terça-feira, 3 de junho de 2014

As minhas geografias afectivas (a partir de Mulheres ao Luar Maio 2008)












Fui, no outro dia, ver a minha oliveira preferida.
Tem crescido mal ... nas imediações de outras que se têm elevado rapidamente, tornando-se mães de frutos que já se vão apanhar.
Esta não ... mirrada ... vai dando uns rebentos, para dizer que a morte ainda não a tolheu.
Mas fui vê-la e acabei por decidir que, afinal, continuaria a crescer, que não ia arrancá-la do chão.

(tão difícil é decidir-se da eutanásia de alguém ou de alguma coisa de que gostamos.
Mas ela saberá segredar-me um dia o destino que quer ter ... e eu saberei ouvir o mistério que me vai sussurrar).

Vi ainda a triangulação dos meus afectos: Miróbriga, Sines e o Pessegueiro e lembrei-me dos velhos caminhos romanos, potenciando o que mar fonecia, transformado o pescado em garum e salmoura, nas fábricas de salga do Pessegueiro e de Sines.
Vi ainda, ao longe, o Cercal, cheirando a serra ao metal que tornava ferruginosas as ribeiras; vi o Sado de Alcácer e as lagoas que, mais a Sul, viabilizaram uma agricultura mais fértil.

À Carrascaqueira, onde construções palafíticas, orgânicas, extensíveis e belas, mesmo muito belas, avançam pelo Sado adentro em homenagem à pesca, semeando utencílios, redes e bóias que se combinam na côr e no lugar com o Homem que lhes deu lugar, à Carrasqueira, sim, voltei.

Mas já a noite havia chegado, e os tons se tinham esbatido no silêncio que lhe deu lugar. Como um dos dias mais fantásticos que vivi e que por lá passei.

Revisitei os sítios dos meus afectos, que quase conheço como as minhas mãos ...
E, como acontece com todos os grandes amores, gostei de os rever!

Hoje, se a revisitasse, não sei se não arrancaria a oliveira do chão. TALVEZ SIM, TALVEZ NÃO


Apenas porque, quem sabe, assim outra mais próxima lhe pudesse tomar a força, ganhar-lhe a alma e transformá-la em algo melhor. Mas não, ainda vai ficar. Se tiver que morrer que seja de morte natural.

http://mirobriga.drealentejo.pt