Recursos da Lusitânia. Uma síntese

 

Recursos da Lusitânia. Uma síntese

Em 218 a. C. as tropas romanas, comandadas por Cneu Cipião, desembarcam em Emporion (Ampúrias – Espanha), no contexto da Segunda Guerra Púnica (218 a.C. – 201 a.C.) que opunha Cartago a Roma, as duas potências que tentavam controlar o Mediterrâneo.

É o primeiro passo da conquista da Península Ibérica.

A ocupação do Alentejo e Algarve faz-se entre o  século III a.C. e II a.C.

Após prolongada luta com os povos peninsulares, só concluída com Augusto (19 a.C.), os exércitos de Roma estendem o seu domínio a toda a Hispânia.

Romanização é o processo de aculturação e assimilação a que foram sujeitos os povos ocupados por Roma.
Instalam-se novos hábitos, diferentes formas de explorar os recursos agrícolas, mineiros e piscatórios e implementara-se novas formas de organização do território.

Fábrica do Centro conserveiro de peixe de Tróia


A língua, o latim, é essa grande herança que nos ficou e ainda nos acompanha, para além de todas as outras, como o Direito e tantas formas de expressar a crença, mesmo quando se verifica o sincretismo religioso.

A partir de Augusto, com a Pax Romana desenvolve-se a organização administrativa do território, e verifica-se uma política de fomento económico. A Hispânia é divida em três províncias.

Províncias da Hispânia.
Mapa de Jorge de Alarcão

A constituição oficial da Lusitânia como Província, data de 27 a.C., e assiste-se a uma progressiva romanização do território e à criação de centros urbanos.

Surgem os conuentus e Pax Iulia, assume particular importância a Sul da Lusitânia.

A partir de Augusto, com a Pax Romana desenvolve-se a organização administrativa do território, e verifica-se uma política de fomento económico. A Hispânia é divida em três províncias.

A constituição oficial da Lusitânia como Província, data de 27 a.C., e assiste-se a uma progressiva romanização do território e à criação de centros urbanos.

Surgem os conuentus e Pax Iulia, assume particular importância a Sul da Lusitânia.

Distribuem-se terras de cultivo aos conquistadores e há um aproveitamento intensivo dos melhores terrenos: é o início de um processo que culminará nas imponentes uillae.

1 -Tentativa de reconstituição
da Villa Romana de Rio Maior

O progresso  agrícola poderá dever-se à introdução de técnicas agro-pecuárias mais aperfeiçoadas, e a uma nova organização da propriedade.

Um dos grandes veículos da Romanização foi o desenvolvimento de uma extensa rede viária e a criação de novas acessibilidades, a exemplo das pontes, que se expandem pelo território.

Reconstituição cartográfica da rede de Itinerários Antoninos da Península Ibérica.
Comparação sobreposta entre 1975 a negro (“Itineraria Hispana”, José M. Roldán Hervás) e 2014 a magenta (“Itinera Hispana”, José M. Roldán Hervás & Carlos Caballero Casado).

Com a romanização assiste-se a uma  exploração mais intensiva dos recursos – os agrícolas; os mineiros e os marítimos com a proliferação dos complexos pesqueiros e de preparado de pescado, aproveitando a frente atlântica – e das actividades transformadoras: a olaria, a tecelagem, a forja, entre tantas outras.

Ânfora de tipo Dressel 14 Local de Execução Olarias romanas do vale do Tejo ou Sado. Troia

Segundo Pomponius Mela, a Hispânia era “abundante em homens, cavalos, ferro, chumbo, cobre, prata e ouro; e é tão fértil que, também em alguns lugares que a falta de água torna mais estéreis e pobres, produz, não obstante, o linho ou o esparto”.

Pomponius Mela (15 – 45 d.C.)  Chorographia, II, 86

Elementos arqueológicos provenientes das Minas de Aljustrel.

Assim nos diz Estrabão, referindo-se aos minérios:

     “Na verdade, todo o território dos Iberos está repleto deste recurso, ainda que nem todo seja tão fértil e próspero, sobretudo o que abunda em minério. É raro que uma região seja afortunada em ambos os recursos; e também é raro que a mesma região seja copiosa em todo o tipo de minério numa área reduzida. Em relação à Turdetânia, porém, e à região confinante, deixam sem qualquer palavra adequada a quem pretende louvar a sua excelência nesta matéria. De facto, nem ouro, nem prata, nem cobre, nem ferro se encontram até agora em alguma parte da terra que se produzam em tão grande quantidade ou com tamanha qualidade”.

      Estrabão, Geografia 3.2.8 J. Deserto, S. Marques (trads.), introdução, tradução do grego e notas. S. l.: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2016, p. 49.

Os mármores foram explorados desde Época Romana, havendo conhecimento que em Estremoz, Trigaches ou Viana do Alentejo essa exploração se fez desde o século I d.C.

Deixar uma cidade em mármore para a posteridade que recebeu construída em tijolo foi uma das vitórias do Imperador Augusto, ao fazer um balanço da sua vida, segundo o biógrafo Suetónio. As novas propostas urbaníscas do Princeps transformam-se em modelos para todas as novas cidades e capitais de colónias e vamos assistir à sua marmorização.

Mapa das pedreiras da Lusitânia, a partir de:
Mármoles de Lusitania.
Fundación de Estudos Romanos
Museo de Arte Romano, Mérida
Comissárias da exposição: Arianna Fusco
Irene Mañas Romero

De todos os recursos naturais da Província, eram sem dúvida os seus metalla — ou seja, as suas pedreiras de mármore e, sobretudo, as suas minas de metais preciosos —, os mais valiosos.

Bloco de mármore branco, Herdade da Vigária, Vila Viçosa. Século I.​
Neste bloco está representada uma divindade aquática reclinada.​
Fotografia a partir de «Portugal Romano – Exploração dos Recursos Naturais». 1997. Museu Nacional de Arqueologia​

No Alentejo conhecem-se pedreiras romanas de mármores coloridos: em Trigaches (São Brissos) no território de Pax Iulia (mármores cinzentos e cinzentos com veios) e em Viana do Alentejo no território de Ebora com os seus mármores de cores verdes, também com veios.

Mão feminina segurando globo cósmico. Possivelmente da Musa Urânia (?)​
Século III​. Quinta das Longas, Elvas​
MNA Nº Inv. 2006.355.6​
José Pessoa Localização: DDF/DGPC

“Quase toda a Hispânia abunda em minas de chumbo, ferro, cobre, prata, ouro, a Citerior também em minas de moscovite, a Bética também em cinábrio. Há também pedreiras de mármore”.

Plínio, História Natural 3.3.30

     “Mas a própria Turdetânia é admiravelmente afortunada: como produz de tudo e em grande quantidade, duplica estas potencialidades com a exportação. De facto, o excedente dos seus produtos é facilmente vendido, graças à dimensão da sua frota comercial. Proporcionam-no os rios e os estuários que, como disse, são comparáveis aos rios e igualmente navegáveis desde o mar até às cidades no interior, não só para barcos pequenos, mas também para grandes.”

     Geografia, 3.2.4
Estrabão (c. 64 a. C. – c. 23 d. C.)

Sabe-se que há minas romanas de prata e, sobretudo, de cobre que foram exploradas no Alentejo português e no Algarve, no eixo ocidental da Faixa Piritosa do Sudoeste, sendo as minas de cobre e de prata de Vipasca (Aljustrel, 37 km a sudoeste de Beja) as mais importantes.

Activas desde os últimos anos do século i a. C. até ao século v d. C., se bem que com menor intensidade desde o século III d. C., o volume das escórias levou recentemente à conclusão que Aljustrel seria o principal produtor de cobre da Faixa Piritosa Ibérica na época romana. As minas de São Domingos, situadas a 18 km a este de Myrtilis (Mértola), produziam grandes quantidades de prata, mas pertenciam à província da Baetica, se aceitarmos que o rio Guadiana servia de fronteira entre as duas províncias.

Graças à descoberta de duas tábuas de bronze com regulamentos sobre a exploração das minas de Vipasca — a lex metalli Vipascensis (fig. 5) e a lex metallis dicta (cat. 109)— conhecemos vários detalhes importantes sobre a organização das minas e da comunidade mineira.

Estas minas não pertenciam a indivíduos privados nem a nenhuma cidade da Província, mas ao Estado romano (ao fiscus). O procurator metallorum, liberto imperial, celebrou contratos de arrendamento com indivíduos ou sociedades de investidores (societates) para exploração das jazidas de cobre e de prata (putei aerarii e argentarii) como meio de produção de cada puteus pertencente ao Estado.

Tábua de Vipasca II
Aljustrel, Beja
Fotografia a partir de: VI. A Economia e as Formas de Produção – LUSITANIA ROMANA

A riqueza piscícola do Atlântico, aliada às favoráveis condições climatéricas, permitia a exploração conjunta do pescado e do sal marinho. Em unidades especializadas, cetariae, fabricavam-se condimentos à base de peixe e sal, nos estuários do Sado e do Tejo e nas costas do Algarve.

Estes produtos, transportados em ânforas, eram depois distribuídos na província e exportados para outras regiões do Império.

No território actualmente português são conhecidas inúmeras unidades fabris de conserva de peixe e de produção de garum, a exemplo de Lisboa, Setúbal, Troia, Ilha do Pessegueiro e muitas do Algarve.

São inúmeras as instalações designadas cetariae para a salga de peixe (salsamenta) e produção de conservas de peixe (garum, muria, liquamen, hallec).

Lembraremos os tunídeos eram muito apanhados nas nossas costas.

A pesca da sardinha está atestada em Troia.

Fábricas de salga de peixe. Troia, Grândola.

´Indústrias de salga de peixe. Mapa a partir de:  EDMONSON, OS RECURSOS ECONÓMICOS E AS FORMAS DE PRODUÇÃO, «Lusitânia Romana. Origem de dois povos / Lusitania Romana. Origen de dos pueblos», 2016.

Texto: Filomena Barata

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