quinta-feira, 21 de março de 2013

E lá estava Évora no mesmo lugar (actualizado)


  • «Esta lenda passou-se no ano de 1166, no tempo em que Évora era ainda a Yeborath árabe, para grande desgosto de D. Afonso Henriques que a desejava como ponto estratégico da reconquista de Portugal aos Mouros. Geraldo Geraldes, um homem de origem nobre que vivia à margem da lei, era chefe de um bando de proscritos que habitavam num pequeno castelo nos arredores de Yeborath. Conhecido também pelo Sem Pavor, Geraldo Geraldes decidiu conquistar Évora para resgatar a sua honra e o perdão para os seus homens. Disfarçado de trovador rondou a cidade e traçou a sua estratégia de ataque à torre principal do castelo que era vigiada por um velho mouro e pela sua filha. Numa noite, o Sem Pavor subiu sozinho à torre e matou os dois mouros, apoderando-se em silêncio da chave das portas da cidade. Mobilizou os seus homens e atacou a cidade adormecida numa noite sem lua que, surpreendida, sucumbiu ao poder cristão. No dia seguinte, D. Afonso Henriques recebeu surpreendido a grande novidade e tão feliz ficou que devolveu a Geraldo Geraldes as chaves da cidade, bem como a espada que ganhara, nomeando-o alcaide perpétuo de Évora. Ainda hoje, a cidade ostenta no brasão do claustro da Sé, a figura heróica de Geraldo Geraldes e as duas cabeças dos mouros decepadas, para além de lhe dedicar a praça mais emblemática de Évora». (a partir da net)






Regressada a casa pensei:














Évora, efectivamente, é bela.
Como sempre reencontrei-a bela, mas quase intocável na sua beleza, tão e tanto, que lembra algumas mulheres lindíssimas que não se podem macular.

No subsolo de Évora pontua Roma e ainda há resíduos da altivez do seu império, que, ali, ao contrário de outros lugares, não parece ter encontrado o confronto de anteriores povoadores, ou pelo menos deles ainda não se reconhecem vestígios.

Na sua superfície ainda se sente também que ali esteve sediada a Inquisição e a realeza, com os conventos que sempre se implantaram em torno da côrte, enormes, impositivos e que relembram os alimentos reais: O Convento do Espinheiro, S. Bento de Castris e outros tantos mais.



E também aí vivem, infelizmente, alguns seres cuja arqueologia de um saber aparentemente global tornou distantes, frios e quase brutais: numa verdade "total"; numa palavra firme, de que, nos corredores do Palácio da Inquisição, ainda ressoa o eco.

Mas também sobrevive, em sossegada clausura, o silêncio de Cartuxos, reduto dos dias sem fim, sem palavra.
Nas hortas encontram o sossego que oferece a crença no Além.






Mas no meio de Évora, em pleno coração desta extraordinária cidade vivem também seres, a quem os céus bafejou com calor e sentimentos: esses, sim, é sempre muito bom reencontrar.



A eles, o meu até sempre. Até já!


Hoje pude ter em Évora, com imensa alegria, uma conversa já demasiado tempo adiada, matando saudades e sedimentando velhas e novas cumplicidades. Sei que um dia a poderei contar demoradamente!

O circuito que aqui vos proponho é relativamente pequeno.










Em primeiro lugar, visitar a Sé. Construída com a edificação da nacionalidade, com transformações um século depois, ao reinado de D. Afonso III, deve ter no seu subsolo uma Igreja Visigótica e uma Mesquita.
A edificação espelha o gosto da época, românica, como se fora uma fortaleza medieval, e também já gótica, pois a demora das obras a fizeram adaptar às novas linguagens arquitectónicas.




Zimbório da Sé de Évora


Proponho ainda que vão conhecer o Palácio de Vimioso, onde funciona o Departamento de História da Universidade de Évora, relembrar as fachadas da Casa do Inquisidor, do Palácio da Inquisição, ou visitar o Jardim das Casas Pintadas hoje aberto ao público integrado na Fundação Eugénio de Almeida, mas que datando do século XVI é um notável exemplo da pintura mural palaciana dessa centúria (http://dianafm.com e http://www.evora.ptee rever ainda aquele extraordinário Templo Romano dedicado ao culto imperial, que até como açougue foi utilizado e onde, em alguns silhares, se pode ver a marcação feita para a sua edificação, usando certamente um gromma como tão bem os latinos sabiam manipular, o Jardim de Diana, a Casa Cadaval – "com a Torre das Cinco Quintas, parte integrante do castelo medieval" -, a Igreja dos Lóios, a Biblioteca Pública, e a Torre de Sertório.
























Visitar ainda a Casa da Rua de Burgos, de onde algumas saudades guardo.

No interior da casa, pode ver-se desde vestígios da Época romana, a exemplo do troço da muralha tardo-romana e dos belíssimos frescos das casas que lhe estavam adossadas, e ainda vestígios de época medieval e moderna, sobre os quais se edificou o Palácio.






De outra viela traseira, na Travessa da Alcárcova de Cima, ainda melhor pode observar a Cerca Velha que Évora viu aparecer.



Mas ainda ali, marchando pela manhã, passos dados no sentido das "Casas Pintadas", veja os pátios de Évora que ecoam canções do Levante, quiçá a Sevilha do eterno cante.


E continue, vá caminhando até à Travessa do Sertório, onde a Renascença lhe vai falar ao virar da esquina.





































Se puder, vá também até ao edifício da Câmara Municipal de Évora e veja os belíssimos vestígios dos balneários romanos aí encontrados.

Olhe o templo imperial, com tempo, o tempo todo que puder. Imagine os espelhos de água que existiam em seu redor, o garante da Salus de quem zelava por Roma de todos os lugares e que o tempo não deixou  cair no esquecimento, porque dele fizeram tantas funções.

Ou entre no Museu de Évora e vá conhecê-lo, tão perto do templo e do Convento dos Lóios, também conhecido como Convento de São João Evangelista, que o século XVI viu edificar sobre o castelo que ali existira. Nesse conjunto com um claustro de dois pisos, marcado o inferior pelo gótico-manuelino e o superior anunciando a Renascença, residem hoje passageiros e passeantes que em Évora podem gozar da Pousada, passeando-se por entre paredes pintadas e revestimentos azulejares.
O Museu de Évora apresenta as suas coleções permanentes de Arqueologia, cujo núcleo original é constituído por um conjunto de “antiguidades” recolhidas no Sul do país por Frei Manuel do Cenáculo (1724-1814), nomeado Bispo de Beja em 1777 e indigitado Arcebispo de Évora em 1802, conhecido também como o "primeiro arqueólogo português". Em pleno Século XX, os materiais colecionados por Cenáculo foram incorporados no Museu de Évora, entretanto instalado no antigo Paço Episcopal, juntando-se então às recolhas locais de estatuária e lapidária devidas a estudiosos como André de Resende, Cunha Rivara, Filipe Simões ou Gabriel Pereira, hoje parcialmente expostas nas galerias do Claustro. A presente área expositiva - instalada em espaço subterrâneo ganho na recente remodelação, que completa a apresentação pública das coleções arqueológicas do Museu. Destacamos a presença nesta exposição de materiais resultantes das escavações dos anos 60 na Anta Grande do Zambujeiro (Évora) e no Castelo da Lousa (Mourão), ou dos anos 80 na Necrópole das Casas (Redondo), acabam por ser exceções valiosas, a que se soma a fantástica estátua romana em bronze, descoberta em São Manços nos anos 70 por trabalhadores agrícolas da Reforma Agrária. Foto: Estátua romana em Bronze de São Manços, com a representação do ideal de Efebo, muito provavelmente executada numa oficina especializada, talvez de Roma, e transportada para adornar a villa romana no alentejo. Altura: 70cm Datação: I d.C. - II d.C. - Época Romano. 

























































































Fotografia de Frei Manuel do Cenáculo, Biblioteca Pública de Évora.






















Esse Museu de Évora que formalmente se constituiu com a Primeira República, mas que teve a sua origem nas colecções que Frei Manuel do Cenáculo (1724-1814), nomeado bispo de Beja em 1777 e indigitado arcebispo de Évora, em 1802, reuniu na Biblioteca Pública de Évora. Parte das colecções foram trazidas de Beja, onde fora bispo. Já no século XX, esses materiais são incorporados no Museu de Évora, juntando-se aos materiais arqueológicos recolhidos por André de Resende, Cunha Rivara, Filipe Simões ou Gabriel Pereira. 
Actualmente esses materiais - estatuária e lapidária - podem ser vistos no na nova área expositiva, um espaço subterâneo obtido com a recente remodelação do Museu.
Podem também ver-se os materiais provenientes da Anta Grande do Zambujeiro (de escavações dos anos 60) e do Castelo da Lousa (Mourão), ou dos das escavações realizadas na Necrópole das casas (Redondo).
Exposta está também a célebre estátua de bronze de S. Manços, representando Efebo e datável dos séculos Id.C - II d.C.

Mas comece a visita ao Museu pela herança romana, entrando de costas para o templo imperial e forum , e, no interior do Museu, veja os vestígios dessa enorme praça pública romana e os restos de uma necrópole.

Olhe com atenção os vidros; as esculturas e os fragmentos escultóricos e a célebre e belíssima escultura da «bacante».


Perca-se por aí na primeira visita ... que o restante para a próxima ficará, mas não saia sem ver in situ os vestígios que nos falam do grande Forum romano.
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Para almoçar, se não puder ir ao Colégio do Espírito Santo, vá tomar a refeição à Fundação Eugénio de Almeida, onde há sempre alguma boa exposição para ver.


















Relembre-se também que a Universidade de Évora, fundada em 1559 pelo Cardeal D. Henrique, futuro Rei de Portugal, a partir do Colégio do Espírito Santo, foi criada por bula do Papa Paulo IV, como Universidade do Espírito Santo e entregue à Companhia de Jesus, que a dirigiu durante dois séculos, sendo a Igreja do Espírito Santo a Matriz de muitas das Igrejas que os Jesuítas construíram pelo mundo.
Em 1759 foi encerrada por ordem do Marquês do Pombal, aquando da expulsão dos Jesuítas.


Após a criação, em 1973, do Instituto Universitário de Évora que aí se instalou, deu origem depois da sua extinção, em 1979, à nova Universidade de Évora.

Em 1759 foi encerrada por ordem do Marquês do Pombal, aquando da expulsão dos Jesuítas.

Após a criação, em 1973, do Instituto Universitário de Évora que aí se instalou, deu origem depois da sua extinção, em 1979, à nova Universidade de Évora.


Depois, nunca esqueça de ir à  antiga Praça Grande, hoje a Praça do Giraldo, fazendo juz ao "Sem Pavor" que dali expulsou a moirama, e debaixo da arcaria fresca ver as pessoas passar. Essa Praça do Giraldo onde há uma das mais belas fontes de Portugal e, debaixo da arcaria fresca, veja simplesmente as pessoas passar ou então sinta os rostos contristados dos seus habitantes, quando, quase à esquina com a 5 de Outubro, vêem o nome dos seus mortos anunciar.

Perca-se, por aqui e ali, ao dobrar de cada esquina, porque Évora também o vai gostar de ver!



































Lá fora, extra-muros, fazendo como que a ponte com a cidade "nova", sepenteia-se também imponente o aqueduto da Água de Prata, construído entre 1531 e 1537 pelo arquitecto Francisco de Arruda, mas a que alguns autores reconhecem fundação romana.


Para lá da Cerca, visite os Conventos que se instalaram em Évora, quer a Cartuxa, onde ainda hoje impera o silêncio, quer os que o Tempo transformou em lugares de lazer e de estar, como é o caso do Convento hieronimita de Santa Maria do Espinheiro, datado do século XV, e que, ao que diz a lenda deve a sua localização e nome à aparição da Virgem Maria sobre um espinheiro, por volta do ano 1400.
Também ali, em 1520, se ergueu a capela tumular de Garcia de Resende em terrenos pertencentes ao mosteiro.
Mas poderá ainda ver a grandeza de S. Bento de Cástris que se espera, a curto prazo, venha a ser transformado em lugar de cultura e de música pairando no ar.

Veja Évora, é Bela, de uma beleza quase brutal.
























































































(Imagem da Capela de André de Resende obtida no site do IPPAR/IGESPAR)













































Se puder, vá ainda visitar o Convento de Bom Jesus de Valverde, cuja quinta ainda nos remete à meditação de frades Capuchos e que hoje é um pólo da Universidade de Évora
Relembrar os seus sistemas hidraúlicos, muros, capelas e a bela Igreja do convento, cuja origem remonta à construção do mesmo, mandado edificar pelo Cardeal D. Henrique.
















 

Recomendo que de Évora traga, se ainda não os tem, quatro belos livros de companhia: Das Cercas dos Conventos Capuchos, de António Manuel Xavier e Tectos Barrocos em Évora de Magno Moraes Mello, editados pelo Centro de História de Arte da Universidade de Évora e também «Objectos Melancólicos. Évora» de Carmen Almeida, não esquecendo essa obra-prima «Évora, Património da Humanidade», com fotografias de Eduardo Gageiro e texto de José Saramago.









Para mais informação geral sobre Évora, recomendo a consulta de : www2.cm-evora.pt www.ippar.pt www.cultura-alentejo.pt



Fotografia de Luís Brás



Museu de Évora: 266 702 604

Templo de Évora:

Cronologia - A partir de:


Séc. 1 - edificação durante a época de Augusto (HAUSCHILD: 1988); Séc. 2 / Séc. 3 - edificação, segundo a cronologia tradicionalmente aceite, empreendida no quadro de uma campanha radical de redefinição urbana da cidade, quando o culto e o estatuto imperial lhe imposeram a distinção do espaço da cidadela, que um pesado muro granítico passa a cingir (070513040); Séc. 5 - destruído durante as invasões bárbaras; Séc. 14 - teria servido de casa-forte ao castelo da vila; Fernão Lopes refere-o como açougue; 1467 - carta de D. Afonso V autorizando Sueiro Mendes a retirar pedras dos açougues; Séc. 16 - representado no Foral manuelino de Évora; difunde-se antiga tradição que atribui a fundação do templo a Sertório (paladinos da fundação sertoriana André de Resende e Mendes de Vasconcelos); Séc. 17 - o Padre Manuel Fialho cria a lenda do Templo de Diana; 1789 - James Murphy concebe reconstituição iconográfica do templo; Séc. 19 - mantem ainda os merlões piramidais de tradição mudéjar - manuelina e as empenas cegas de onde apenas despontava a colunata; 1836 - deixa de funcionar como açougue; 1840 - Cunha Rivara, na qualidade de Director da Biblioteca Pública de Évora obtem a cedência dos edifícios da Inquisição, em tempos anexos à fachada N. do Templo e aos quais este se unia por passadiço, e que serão então demolidos desafrontando o monumento; inicia-se então aquela que será a primeira grande escavação arqueológica em Portugal, tendo-se descoberto os tanques dum primitivo aqueduto; 1863 - o tecto abate parcialmente e o edifício ameaça ruína; já destruídos em parte os tanques durante os trabalhos de embelezamento do largo; 1869 - Filipe Simões propõe a demolição urgente das estruturas medievais defendendo o repor da feição primitiva do templo; 1871 - a direcção da obra de restauração é entregue a José Cinatti que faz demolir os vestígios medievais preconizados por Filipe Simões e executa um programa de restauro integral idealista e romântico do templo; 1992, 01 junho - o imóvel é afeto ao Instituto Português do Património Arquitetónico, pelo Decreto-lei 106F/92, DR, 1.ª série A, n.º 126; 2011, 13 de Setembro - publicado no DR, nº 176, 2ª Série, Declaração de rectificação de anúncio n.º 281/2011, alterando o prazo para apresentação de propostas relativo ao concurso público Empreitada de Intervenção no Espaço Público da Acrópole de Évora e Área Envolvente - Acrópole XXI.