Um
soldado romano
(texto a ser publicado na Revista Portugal Romano nº 4)
(texto a ser publicado na Revista Portugal Romano nº 4)
Botim ou sandária abotinada em estuque.
Museu Monográfico de Conímbriga.
Museu Monográfico de Conímbriga.
Parafraseando
Carlos Fabião, diria que «Marte era o deus da guerra na complexa religiosidade
romana, onde assumia também outras funções. Usualmente aparece representado com
os atributos militares e, pode dizer-se, foi sob a égide desta divindade que se
construiu o domínio romano na Península Ibérica».
É no
fundo sob a égide de Marte que os Romanos chegam à Hispania, no contexto da II
Guerra Púnica que opunha Roma aos Cartagineses que viam neste território um bom
ponto de apoio para os seus exércitos. E é assim que, em 218, se dá o
desembarque dos Romanos em Ampúrias e devagar se conquistam os principais
núcleos urbanos do sudoeste da Península Ibérica e, no século II, já está
desenhada a primeira divisão administrativa com a criação de duas Províncias: a
Hispania Citerior, a oriente, e a Hispania Ulterior, a Ocidente, estando à
frente de cada uma delas um Governador com o seu exército.
Durante
todo o século II a.C., são conhecidas notícias de numerosos confrontos entre os
governadores da Província Ulterior e grupos cuja origem étnica parece ser
diversa, conhecidos genericamente por Lusitanos. Desde 154 até 78 a.C. surgem várias
referências à cidade de Conistorgis (de localização desconhecida mas provavelmente
no local da futura colónia de Pax Iulia/Beja ou um pouco mais a sul), primeiro como
centro aliado dos romanos e alvo de ataques lusitanos e depois como
aquartelamento legionário estratégico nas guerras civis do sudoeste peninsular.
Não nos
prenderemos porém aqui com as lutas travadas no território hoje nacional, referindo
apenas que o geógrafo Estrabão e o historiador Apiano nos dão nota da primeira grande
campanha militar desenvolvida no ocidente em 138 a.C., tendo à frente Júnio Bruto,
governador da Ulterior e que tinha o seu quartel-general sediado no Baixo Tejo,
usando Olisipo e Móron, muito possivelmente localizado em Chões de Alpompé,
Santarém, confrontos esses que se alastrarão a outros locais do litoral
atlântico na Província Ulterior.
Na
década de oitenta do século I a.C., o Ocidente Peninsular e a Hispânia tornam-se
palco de um conflito interno entre Romanos, a rebelião encabeçada por Quinto
Sertório.
Data da
década de 60 a.C. a passagem de Júlio César pelo governo da Ulterior e as
importantes campanhas no entre Tejo e Douro, ficando grande parte desta zona
ocidental sob domínio romano. Com Octaviano, filho adoptivo de Júlio César, consuma-se
a pacificação interna de Roma e o desenho de uma nova estrutura político
administrativa das províncias, a que não esteve isenta a Hispânia e mais
especificamente o que é o actual território português.
A importância de muitas divindades de clara conotação militar é atestada na Lusitânia. Não esqueçamos que entre 12 a.C. e o último quartel do século IV, o imperador, para além de chefe supremo do exército, também desempenhou o cargo de Pontifex Maximus, assumindo deste modo a primazia religiosa.
Marte Augusto, acompanhando na guerra e na paz, encontra-se mesmo representado na Lusitânia, em Conímbriga e em Sines.
Já para não falar de Mitra, essa divindade de origem iraniana, difundida fundamentalmente pelos militares e que também se encontra representada na Lusitânia.
Mas lembremos ainda Victoria Augusta, a quem muitos atribuem forte conotação militar, tem ampla representação nesta província.
A importância de muitas divindades de clara conotação militar é atestada na Lusitânia. Não esqueçamos que entre 12 a.C. e o último quartel do século IV, o imperador, para além de chefe supremo do exército, também desempenhou o cargo de Pontifex Maximus, assumindo deste modo a primazia religiosa.
Marte Augusto, acompanhando na guerra e na paz, encontra-se mesmo representado na Lusitânia, em Conímbriga e em Sines.
Já para não falar de Mitra, essa divindade de origem iraniana, difundida fundamentalmente pelos militares e que também se encontra representada na Lusitânia.
Ara consagrada a Mars. por Marcus Coelius Celsus. Séculos I-II d.C.
Torre de Palma. Museu Nacional de Arqueologia.
«Ara trabalhada nas quatro faces (...). Ostenta ao centro da face principal, um alto-relevo figurando Marte de pé sobre um suporte irregular, representando um troço de solo, com a perna esquerda ligeiramente flectida, vestindo - qual legionário - de saio e couraça, com capacete, segurando na mão direita a lança (pilum) e com a mão esquerda amparando o escudo pousado no chão (...).
M(arcus).COELI(VS) / CELSVS / MARTI /
A(nimo) L(ibes) //
«Marcus Coelius Celsus, a Marte, de bom grado»
C.A.F. in Religiões da Lusitânia - Loquuntur Saxa. MNA. 2002, p. 426.
Representação de Marte no disco de uma lucerna.
Muso Nacional de Arte Romano. Mérida. Fotografia José Manuel Jerez Linde.
Representação de Marte no disco de uma lucerna.
Muso Nacional de Arte Romano. Mérida. Fotografia José Manuel Jerez Linde.
Mas lembremos ainda Victoria Augusta, a quem muitos atribuem forte conotação militar, tem ampla representação nesta província.
Mas
afinal que força é essa, a de um exército que ficou na História e que levou
longe os estandartes de Roma e que a tornou um dos maiores impérios do mundo? Como
se compunha esse exército no período de maior expansão militar romana, entre o
século I a.C. e o século II d.C.?
Fragmento de pé calçado com sandália de couraçado em mármore.
Origem romana, Século I. d.C. Museu Monográfico de Conimbriga.
Fotografia de José Manuel Jerez Linde.
A
divisão básica do exército romano é a Legião, a unidade onde reside o grande
sucesso das campanhas militares. Era composta basicamente por
soldados chamados Legionários e Auxiliares. Cada legião era designada por um
número e um epíteto (por exemplo, Legio
VII Gemina Pia Fidlis). Inicialmente, as forças auxiliares eram atribuídas
às legiões, mas gradualmente acabaram por se tornar em unidades independentes.
O governador
de cada província comandava as legiões aí estacionadas e a partir de Augusto o
chefe de cada legião era um representante do imperador, por ele nomeado e
destituído: o legatus legionis, que
pertencia à ordem senatorial e que a comandava por um período de cinco anos.
No
Império Romano, os legionários estavam organizados em pequenos grupos de
10. Os soldados eram voluntários vindos de todas as partes do Império, comprometendo-se
a 25 anos de serviço exaustivo. Inicialmente, apenas eram integrados proprietários
de terras e bens. Mas no século I a.C. qualquer pessoa se poderia alistar, tornando-se
os cidadãos legionários e os não-cidadãos soldados auxiliares.
As
legiões podiam variar em número de efectivos, mas a sua maioria tinha 4.800
homens, podendo ter 6.000 efectivos.
As
cohortes eram subdivisões das legiões, que, em número de dez, podiam ter
aproximadamente 600 homens.
Mas o
elemento mais significativo da estrutura militar romana, tal como a legião, é a
centúria, sendo o seu responsável o centurião. Como o nome indica, o centurião
tinha a seu cargo 100 homens (chamo a atenção que algumas fontes referem 80
homens em vez dos 100) que compunham a centúria, ou seja cada Coorte tinha 6
centúrias.
As cohortes urbanae, criadas por Augusto
em número de três, eram uma espécie de força policial urbana, que tinham como
finalidade zelar pela segurança das cidades, sobretudo de Roma, sendo apenas em
casos muito excepcionais levadas para o campo de batalha e, ao que se sabe, o
seu número elevado para quatro na dinastia flaviana.
A
partir de Augusto o exército romano torna-se uma profissão, chamando-se
"milites mei" o laço que
unia o soldado ao imperador e que estabelece as suas obrigações e privilégios.
O legionário romano era normalmente um cidadão com a idade inferior a 27 anos, era alistado para servir 25 anos, sendo os seus últimos anos, como veteranos, mais leves, altura em que lhes eram atribuídas terras depois das reformas agrárias do século I d.C. e sendo-lhe outorgados outros privilégios.
O legionário romano era normalmente um cidadão com a idade inferior a 27 anos, era alistado para servir 25 anos, sendo os seus últimos anos, como veteranos, mais leves, altura em que lhes eram atribuídas terras depois das reformas agrárias do século I d.C. e sendo-lhe outorgados outros privilégios.
Durante
a época imperial, os requisitos para converter-se em legionário eram os
seguintes: ser magro, mas musculoso; ter boa visão e audição. Era necessário
saber ler e escrever e, acima de tudo, ser cidadão romano.
Ao soldado (militia) era atribuído um soldo (stipendium) e ainda tinha vários tipos
de benefícios intermédios, financeiros ou
jurídicos. As armas mais comuns que utilizava
e transportava consigo eram:
Gladius - espada curta , de dois gumes, de mais ou menos 60 cm, mais larga na
extremidade. era a espada utilizada pelas legiões romanas. Era muito mais uma
arma de perfuração do que de corte, ou seja, devia ser manipulada como um
punhal, ou uma adaga, no combate corpo-a-corpo
Pugio - pequena adaga usada pelos
romanos como uma arma auxiliar ou reserva. Era também uma arma comummente usada
para assassinatos e suicídios, sendo reconhecido o seu uso na more de Julio
César.
Cingulum - Um cinto de onde pendiam
várias tiras de couro com discos metálicos
Lorica segmentata – armadura
Scutum - escudo rectangular, curvado, de madeira forrado a couro e com
reforços metálicos nas bordas e no centro, visando proteger a mão.
Galae – capacete de ferro.
Pilum – dardo que tinha quase três metros de comprimento,
com uma flecha de metal que se torcia com o impacto, e que não era recuperada. Era composta, assim, de uma parte de ferro, mais fina e pontiaguda, e
outra de madeira, maior e mais pesada
Consigo
levava ainda uma bolsa de carga sarcina
com alimentos que deveriam permitir-lhe sobreviver quase quinze
dias, utensílios de cozinha e de construção, como estacas, sudes murales, e as sandálias - caligae.
Como era altamente disciplinado e preparado fisicamente, fazia marchas longas com esse equipamento que poderia pesar entre 20 e 50 quilos.
Mas existiam também soldados especializados em actividades secundárias, tais como a engenharia, a carpintaria e a medicina e, embora fossem poupados a algumas das tarefas mais duras, podiam ser também colocados em campo de batalha.
Como era altamente disciplinado e preparado fisicamente, fazia marchas longas com esse equipamento que poderia pesar entre 20 e 50 quilos.
Mas existiam também soldados especializados em actividades secundárias, tais como a engenharia, a carpintaria e a medicina e, embora fossem poupados a algumas das tarefas mais duras, podiam ser também colocados em campo de batalha.
Os
recrutas não tinham preparação prévia quando se alistavam e eram enviados para
um acampamento onde havia soldados experimentados e esperava-os uma vida dura,
mesmo quando não combatiam, levantando-se antes do alvorecer e desfilavam mal
se fardavam.
Era
nesse momento que era passada revista às tropas e eram dadas instruções do dia.
Os
soldados rasos eram os miles gregarius.
A
unidade mais pequena da legião era conhecida por contubernium, agrupando oito soldados que viviam na mesma tenda.
No aquartelamento dedicavam-se ao
exercício militar e faziam manobras simulando o campo de batalha para se
manterem em forma, e superavam obstáculos carregados com as suas armas,
ensaiando o seu uso. Marchavam em linhas paralelas, formavam círculos e
cerravam ou afastavam as fileiras.
Todos os meses realizavam marchas
de cerca de 30 km carregando uma mochila com cerca de 30 kg, o peso que teria a
sua roupa, os víveres e os utensílios que podiam usar na construção, pois a
isso se dedicavam, apoiando os engenheiros. Eram os próprios soldados que
colaboravam na construção das pontes, calçadas, aquedutos.
O pão era um alimento fundamental
no Exército de tal forma que muitas variedades eram conhecidas pelas suas
associações militares:
Panis militaris - pão de soldado. É comumente feito em duas
variedades:
Casternsis: Pão de acampamento.
Mundus: Pão de marcha.
Panis nauticus - Muito parecido com pão soldado. Conhecido
como biscoitos navio. (XXII-Plinio.
N.H. 138).
Em terra o Exército era composto
por três ramos: Infantaria, Cavalaria e Artilharia.
A Infantaria era o ramo mais
numeroso e dividia-se em três categorias distintas de
soldados, com posição fixa de batalha, ou seja, combatiam em três filas:
• Hastati (os homens dos dardos) – os soldados mais novos e menos
experientes. Cada um estava armado com duas lanças de arremesso – a hasta (dardo pesado) ou o pilum.
• Principes – soldados mais velhos e experientes que usavam armas
semelhantes aos hastatis e os apoiavam caso a linha inimiga aguentasse
firme.
• Triarii – veteranos da
guerra, que criavam uma parede defensiva por onde escapuliam os principes caso, o seu ataque, também
falhasse.
A Cavalaria era considerada
o ramo mais nobre e na Artilharia pontuavam as catapultas, os aríetes e as
torres de guerra.
As formações de batalha
romanas tinham formas rectangulares. Cada coluna possuía um determinado número
de linhas que se diferenciavam por estarem mais próximas do inimigo, na
vanguarda, ou mais afastados destes, na retaguarda.
Os legionários que se
localizam na primeira linha começavam o ataque ao inimigo através de uma
poderosa e destrutiva investida a curta distância com a lança pillum já acima referida e as fileiras
imediatamente anteriores utilizavam lanças mais leves. No final da formação localizava-se
um corneteiro e no meio um porta-estandarte. Na lateral direita de cada
formação ficava o centurião. Os decuriões encarregavam-se de organizar as
fileiras.
Após as primeiras
cargas, os legionários travavam um combate mais corpo-a-corpo, utilizando a
espada mais curta e muito afiada, o gladius. A formação era compacta e dava espaço à realização
de outras tácticas, a exemplo da formação em tartaruga (testudo).
A águia era um símbolo
da Roma Antiga, sendo usada pelo exército romano como insígnia das legiões
romanas. No tempo de Gaio Júlio César era feita de prata e ouro. A partir da
reforma de Augusto passou a ser feita só de ouro. A águia era custódia da
primeira coorte e só saía do acampamento romano em ocasiões raras, quando toda
a legião se movimentava. Para garantir a sua segurança havia um legionário,
denominado "aquilifer".
Relativamente aos escudos, e citando Francisco Morales Campos, en Las legiones de Roma
«En la época republicana el escudo de las legiones romanas era ovalado, y a comienzos del Imperio fue haciéndose rectangular.
El revestimiento central del escudo estaba construido por una aleación de cobre o de hierro. Los bordes del escudo también estaban forrados de metal para mayor protección.
Cada legión tenia sus propios dibujos característicos en los escudos, para ser identificados en el campo de batalla. La Guardia Pretoriana era una de las unidades que más utilizaba el emblema del rayo de Júpiter».
Relativamente aos escudos, e citando Francisco Morales Campos, en Las legiones de Roma
«En la época republicana el escudo de las legiones romanas era ovalado, y a comienzos del Imperio fue haciéndose rectangular.
El revestimiento central del escudo estaba construido por una aleación de cobre o de hierro. Los bordes del escudo también estaban forrados de metal para mayor protección.
Cada legión tenia sus propios dibujos característicos en los escudos, para ser identificados en el campo de batalla. La Guardia Pretoriana era una de las unidades que más utilizaba el emblema del rayo de Júpiter».
ESCUDOS ROMANOS
(Desenho: Phil Baker)
Leituras recomendadas:
Nenhum comentário:
Postar um comentário