sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Pax Iulia e Beja: Já ouviu falar de D. Beatriz, a «Rainha Velha» e das Cartas de Soror Mariana Alcoforado?


  • Avó Zézinha A Lenda de Beja

    «Há muitos, muitos anos atrás, no local onde se encontra hoje a cidade de Beja, vivia um pequeno povo em cabanas de colmo.

    Todos os campos lavrados e semeados que hoje avistamos, em redor da cidade de Beja, eram em tempos longíquos um grande matagal, onde o homem, em alguns sítios, quase não conseguia entrar. Assim, o povo que aqui habitava sobrevivia da caça que fazia na vasta floresta, que albergava um grande número de animais.
    Entre os animais que viviam nesta grande floresta, havia uma serpente monstruosa, maior do que podemos imaginar. Esta serpente gigante percorria todo o matagal que existia em redor da pequena povoação, devorando e destruindo tudo o que encontrava no seu caminho.
    Os habitantes viviam em constante sobressalto, pensando no dia em que poderiam encontrar nas suas caçadas a terrível serpente que, sem dó nem piedade, os devoraria num abrir e fechar de olhos, aliás, o que já acontecera a algumas infortunadas pessoas que saíram para as suas caçadas e nunca mais voltaram.
    Mas certo dia, um dos habitantes desta pequena povoação, conhecido pela sua coragem e mestria na resolução de problemas, teve uma brilhante ideia: envenenar um toiro e deitá-lo para a floresta onde existia a tenebrível serpente.
    Este valente homem reuniu o povo e explicou a sua ideia de envenenar um toiro e levá-lo para a floresta, onde seria certamente devorado pela serpente, que morreria envenenada ao comer o pobre animal. Depois de um longo debate, todos concordaram com esta arriscada ideia.
    Então, envenenaram um robusto toiro, que era visto esperançosamente como o salvador desta amedrontada gente, e partiram para a arriscada tarefa de colocá-lo na grande e perigosa floresta, onde a monstruosa serpente costumava fazer as suas vítimas.
    Com muito custo, lá conseguiram deixar o toiro na floresta. Contou que ouviu que, entre a serpente e o toiro, ainda houve uma tremenda luta, pois o toiro ainda estava vivo quando fora encontrado pela horrenda serpente. Mas o toiro foi vencido pelo efeito do veneno e foi devorado pela gigantesca serpente.
    Passados alguns dias, a serpente foi encontrada morta ao lado dos restos do toiro salvador.
    Diz-se então que a cabeça de toiro que se encontra no brasão da cidade de Beja originou desta lenda e representa também a riqueza da região em cabeças de gado»
Apartir de: «Lendas e Mistérios do Alentejo»




Bom dia amigos,
Na sequência do desafio lançado na passada semana, vamos hoje e até 4ª feira falar de Beja, sede de um dos maiores municípios de Portugal (em área geográfica).
Pax Julia para os Romanos, Paca para os Visigodos, Baja ou Beja para os Árabes
Em Beja nasceu Al-Mutamid, célebre rei-poeta que dedicou muitas das suas obras ao amor a donzelas e também a mancebos homens.
LENDA DE BEJA
Conta a lenda que quando Beja era uma pequena localidade de cabanas rodeada de um compacto matagal, uma serpente assassina era o maior problema da população. A solução para este dilema passou por assassinar a serpente, feito alcançado deixando um touro envenenado na floresta onde habitava a serpente. É devido a esta lenda que existe um touro representado no brasão da cidade.




À Susana Correia que, nuns dias frios, quando Beja já tinha o Natal quase à porta, me mostrou os caminhos, as formas de chegar a uma casa quente.

Mais logo voltarei a Beja, uma das "paisagens de barro e de pedra" que aqui se tratarão ...
Dessa cidade que, quiseram uns, tivesse origem em estacionamento latino, mas que parece ter sido já lugar de escolha de ocupantes da Pro-História, porque uma possível muralha da Idade do Ferro e materiais cerâmicos sidéricos o vieram comprovar.

Dessa cidade Visigótica, Muçulmana e Cristã, da Torre do Lidador.








Sabia que a construção do que hoje se denomina Museu Distrital de Beja se deve a D. Beatriz, conhecida como "Rainha Velha", ao que parece alcunha dada por Gil Vicente ? ...
Neta, mãe e sogra de reis, nunca foi rainha. Mas, mesmo assim, foi mulher de grandes posses e poder, tendo mesmo estado à frente dos destinos do Mestrado da Ordem de Cristo e foi agente directa da Epopeia dos Descobrimentos, tendo colaborado activamente com D. João II.

Para melhor conhecer esta personagem, leia a excelente obra de Fina d'Armada «O Segredo da Rainha Velha».


Fotografia: Janela onde (reza a história) séculos mais tarde Soror Mariana Alcoforado olhava a planície alentejana e onde se inspirava para escrever as suas célebres «Cartas Portuguesas».

















Imagens: Migas de espargos e de espinafres
Capitel de origem romana de Pax Iulia, Museu Distrital Rainha D. Leonor

Aí sim, onde hoje é Beja, parece terem os Romanos encontrado povos anteriores, apesar do nome que tinha a urbs latina, indiciando orgulhosamente fundação de raiz romana.

Mas não, pequenos fragmentos de cerâmica da Idade do Ferro Continental parecem comprovar que ali existiu povoamento precedente ao Romano.

No entanto, os capitéis de dimensão colossal, pertencentes a um templo que recentemente foi escavado pela Doutora Conceição Lopes da Universidade de Coimbra vergam qualquer habitante de época anterior ao jugo da Roma Imperial.





Mas dela, esbatido o Império, ficará a memória de um Mediterrâneo uno, sob o olhar do Cristianismo inicial, que no núcleo visigótico da Igreja de Santo Amaro tem os seus melhores testemunhos.

Al-Mu Tamid, nado em Beja e senhor de Sevilha, fará, em período islâmico, da sua cidade motivo de versejar.

Mas, no século XII, Beja verga-se a um novo Senhor, e o Mundo Cristão imperará de novo. Santa Maria (da Feira), entre outos lugares de culto cristão da Reconquista, cantará a vitória sobre o universo "mouro".

D. Dinis proclamará, na torre do castelo, a visibilidade de um novo poder, sobre a seara onde dizem que se consegue imaginar o mar, criando-o sobre os barros que, já outrora, haviam sido o território vital, um novo olhar, um novo mundo do poder.

Nos conventos imperará nova aristocracia e para ela, para a segunda dela, sem herança e sem decisão, porque era universo de mulheres, nascerá o Convento de Nossa Senhora da Conceição, onde Soror Mariana, uns séculos mais tarde, de uma janela olhando o vazio do amor que não retornará, escreverá as cartas imortais da sua paixão por um cavaleiro francês que a esqueceu.



Em S. Francisco que o tempo transformou de convento em pousada, ainda sob o claustro, existe uma sisterna de uma beleza sem par. Ao que se sabe data do século XIII a chegada a Beja dos frades franciscanos.


Agradeço a autorização para uso da fotografia a Bernardo de Oliveira Nunes.


Gostarei sempre de revisitar Beja, a cidade de todos os tempos, da Rua do Sembrano, onde a Susana me ensinou, um dia, a olhar os vestígios do tempo com outros olhos e os segredos que as pedras sabem contar.

E porque tantas saudades ainda a planura me faz...

Bibliografia sumária sobre Pax Iulia



FARIA, António Marques, 2001, Pax Iulia, Felicitas Iulia, Liberalitas Iulia, Revista Portuguesa da Arqueologia, Volume 4. número 2.
LOPES, M. C. (1996) -O território de Pax Iulia. Arquivo de Beja. Beja. Série 3. 2-3, p. 63-74.
LOPES, M. C. (1997) -L’occupation du sol dans le territoire de Pax Iulia (Beja). In ETIENNE, R.; MAYET, F., eds. -
Itinéraires lusitaniens. Trenteannées de collaboration archéologique luso française. Actes de la réunion tenue à Bordeaux les 7 et 8 avril 1995 à l’occasion du trentième anniversaire de la Mission Archéologique Française au Portugal. Paris: De Boccard, p. 157-178.MACMULLEN, R. (2000).
LOPES, M. C., 2007, A Civitas de Pax Iulia, Mérida, Évora, NOGALES BASARRATE, T. y OLIVEIRA CAETANO, J. (eds.)
https://www.academia.edu/4008686/LOPES_M._Conceicao_A_Civitas_de_Pax_Iulia

LOPES, M. C. (1996) -O território de Pax Iulia. Arquivo de Beja. Beja. Série 3. 2-3, p. 63-74.
LOPES, M. C. (1997) -L’occupation du sol dans le territoire de Pax Iulia (Beja). In ETIENNE, R.; MAYET, F., eds. -
Itinéraires lusitaniens. Trenteannées de collaboration archéologique luso- française. Actes de la réunion tenue à Bordeaux les 7 et 8 avril 1995 à l’occasion du trentième anniversaire de la Mission Archéologique Française au Portugal . Paris: De Boccard, p. 157-178.MACMULLEN, R. (2000) -
Romanization in the Time of Augustus
. New Haven; London: Yale University Press.
MANTAS, V. G. (1996a) -Em torno do problema da fundação e estatuto de Pax Iulia. Arquivo de Beja. Beja. Série 3. 2-3, p. 41-62.
 — em Beja

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