quinta-feira, 11 de novembro de 2010

As habitações de Miróbriga e os ritos domésticos

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As habitações de Miróbriga
e os ritos domésticos
romanos


À Mariana, para que os Lares a protejam

(Adaptado do artigo publicado com o mesmo nome)

Ao darmos notícia das habitações escavadas em Mióbriga, nos anos 90, bem como dos rituais domésticos associados às mesmas, gostaríamos de retomar a reanálise do aglomerado urbano a que, durante anos, foi conferida uma função de "Santuário Rural".
D. Fernando de Almeida fundamentava a sua opinião na concentração de templos nesse oppidumromanízado e no desconhecimento de zonas habitacionais que comprovassem a existência de uma grande população fixa. O conceito de santuário rural remetia à ideia de um local fundamentalmente destinado a peregrinações, sendo mesmo algumas das suas infra-estruturas justificadas apenas como local de distracção dos peregrinos, a exemplo do circo.
A sacralidade sustentava, portanto, a importância do local, conferindo-lhe de per si uma excelência no contexto nacional.
A equipa luso-americana, que escavou em Miróbriga na década de 80, se bem que admitindo a ideia de se tratar de uma cidade com as características comuns às provinciais, coloca, contudo, a tónica, na sacralização do local, que, já em período pré-romano, distingiria o aglomerado, atribuindo mesmo a uma das construções de forma inicialmente quadrangular a função de um templo da II Idade do Ferro, datado do século IV a.C.
Numa última fase, datável de cerca de 100 a.C, o templo teria sído reedificado, sendo dotado de pronaos, cella e temenos, correspondendo a esta fase o "depósito votivo" a que seguidamente faremos referência.
As plantas do edifício, de diferentes épocas, e o espólio arqueológico aí encontrado, nomeadamente o aparecimento de duas malgas invertidas de cerâmica, uma delas contendo ossos de pássaro, teriam feito chegar a tal conclusão.
No entanto, e tendo em atenção as escavações mais recentes, gostaríamos de salientar que a malga com ossos que serviu como um dos "suportes arqueológicos", pelas características de oferenda votiva, que permitiu atribuir a designação de "templo" à última fase da construção da II Idade do Ferro, poderá não corresponder linearmente à existência de uma construção de "função sagrada".
Deverá tratar-se apenas de uma edificação que foi sacralizada num determinado momento, como se pode concluir através do aparecimento de espólio de caracter votivo ou fundacional noutras áreas do aglomerado urbano.
Para especificar esta ideia, gostaríamos de referir que em escavações promovidas, nos anos 90, na "zona habitacional", apareceu, ao nível da fundação de duas construções romanas, enterrada no afloramento xistoso de base, uma tigela ou patella invertida contendo no seu interior ossos de pássaro que pensamos poder tratar-se também de um ritual fundacional. Numa outra área, uma segunda tigela, também invertida, mas sem depósito votivo no seu interior e vários fragmentos enterrados de pratos/frigideiras e de uma terrina poderão indiciar uma intencionalidade ritual.

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Para este tipo de tigela ou patella de calote esférica encontrada em Miróbriga existem inúmeros paralelos, a exemplo dos espécimes provenientes de necrópoles romanas do Alto Alentejo, conhecidas sob a designação de taças ou malgas.
Aparecidos também em Miróbriga são dois exemplares de características muito semelhantes e que se encontram em depósito no Museu Municipal de Santiago do Cacém.
Leite de Vasconcelos dá-nos notícia de "uma tigela de barro grosseiro, cuja forma é o protótipo das nossas Malgas", encontrada nas proximidades de Miróbriga, que aparenta semelhanças com a taça exumada nas escavações de 1995.


1. O aglomerado urbano e as habitações identificadas em antigas escavações

Pelas características peculiares do urbanismo de Miróbriga, não é possível visualizar qualquer resquício de uma malha urbana definida por eixos viários principais — cardo e decumanus, como é comum nas fundações latinas de plano ortogonal. No entanto, os arruamentos conhecidos, de características homogéneas em todo o aglomerado, pois são construídos com grandes lajes assentes directamente no solo, medindo 10-11 pés de largura, permitem-nos delinear o espaço ocupado por algumas das insulae, ou quarteirões, da cidade onde se instalam aedificia privata e definir os percursos de acesso a alguns dos seus núcleos polarizadores, como é o caso das opera publica conhecidas em Miróbriga - fórum e balnea.

Recentes trabalhos de prospecção e escavação, sob coordenação de Féliz Teichner vieram confirmar a ideia já por mim defendida de que Miróbriga deveria ser ocupada quase em toda a sua extensão numa área de aproximadamente 10 hectares.
Ao longo dessas calçadas e entre elas desenvolviam-se assim os bairros onde se implantavam as áreas comerciais e habitacionais.
A maioria desses quarteirões, parcialmente postos a descoberto por D. Fernando de Almeida, está pouco clarificada, como acontece em torno do fórum e na zona por onde se faz a entrada actual nas ruínas.
Se bem que mal conhecidas, algumas das construções que se desenvolvem, quer a Oeste,
quer a Este do centro cívico permitem-nos admitir, contudo, que aí existiria uma zona comercial e habitacional.
No declive a Sul do fórum e numa das calçadas que o circunda pelo lado noroeste parece ser óbvia a associação das actividades comerciais à arquitectura doméstica, porque é clara a existência de mais do que um piso, admitindo-se que o primeiro andar pudesse funcionar como habitação.
Dos restantes edifícios também denominados como tabernae — como é o caso dos que se desenvolvem do lado norte da calçada que desce em direcção às termas — poucas ilações se conseguem tirar, porque apenas são visíveis os vestígios de muros de compartimentos unicelulares, sem aparente ligação. No entanto, as características da sua planta — na sua maioria, um só compartimento ocupa o piso térreo — e das soleiras da porta — onde não são visíveis encaixes para as portas, mas apenas uma ranhura ao longo de coda a soleira — permite admitir que as tabemae seriam fechadas por tapumes de madeira movíveis que se fixam às soleiras das portas, como é o caso dos Termopolia de Herculano.
Uma outra edificação de que há apenas existe uma pequena referência publicada e que foi apenas parcialmente escavada pela equipa luso-americana a nordeste do fórum desenvolvia-se em torno de um atrium. Esse átrio e a existência de colunas que delimitam uma zona porticada fazem-nos aceitar a possibilidade de se tratar também de uma habitação.
Um outro núcleo de construções, localizadas junto às termas, foram publicadas por Maria de Lurdes Costa Arthur, na década de 40, como tratando-se de habitações, estando actualmente, na sua maioria, de novo soterradas. No entanto, ao longo do troço de calçada que se dirige às termas, são visíveis de um lado tabernae e, do outro, restos de soleiras de portas e vestígios de muros alinhados que indiciam a existência de várias edificações.
Esta investigadora admitia a fundação céltica do aglomerado que teria sido ocupado até ao século IV, quando foi possivelmente destruída por um incêndio. Também de um lado e do outro da calçada que se encontra logo à entrada actual das ruínas, são visíveis várias insulae, que parecem ter tido uma ocupação sucessiva entre os séculos I d.C. e o século IV d.C.
Das escavações coordenadas por José Olívio Caeiro, nos anos 80, nessa área e na área limítrofe à capela de S. Brás, apenas existe uma pequena notícia, tendo sido somente algumas das pinturas a fresco objecto de publicação pela equipa de Missouri, situação essa que dificulta a contextualização dos vestígios.
Contudo, é claro que aí uma ampla calçada é estruturante de uma extensa área habitacional que se desenvolve, quer para Norte, quer para Sul da mesma, sendo visíveis as respectivas condutas dos esgotos em opus incertum pavimentadas com lateres.
Do lado sul constata-se que as múltiplas casas se adaptam à pendente e que os desníveis são vencidos através de grandes escadas que permitiam o acesso pedonal à via. Muito possivelmente, numa zona mais baixa do casario, se desenvolveria uma outra via que poderia fazer a ligação, mais a sul, às termas.
Apesar do conhecimento incipiente das zonas habitacionais existentes nessa área, pode-se verificar que as insulae dessa zona são de métricas diferentes, em função das ruas e acessos públicos, variando entre 25 a 30 m1. As escadarias que se desenvolvem a Sul desta delimitam claramente insulae, em torno das quais se pode ainda ver o respectivo sistema de esgotos.

A sua organização adapta-se perfeitamente à topografia deste sítio, implantando-se o casario em plataformas artificiais, que desde o ponto mais alto, onde se sobreporá no século XVI a Capela de S. Brás, a Norte da via, até à zona mais baixa, a Sul da mesma, formam como terraços.
A Este desta construção, ao longo da via, quer do lado norte, quer do sul da mesma, são visíveis vários muros dispersos, devendo tratar-se de habitações. No entanto, como todos eles foram postos a descoberto em anteriores trabalhos arqueológicos, através de valas abertas paralelamente aos mesmos, nada se pode concluir, porque nenhuma planta foi integralmente clarificada.
Na maioria das construções identificadas como tabernae, os pavimentos são de opus signinum, como acontece nas edificações junto à calçada que se dirige às termas, e nas zonas comerciais circundantes do fórum.
A mesma situação verifica-se em algumas das construções da "zona habitacional". No entanto, em muitas delas não é visível qualquer vestígio do mesmo, admitindo-se que, em alguns casos, fosse de madeira.

2. As áreas escavadas nos anos 90: a domus localizada na zona limítrofe da capela de S. Brás e as construções a noroeste do núcleo urbano

Na zona limítrofe da Capela de S. Brás, do lado norte da via por onde actualmente se faz a entrada nas ruínas de Miróbriga, iniciou-se em 1996 uma escavação numa área que já havia sido parcialmente assinalada pela equipa luso-americana, e que veio a revelar a existência de uma domus.

Desenho: Armando Guerreiro

Essa extensa construção desenvolve-se para Norte, em torno de um átrio.
Este átrio tinha uma zona coberta possivelmente porticada, como o comprovam a concentração de telhas no local e os entalhes regulares definidos no afloramento xistoso, que deveriam servir para apoiar o telhado. O pavimento da zona circundante do átrio era revestido a opus signinum, ou formigão, ainda visível em alguns pontos. Na zona central, a céu aberto, subdividida num segundo momento da ocupação da casa, poderia ter existido uma pequena zona ajardinada.
Por seu lado, os pavimentos das salas que se desenvolvem em seu redor deveriam ser feitos com traves de madeira, pois não existe qualquer vestígio de revestimento e o afloramento xistoso é bastante irregular, o que aliás é comum a algumas das residências localizadas nesta área.
A evidência de vários orifícios circulares escavados no xisto, no interior de alguns compartimentos da residência que escavámos, assemelhando-se a "buracos de poste", mas distribuídos sem qualquer aparente regularidade, contribuem para colocar esta hipótese, se bem se possa admitir uma outra funcionalidade para os mesmos.
Numa destas concavidades estava perfeitamente conservada, no compartimento localizado
à entrada da casa, ao nível da rocha de base, que havia sido escavada propositadamente para o efeito, uma tigela ou patella invertida, contendo no seu interior ossos de galinha, que pensamos poder tratar-se, efectivamente, de um ritual fundacional. A tigela invertida tinha em seu redor fragmentos de cerâmica que aí foram colocados intencionalmente para calçar e proteger a peça e, por cima, tinha terra.
Em alguns dos compartimentos centrais desta construção são visíveis estuques, mas não
foram identificados quaisquer indícios de pinturas a fresco, até porque a casa se encontra praticamente ao nível das fundações.
A única excepção trata-se de alguns muros mais altos construídos cm opus incertum, no limite oeste da mesma.
A atender-se aos poucos vestígios de derrube das construções (ao contrário do que acontece com os materiais de construção cerâmicos dos telhados — imbrices e tegulae), pode deduzir-se que as pedras devem ter sido roubadas e reutilizadas, situação essa bastante comum em Miróbriga, fundamentalmente nos locais em que o acesso era mais fácil, como os que se situam nos pontos mais altos, junto à actual entrada. Nas construções recentemente escavadas pudemos confirmar esta hipótese, havendo mesmo casos onde apenas restaram os negativos dos muros.
Ainda atendendo aos escassos muros que se conservam com uma maior altura, nada nos
permite concluir que pudessem os restantes ter sido edificados em adobe ou taipa.
Esta domus poderia ter tido dois pisos, porque se adossou, do lado oeste, uma escada, que deveria dar também serventia às construções que se desenvolvem num plano mais elevado, a Noroeste da habitação. Dessas edificações foram já postos a descoberto alguns muros, cujas fundações são ligeiramente enterradas no afloramento xistoso, que foi escavado para permitir uma maior estabilidade ao edifício. Também aqui muitos deles se encontram somente ao nível da fundação.
Entre a calçada, que se desenvolve a Sul, e a soleira da porta de entrada da "construção de átrio" escavada, existe um pavimento em opus signinum, desaparecido em grande parte, que permitia um acesso mais confortável e higiénico à mesma. É junto a esta zona que desaguavam as águas drenadas por uma conduta de imbrices.
Se bem que tenha sido encontrado um numisma republicano, a maioria dos materiais
arqueológicos provenientes desta construção apontam para uma ocupação que vai do século I à segunda metade do século V d.C.
A escavação na íntegra desta casa e das adjacentes é fundamental, pois só ela permitirá a compreensão de uma insula de Míróbriga.

E, no entanto, de salientar que a planta desta habitação já parcialmente escavada é paralela à da capela de S. Brás, edificada, a Noroeste, ao lado e sobre estruturas romanas, devendo pertencer ao mesmo programa urbanístico.
Os restos de uma casa romana, escavada por José Olívio Caeiro, nos anos 80, e que são ainda visíveis junto à capela, pertenceriam, portanto, a um conjunto residencial mais vasto que se estendia do lado norte da calçada, adaptando-se ao declive natural do terreno.
Numa área a Oeste da actual entrada de Miróbriga, iniciaram-se, em 1997, trabalhos arqueológicos, tendo sido inicialmente feitas algumas sondagens para averiguar da possibilidade de aí ser construído o que veio a ser o "Centro Interpretativo ". A superfície foi encontrada uma moeda de Marco Aurélio e, já pertencente a um nível arqueológico bem selado, de fundação de algumas construções, foi encontrado um outro, cunhado em Mérída no reinado de Augusto.
Se bem que grande parte da área escavada se tenha vindo a manifestar estéril do ponto de vista arqueológico, é um facto que nessa zona foram implantadas duas construções que nos parecem estar articuladas com a "área residencial", pois obedecem praticamente à mesma orientação das casas localizadas na área limítrofe da capela de S. Brás.
Entre estas zonas deveria haver uma outra calçada que, embora não seja visível nas proximidades da área escavada, é um facto que dela restam ainda algumas lajes, junto ao caminho de terra batida, por onde se acede pelo lado poente das ruínas à zona adjacente às termas.
Na zona limítrofe de uma dessas construções, detectou-se uma enorme concentração de escória, associada a uma terra barrenta que foi sujeita a alta temperatura, porque se encontra cozida, como se de terracota se tratasse. Deveria tratar-se, também, de uma zona onde existiam ateliers metalúrgicos.
De salientar que já Cruz e Silva havia referido a existência de fornos siderúrgicos de grandes dimensões: 2,30 m de diâmetro e 4,60 m de altura, se bem que não tenhamos elementos que nos permitam localizá-los.
Uma das edificações escavadas na zona a que nos vimos a referir, a localizada mais a Sul, tem uma planta cujos compartimentos se parecem organizar em torno de uma área com uma centralidade funcional, pois por ela se acede a outras zonas da casa.
Nesse compartimento central que se situa encostado ao limite oeste da construção, surgiram lajes calcárias alinhadas, localizadas apenas junto aos muros, parecendo tapar um sistema de canalização ou drenagem de águas.
Para a construção da casa, edificada em opus incertum, foram feitas fundações escavadas no afloramento xistoso.
Para permitir a impermeabilização das construções, implantadas numa zona de grande pendente, os muros limite foram revestidos na sua zona mais baixa por uma camada oblíqua de opus signinum. Esta situação é também comum a outras edificações de Miróbriga, bem como na entrada dos Balnea.
Admitimos que em alguns dos compartimentos destas construções o pavimento deveria ser de madeira.
Numa dessas edificações, localizada mais a Norte, num compartimento onde não era visível qualquer pavimento, foram encontrados vários alvéolos escavados no xisto, contendo alguns deles cerâmica depositada.
No interior de um deles que se encontrava preenchido por uma terra pouco compacta misturada com grogue, encontrou-se também uma tigela ou patella fragmentada, numa deposição invertida, análoga à acima descrita na domus. A sua tipologia é também similar à da domus, se bem que sem qualquer depósito no seu interior.
Relativamente próximo, surgem três alvéolos anexos, contendo terra pouco compacta no
seu interior. Num deles apareceram depositados, numa posição que se verificava claramente voluntária, vários fragmentos de cerâmica comum. No bordo do alvéolo, numa situação que poderá já deixar dúvidas quanto à intencionalidade de deposição, surgiu um outro bordo de uma taça.
Num segundo, encontrava-se parte de um recipiente, fragmentado de grandes dimensões em cerâmica comum de excelente qualidade, que possuiria tampa dado o encaixe que apresenta na parte superior do bojo. Este vaso era decorado cora duas bandas de guillochis e possuía fundo em pé-de-anel pouco acentuado. Ao contrário das anteriormente referidas, esta peça não se encontrava invertida e no seu interior havia um grande bloco de quartzo.
O terceiro alvéolo não possuía qualquer deposição.
Na área central do compartimento existia uma extensa depressão formando um L, também
escavada no xisto, com uma profundidade análoga à dos alvéolos, com cerca de 15cm em média, que continha uma terra pouco compacta com pequenos restos de cerâmica comum, grogue, um bordo cerâmico e um pequeno fragmento de vidro. Neste caso, a admitir-se que se trata de uma área funcional, não estamos perante uma deposição intencional, mas de um enchimento posterior à sua possível utilização em articulação com o dreno anteriormente referido.
Admitindo-se esta interpretação, e considerando esta sigillata como terminus post quem para a desactivação desta "vala", a utilização deste espaço como área funcional é, portanto, anterior ao século II d.C., o que nos leva a concluir que a ocupação desta área do oppidum romanizado se deverá ter processado desde bastante cedo, não conferindo, portanto, à zona onde foi implantado o fórum o papel único de polarizador do crescimento de Miróbriga em período de dominação latina.




































Tacinhas enterradas no xisto. Escavação coordenada por Filomena Barata


Para confirmar tal hipótese podemos referir a existência do numisma augustano já anteriormente citado e de alguns fragmentos de cerâmica campaniense encontrados nas zonas limítrofes das construções escavadas.



















Desenho: José Carlos Quarema


3. O significado votivo das oferendas enterradas

As oferendas enterradas numa fossa (bóthros) ou no solo dirigem-se, no universo romano, genericamente ao mundo dos mortos, quer se tratem de divindades infernais, quer de cultos de fundação ou rituais iniciáticos, cuja finalidade é a esperança na ressurreição e na vida eterna.
Os cultos fundacionais, por seu lado, têm como modelo o exemplo do mundus, a mítica fossa onde os companheiros de Rómulo, fundadores de Roma, haviam colocado terra dos seus locais de origem e outros bens necessários.
Para situações como as de Miróbriga de oferendas enterradas, pertencentes aos sacraprivata, existem inúmeros paralelos, entre os quais citaremos o de Tolegassos, na região das Ampúrias, publicado por Josep Casas e Ruiz de Arbulo, na sua maioria contendo ovos ou galináceos no seu interior.
Se os ovos, que representam a fecundidade ou a força genésica primordial, portanto, a própria ideia da vida, da eternidade ou da ressurreição, acabam por pertencer a um dos mais comuns motivos decorativos quer de bens de utilidade doméstica quer de elementos arquitectónicos — os óvulos — ou mesmo em pinturas domésticas, como é o caso dos larários de Pompeios ou de Delos, também a representação de galináceos, se bem que não tão vulgar, é relativamente comum nos utensílios domésticos. Apenas a título de exemplo, é de referir que só no depósito votivo de Santa Bárbara apareceram cinco Iucernas com galos a decorar o disco (Maia e Maia, 1997, p. 105).
Também é sobremaneira conhecida a utilização de aves e de galináceos na consulta aos auspícios e em vários sacrifícios rituais religiosos, mistéricos, iniciáticos e funerários.


Base de estátua do templo imperial, Museu de Évora

Para a interpretação dos auspícios, a observação dos pássaros em voo e, principalmente em finais da República, a análise do comportamento dos frangos sagrados eram as técnicas mais utilizadas, existindo mesmo um ptdlarius encarregado de observar estes últimos. Nos sacrifícios o galo era consagrado quer aos deuses solares, como Apoio, quer aos lunares. É também o animal de Mercúrio, que, por vezes, é representado cavalgando um galo. É a ave votiva típica de Esculápio, sendo comummente sacrificada a essa divindade.
No caso das oferendas enterradas de carácter mais funerário, como é o caso da patella invertida de Miróbriga, poderemos admitir que se revestissem de um carácter apotropaico, unia vez que, deste modo, os Romanos tentavam libertar-se da vingança ou maldição dos espíritos irritados dos seus Manes e, assim, proteger as habitações de qualquer influência maléfica.

Esta tradição de proteger a entrada da casa contra as influências nefastas, sobretudo o umbral da porta, tem em Roma uma tradição arcaica, muito provavelmente de origem etrusca.
As oferendas poderiam ainda contribuir para honrar e apaziguar o genius, que, como princípio de fecundidade genésica, assegurava através do indivíduo a que estava vinculado, a perpetuação das gerações.
Se bem que apenas uma das oferendas de cerâmica recentemente encontradas contivesse
restos faunísticos de um galináceo, com funções claramente apotropaicas, podemos, no entanto, admitir que as cerâmicas enterradas da zona recentemente escavada contivessem apenas terra, que funcionava como uma referência ao mundus.
As tuas "tacinhas" ou malgas encontradas na zona designada pela equipa luso-amerícana
como "templo proto-romano" poderiam tratar-se, também elas, de depósitos votivos fundacionais, até porque embora apenas uma contivesse ossos de ave, ambas se encontravam invertidas e com o fundo partido, situação que aliás é comum a outras deposições, onde foram utilizados vasos usados ou mesmo parcialmente fragmentados.


Relembro ainda que segundo a mitologia Clássica considera-se que o Universo surgiu a partir de um ovo Cósmico semelhante ao de um pássaro, mas muitos outros povos, como os chineses, os indus, finlandeses, japoneses, índios americanos, povos africanos,têm a sua cosmogonia derivada do ovo, a que se associa a ideia de fertilidade, nascimento e ressurreição, como se pode confirmar nos tradicionais ovos de Páscoa.




Fotografia a partir de: http://archaeology.org/issues/135-1405/artifact/1964-turkey-sardis-egg-bowl-magic
Por sua vez as aves e pássaros são considerados mensageiros dos deuses ou símbolo de verdades ocultas só ao alcance dos inciados, motivo pelo que o deus dos viajantes, Mercúrio, na mitologia romana,(associado ao deus Grego Hermes)tem um capacete e pés alados. Esta divindade era mensageiro de Júpiter e deus da venda, lucro e comércio, pelo que é notória a associação do seu nome à palavra Mercadoria ("merx"), mas também dos ladrões. É também a personificação da eloquência e da inteligência. O planeta Mercúrio deve-lhe o nome muito possivelmente porque se move como a divindade rapidamente no céu.

Não é, portanto, de admirar porque tenham sido também atribuídas por outros povos antigos designações de pássaros a muitas constelações como "constelação do Corvo" - no céu austral próximo ao Equador; do "Cisne" que era inicialmente chamada de "Galinha"; da "Águia" - o pássaro de Júpiter; do "Galo", do Ganso, da Pomba.

A Via Láctea é, por sua vez, considerada o "Caminho dos Gansos Selvagens" entre os povos nórdicos.

Fica assim justificada simbolicamente a necessidade de fazer enterramentos com ossos de aves ou galinácios com valor apotropaico em rituais fundacionais, a exemplo do que acontece nas habitações de Miróbriga ou do que foi designado pela equipa luso-americana como "Templo da Idade do Ferro".


Adaptação a partir de :
Maria Filomena Barata, 1999, «As habitações de Miróbriga e os ritos domésticos» in REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. Volume 2.Número 2.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O Touro (bovídeo?) Esculpido de Miróbriga

«O touro (?) esculpido de Miróbriga»
http://mirobriga.drealentejo.pt/

TOURO (?) ESCULPIDO DE MIRÓBRIGA, SANTIAGO DO CACÉM.



Nota: Decorridos anos sobre este trabalho, mereceria o mesmo ser objecto de novo estudo, pois nos surge, cada vez mais, como um bovídeo e não, especificamente, um touro.
Assim a sua função poderia ser muito mais comercial, mascando uma das tabernae que envolviam o forum. Mantenho-o, contudo, disponível até que possa ser actualizado com os novos dados trazidos pelas actuais escavações coordenadas por José Carlos Quaresma.


Maria Filomena Santos Barata
Julho de 2024.


O aspecto sacrificial do touro é uma constante no mundo mediterrânico oriental e greco-latino, onde esse sacrifício assume um caracter fundacional. O culto deste animal, enraizado nas religiões do Mediterrâneo e do Próximo Oriente, deve-se ao facto de que, a partir do Neolítico, as populações consideravam o touro, enquanto "pai do rebanho", uma fonte de riqueza de primeiríssima ordem (Blanco, 1961-62, p. 164). Em termos gerais, a sacralidade do touro funda-se na dupla percepção do seu vigor físico e genésico (op. cit., p. 171). Em Portugal, são conhecidas figurações de bucrânios na arte rupestre, pelo menos, desde o Calcolítico (Gomes, 1987, p.35)
" A fecundidade é uma especialização da ... vocação essencial de criadores. (...) Por isso os deuses celestes das religiões indo-mediterrânicas se identificam, desta ou daquela maneira, com o touro". (Eliade, 1992, pp. 114 e 115).

Na "Lenda da Europa" é Zeus, transformado em Touro, que rapta a filha do rei de Sídon. Trata-se não de um touro vulgar, mas do mais belo touro jamais visto: castanho-vivo, com um círculo prateado na testa e belos chifres em forma de quarto crescente . Nesta narrativa o touro não aparece associado ao aspecto sacrificial, mas assume também o papel criador pois, raptando a Europa ao mundo mediterrânico oriental e conduzindo-a para Creta, origina uma geração de "filhos gloriosos cujos ceptros dominarão todos os homens da Terra" (Hamilton, 1983, p.110). Ser em Creta que se afirmar o terrível poder do Minotauro, cuja morte será libertadora.
Ligado a um poder fecundante, a força genésica e a violência cósmica do touro contrapõem-se, de certo modo, à do boi, mais ligado aos cultos agrícolas e, de alguma maneira, à pacificidade e à abnegação do trabalho. Não deixa de ser curioso que nos rituais ligados à fundação de uma cidade romana previamente se faça a marcação do espaço "sagrado" com um boi que puxa um arado, também ele sacralizado.

Os cultos orientais vão ter também durante o império romano particular adesão, quer pelos orientais com domicílio no Ocidente, quer pelos cidadãos romanos, como se verifica com o culto do deus de origem persa, Mitra. No entanto, a penetração dos cultos orientais já se havia feito no Ocidente em período muito anterior ao romano (Padro Parcerisa, 1981, pp. 337-350), alguns dos quais poderão ter prevalecido por um longo período.

Quer na cidade romana de Tróia, Grândola, quer em Beja está comprovado o Culto Mitraico, que se expandiu na Hispânia a partir de finais do século II – inícios do século III d. C., a par de outros cultos orientais, tais como de Serápis, Ísis, Cibele-Magna Mater.
O Sol ou Ormuzd, para os Persas, enquanto fonte de Luz, representava a Vida, a Saúde e a Fertilidade da terra enquanto criadora de todas as coisas necessárias à sobrevivência do Homem.
Mitra surge assim como um terceiro elemento, como uma espécie de divindade mediadora entre duas forças antagónicas (o Sol e a Lua), viabilizando o nascer de um novo dia, ou seja, não permitindo que a Lua ocultasse o Sol.
Mais do que o Sol, Mitra representa a Luz Celestial, ou a essência da Luz, que desponta antes do Astro-Rei raiar e que ainda ilumina depois dele se pôr e, porque dissipa as trevas, é também o deus da Integridade, da Verdade e da Fertilidade, motivo pelo que também surge associado ao Touro primordial que Mitra é incumbido de matar, como de seguida falaremos.
Segundo as lendas de origem persa, Mitra terá recebido uma ordem do deus-Sol, seu pai, através de um seu mensageiro, na figura de um corvo. Deveria matar um touro branco no interior de uma caverna.
O ritual de iniciação nos mistérios de Mitra era o Taurobólio, porque exigia esse sacrifício do touro. É através da sua morte ritual que se dá origem à vida com o seu sangue, à fertilidade, à dádiva das sementes que, recolhidas e purificadas pela Lua, concebem os “frutos” e as espécies animais, pois a sua carne é comida e o seu sangue bebido.
Os candidatos à iniciação dos mistérios mitraicos, praticados quer na Pérsia, quer em Roma, tinham vários graus de iniciação, passando por provas severas, e o iniciado, antes de fazer o seu voto sagrado (sacramentum) prometia não trair o que lhe havia sido revelado. Depois, o iniciado subia os sete degraus, recebendo em cada um deles um nome diferente.
O banquete ritual da morte do touro, o taurobolium, sempre em companhia do Sol, viabiliza ainda aos adeptos do culto mitraico o “nascimento para uma nova vida” ou "Renascimento" que o Cristianismo, que baniu a ideia de sacrifício iniciático, transformou na água do baptismo e, através da Eucaristia, em pão e vinho, substituindo o sangue e a carne do touro divino.
O deus solar Mitra parece ter nascido numa gruta que simboliza o firmamento e, a sua abóbada, o céu de onde sairá a Luz para a Terra. Por isso mesmo os rituais de iniciação mitraicos eram também praticados em gruta.
Geralmente Mitra, que se faz sempre acompanhar do Sol, tem ainda um corvo à sua esquerda – que curiosamente é também o totem do deus solar de origem celta Lug - e no ângulo esquerdo tem a figura do Sol e, à direita, da Lua.

Na Península, os touros são com os leões os animais mais representados na escultura zoomórfica ibérica, quer derivada de uma tradição orientalizante quer de um influxo grego antigo ou de tipo helenístico (Chapa, 1980, p. 251). Entre os animais relacionados com as divindades, o touro foi um dos que teve maior expansão. "Este bovídeo era muito apreciado na Península desde épocas remotas, inserindo-se este culto em raízes comuns a todo o Mediterrâneo. Ao seu inegável valor económico, o touro unia importantes características, como a força, o valor e o poder, sendo amiúde símbolo de deuses guerreiros" (Chapa, p. 261).
A chegada dos invasores romanos, e particularmente dos exércitos, deve ter originado, na Península, um novo surto de cultos orientalizantes.
Com o principado de Augusto assiste-se, por um lado, a um retorno dos valores antigos e, por outro, à oficialização de alguns desses cultos de origem oriental. A "nova ordem" foi assegurada pela "restauração" dos valores ancestrais (Wallace-Hadrill, 1993, p. 12) Muito provavelmente por isso, na iconografia do século I há tal frequência na representações de touros, particularmente os bucrânios descarnados.
"Tendo em conta a extraordinária importância que tinham os sacrifícios e os ritos na vida quotidiana, não surpreende que os signos correspondentes dominassem a nova linguagem das imagens. Praticamente não existe nenhum monumento ou edifício em cuja decoração não figurassem caveiras dos animais sacrificados, mesmo nos que não tinham carácter sagrado. Signos alusivos aos sacrifícios, que no passado serviam apenas como elementos decorativos convencionais, passaram a ser símbolos relevantes da nova pietas" imperial (Zanker, 1992, p. 146). Fundando-se o culto deste animal no seu vigor físico e genésico (Blanco,1961-1962, p. 171) é natural que tenha sido adoptado pela nova iconografia imperial que pretende assumir uma nova energia vital.


Fragmentos de um grande relevo dedicado a Agripa, oficiante num sacrifício, realizado na época de Cláudio. Fazia parte da decoraçáo do pórtico do Forum de Augusta Emerita. 
Fotografia e informação a partir de: La Ciutat Hispano-Romana.

No culto mitraico de que acima falámos, introduzido em Roma no século I d.C., o touro sacrificado, degolado, através do taurobolium, dá origem à vida com o seu sangue. Assume, deste modo, uma feminilidade (/masculinidade?) geradora.
No entanto, neste culto de origem oriental, não era admitida qualquer mulher. Muito provavelmente trazido pelos soldados que fizeram campanha na Arméria, durante o principado de Nero, este culto oriental ganhar uma expansão enorme ao ponto de, durante algum tempo, ter competido com o próprio Cristianismo.

O baixo-relevo de Tróia e uma inscrição de Pax Iulia atestam a sua penetração na Lusitânia. No baixo-relevo citado é clara a representação do taurobolium.


M.N.A. Baixo relevo de Tróia

Os cultos de Cybele, introduzidos em Roma no final da Segunda Guerra Púnica, foram reconhecidos no principado de Cláudio. Estão também eles associados a este aspecto sacrificial do touro, cujo sangue é utilizado na cerimónia do baptismo, com um significado profundo do novo nascimento, renovação e relação mais íntima com a divindade (Maciel, 1988, p.110). Toda a mitologia clássica assenta nesse aspecto sacrificial: Da união de Urano (o C‚u) e de Geia (Terra) foram criadas todas as essencias divinas: Titƒndes, Titãs e Ciclopes. O sangue de Urano decapado é o elemento fecundador da terra.
Com o cristianismo, que tenta banir a ideia de sacrifício iniciático, a água assume definitivamente a ideia de salvação através do baptismo (renascimento) e o vinho substituiu, na Eucaristia, o sangue divino (Maciel, op. cit., loc.cit.).


O touro esculpido de Miróbriga

O forum de Miróbriga desenvolve-se em terraços que vencem a topografia do local e que permitem uma intervenção arquitectónica em patamares, conferindo monumentalidade ao conjunto. No mais alto destes patamares foi edificado, no 3º quartel do século I d.C.(Burgholzer), um templo in antis, muito provavelmente dedicado ao culto imperial, cujo podium coroa a praça pública.
O traçado da praça segue uma orientação Noroeste/Sudeste, sendo ainda desconhecida a função da maioria das edificações que se desenvolvem em seu redor. No declive do lado Sul, e vencendo-o, desenvolve-se um conjunto de construções que têm sido identificadas como tabernae, pelas características arquitect¢nicas que apresentam. Este conjunto obedece à mesma orientação geral da praça, à excepção de algumas construções, ligeiramente desviadas, a Ocidente, e que, muito possivelmente, devem pertencer a um outro momento construtivo. O aspecto geral do forum e da zona comercial apresenta, pois, semelhanças com alguns fora imperiais (Balty, 1993, pp.21-32), em que as actividades comerciais manifestam tendência para ser afastadas do forum, à excepção do comércio oficial. Os aspectos mercantis passaram a agrupar-se em mercados independentes, em alguns dos casos situados nas imediações dos fora (Jim‚nez, 1987, p.173 e Balty, 1993, P.31).
Nesse declive desenvolvem-se construções de diferentes tamanhos, sendo, em algumas delas, bem notória a zona de entrada.
Uma dessas edificações construídas em opus incertum tem um tamanho irregular, pois alarga no sentido da rua. Tem 8,70m de comprimento e 1,88m de largura no topo Norte e 2,58m de largura na zona sul. Situa-se junto a uma zona onde afloram calc rios e onde existiria uma escadaria que ligava a rua das tabernae ao forum (Almeida, 1964, p. 30; Soren et alii, 1992, p.37)
Num silhar aparelhado, de relativamente grandes proporções (Alt.: 38cm; comp.92cm; espes.:43cm), foi esculpida uma cabeça de touro naturalista sem ser descarnado, que se assemelha a algumas imitações dos motivos helenísticos datadas do século I a.C. A cabeça de touro ocupa um campo quadrangular de 22cmx22cm, enquadrando-se no lado esquerdo. O silhar está fragmentado, pelo que é constituído actualmente por duas partes. Deve estar fora do seu contexto (Biers et alii, 1981, p. 34), uma vez que se encontra no nível térreo das construções e não tem qualquer ligante que o una aos    próximos. Nas redondezas, há  outros blocos de grandes dimensões, colocados de uma forma indiscriminada. Muito possivelmente provêm das construções do forum e devem aí ter sido colocados em trabalhos arqueológicos anteriores, mas de que infelizmente não há registo.
Tratando-se de um motivo decorativo com as características que tem, deveria estar implantado num lugar visível da construção a que pertencia. Não existe, no entanto, qualquer referência à sua deslocação para este local*, pelo que só futuras escavações poderão contribuir para um melhor conhecimento dos espaços arquitectónicos no seu conjunto.

Paralelos:

Existem em Portugal várias representações de bucrânios e de bovídeos do período romano.

Do distrito de Beja são procedentes três esculturas de mármore, integrando actualmente o acervo do Museu Regional de Beja. Estes exemplares escultóricos foram publicados por Vasco de Souza com os n£meros 18, 19 e 20 não lhes sendo atribuída qualquer cronologia ( Souza, 1990, pp.15 e 16). Deveriam servir como aduelas no fecho de arcos (Trillmich et alii, 1993, p. 365, est. 150 b). Leite de Vasconcelos havia já publicado cinco cabeças de touro provenientes de Beja (Vasconcelos, ed. 1981, 3§ vol. pp. 514-518) e que, segundo este autor, se deveriam tratar de ex-votos.

No Museu de Évora existe um friso dórico de granito, também publicado por Vasco de Souza com o número 75 (Souza, 1990, p.33), originário de Évora, e atribuível ao período alto-imperial. Alguns autores admitiram que o mesmo pertencesse ao Templo de Évora, opinião essa que tem sido contestada nos últimos anos. Este friso é composto por métopas com bucrânios e páteras. Os bucrâneos têm algum paralelismo formal com o exemplar de Mir¢briga.

Um bom paralelo para esta cabeça de touro é também um exemplar esculpido num silhar, encontrado em La Loma, actualmente depositado no Museu Arqueológico de Teruel (Atrian, 1980). Se bem que ladeado por folhas de acanto e relevado de uma forma mais acentuada, parece pertencer também ao período alto-imperial.

Na Península Ibérica o Touro surge em vários motivos decorativos de arae funerárias e votivas romanas (Beltran Fortes, 1984-85, pp. 163-176), como já acontecia no mundo funerário ibérico (Chapa, 1980, p. 265). Símbolo da força fecundadora, aparece ligado a crenças astrais de imortalidade . Não deixa de ser curioso que no silhar de La Loma o touro apareça associado às folhas de acanto, que são, também, símbolos de imortalidade (Blázquez, 1982, p.190). Nas arae alto-imperiais, e particularmente no reinado de Augusto, os bucrânios descarnados aparececem, aliás, comummente associados a grinaldas (Beltran Fortes, 1984-85, p.164) de clara conotação sacrificial.

As arae cilindricas emeritenses, datadas do período de Augusto, e os frisos relevados com cabeças de touro e grinaldas aparecem associados a construções de culto imperial, onde está presente uma iconografia escult¢rica típica dos séculos I-II - os clipei relevados com as Medusas e Zeus Ammon (Barata, 1993, p.2).

Poderemos ainda citar - se bem que com características formais diferentes, pois o bucrânio ‚ aqui muito mais estilizado - um friso de bronze proveniente de Cuenca, que deveria pertencer a um altar, datável dos séculos I-II d.C. (Trillmich et alii, 1993,p. 390, est. 189). Neste friso estão representados um bucranium e um guttus .

Na Bética existem também vários exemplares de arae com representações de bucrânios associados a grinaldas (Beltran Fortes, p. 165).

São conhecidas também várias cunhagens hispânicas do período pré-augustano e augustano com representações de touros no reverso, muito comuns na época de César. Com bucrƒnios foram tamb‚m identificadas algumas moedas, nomeadamente as provenientes de Calagurris, sendo uma anterior a 27 a.C. e uma outra posterior (Villaronga, 1979, p.245 e p.262).




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* ver Arque¢logo Português, nº 8, 1903 (artº de José Leite de Vasconcelos)

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Impressões de Miróbriga

Uma amiga minha veio com a idéia de que as mulheres devem fazer algo especial no Facebook para aumentar a conscientização e a visibilidade do mês de Outubro como o mês para combater o câncer de mama.
É uma coisa fácil de fazer e peço a voces para participar todas juntas, para tornar este evento memorável.
No ano passado, a idéia era escrever a cor de seu sutiã, no Facebook. Esta iniciativa mulheres deixaram os homens curiosos por dias, enquanto cada mulher escreveu cores aparentemente aleatórios.O jogo deste ano refere-se a sua bolsa. Tem que escrever o seu lugar onde vc deixa sua bolsa, ao chegar em casa, então "eu gosto ..." e depois o lugar. Por exemplo, "eu gosto no sofá" ou "Eu gosto da cadeira da cozinha" ou "eu gosto na mesa de jantar."Vocês entenderam?Bem, escrever a resposta na pagina principal do face (e não em resposta a esta mensagem) e enviar esta mensagem para as mulheres divertidas do seu Facebook. O jogo de cores de sutiãs saiu ate nos jornais da Europa, ja que essa brincadeira começou la! Procuramos fazer o mesmo com esta nova iniciativa aqui no Brasil e demonstrar como as mulheres são poderosas!LEMBRE-SE - escrever a respostana pagina principal do seu face e não responda a esta mensagem. Copie isso e envie para quanto mais mulheres possiveis..Bjos a todas!!!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Dia Mundial da Música em Miróbriga

«No âmbito da Comemoração do Dia Mundial da Música, dia 1 de Outubro, o Sítio Arqueológico de Miróbriga associar-se-á à efeméride proporcionando aos seus visitantes a possibilidade de ouvirem vários excertos musicais de diferentes estilos. Deste modo procuraremos criar uma ocasião em que o visitante possa disfrutar da paisagem de Miróbriga na companhia de uma boa música.
Na parte da tarde, a partir das 14.15h, faremos a projecção de um filme alusivo à data».
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Para mais informações contacte:

Ana Maria Sabino
Técnica Superior
Direcção Regional de Cultura do Alentejo
Ruínas Romanas de Miróbriga
Chãos Salgados
7540-236 Santiago do Cacém
Telf: 269 818460 Fax: 269 818461
E-mail: anasabino@cultura-alentejo.pt

domingo, 26 de setembro de 2010

E Miróbriga estava no mesmo lugar ...




 
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Com uma oliveira de folhas novas a crescer ...
e sempre que houver uma pequena folha verde a nascer entre as pedras, Miróbriga renascerá!

domingo, 19 de setembro de 2010

Vamos ouvir falar do Alentejo, hoje na Rádio Alma Lusa

http://www.radioalmalusa.com

Basta clicar no título desta edição ...

E vamos falar da proposta de tentar fazer uma geminação entre o Redondo das fantásticas cerâmicas do Alentejo ou do vinho mediterrânico que os Romanos aí introduziram e o "Novo Redondo", hoje Sumbe, Angola, pensando no seu Património Cultural e Natural.

Vamos falar da capacidade de continuar a sonhar nesse Atlântico onde se fala Português.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Conheça a historiografia de Miróbriga ...




















Pode conhecer a história da investigação em Miróbriga a partir dos painéis da exposição «Miróbriga, o Tempo ao Longo do Tempo», promovida pelo Museu Municipal de Santiago do Cacém.
Esta exposição encontra-se actualmente no Centro Interpretativo de Miróbriga, tendo sido editado o seu catálogo, como já aqui foi dado conhecimento.

Ao longo do tempo foi aqui tratado, por várias vezes, este Sítio Arqueológico, dando conta da evolução dos trabalhos aí desenvolvidos.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Velhos apontamentos ...

 



Miróbriga fez-se representar na Feira Agrícola de Santiago do Cacém (Santiagro), em 1992, com a réplica de uma Taberna Romana.

A Escola Secundária de Santiago do Cacém Manuel da Fonseca, através do seu Clube de Arqueologia, participou na organização, tendo sido com o empenho dos seus alunos que a iniciativa se pôde realizar.

Recordo ainda que, por não ser fácil obter javali, um dos pais de um aluno se ofereceu para assar um leitão num forno que tinha em Ermidas do Sado.

Foi aí que tive conhecimento, pela primeira vez, que, em Ermidas do Sado, cada um dos lados da linha do comboio tinha um nome diferente: Itália e Etiópia.

Serviu-se vinho quente com mel que era guardado em ânforas, também elas réplicas mandadas fazer em olaria de Santiago, tal como os restantes elementos cerâmicos que, apesar de serem ainda hoje de uso corrente, se poderiam dizer "cópias" quase fiéis dos utensílios de cozinha da Época Romana.

Dos frescos existentes em Miróbriga fez-se também cópia que foi aplicada neste lugar.

A todos os meus alunos da altura o meu obrigada. Porque foram eventos desta natureza que permitiram chamar a atenção para um Sítio Romano de importância capital no Sul de Portugal.
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quarta-feira, 14 de julho de 2010

E em Alter do Chão, o mosaico mais fantástico que conheci (reeditado)

Retomo um texto que já havia publicado neste blogue. Regressando a Alter do Chão, relembro a sua fundação romana, conhecida através dos vestígios do importante sítio arqueológico de Ferragial d'El Rei, onde associado a um edifício de notáveis dimensões, de que se salienta os seus balneários e respectiva estrutura subterrânea para garantir a circulação de ar e água, bem os compartimentos decorados com mosaicos, apareceu um com temática mitológica que considero um dos mais notáveis exemplares que conheci. 
 Em Alter do Chão, sobre a cidade romana de Abelterium de que o Sítio de Ferragial d'el Rei é apenas mostra, construirá a família real residência acastelada, ao que consta, para aí se dedicar a caçadas memoráveis, no espaço de que hoje podemos partilhar, pois em núcleo museológico se tornou. 
 Mas de Roma fala-nos esse Sítio Arqueológico de Ferragial d'el Rei, que foi objecto de um programa de valorização com fundos comunitários do Programa Operacional da Cultura, e que se encontra visitável, existindo um Centro Interpretativo onde se pode conhecer melhor a ocupação romana do local; a Necrópole Tardo-Antiga, cuja cronologia aponta para os séculos VII-IXd.C.; a Via Romana; a Villa Romana da Quinta do Pão; a Ponte de Vila Formosa;Ponte dos Mendes. Diz uma lenda alterense que o Imperador Adriano se terá deslocado a Abelterium no ano 120 d.C, motivo pelo qual a via romana que conduz à Ponte de Vila Formosa é designada por “Via Adriana”. Por tudo isto, vale a pena ir até Alter do Chão.
Um mosaico romano, de grandes dimensões e «único» na Península Ibérica, foi descoberto durante os trabalhos de arqueologia que decorrem na cidade romana de Abelterium, em Alter do Chão (Portalegre), revelou este domingo o arqueólogo responsável.Em declarações à agência Lusa, Jorge António, arqueólogo na Câmara Municipal de Alter do Chão, considerou o mosaico «único na Península Ibérica» e garantiu que a descoberta se reveste de «extraordinária importância».Esta peça arqueológica, que remonta ao século IV, foi encontrada há cerca de um ano, mas só agora foi divulgada, mantendo-se durante todo este tempo no «segredos dos deuses».O mosaico foi achado na sequência das escavações efectuadas às termas públicas da cidade romana de Abelterium, também denominada de Estação Arqueológica de Ferragial d`El Rei, naquele concelho do Norte Alentejano.À medida que os trabalhos decorriam nas termas da cidade romana, a equipa de arqueólogos descobriu uma casa de um «aristocrata ou político».«Nós identificámos o mosaico no triclínio da casa», disse o especialista, garantindo que era nesse espaço, onde está inserida a peça de grandes dimensões, que o proprietário recebia «as suas visitas».«É um mosaico figurativo, onde surge a figura da Medusa como figura central. O mosaico é uma representação homérica, da Ilíada [poema épico grego atribuído a Homero], mas ainda existe pela frente um grande trabalho de fundo para conhecer melhor esta peça», salientou o arqueólogo.Jorge António revelou ainda que o mosaico possui «pasta vítrea em tons de azul, verde e bordeaux».«Este mosaico vai trazer, no futuro, vários visitantes a Alter do Chão», assegurou o arqueólogo.«Grande passado romano»Já o presidente da Câmara Municipal de Alter do Chão, Joviano Vitorino, afiançou à Lusa que pretende ver aquela peça, assim como toda a cidade romana de Abelterium classificada como «Património Nacional».Alter do Chão tem «um grande passado romano e vamos efectuar todas os esforços necessários para tornar este espaço Património Nacional», defendeu. citado a partir de:

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Lagoa de Santo André


Ainda há tanto tempo e tanta vida na Lagoa de Santo André que o mar lava quando aberta a sua garganta até ao mar.
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Já que o período de férias se aproxima, falemos das «Pousadas de Portugal»: o Alentejo



As Pousadas de Portugal – O Alentejo

Criadas pela Lei 31.259 de 1 de Maio de 1941, por iniciativa de António Ferro, que dirigiu o Secretariado da Propaganda Nacional (SPN)* desde a sua criação, por Salazar, em 1933, até 1949.

As Pousadas foram concebidas para "alojar os visitantes e fornecer-lhes a alimentação no respeito do estilo de cada região", aliás muito dentro da linha de pensamento que caracterizava António Ferro que tentou impor uma "política do espírito", que buscava, por um lado, recuperar como fonte viva o folclore português e, por outro, fazer de algum modo uma pedagogia do moderno em arte.

«Quando um hóspede deixar de ser tratado pelo nome, para ser conhecido pelo número de quarto que ocupa, estaremos completamente desviados do espírito das Pousadas.»
António Ferro, 1942.

Assim surgiram as primeiras Pousadas Regionais, destinadas a alojar os visitantes e fornecer-lhes condições de acolhimento, segundo as tradições de cada região.

A primeira unidade da rede foi inaugurada em 1942, em Elvas, no Alentejo, região que concentra o maior número de pousadas históricas. A pousada de Elvas infelizmente foi fechada enm data recente.
Outras "Pousadas Regionais" foram sendo inauguradas, sempre com um número reduzido de quartos com uma especial atenção à gastronomia regional.

Na década seguinte, o conceito de Pousada foi alargado com o surgimento das "Pousadas Históricas", localizadas em monumentos, muitos deles classificados, e devidamente restaurados para o efeito. Pelas suas características que melhor viabilizam a instalação de infra-estruturas como Pousadas, os imóveis preferencialmente ocupados são antigos conventos, mosteiros e castelos, a exemplo dos castelos de Óbidos, de Alcácer do Sal ou do Alvito, como se pode verificar no mapa da página oficial das Pousadas de Portugal
http://www.pousadas.pt/historicalhotels/PT/.

A primeira pousada a ser criada segundo este novo conceito foi a Pousada do castelo em Óbidos.

Esse tipo de oferta turística diferenciada rapidamente se espalhou pelo país, de Norte a Sul do Portugal, nos Açores e mais recentemente também no Brasil.
As Pousadas de Portugal estiveram, até recentemente, classificadas apenas segundo duas categorias, Históricas e Regionais.
Tendo em vista diferenciar a oferta, foram posteriormente introduzidos novos conceitos temáticos, segundo a vocação específica de cada uma delas, sendo agremiadas nos seguintes grupos:
 Pousadas Históricas
 Pousadas Históricas Design
 Pousadas Natureza
 Pousadas Charme

Desde a origem, em todas as Pousadas de Portugal se fez uma aposta na divulgação da gastronomia regional e nos vinhos portugueses.

Também desde sempre, as Pousadas de Portugal sentiram a necessidade de privilegiar a recuperação do património arquitectónico nacional, assegurando dessa forma a conservação de monumentos e, em paralelo, pois só dessa forma poderiam fomentar a oferta de um produto turístico diferenciado e de maior qualidade, pretendendo ainda ser o reflexo da região ou da zona onde estão inseridas.
Obviamente que a adaptação às novas funções, exigiu que fossem feitas remodelações em muitos deles, pois era necessário criar condições de conforto e bem-estar.
Tentaram ainda adequar o mobiliário e decoração de forma a harmonizarem-se com a região ou simplesmente evocando a ambiência histórica do monumento (móveis de estilo, tapeçarias, quadros, etc.).


O Conceito Pousadas


O termo "Pousada" evoca uma ideia de pausa, tentando reviver a ideia do viajante que faz uma “paragem”, tendo, na sua origem, sido clara a opção pela ciação de infra-estruturas quase de cariz familiar, ou seja, a continuação da casa.

A rede das Pousadas

Até recentemente as Pousadas estavam divididas em Regionais e Históricas.
Actualmente essa divisão foi expandida criando-se quatro conceitos de Pousada:

Pousadas Históricas: o Alentejo
(em edifícios históricos)
1. Alvito - Pousada do Castelo de Alvito
2. Beja - Pousada de São Francisco
3. Estremoz - Pousada da Rainha Santa Isabel
4. Évora - Pousada dos Lóios
5. Vila Viçosa - Pousada de D. João IV


Pousadas Históricas Design
1. Alcácer do Sal - Pousada de D. Afonso II
2. Arraiolos - Pousada de Nossa Senhora da Assunção
3. Crato - Pousada Flor da Rosa
Pousadas Natureza: o Alentejo
(em lugares calmos e relaxantes, propícias ao ecoturismo)
1. Santiago do Cacém - Pousada da Quinta da Ortiga
2. Sousel - Pousada de São Miguel
3. Torrão - Pousada de Vale do Gaio

Pousadas Charme: o Alentejo
(em construções ou lugares típicos)
1. Elvas - Pousada de Santa Luzia (primeira Pousada da rede)
2. Marvão - Pousada de Santa Maria

A problemática da refuncionalização/reuso dos Monumentos em Portugal

Se bem que se continue a privilegiar a manutenção e conservação integral dos imóveis de valor histórico, cuja classificação, em Portugal, pode ter três nomenclaturas: Monumento Nacional; Imóvel de Interesse Público ou Imóvel de Interesse Concelhio, é um facto que a adaptação de alguns imóveis a novas funções conduz necessariamente a que algumas alterações tenham que ser efectuadas, tentando-se, contudo, que o imóvel classificado seja o menos alterado, ou adulterada a sua integridade. Aliás, usando as próprias palavras dos sues responsáveis « (...) as Pousadas de Portugal (...) priveligiaram sempre nas suas decisões de investimento a recuperação de património arquitectónico nacional»  (in Pousada Nª Sra da Assunção, ENATUR, 1996).
Sempre que seja necessário fazer uma ampliação, pois a viabilidade financeira de muitos empreendimentos depende da criação de novas infra-estruturas ou mesmo da ampliação das existentes, dá-se a primazia a uma nova linguagem arquitectónica que não mimetize os monumentos ou os imóveis pré-existentes.
No entanto, as exigências no que se refere a situações em que foram viabilizadas reestruturações no interior de imóveis classificados foram sendo cada vez maiores, nomeadamente no que respeita aos estudos aprofundados dos mesmos, suas tipologias, características construtivas ou mesmo aspectos relacionados com o Património Integrado – pinturas, esculturas, frescos, talhas, ou às eventuais pré-existências arqueológicas, que exigem em zonas de sensibilidade escavações prévias.

O IGESPAR tem como missão tutelar as intervenções e conservar, preservar, salvaguardar e valorizar o património arquitectónico português, incluindo-se neste universo o conjunto de bens imóveis de especial valor histórico, arquitectónico, artístico, científico, social ou técnico subsistentes, através da emissão de pareceres vinculativos que incidam sobre monumentos ou sítios classificados, ou em vias de classificação e respectivas áreas de protecção, a realização de obras de conservação, reabilitação e restauro em imóveis e sítios classificados propriedade do Estado, a classificação de imóveis e sítios arqueológicos e a gestão dos principais monumentos nacionais, bem como acompanhar a elaboração de instrumentos diversos de planeamento urbanístico, de ordenamento do território e de Estudos de Impacte Ambiental..
Aos imóveis classificados deve corresponder promoção o estabelecimento de zonas especiais de protecção ou zonas non aedificandi, que visam a protecção legal dos bens culturais e dos seus contextos.

*A partir de 1944 o Secretariado da Propaganda Nacional passa a designar-se Secretariado Nacional da Informação

http://www.pousadas.pt/historicalhotels/PT/

Informação de base das Pousadas e imagens gentilmente cedidas pelo Turismo de Portugal: Pousada de Santiago do Cacém; Pousada de S.Francisco, Beja.

CHARME E RELAX
Pousada Santa Maria em Marvão http://www.pousadas.pt/historic-hotels-portugal/pt/pousadas/alentejo-hotels/pousada-de-marvao/sta-maria/pages/home.aspx

Quem gosta de história, natureza, relax e degustação, nada melhor que uns dias neste espaço de verdadeiro sonho.
Marvão, foi outrora refúgio de um governador mouro (Maurwan) por algum motivo evidente - a beleza paisagística deste local.
As muralhas da época medieval (séc. XIII) retratam um passado histórico que integram esta pousada dando-lhe um cariz de "conto de fadas). A complementar uma gastronomia regional alentejana de modernidade e requinte.
Destino convidativo a não esquecer.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Em Santiago do Cacém, a partir de hoje ...

Terão lugar as jornadas culturais «Sant'iago, os Caminhos do Património». http://www.cm-santiagocacem.pt/Autarquias/jornadasculturais/programahttp://www.cmsantiagocacem.pt/Autarquias/jornadasculturais/programa/Paginas/default.aspx Pela ocasião será lançado o catálogo da exposição «Miróbriga, o Tempo ao longo do Tempo».