
Coelho-bravo
O tipo e distribuição espacial dos vestígios encontrados, evidencia a sua presença com densidades reduzidas.
Mus spretus
Rato
Tratou-se da única espécie capturada nas duas sessões de armadilhagem realizadas (datas.....). Embora as cerca de 40 armadilhas colocadas cobrissem a generalidade dos micro-habitats da área, as capturas concentraram-se em amontoados de vegetação herbácea cortada, situados na área do forúm, e nas ravinas de águas torrenciais dos prados.
Vulpes vulpes
Raposa
A espécie foi frequentemente referenciada na área.
Meles meles
Texugo
Na primeira visita (data) foram encontradas pégadas, junto à ponte no solo barrento da pequena ribeira.
Informações recolhidas junto de habitantes referiam-no como comum na área das ruínas em períodos anteriores à remoção dos silvados e maneio dos prados.
Herpestes ichneumon
Saca-rabos
É frequentemente referenciada pelos habitantes dos lugares em redor de Miróbriga. Trata-se de uma espécie introduzida em Portugal pelos árabes, particularmente bem adaptada e em nítida expansão no nosso país.
Aves
Bubulcus ibis
Garça-boieira
Sedentária. Não ameaçada.
Observação regular de um bando de 15-20 indivíduos, normalmente acompanhando o gado ovino. Utiliza como dormitório um grupo de árvores, visíveis a partir da capela de S.Bráz, junto a um açude nas proximidades da cerca das ruínas.
Ardea cinerea
Garça-real
Invernante. Não ameaçada.
Foi efectuada uma única observação, o que nos leva a considerar tratar-se de uma espécie irregular, cuja
presença se deve a movimentos dispersivos exploratórios de áreas de alimentação, constituídas por açudes.
Ciconia ciconia
Cegonha-branca
Estival/Residente. Vulnerável
Foi observado apenas um casal voando sobre as ruínas na última visita a 16/17 de Janeiro. Tradicionalmente, a Serra não é um habitat favorável para a espécie. No entanto em anos recentes tem-se assistido a um aumento substancial do número de indivíduos e da área de distribuição, pelo que será natural o aparecimento de novos casais nas áreas mais favoráveis da região, com montados abertos e zonas de culturas arvenses.
Accipiter nisus
Gavião
Migrador de passagem/Residente? Não ameaçada.
Foi efectuada apenas uma observação numa época (10 de Outubro) tida ainda como período de passagem migratória para indivíduos oriundos do Norte da Europa. No entanto a sua abundante representatividade na toponímia local - Vale Gavião do Meio, Vale Gavião de Cima, Quinta do Vale de Gavião, Barreirinhas do Vale de
Gavião - leva-nos a considerar ser, ou pelo menos ter sido, uma espécie nidificante.
Buteo buteo
Águia-de-asa-redonda
Residente. Não ameaçada.
Observações regulares. Deverá nidificar nos montados em redor das ruínas.
Alectoris rufa
Perdiz-vermelha
Residente. Não ameaçada
Os agro-sistemas regionais constituídos pelos montados abertos, culturas arvenses extensivas, pastagens
naturais e pequenas hortas, constituem o habitat de eleição para a espécie, abundantemente referida nas
tributações municipais relativas à caça. Actualmente devido à forte pressão cinegética, as suas densidades estão muito longe dos efectivos que os habitats comportariam. Ainda assim é de registar a sua presença regular nas imediações das ruínas.
Pluvialis apricaria
Tarambola-dourada
Invernante. Não ameaçada.
A presença desta espécie está intimamente associada às áreas de culturas arvenses, pousios e pastagens. Entre o hipódromo e áreas adjacentes da mesma tipologia foi regularmente observado um bando de cerca de 30 a 40 indivíduos.
Vanellus vanellus
Abibe
Invernante. Não ameaçada.
Frequenta o mesmo tipo de habitats da espécie anterior, à qual frequentemente se associa, embora seja mais tolerante à presença de árvores, ocorrendo também em montados abertos. Foram observados regularmente algumas dezenas de indivíduos em áreas circundantes às ruínas e hipódromo.
Columba palumbus
Pombo-torcaz
Invernante. Não ameaçada
Os montados da Serra e da Charneca constituem no Inverno um recurso alimentar explorado por milhares de pombos-torcazes, oriundos do norte da Europa. Miróbriga situa-se já na franja desta área, pelo que os quantitativos observados são relativamente modestos.
Tyto alba
Coruja-das-torres
Residente. Não ameaçada.
Ouvida em todos as datas em que foram realizadas escutas nocturnas, estimando-se a existência de quatro indivíduos nas imediações das ruínas. Verificaram-se a generalidade das edificações e pontos notáveis da área das ruínas não tendo sido encontrados vestígios de ninhos ou poleiros regulares.
Athene noctua
Mocho-galego
Residente. Não ameaçada.
A tipologia do mosaico de biótopos da área de Miróbriga, constitui um dos habitats de eleição do Mocho-galego, havendo indícios da sua nidificação na área das ruínas em cavidades de muros.
Strix aluco
Coruja-do-mato
Residente. Não ameaçada.
Nos pontos de escuta nocturnos realizados na área das ruínas foi frequentemente detectada, tendo sido
identificados três indivíduos emitindo vocalizações em simultâneo.
Upupa epops
Poupa
Residente. Não ameaçada.
Observação regular de um indivíduo entre o hipódromo e as ruínas. Poderá existir um acréscimo de indivíduos na época de nidificação, já que a população portuguesa é parcialmente migradora.
Picus viridis
Pica-pau-verde
Residente. Não ameaçada.
É frequentemente ouvido nos montados envolventes na área das ruínas.
Dendrocopus major
Pica-pau-malhado-grande
Residente. Não ameaçada.
Observado regularmente na área das ruínas, principalmente nos pinheiros junto ao forúm.
Galerida cristata
Cotovia-de-poupa
Residente. Não ameaçada.
Comum, frequenta as comunidades herbáceas e áreas abertas.
Lullula arborea
Cotovia-pequena
Residente. Não ameaçada.
Comum. O seu canto forte e melodioso, sobrepõe-se, normalmente a todos os cantos das restantes espécies.
Alauda arvensis
Laverca
Invernante. Não ameaçada.
Os primeiros indivíduos começaram a ser observados no início de Janeiro. Frequenta o mesmo tipo de habitats da Cotovia-de-poupa.
Hirundo rustica
Andorinha-das-chaminés
Estival. Residente? Não ameaçada.
Observados dois indivíduos em 24 de Janeiro. No Sul de Portugal é conhecida uma pequena população
residente. No entanto trata-se de uma espécie que retorna às áreas de nidificação muito cedo. Dado não
existirem observações anteriores no local, pressumimos que tal seja o caso dos dois indivíduos observados.
Anthus pratensis
Petinha-dos-prados
Invernante. Não ameaçada.
Muito comum; ocorre em todas as áreas abertas. Existe um dormitório, albergando algumas dezenas de
indivíduos, situado nos prados, entre os pequenos vales das linhas de água a montante das termas.
Motacilla cinerea
Álveola-cinzenta
Residente?. Não ameaçada.
Foram efectuadas observações regulares de indivíduos isolados nas termas, o que está de acordo com as
exigências da espécie, normalmente associada a meios saxícolas nas proximidades da água.
Motacilla alba
Álveola-branca
Invernante, residente. Não ameaçada.
Incomparavelmente mais comum que a espécie anterior, a Álveola-branca ocorre nos campos hortícolas,
pomares, montados abertos e sobretudo, nas folhas de culturas arvenses onde o solo tenha sido recentemente mobilizado. Terá sido a sua profusa ocorrência que terá motivado o curioso topónimo Vale de Arvelas, forma popular de designar os passeriformes do Género Motacilla.
Troglodytes troglodytes
Carriça
Residente. Não ameaçada.
Observação regular de um único indivíduo nas áreas mais densas dos silvados, situados nos socalcos da antiga horta.
Erithacus rubecula
Pisco-de-peito-ruivo
Invernante
Trata-se da espécie dominante na área arborizada das ruínas. Durante duas sessões de anilhagem realizadas na área da antiga horta em dois dias sucessivos, foram capturados 16 indivíduos. Sabendo que se trata de uma espécie territorial, mesmo durante o inverno, este volume de capturas num período fenológico já perfeitamente estabilizado, evidencia a existência de "micro-territórios"; cuja génese, estará certamente na abundância de alimento e ausência de perturbação.
Phoenicurus ochurus
Rabirruivo-preto
Residente. Não ameaçada.
No meio saxícola constituido pelas ruínas, o Rabirruivo é a espécie dominante, utilizando as cavidades das edificações como locais de nidificação. Utiliza também com muita frequência as edificações e os suportes da sinalética das ruínas, como pontos priviligiados de observação dos seus territórios.
Saxicola torquata
Cartaxo-de-cabeça-preta
Residente. Não ameaçada.
Comum em toda a envolvente e áreas de prados das ruínas. É observado com frequência pousado na vedação, ou em amontoados de pedras, evitando no entanto, e ao contrário da espécie anterior, as áreas mais edificadas das ruínas, nomeadamente as termas.
Monticola solitarius
Melro-azul
Residente?. Não ameaçada.
Frequenta o ambiente saxícola das ruínas, voando incessantemente durante o dia entre os pontos mais elevados
- forúm, cúpula da capela, colunas das termas, telhados das casas agrícolas. Foram efectuadas observações
regulares de um indivíduo, fêmea ou imaturo, podendo tratar-se de um indíviduo em dispersão.
Turdus merula
Melro-preto
Residente. Não ameaçada.
Trata-se, conjuntamente com o Rabirruivo-preto, de uma das espécies mais conspícuas da área das ruínas, sendo frequentemente observado a alimentar-se no solo, e a voar entre os maciços arbóreos. As capturas efectuadas na zona da horta, em 12 e 13 de Dezembro, sugerem que a espécie terá densidades aqui relativamente elevadas.
Turdus philomelos
Tordo-músico
Invernante. Não ameaçado.
As primeiras observações foram realizadas no final de Outubro. A partir de Novembro registou-se um notável acréscimo populacional, directamente ligado ao auge da frutificação das oliveiras e zambujeiros. A partir de de meados de Dezembro a população decresceu consideravelmente.
Turdus iliacus
Tordo-ruivo
Invernante. Não ameaçado.
Bastante menos comum que a espécie precedente, foi detectado nos mesmos períodos.
Cisticola juncidis
Fuínha-dos-juncos
Residente. Não ameaçada.
Ocorre nas áreas descobertas com abundante cobertura herbácea. É frequentemente observada pousada na vedação.
Sylvia melanocephala
Toutinegra-de-cabeça-preta
Residente. Não ameaçada.
Comum nas zonas de vegetação arbustiva situadas na periferia da horta. A aparente elevada densidade da espécie (6 indivíduos capturados), poderá estar relacionada com uma utilização sazonal da área por parte de aves das redondezas, explorando os recursos alimentares oferecidos pelas oliveiras e zambujeiros.
Sylvia atricapilla
Toutinegra
Residente. Invernante? Não ameaçado
Restrita à área hortícola. Tal como a espécie anterior, a elevada densidade encontrada poderá ter origem no mesmo tipo de exploração dos recursos frutíferos, podendo no caso desta toutinegra, existir mesmo uma população invernante.
Phylloscopus collybita
Felosa-pequena
Invernante. Não ameaçado.
Muito comum por toda a área, particularmente na periferia da horta. Os registos iniciaram-se em Novembro, aparentando os efectivos um aumento gradual até Janeiro.
Muscicapa striata
Papa-moscas-cinzento
Migrador em passagem. Não ameaçado.
As observações registaram-se apenas em Outubro, reportando-se a três indivíduos na área da antiga horta.
Ficedula hypoleuca
Papa-moscas-preto
Migrador em passagem
Foi observado apenas um indivíduo em meados de Outubro na horta. No entanto conhecendo-se o padrão regional migratório da espécie, é de esperar que seja bastante comum entre meados de Agosto e o final de Setembro.
Parus caeruleus
Chapim-azul
Residente. Não ameaçada.
Ocorre na área hortícola. Aparenta possuir uma baixa densidade populacional.
Parus major
Chapim-real
Residente. Não ameaçada.
Ocorre em todas as áreas arbóreas. Embora mais conspícuo do que a espécie anterior, aparenta igualmente uma baixa densidade populacional, motivo que nos leva a propor a instalação de ninhos artificiais para este género de aves (chapins).
Sitta europae
Trepadeira-azul
Residente. Não ameaçada.
Espécie tipicamente florestal normalmente associada a povoamentos de folhosas. Observada nos sobreiros da envolvente da zona da horta.
Certhia brachydactyla
Trepadeira-comum
Residente. Não ameaçada.
Observada frequentemente nas áreas arbóreas, quer da horta quer das oliveiras e sobreiros.
Lanius excubitor
Picanço-real
Residente. Não ameaçada.
Trata-se de uma das mais conspícuas espécies das ruínas e da sua envolvente, emitindo as suas vocalizações estridentes em locais elevados onde possa simultâneamente ver e ser visto, sendo por isso frequentemente observado dos postes e fios eléctricos que cruzam as ruínas junto à entrada principal.
Garrulus glandarius
Gaio
Residente. Não ameaçada.
A área hortícola é frequentemente utilizada por alguns indivíduos vindos dos montados das imediações.
Corvus corone
Gralha-preta
Residente. Não ameaçada.
Embora aparente não utilizar a área das ruínas, são observados regularmente indivíduos em vôo sobre os montados e áreas de culturas arvenses das imediações.
Sturnus unicolor
Estorninho-preto
Residente. Não ameaçada.
Durante todo o período de estudo foi observado um bando constituído por 40 a 60 indivíduos, cuja actividade diurna consistia numa deambulação entre áreas de alimentação nas culturas arvenses e os montados ou pequenos maciços arbóreos utilizados como zonas de descanso. Por vezes, durante a tarde, a área hortícolaera igualmente utilizada para esse fim.
Passer domesticus
Pardal-comum
Residente. Não ameaçada.
Fortemente gregário utiliza, tal como o estorninho, a área hortícola como zona de abrigo e repouso durante o dia. Não foram encontrados vestígios da sua nidificação colonial na área das ruínas.
Petronia petronia
Pardal-francês
Residente. Não ameaçada.
Embora em muitas regiões se encontre associado a ambientes rupícolas, no Alentejo a espécie está intimamente associada a montados de sobro e azinho. Em Miróbriga ocorre nos montados envolventes e na periferia da horta.
Fringilla coelebs
Tentilhão
Residente. Não ameaçada.
Observação regular de vários indivíduos nas áreas arbóreas.
Serinus serinus
Chamariz
Residente. Não ameaçada.
Trata-se de uma das espécies mais numerosas da área das ruínas. No período de estudo verificou-se a sua associação frequente a outros fringilídeos (Tentilhão, Verdilhão, Pintassilgo e Pintarrôxo), alimentando-se em conjunto nas áreas descobertas dos prados, elegendo como pontos de descanso os ciprestes que ladeiam a calçada, entre a entrada e as termas.
Carduelis chloris
Verdilhão
Residente. Não ameaçada.
Embora menos numerosa que a espécie anterior, possui hábitos semelhantes, frequentando as mesmas zonas.
Carduelis carduelis
Pintassilgo
Residente. Não ameaçada.
Muito comum. Os seus efectivos, sempre numerosos, variaram ao longo do período de estudo. Foram
observados bandos de largas dezenas de indivíduos (100-150) a alimentarem-se de sementes de cardos, nas áreas de prados, principalmente na encosta situada entre o fórum e a área hortícola. O corte posterior dessas plantas no início de Novembro levou à deserção e dispersão das aves.
Acanthis cannabina
Pintarrôxo
Residente. Não ameaçada.
Menos numerosa do que o Chamariz e o Pintassilgo, o Pintarrôxo tem uma tipologia de ocupação do espaço das ruínas e área envolvente semelhante às espécies anteriores.
Coccothraustes coccothraustes
Bico-grossudo
Residente. Não ameaçada.
Espécie de hábitos discretos, com uma distribuição muito fragmentada em todo o país, o Bico-grossudo foi observado frequentemente na área hortícola em pequenos grupos.
Emberiza cirlus
Escrevedeira
Residente. Não ameaçada.
Ocorre na periferia da área hortícola. Os machos cantam com frequência a partir de pontos elevados das ruínas, nomeadamente do forúm e colunas das termas.
Emberiza cia
Cia
Invernante. Não ameaçada.
Foram efectuadas observações irregulares da espécie durante o período de estudo. Tratou-se sempre de
pequenos grupos (2 a 6 indivíduos) que não utilizavam a área em permanência.
Miliaria calandra
Trigueirão
Residente. Não ameaçada.
Espécie gregária durante o Inverno, o Trigueirão ocorre em grande número na área de Miróbriga, sendo
frequente a observação de bandos com algumas dezenas de indivíduos. Mostra nítida preferência pelas áreas de culturas arvenses, sendo frequentemente observado no hipódromo. Por vezes utiliza a área hortícola como zona de repouso. Nos Anais do Município de Santiago é citada uma curiosa postura municipal datada de 1839, na qual são obrigados todos os chefes de família do concelho, a apresentarem, entre Janeiro e Fevereiro quatro cabeças de Trigueirão, Cotovia ou Pardal.
Répteis e Anfíbios
Salamandra salamandra
Salamandra-de-pintas-amarelas
Não ameaçada.
Ocorre em meios cavernícolas na área das termas.
Triturus sp.
Tritão
Não ameaçada.
Embora todos os pontos de água permanentes da área das ruínas tenham sido monitorizados ao longo do
período de estudo, apenas em Janeiro foi detectada a presença de Tritões.
Bufo bufo
Sapo
Não ameaçada
Muito comum na área das ruínas, onde possui densidades locais invulgarmente elevadas.
Alytes sp.
Sapo-parteiro
Foi observado um indivíduo na área da horta. Dado não ter sido possível a sua captura não nos é possível efectuar uma identificação segura.
Blanus cinereus
Cobra-cega
Foram recolhidas informações da existência desta espécie de hábitos subterrâneos, junto de pessoas que
habitualmente efectuam trabalhos de escavação em Miróbriga.
A Fauna e o Mundo Antigo
Para além da ligação óbvia da caça, visto a mesma constituir um recurso alimentar importante, os Antigos tinham uma forte ligação à fauna, pois encontravam nos hábitos dos animais formas simbólicas de entendimento e comunicação com o Terreno e o Divino. Das espécies que ocorrem ou ocorreram no passado em Miróbriga podemos listar as seguintes com ligações comprovadas à cultura clássica:
Águia: Símbolo do poder imperial (no período Romano, ocorreriam certamente as duas espécies ibéricas do género Aquila: A. chrysaetos e A. heliaca)
Mocho: A espécie presente em Miróbriga Athene noctua, está estreitamente ligado à deusa Atena.
Ofídeos: A cobra é o símbolo de Esculápio. O facto de os ofídeos substituirem anualmente a sua pele era tido pelos Antigos, como um símbolo de renovação.
Picanço: Por não ter acedido ao amor de Circe, Pico foi transformado nesta ave (em Miróbriga ocorre como residente o Picanço-real, sendo possível a ocorrência do Picanço-barreteiro como estival).
Gralha: Como punição Atena transformou Corónis nesta ave (em Miróbriga ocorre a Gralha-preta, Corvus corone).
Lince: Linco foi transformado em Lince por Deméter (na área da Serra de Grândola este felino subsiste ainda actualmente)
Cegonha: Associada à fidelidade era um dos atributos da Piedade (em Miróbriga ocorreriam as duas espécies do Género Ciconia: C. ciconia e C. nigra).
Lobo: Dada a sua figura preponderante na lenda de Rómulo e da fundação de Roma, este animal é uma figura central do imaginário romano, estando o culto de Sorano e Apolo-Licio intimamente ligados à espécie.
Interacções da Fauna e Flora com as ruínas
Este capítulo foi realizado na dupla prespectiva de avaliar qual o impacte das comunidades animais e vegetais no meio saxícola constituído pelas ruínas, e a conservação dessas estruturas, bem como determinar os possíveis impactes dos trabalhos arqueológicos sobre essas mesmas comunidades.
Desde logo será de referir o facto, já explanado na descrição da fauna e flora, das diferentes comunidades serem constituídas maioritariamente por espécies ubícuas, com hábitos e características generalistas, logo mais tolerantes aos vários factores de perturbação presentes no sítio. Assim não foi identificada nenhuma espécie de conservação prioritária, facto que a verificar-se, poderia acarretar algumas condicionantes ao desenvolvimento de futuros trabalhos arqueológicos.
Relativamente à fauna, e para as espécies que utilizam as estruturas das ruínas, não foram encontradas
quaisquer interacções negativas. De facto as espécies utilizadoras deste meio, quer pelas densidades presentes, quer pela sua ecologia, têm uma interferência mínima, como a seguir demonstramos:
- Mamíferos. As espécies de características escavadoras como o coelho e a toupeira, tendem a evitar,
naturalmente as áreas mais pedregosas, não constituindo assim qualquer perigo para a estabilidade das
estruturas. Por outro lado a aparente baixa densidade de coelhos torna também insignificante o impacte das suas latrinas, cuja localização em Miróbriga se situa no terreiro fronteiro ao forúm. Um futuro aumento significativo de densidade, derivado de boas condições sanitárias da população, da ausência de actividade cinegética no sítio e do reduzido número de predadores, poderá ser corrigido através do estabelecimento de acordos com as Zonas de Caça Associativa da região, nos quais seja prevista a captura de animais, destinados a repovoamentos em áreas sujeitas a regime cinegético.
- Aves. A única espécie que nidifica com regularidade nas estruturas é o rabirruivo-preto. Poderá ocorrer ainda a nidificação mais ou menos episódica de outras espécies, como o mocho-galego e a poupa. No entanto, nenhuma delas interfere com as estruturas, já que a construção dos ninhos se adapta às cavidades e anfractuosidades existentes, dependendo a sua eleição de factores como a exposição solar, altura do solo, vulnerabilidade a predadores, etc. A baixa densidade de casais de rabirruivo (máximo 4 - 5) e a sua modesta massa corporal, torna a acção dos seus excrementos insignificante. Porém, o facto de utilizarem frequentemente os suportes da sinalética como pouso, e aí depositarem os seus excrementos poderá, por meras razões estéticas, determinar a utilização de um repelente específico para esse tipo de estruturas.
- Gastrópodes. O meio saxícola e os prados da envolvente são extremamente favoráveis para os caracóis, os quais em determinadas fases da vida penetram profundamente nas cavidades das estruturas. No entanto o muco das espécies identificadas (Otala lactea e Helix aspersa), é tido como inócuo devido à sua baixa acidez, ao contrário de outros invertebrados, como certos poliquetas tubulares cujas secreções são ricas em ácido clorídrico, mas cuja presença não foi detectada.
- Flora. As plantas invasoras dos muros e paredes de Miróbriga são fugidas dos pastos e devem ser alvo de limpeza regular. A acção mecânica das suas raízes sobre as estruturas, poderá pontualmente ter algum impacte na estabiliade e conservação desse património.
Os herbicidas convencionais deverão continuar a ser utilizados como medida de limpeza das plantas invasoras, uma vez que, segundo informação da Agrobio - Associação Portuguesa de Agricultura Biológica, não existem no mercado português produtos químicos reconhecida-mente inócuos para o ambiente.
Relativamente aos líquens, o sítio aparenta alguma diversidade de espécies, algumas das quais tidas como de características ácidas. No entanto a complexidade da análise da sua interacção com as rochas determina uma análise cuidada, que apenas um estudo específico poderá identificar e avaliar, bem como propor medidas para o seu controle.
Propostas de Gestão
As propostas de gestão apresentadas para o sítio baseiam-se numa concepção mais naturalizada do que
ajardinada, tentando compatibilizar uma melhor fruição do espaço com a promoção da biodiversidade, numa filosofia próxima daquilo a que alguns autores têm designado por ameno-natural. Considera-se assim indispensável a melhoria dos acessos a algumas áreas, bem como o estabelecimento de barreiras naturais de salvaguarda a outras. Todas estas medidas carecem de estudos prévios. No entanto e numa primeira abordagem poderemos listar as seguintes acções:
- Área hortícola. Trata-se da zona de maior valor natural do sítio. A existência de arvoredo frondoso, o
desenvolvimento do terreno em socalcos ou terraços, e a presença de muros de pedra solta como forma de estabilizar os taludes, tornam a área especialmente atractiva e apetecível, como local de lazer. Nessa prespectiva propomos uma acção de limpeza selectiva dos socalcos, eliminando ou reduzido consideravelmente as espécies de características infestantes, como as silvas e canas, melhorando as condições fito-sanitárias das árvores de fruto, através de podas adequadas, podendo considerar-se também o reforço da plantação de algumas delas.
No prado do primeiro nível dos socalcos, situado na área fronteira à fonte, propomos o estabelecimento de um lago de características inteiramente naturais, através da colocação de uma tela impermeável, a qual garantiria a presença de uma pequena massa de água mesmo no período da estiagem. A profundidade desta zona húmida não excederia os 50cm garantindo a segurança das crianças. As suas margens seriam moduladas em meandros, garantindo uma concepção natural podendo existir um ou dois ilhotes no meio. Deverá ser previsto o plantio de alguma vegetação palustrina. Esta estrutura além de atractiva para os visitantes, poderá assumir importância como local de postura para anfíbios, bem como atrair novas espécies de aves.
Em períodos onde a água seja abundante, fluirá um pequeno regato com origem na actual fonte e, no caso da charca vir a ser estabelecida, o regato fluirá a partir desta bacia de retenção, alagando os socalcos a jusante.
Este curso de água temporário teria de ser conduzido de forma diversa da actual, seguindo a base dos muros ao longo dos quais seriam plantadas plantas aromáticas típicas da cozinha tradicional alentejana. No último nível de socalcos deveriam ser mantidos alguns dos silvados, actuando simultâneamente como barreira natural aos visitantes e habitat favorável a espécies de hábitos mais esquivos, nomeadamente os rouxinóis.
Com o objectivo de aumentar a densidade de algumas espécies de aves propomos a colocação de caixas-ninhos, as quais podem ser ocupadas por um leque variado de espécies, particularmente parídeos. Cerca de 25 a 30 unidades seriam suficientes, devendo ser apropriadamente colocadas nas árvores da zona hortícola e sua envolvente. Além do seu efeito comprovadamente benéfico para as espécies a que se destinam, esta acção colhe também frutos junto do público, visto este aperceber-se que se trata de mais uma medida de beneficiação do sítio. Ainda na mesma linha de actuação propomos a construção de dois comedouros para aves, a localizar na área dos socalcos da horta.
Relativamente à circulação dos visitantes deverão ser estabelecidas várias linhas de percursos em toda a área, devidamente assinalados, devendo ser proibida a circulação fora destes circuitos. A implementação desta rede, permitirá salvaguardar algumas áreas onde se pretenda evitar um pisoteio excessivo, ou simplesmente salvaguardar a tranquilidade dos animais. Tal como acontece já actualmente para a interpretação das ruínas, estes circuitos deveriam ser servidos também por sinalética e painéis interpretativos na mesma linha gráfica, contendo informação relativa à temática ambiental, nomeadamente sobre a flora.
Relativamente ao hipódromo, consideramos que a ceifa regular do pasto, é perfeitamente aceitável e adaptada à realidade. Numa prespectiva de valorização do local, e pela comprovada ligação ao sítio e ao quotidiano do Mundo Romano, julgamos que se poderia ensaiar a introdução de um reduzido número de cavalos da raça lusitana (4 a 8 exemplares) que aproveitando a pastagem natural, não comprometeriam a conservação do sítio por pisoteio. Para este objectivo poderiam ser contactados criadores sediados na região, os quais através da cedência gratuita do espaço, e da construção do equipamento de apoio considerado necessário (telheiro de abrigo, bebedouros e manjedouras), poderiam estar interessados na utilização do espaço.
Esta acção deveria ser concertada com a Associação Portuguesa de Criadores do Cavalo Puro Sangue Lusitano (APSL), podendo a mesma constituir também um meio de divulgação do cavalo lusitano, e da agremiação que o promove. No sentido de concretizar esta ideia apresentamos uma listagem dos criadores regionais, cedida pela referida associação.
Luis Alberto Pidwell Silva
Apartado 287, Monte de S.João – Cumeadas - 7521 Sines
José Paulo Lopes Correia
S.Bartolomeu da Serra - 7540 Santiago do Cacém
António Joaquim Flores
7540 Santiago do Cacém
Percurso Ruínas-Hipódromo
Consideramos o estabelecimento deste percurso um instrumento fundamental para a valorização de Miróbriga, já que o mesmo poderá constituir um atractivo importante para o público. No entanto existem uma série de
constrangimentos que poderão comprometer a sua realização, os quais estão ligados ao regime de propriedade e serventias a que a área está sujeita.
Através da observação da fotografia aérea, e com base em inquéritos a residentes, concluímos existirem pelo menos cinco parcelas pertencentes a diferentes proprietários. No entanto estes dados terão de ser confirmados através da análise dos registos cadastrais.
O percurso proposto, traçado na peça desenhada, segue um antigo caminho rural, ainda perfeitamente visível no fotograma datado de 1983, o qual se encontra actualmente em alguns pontos cortado por vedações. O seu estabelecimento implicaria um acordo prévio com todos os proprietários, o estabelecimento de uma dupla vedação, deixando uma faixa livre de cerca de 3 a 4 metros e a definição de um regime de serventias com portões permitindo a passagem do gado e maquinaria agrícola.
Há ainda a considerar o facto de terem sido recentemente realizadas nesse percurso algumas intervenções inadequadas, como o corte de zambujeiros e a remoção de pedras, acções relativamente recentes e cuja "cicatrização"; na paisagem ainda não ocorreu, pelo que teriam igualmente de ser equacionados pequenos arranjos paisagísticos em determinados pontos do percurso.
Independentemente da colocação dos cavalos lusitanos no hipódromo, a qual implicará sempre uma nova vedação da área e um portão de acesso à estrada com condições de segurança, o estabelecimento do percurso terá de prever também um sistema que salvaguarde a intrusão de pessoas que não tenham passado préviamente pela portaria. Nesse sentido é proposta a colocação de três portões equipados com torniquetes nos seguintes pontos:
- Acesso ao percurso a partir das ruínas (torniquete de dois sentidos, permitindo entrada e saída nas ruínas, no portão situado na área hortícola). Ponto A na peça desenhada.
- Acesso ao hipódromo a partir do percurso (torniquete de dois sentidos). Ponto B na peça desenhada.
- Acesso à estrada fronteira ao hipódromo (torniquete de um só sentido, permitindo apenas a saída do
hipódromo para a estrada). Ponto C na peça desenhada.
O estabelecimento deste sistema de segurança permitirá que os visitantes possam efectuar o percurso num circuito "fechado", indo das ruínas ao hipódromo e voltando ao ponto inicial. Em alternativa os visitantes poderão optar por um circuito "aberto", indo das ruínas para o hipódromo e saindo nesse local, permitindo alcançar outros pontos ou locais, ou simplesmente virem a ser transportados a partir daí por terceiras pessoas que não tenham efectuado o percurso.
O torniquete do portão de entrada nas ruínas deverá ser equipado por trinco eléctrico, permitindo o seu fecho automático a partir da portaria à hora de encerramento das visitas, evitando desta forma a intrusão no período de encerramento. A dimensão dos portões e torniquetes terá de ser equacionada de modo, a que no caso de virem a ser colocados cavalos no hipódromo, seja fisicamente impossível a sua transposição pelo animais, quer acidental quer deliberadamente.
Lacunas de conhecimento
De facto, tendo os levantamentos no terreno sido efectuados durante o Outono / Inverno, não foi possível registar a presença das espécies de aves migratórias que usam esta zona apenas durante a época de reprodução, nem tão pouco os anfíbios e répteies, que passam por um príodo de hibernação. Por outro lado, um grande número de plantas não são detectáveis neste período, ou são dificeis de identificar dada a ausência de floração.
Ilustrações
As seis ilustrações sobre o Património Natural de Miróbriga efectuadas no âmbito deste trabalho foram
idealizadas num tipo de grafismo que permita a sua futura impressão em postais temáticos, monografia ou catálogo sobre o sítio, ou simples exposição no Centro Interpretativo. Independentemente da utilização que lhes seja destinada, terá de haver sempre um pequeno texto explicativo acerca das espécies ilustradas. Nesse sentido apresentamos a seguir um esboço/proposta de texto para as seis espécies eleitas.
Oliveira - Olea europae
Na Cultura Clássica a oliveira simboliza a paz, a riqueza e o triunfo da civilização. Os gregos consideravam que esta árvore tinha sido introduzida no território helénico pela deusa Atena, sendo uma dávida desta divindade para os habitantes da Grécia.
Se a sua importância na mitologia, cultura e economia do mundo mediterrânico é imensa, não o é menos na ecologia, já que o seu fruto, com grande teor energético, alimenta uma míriade de aves de diversas espécies, que fugidas ao frio do Norte invernam nas paisagens mediterrânicas.
Madressilva - Lonicera periclymenum
Planta mediterrânica, cujas flores delicadas perfumam e embelezam as paisagens meridionais, servindo de pasto às abelhas. Associadas a arbustos, formam frequentemente maciços densos, ideais para o abrigo de ninhos de pequenas aves.
Sapo - Bufo bufo
Durante a noite as ruínas são lentamente patrulhadas por dezenas de sapos, que procuram afanosamente
escravelhos, vermes, caracóis ou mesmo até micromamíferos, que servem de base à sua dieta. A sua
longevidade é proverbial havendo registos de indivíduos com idade superior a trinta anos.
Rabirruivo-preto - Phoenicurus ochurus
Ave dos meios saxícolas, quer naturais como fragas e arribas, ou artificiais como construções, o Rabirruivo-preto tem uma ampla distribuição em Portugal. É uma das aves mais conspícuas de Miróbriga, sendo observada em constantes evoluções entre os muros, as colunas e os prados envolventes. Altamente territorial, mesmo fora da época de reprodução, defende tenazmente o seu espaço dos intrusos. Elege como locais de nidificação cavidades nas ruínas.
Melro-azul - Monticola solitarius
Ave de distribuição mediterrânica com marcada preferência pelos meios saxícolas. Encontra-se com frequência associada a sítios arqueológicos monumentais no mundo mediterrânico, marcando presença também em Miróbriga.
Ouriço-cacheiro - Erinaceus europaeus
Discreto habitante de Miróbriga, apenas durante a noite o Ouriço-cacheiro passeia, solitário, em busca dos invertebrados, frutos e cogumelos que compõem a sua dieta. Em caso de perigo, enrola-se, formando com os cerca de 6.000 espinhos que lhe cobrem o corpo uma bola espinhosa. Ainda assim não consegue evitar ser uma presa frequente de texugos, raposas e corujas.
Proposta de continuidade dos trabalhos
Tendo em vista aprofundar e completar o elenco florístico e faunístico da área, considera-se indispensável a realização de trabalhos de campo durante a Primavera, idealmente nos meses de Abril e Maio, sendo assim possível preencher as lacunas de conhecimento já identificadas.
A quantidade de informação recolhida após a realização desses trabalhos, permitirá ter uma percepção do ritmo anual do meio, sendo por isso possível a partir desse estádio, elaborar um pequeno Guia Ambiental de Miróbriga, em formato de caderno de campo. Através de um grafismo cuidado, o visitante poderá conhecer as espécies que ocorrem em Miróbriga, acedendo assim a outra abordagem do sítio arqueológico.
Julgamos também que o património natural deveria ser abordado no futuro Centro Interpretativo, disponibilizando-nos desde já para em articulação com os responsáveis pela exposição virmos a desenvolver um guião relativo a este tema.
Actualizado em ( 24-May-2007 )
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