terça-feira, 19 de setembro de 2017

GARDUNHA: OS DEUSES E A VIDA, a propósito das Jornadas Europeias do Património.


Foto de Filomena Barata.

Museu Arqueológico do Fundão

Titulo
O Museu na Natureza. A Natureza no Museu
Descrição
Revisitação do museu através dos objectos com representação na natureza. Por Filomena Barata (Museu Nacional de Arqueologia)
Concelho
Fundão
Localidade
Fundão
Data
22 de setembro
Hora
21h00
Público Alvo
Público em geral
Organização
Museu Arqueológico do Fundão
Participação e apoios
Informações
T. 275 774 581 TM. 961 941 287 F. 275 774 583 geralmuseu@cm-fundao.pt

GARDUNHA: OS DEUSES E A VIDA
CARTA ABERTA DE FILOMENA BARATA Fundão: MUSEU do Território
Exmos Senhores:

Presidente da República
Primeiro Ministro

Presidente da Assembleia da República
Ministros de Portugal

Deputados Eleitos
Directores Gerais
Presidentes dos Municípios
Autarcas eleitos
Presidentes e Directores dos Serviços Descentralizados
Presidentes de Associações, Agremiações e Institutos
Directores de Museus e seus Responsáveis
Professores
Educadores
Educandos
Cidadãos da Gardunha
Meus senhores,
Eu Maria Filomena Barata, estritamente no exercício da minha cidadania, recordo, para que não se esqueça, nem se volte a repetir, que a Gardunha ardeu.
Está agora vestida de escuro, como uma viúva abandonada e triste, sem outra cor trazer consigo senão a negritude.
Na Serra habitavam animais, árvores e gentes, e, no meio delas, andavam deuses de tempos imemoriais.
Ninfas, sátiros, dríades e outros deuses maiores.
Mas agora nem a ninfa Dafne tem o loureiro, onde se esconder de Apolo.
Acabará, pela certa, a música da flauta do deus dos bosques e dos rebanhos Pã, feita de caniços onde se escondeu e transformou a Náiade Siringe guardando águas e rios.
Jamais poderão as nifas bailar aos sons do queixume que vibrou dentro das canas e que o deus soube conservar em instrumento eterno.
Nem as águas brotarão, porque ao céu não sobem as nuvens feitas dos seus suspiros, pois as ninfas fugiram dos bosques, campos e fontes.
Nem o pobre Silvano que vivia no monte poderá presentear-nos com as amoras das silvas que fazia crescer, ou dos campos que vigiava e a sua nébride jamais carregará frutos ou cereais. Murchará até o cipreste que o acompanhava e as pinhas com que espalhava a fertilidade.
Andam perdidos, animais, plantas, gentes e deuses. Desolados não sabem onde se abrigar. Queimados, destruídos estão os lugares sagrados que outrora habitaram. E nem Fauno e a sua mulher Fauna sabem onde está a sua morada.
E Flora não fará brotar a terra, triste como Ceres de ver a cor de breu levar-lhe os seres amados.
Exmos Senhores,
Queremos que a Gardunha volte a poder guardar os seus segredos. Não haverá Paz em tantas terras se os deuses e os Homens não se puderem suavizar, por entre as árvores e os animais.
Assim, exigimos saber o que estão juntos a fazer e como podemos nós também ajudar, porque não há perdão se houver esquecimento!
E, por isso, de deuses voltaremos a falar, sem nunca nos calar, até que a Gardunha tenha a sua vida de volta!


(Filomena Barata, de ancestrais da Beira que, embora outra, pensa ainda na Sertã e na Pampilhosa que as chamas consomem quase anualmente)



Honremos, pois, na decoração vegetarista e faunística desta peça, Ops, a deusa itálica da colheita, esposa e irmã de Saturno e mãe de Júpiter, o pai dos deuses.

(Terra Sigillata Hispânica com decoração metopada, Dragendorff 37, Século II d.C., proveniente das Termas Romanas do Ervedal, Castelo Novo, Fundão, Museu Arqueológico Municipal do Fundão)