sexta-feira, 15 de abril de 2016

AS RUÍNAS ROMANAS DE TRÓIA, SETÚBAL, Filomena Barata




Ruínas e Pensínsula de Tróia. Fotografia aérea de 1966
Frescos da Basílica Paleocristã
  

























“… as ruinas de Troia de Setubal constituem um enexgotavel manancial archeologico. Não dá dum passeio pela praia, não se mexe na areia, que não appareça alguma cousa. Oxalá que algum Ministro se amercie d’ellas! tanto mais que é uma vergonha que esteja a findar o seculo XIX, o seculo chamado das luzes, e Portugal deixe perder para sempre estes eloquentes vestigios de grandeza do seu passado. sem lhes prestar o culto que os povos civilizados prestam a tudo o que pode servir para aclarar os problemas históricos. José Leite de Vasconcellos, Archeologo Português.


 «Quando Tróia se afundou três dias choveu areia só um homem se salvou no ventre de uma baleia».

Hoje regressei a outra Tróia, a romana, das salgas de peixe e das histórias contadas do Humanista André de Resende e de Fr.Bernardo de Brito, da Escola Historiográfica de Alcobaça, que retoma identificação de Tróia com a Caetobriga romana escrevendo: “nos tempos antigos florescera na povoação de Cetobriga a que os moradores da terra chamam Troia”.(7) Muitos autores insistem nesta identificação, como Duarte Nunes Leão, João Batista Lavanha e a Frei António de Santa Maria, Carlos Ribeiro, entre outros. João Batista Lavanha na sua “Viagem da Catholica Real Magestade del Rey D.Filipe II a Portugal”, de 1622, diz que:” Setuval. He huma das maiores, e mais assinaladas villas de Portugal, por causa do seu porto formado do Rio Cadão (9), que alli entra no Oceano, e de huma lingua de terra que o mar ha estreitado. Nesta lingua de terra que fica de fronte da villa, ouve na antiguidade huma povoação chamada Cetobriga …. onde ainda oje se vem os vestigios de tanques em que se salgarão os atuns, e outros pescados, e aparecem as ruinas de outros edificios de aquella cidade, e dellas se tirão estatuas, columnas, e muitas inscripções, que entre outras antiguidades dignas de eterna memoria se conservão na casa do duque de Aveiro”. A estas ruynas chama o vulgo Troya com que quer dar a entender que são da povoação que alli ouve”. Regressarei a uma «Rua da Princesa», assim denominada porque D. Maria, rumando ao Pinheiro, aqui passou e resolveu desembarcar para conhecer os restos de Latinos, tendo identificado uma zona residencial; voltarei à Real Sociedade Archeologica Lusitana, cujo patrocinador, o Duque de Palmela, permitiu que as escavações aí se incrementassem e aos desenhos das mãos do oitocentista Marques da Costa, que tão pormenorizados até parecem efabulação. Voltarei às «Minhas Memórias de Tróia», retomando um velho tema adiado, mas agora, certamente, enriquecido porque será mais partilhado. Aos desenhos de grandes caricaturistas portugueses que colaboraram com José Leite de Vasconcelos, certamente porque era mais uma forma de prover o sustento, desenhos esses que o Museu de Arqueologia ainda conserva, bem como às primeiras fotografias que a Arqueologia Portuguesa viu, nas mãos de M. Apolinário. Regressarei à Tróia do relevo mitraico, divindade de militares vinda do Império Oriental, que o Cristianismo acabou por banir. Pensarei, de novo, sim, no relevo mitraico que, embora sendo o único exemplar em território nacional, andou por destinos perdidos durante décadas e regressarei outrossim ao templo paleocristão.

















Relevo Mitraico de Tróia. Cópia no Museu Nacional de Arqueologia.

E regressarei ainda às sepulturas tardias de mansae, exemplares também raros e de que apenas existe um paralelo em toda a Península, onde deitados os comensais partilhavam ritualmente com os seus mortos alimentos e vinho com mel.




Fotografia das sepulturas de mansae gentilmente cedida por Esmeralda Gomes
Regressei à Tróia de poços, cisternas e reservatórios de água, para servir unidades fabris, bem como aos balneários com os seus tanques tépidos e quentes com os seus mosaicos que, alindando o espaço, permitiriam esquecer cheiros fétidos a peixe e dias suados de labor.
Voltei às unidades fabris que parecem não acabar …quilómetros de praia cheios de cetárias, de que ainda se não conhece bem a organização, mas que, todos os anos, a erosão do rio, sem que haja meios o vontade política para o
estancar, faz roubar à História . Novos poços
e tanques denunciando que o labor não acabava na zona que agora mais “central”, que não é senão a ínfima parte de uma cidade ainda por conhecer, bastando andar pela praia para uma pálida imagem se poder ter.
E recordei o reservatório com um sistema elevatório de água como poucos há e que foi objecto de estudo e publicação nos «Aproveitamentos Hidráulicos Romanos»
Rumei depois ao Columbarium, esse lugar de sossego dos mortos que ocupa o espaço já desactivado de fábricas abandonadas, onde convive, no século III, a icineração e a inumação, e às sepulturas que se vão juntando em seu redor, transformadas as unidades fabris em lugares de solidão, pela crise anunciada de um Império a ruir.
E pensei no Baptistério, hoje já desaparecido, que Marques da Costa, no século XIX, tão bem desenhou.
Regressei ainda à sepultura em forma de cupa que se implantou junto às termas e pensei na sepultura da Galla, cujo desenho, dos mais belos que já vi, também se encontra no Museu Nacional de Arqueologia, bem como a Tróia do relevo mitraico, esse deus da Luz, importado por Romanos do Mundo oriental, a cujos mistérios se acedia através da matança do touro ritual.A Tróia da «Caldeira», onde, em dias especiais, ainda se pode ver plâncton fazendo brilhar a água daquele lugar.
































































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A Tróia da «Caldeira», onde, em dias especiais, ainda se pode ver plâncton fazendo
A Tróia da «Caldeira», onde, em dias especiais, ainda se pode ver plâncton fazendo brilhar a água daquele lugar.Mas, para já, vão apenas informações gerais sobre este fantástico Sítio Arqueológico

Ruínas de Tróia, classificadas como Monumento nacional pelo Dec-Lei de 16 de Junho de 1910 Z.E.P. e área non aedificandi(DG,II Série, nº155 de 02/07/69), cujos limites precisos foram definidos na Portaria nº40/92 de 22 de Janeiro Localização : Extremo da Península de Tróia, Setúbal (Concelho de Grândola)
Caracterização: Trata-se de um dos mais interessantes conjuntos fabris de conserva de peixe do Império Romano conhecidos em território peninsular, construído nos inícios do século I d.C. e que deve ter laborado até aos séculos IV/V d.C. Para além dos tanques de salgas, estão identificadas uma área habitacional, conhecida por «Rua da Princesa», umas termas ou balnea, três necrópoles e um Templo Paleocristão que preserva ainda o revestimento com pinturas a fresco. Voltarei a Tróia, sim, mas hoje vou-me deixar levar pelo sono que o sol do dia me permitiu ter … com a alegria de saber que tanta coisa, finamente, se está a reiniciar.
À Inês Vaz Pinto e sua equipa, designadamente à Patrícia Magalhães, e à IMOAREIA os meus parabéns!
E adormecerei esta noite com a descrição de Tróia de Hans Christian Andersen: «No cais havia grandes barcos de pesca; quem quisesse, podia dar uma volta e visitar a Pompeia de Setúbal – Tróia, a aldeia de pescadores, enterrada mas parcialmente escavada (…). Voltámos para trás, não em direcção a casa mas rumo ao canal para vermos os restos de Tróia, a cidade enterrada na areia. Foi fundada pelos Fenícios; desde então, os Romanos viveram aqui e recolheram o sal da mesma maneira que ainda hoje é usada, tal como o testemunham as grandes ruínas. Em tempos idos, a entrada domar devia ser para leste; a entrada actual foi quebrada por uma grande inundação, que acabou por a bloquear com areia. Os seus habitantes foram todos obrigados a fugir; acredita-se que inicialmente procuraram as montanhas e fundaram a povoação que agora é Palmela, mas mais tarde dirigiram-se para baixo, para a costa, onde fundaram Setúbal, ainda existente. (…) Onde quer que puséssemos o pé em terra, havia grandes pilhas de pedras amontoadas, restos de lastro de navios que traziam as suas cargas de sal para a baía. Desta forma, havia ali pedras grandes e pequenas vindas de todas as artes do mundo – da Dinamarca e da Suécia, da Rússia e também da China. Podia escrever-se uma longa história sobre elas(1). (…) Tinham começado a fazer uma grande escavação, que parara devido a falta de meios (2). Não se tinha ganho muito com isso, mas sinda assim podiam ver-se alicerces de casas, vários pátios, muros altos, restos de um jardim inteiro, com uma casa-de-banho parcialmente conservada, um chão de mosaico e paredes com lajes de mármore. mesmo dentro de água, havia fragmentos e pedaços de jarros antigos e até grandes muros de pedras». 
(1) Julgo tratar-se de uma curiosa interpretação de H.C.A., se bem que a maioria das pedras que se encontram espalhadas por 2 km de extensão de costa são de origem romana, fruto da destruição das construções. (2) Uma vez que a viagem de H. C. A. teve lugar em 1866, deverá estar a referir-se às escavações efectuadas pela Real Sociedade Archeológica Lusitana que teve, inicialmente, o patrocínio de D. Fernando e do Duque de Palmela. No entanto, já anteriormente se tinham feito “explorações” no tempo da infanta D. Maria.
 

Dedico, assim, este trabalho a todos os arqueólogos que trabalharam em Tróia e que lhe dedicaram atenção. À nova equipa que se encontra neste momento a efectuar trabalhos arqueológicos em Tróia, coordenada pela Doutora Inês Vaz Pinto, vai o meu desejo de muitos e profícuos resultados.


Desenho Ara: Dario de Sousa, MNA. Lisboa.































TRÓIA, A CAETOBRIGA DOS ROMANOS?
Durante muito tempo, Tróia foi identificada com a Caetobriga de Ptolomeu e do Itinerário de Antonino (século III d.C.), sendo a ela conotada tanto por André de Resende como por muitos dos arqueólogos que aí trabalharam até ao século XIX. 
No entanto, os resultados de escavações promovidas em Setúbal vieram corroborar a opinião que Caetobriga fosse, efectivamente, a cidade que deu origem à actual Setúbal e não Tróia. 
Gaspar Barreiros‚ o primeiro autor que faz referência a Tróia, ” a qual Troia cuidaram alguns ser Salacia“, sustenta serem as ruínas de Tróia os vestígios da cidade de Cetóbriga, de cujo nome derivam igualmente o nome da península e o da cidade que se ergue na outra margem – Setúbal. Setúbal, segundo o mesmo autor, “…reteve o nome corrupto de Cetobrica, o qual nome de Cetobrica se corrompeu em Cetobra e depois em Tria onde ela foi”. Refere-se este autor aos tanques de salga de peixe de Tróia como:”salgadeiras em que se curava o peixe.” André de Resende, escritor e “arqueólogo” quinhentista, aí realizou as primeiras pesquisas de que há notícia. Como umas das figuras mais proeminentes do Humanismo Português, não será de admirar a curiosidade e fascínio que todos os testemunhos do passado clássico tenham exercido sobre este escritor. Na sua obra “De Antiquitatibus Lusitaniae”, Liv.IV – “De Cetobriga” retoma a argumentação de Gaspar Barreiros, afirmando: “Corrumpi coepit nonem in Cetobram, quam postea multo corruptius vulgos ineruditum triam fecit”. No início do século XVII, Fr.Bernardo de Brito retoma a mesma identificação escrevendo:”nos tempos antigos florescera na povoação de Cetobriga a que os moradores da terra chamam Troia”. Duarte Nunes de Leão, por sua vez, refere-se-lhe da seguinte forma:”Cetobriga que vieram corromper o nome de Setúbal para onde passou, foi também situada em uns areais onde chamam agora Troia”. Muitos autores insistem nesta identificação, de João Batista Lavanha a Frei António de Santa Maria, Carlos Ribeiro, entre outros. João Batista Lavanha na sua “Viagem da Catholica Real Magestade del Rey D.Filipe II a Portugal”, de 1622, diz que:” Setuval. He hua das maiores, & mais assinaladas villas de Portugal, por causa do seu porto formado do Rio Cadão, que alli entra no Oceano, & de huma lingua de terra que o mar ha estreitado. Nesta lingua de terra que fica de fronte da villa, ouve na antiguidade hua povoação chamada Cetobriga …. onde ainda oje se vem os vestigios de tanques em que se salgarão os atuns, & outros pescados, & aparecem as ruinas de outros edificios de aquella cidade, & dellas se tirão estatuas, columnas, & muitas inscripções, que entre outras antiguidades dignas de eterna memoria se conservão na casa do duque de Aveiro”. A estas ruynas chama o vulgo Troya com que quer dar a entender que são da povoação que alli ouve”. Em 1895, José Leite de Vasconcelos faz uma reflexão sobre este assunto e considera a identificação despropositada sob o ponto de vista linguístico:” Troia nada mais ser do que uma designação litteraria dada anteriormente ao seculo XVI às ruínas; para afirmar isto, fundo-me em que não são estas ruinas as unicas assim denominadas: no termo de Chaves ha outras ruinas a que se dá o mesmo nome de Troia”. A partir de 1957, volta a reacender-se o problema da localização de Cetobriga, uma vez que as escavações que o Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal revelaram a existência de um importante centro urbano da época romana. Tinha sido finalmente localizada a Cetobriga dos Romanos! 
Em 1960, José Marques da Costa em “Novos Elementos para a localização de Cetobriga diz a propósito deste assunto: “Caíu, há muito tempo, no campo das hipóteses indefensáveis, não sem que, antes, durante séculos, tivesse sido aceite e divulgada como verdade averiguada e incontroversa. Hoje, vergada sob o peso da provecia idade de quase quatrocentos anos – motivo de aparente autoridade! – não passa de sobrevivência dos estudos arqueológicos do Quinhentismo, incipientes, simplistas e falhos de fundamento”.
A designação da Troia romana permanece, apesar de todas as pesquisas feitas, entre as quais muito se distingue Marques da Costa (arqueólogo que nada tem a ver com o homónimo acima mencionado), no início do nosso século, uma questão em aberto. Reconhecem os arqueólogos a possibilidade de o topónimo que hoje conhecemos ter conotação com a Tróia homérica, dado o seu desaparecimento misterioso e a sucessiva invasão que as areias fizeram às ruínas.
TRÓIA, SUA HISTÓRIA: AS PRIMEIRAS INTERVENÇÕES ARQUEOLÓGICAS




(Frescos da Basílica paleocristã de Tróia)
Retomando as referências a Tróia, de Setúbal, encontramos vários documentos datados já do século XVI.
De 1502 data um, através do qual a Ordem de Santiago dá o terreno de Troia, pertencente ao seu vasto domínio, em regime de sesmaria. Encontramos ainda um auto de visitação da mesma ordem à Ermida de Nª Sra.de Tróia.
Em 1700, Fr. Agostinho de Santa Maria refere-se, no Santuário Mariano, muito provavalmente ao “Templo Paleocristão” (que amanhaã irei de novo visitar) do seguinte modo: “sepultado na areia e debaixo dela um templo gentílico , com colunas e capitéis de que ainda tem um notavel fabrico”.”
Ainda no século XVIII se encontram documentos sobre o emprazamento de Tróia, que, tal como o estipulado no de 1502, salientam: “fica de fora a pedra, que todos poderão tirar para fazerem casas e moinhos e os possuidores de sesmaria não poderão tolher a qualquer pessoa que a queira ir buscar”. Esta regulamentação justifica-se pelo facto de não existir pedra em toda a Península e toda ela ser trazida pelos Romanos de diversificados locais, designadamente a Serra da Arrábida.
Este tipo de referências repete-se por todo o século XVIII, em registos notariais, o que manifesta a destruição progressiva, mas consentida, de que este sítio foi alvo desde o começo do século XVI. As mais antigas escavações arqueológicas em Tróia datam do tempo da Infanta D. Maria, futura Rainha D.Maria I, e incidiram na zona residencial das ruínas, pelo que ‚ denominada essa zona, desde essa altura, como “Rua da Princesa”. O espólio exumado nessas explorações foi totalmente disperso. À então Vila de Setúbal foi oferecida uma coluna e um capitel coríntio, reutilizado, mais tarde, como pelourinho, ainda hoje existente na Praça Marquês de Pombal, nessa cidade.
Em período posterior, em 1850, a Sociedade Arqueológica Lusitana iniciou aí trabalhos de que há relato e cujos Diários das escavações de Tróia, foram publicados na Revista Popular:  “Foi por entre todas essas festas e galas, sempre acompanhadas de um vivo enthusiasmo, nascido das mais seductoras esperanças, alimentadas e fortalecidas … sombra grandiosa da alta protecção de um monarca e de um duque notavel e poderoso, que a Sociedade Archeologica deu começo às escavações. As primeiras foram effectuadas desde o 1º de Maio até 2 de Junho de 1850 e logo com optimos resultados, cujas not¡cias muito satisfizeram a El-rei e não menos ao Duque. ……………. Em resultado das pequenas excavações feitas colheram-se muitas e diversas antigualhas romanas, mas não tendo podido ser collocadas no Museu de Setubal como determinavam os Estatutos, força foi que ficassem em poder de alguns socios em quanto, por falta de meios, não houvesse casa apropriada”.
(A Rua da Princesa, segundo desenhos de Marques da Costa)
A Sociedade Arqueológica Lusitana tinha surgido em 1849, impulsionada pelo Padre Manuel de Gama Xarro e por João Carlos de Almeida Carvalho, a que se foram, a pouco e pouco, juntando outros estudiosos. O primeiro Duque de Palmela, que visita as ruínas de Tróia, a convite desses estudiosos, em 1849, é também convidado a ser protector da Sociedade, qualidade que reclina para El-rei D.Fernando II, que virá a ser efectivamente o protector da Sociedade. O Duque de Palmela profere em Setúbal um discurso em que afirma: “Foi hoje a primeira vez que tive o gosto de visitar as ruínas da antiga Cetobriga e, pelos vestígios das construções que ali observei, fiquei sumamente esperançado de que grandes vantagens arqueológicas, científicas e artísticas se podem obter por meio duma bem dirigida escavação, e da qual poderão resultar muita honra e vantagem para esta País e com particularidade para a Vila de Setúbal, sede desta respeitável associação. Quando porém mesmo esses achados de preciosidades se não realizem de todo, ao menos sempre um grande proveito se tirar das escavações intentadas: descobrir-se-ão essas ruínas, marcar-se-á a sua extensão, e finalmente fixar-se-ão mais as ideias para se resolver um ponto de história e de geografia, que até agora não tem sido esclarecido pelos nossos escritores, história na verdade muito misteriosa, relativamente à fundação desta populosa cidade, cuja existência deve ser de mui remota antiguidade”.
Em 1850, são publicados na Imprensa Nacional os Estatutos da Sociedade Archeologica Lusitana, Associação essa que se pode considerar a precursora da Real Associação dos Arquitectos e Arqueólogos Portugueses. Mas a ela, voltarei outro dia, bem como a Marques da Costa, mas longo vai hoje este apontamento.
Crismon da Basílica Paleocristã de Tróia. Desenho de Marques da Costa.

Medalha em ouro procedente da Necrópole da Ermida da Achada de São Sebastião – Mértola, datada do Séc. IV-V d.C Trata-se de uma pequena medalha em ouro composta por um crismon (monograma dos inícios do cristianismos que corresponde às iniciais gregas das palavras Jesus Cristo). No braço horizontal da cruz estão representados o alfa e o ómega, significado que Cristo é o começo e o fim da evolução criadora. Na parte superior da medalha encontra-se uma argola que estabelece a ligação com os três elos entrelaçados da corrente também do mesmo metal. A peça provém do interior de uma sepultura de criança/jovem.
Bibliografia: LOPES, Virgílio; BOIÇA, Joaquim (1999): “Museu de Mértola – A Necrópole da Achada de S. Sebastião”, Mértola, Campo Arqueológico de Mértola e Escola Profissional Bento de Jesus Caraça. Info retirada do site do Campo Arqueológico de Mértola em http://www.camertola.pt/
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Lucerna com representação de Hélios proveniente de Tróia. Museu Nacional de Arqueologia. 
Fotografia a partir de: http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.aspx?IdReg=136168



Na imagem: Lucerna com representação de Baco.
Fotografia de Matthias Tissot


Satisfaz-me ver alguns dos resultados já visíveis no sítio arqueológico, lementando, contudo, que tantos dos estudos e trabalhos aí iniciados não se tenham levado a bom termo, pelo que me atrevo a deixar aqui algumas “velharias” dos idos anos oitenta do século passado que pude acompanhar de perto, designadamente no que respeita à valorização deste extraordinário Sítio Arqueológico, tal como os arranjos da envolvente das ruínas, a sua sinalética e mesmo a criação de bilhetes de ingresso. Trata-se de uma arqueologia ainda por fazer, mas que desejo se possa vir a efectuar.
Mais gostaria de um dia poder ver ainda publicados trabalhos coordenados por António Cavaleiro Paixão e sua equipa, bem como alguns dos belíssimos e exaustivos diagnósticos que foram acompanhados por Margarida Monteiro.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

O mês de Abril

Tentaremos homenagear Vénus no seu mês.




ALESSANDRO BOTTICELLI: FLORENTINE QUATROCENTO NEO-PLATONIST CATHOLIC PAINTER: MELANCHOLIC CHRISTIAN MADONNE, PAGAN GODESSES, ANGELS, ETHEREAL FACES INFLUENCED ROMANTICS, SYMBOLISTS, DECADENTS, STILE LIBERTY, SURREALISTS

Imagem a partir de:
https://davidjure.wordpress.com/2010/09/29/botticelli-is-the-best/

Abril é o quarto mês do calendário gregoriano.
Em 1564, depois da adoção do calendário gregoriano, o rei Carlos IX de França determinou que o ano novo seria comemorado no dia 1 de Janeiro.
Abril tinha, no primeiro calendário romano da época Rómulo, também 30 dias.
Numa Pompílio (715-672 a. C.) retirou-lhe um dia.
Ao tempo de Júlio César (101-44 a. C.), por conselho de Sosígenes, foi novamente alterado o calendário, e foi-lhe restituído um dia, ficando com os 30 que mantém até hoje.
Abril deriva do latim «aprilis» que, por sua vez, deriva do verbo «aperire», que significa abrir, lembrando a estação do ano e o abrir das flores na Primavera.
Há quem defenda que Abril derive de Aprus, o nome etrusco de Vénus, deusa do amor e da paixão. Outra versão é que se relaciona com Afrodite, nome grego da deusa Vénus, que teria nascido da espuma do mar que, em grego antigo, se dizia "abril".
E por isso a crença de que os amores nascidos em Abril se eternizam, sob os auspícios da divindade.
Este mês era, por isso, consagrado pelos romanos à deusa Vénus chamando-se também por isso «mensis veneris», o mês de Vénus.
Também Ceres, a deusa da agricultura, e Baco, o deus do vinho, eram festejados neste mês pelos romanos.
Ceres, continuava assim a honrar a fertilização da terra, que se abre nesta época do ano para receber a sementeira que, mais tarde, produzirá os frutos. Baco, que corresponde ao Dionísio dos gregos, era homenageado provando-se, pela primeira vez e com grande solenidade, o vinho da colheita anterior.
O mês era representado por Cupido com uma coroa de rosas na cabeça.
Mas também a rosa era o atributo de Vénus, que com ele se fazia representar.
Ver: Espécies vegetais de Miróbriga e as suas referências mitológicas e Bibliográficas. a Rosa.
Filomena Mena Barata
https://www.academia.edu/…/Esp%C3%A9cies_vegetais_de_Mir%C3…