sábado, 21 de novembro de 2015

Religiões Mistéricas da Antiguidade IV, Filomena Barata

      EDIÇÃO 17 - NOVEMBRO 2013                                                                                                                                                          INÍCIO                SOBRE               CONTACTOS                     

.

É através de Lucius Apuleius (Apuleio), nascido na colónia de Madaura, (actual Argélia) cerca de 125 d.C., mas descendente de uma abastada e influente família de Itália, e que viveu após os seus primeiros estudos de gramática e retórica em Cartago, onde se iniciou no estudo da poesia, geometria, música e filosofia que acabou por concluir e Atenas, que conhece os muitos dos “Cultos Mistéricos” da Antiguidade Greco-Latina.
Já em Cartago, Apuleio se interessara pelos ritos esotéricos, designadamente pelos mistérios de Esculápio de que já aqui falámos em crónica anterior e é, em Atenas, que toma contacto com os mistérios eleusinos.
São suas estas palavras: «Na Grécia fiz parte de iniciações na maior parte dos cultos mistéricos. Conservei ainda, com grande carinho, certos símbolos e recordações destes cultos, que me foram entregues por sacerdotes. Não estou dizendo nada insólito, nem desconhecido». (APULEIO, Apologia, LV, 8)



Gema com representação de Ísis segurando "sistrum" (instrumento musical) e "situla".

Calcedónia, Século II d.C., na Biblioteca Nacional (Lisboa).

Fotografia e comentário: Graça Cravinho



«Pois bem, eu também, como já disse, conheci, por meu amor à verdade e minha piedade aos deuses, cultos de toda classe, ritos numerosos e cerimônias variadas. E não estou inventando esta explicação para acomodar-me às circunstâncias [...] ». (APULEIO, Apologia, LV, 9-10).

Também, como já mencionámos, e de acordo com Burket, a expressão “religiões de mistérios” refere-se, normalmente, ao culto de Ísis, Mater Magna ou particularmente Mitra. De Dioniso/Baco, e, igualmente, ao culto de Elêusis, representantes dos “mistérios” propriamente ditos.

Pressupõe-se que as religiões mistéricas tinham uma espiritualidade mais elevada, transcendendo assim a religião oficial, sendo consideradas religiões de salvação.

Os rituais dos cultos de mistérios acabou por ser tão bem elaborado quanto os ritos dos cultos oficiais. Na sua maioria os cultos mistéricos incluíam danças, músicas, apresentações cénicas e também sacrifícios em honra das divindades.

A iniciação propriamente dita era o encontro individual entre o devoto e sua divindade, mais especificamente através da revelação ritual da verdade desta divindade. Sabe-se que o iniciado ou neófito passava por algumas representações das provações enfrentadas pela divindade (ou pelo herói) no mito, que o conduziam à descida aos infernos, e à revelação do segredo, do “mistério”, para então seguir-se o retorno do mundo inferior, que fecharia o ciclo do ritual de iniciação.

Na Apologia (LX, 9), Apuleio assume-se iniciado nos mistérios de Líber, uma das denominações utilizadas pelos romanos para o deus Baco e, no No Livro XI da Metamorfoses, o autor faz uma pormenorizada descrição de um ritual de iniciação aos mistérios de Ísis que faz admitir que conhecia esse o culto.

É pois, ainda no ciclo de S. Martinho e da prova do vinho novo que retomaremos os cultos dedicados a Baco, também na sequência da crónica anterior, pelo que me socorrerei novamente de uma obra que mantenho entre mãos : "As Bacantes", essa tragédia grega do dramaturgo Eurípedes, de Salamina, mas que passou a maior parte de sua vida em Atenas.

Ter-se-á estreado já após a sua morte, no Teatro de Dioniso, em 405 a.C., como parte de uma tetralogia e que foi, provavelmente, dirigida pelo filho ou sobrinho do próprio Eurípedes.
A tragédia baseia-se na história mitológica do rei Penteu, neto e sucessor de Cadmo ao trono de Tebas, e de sua mãe, Agave, e da punição dos dois pelo deus Dioníso, primo de Penteu, por se terem recusado a venerá-lo e pelo injusto descrédito em que pairava o nome de sua mãe, Sêmele.

Esta tragédia, escrita provavelmente no ano 406 a.C e muito apreciada na Antiguidade, gira em torno do deus mitológico Dioníso e sua chegada a Tebas, bem como a sua vingança por ali ter sido questionada a sua divindade.

As Ménades, também conhecidas como Bacantes, Tíades ou Bassáridas, eram pois mulheres de Tebas seguidoras e adoradoras fervorosas do culto de Dioníso, que, como vimos na crónica anterior, era essa divindade do vinho, das festas, do lazer, do prazer, filho de Júpiter (deus do dia) com a mortal Sêmele e que era também considerado, entre os Romanos, como um amante da paz e promotor da civilização.

Podemos, portanto, dizer que os cultos de Dioníso se inscrevem, como vimos na crónica anterior, nos cultos mistéricos que se tornara famosos na Antiguidade Ocidental, já que também aqui «a iniciação e a participação nos cultos e rituais de mistérios garantiam aos seus iniciados e neófitos, a partir da experiência do µυστικός (mystikós), uma relação mais estreita com a divindade e o benefício de um destino especial após a sua morte», como muito bem refere W. BURKERT em «Antigos Cultos de Mistério».

De acordo com a mitologia romana e também como vimos, atribui-se a Baco a forma de extrair o sumo da uva e produzir, desse modo, o vinho.
Ao que consta na Mitologia, invejosa do feito, a deusa Juno (Hera no panteão grego) transforma Baco num louco, vagueando pelo mundo, até que, ao passar pela Frigia, terá sido curado e instruído nos rituais religiosos por Cibele, a “Deusa Mãe” que simbolizava a fertilidade da natureza.

Parece ter sido inseridas nestas festividades dedicadas a Dioníso que se realizaram as primeiras representações teatrais.

Dionísio, esse deus boémio, apelava ao movimento, à alegria desenfreada, à paixão dos seus seguidores, os quais, guiados por sacerdotisas, organizavam festas ao ar-livre com danças, vinho, de molde a instaurar o delírio anárquico e criador.Na Apologia (LX, 9), Apuleio assume-se iniciado nos mistérios de Líber, uma das denominações utilizadas pelos romanos para o deus Baco e, no No Livro XI da Metamorfoses, o autor faz uma pormenorizada descrição de um ritual de iniciação aos mistérios de Ísis que faz admitir que conhecia esse o culto.

É pois, ainda no ciclo de S. Martinho e da prova do vinho novo que retomaremos os cultos dedicados a Baco, também na sequência da crónica anterior, pelo que me socorrerei novamente de uma obra que mantenho entre mãos : "As Bacantes", essa tragédia grega do dramaturgo Eurípedes, de Salamina, mas que passou a maior parte de sua vida em Atenas.

Ter-se-á estreado já após a sua morte, no Teatro de Dioniso, em 405 a.C., como parte de uma tetralogia e que foi, provavelmente, dirigida pelo filho ou sobrinho do próprio Eurípedes.
A tragédia baseia-se na história mitológica do rei Penteu, neto e sucessor de Cadmo ao trono de Tebas, e de sua mãe, Agave, e da punição dos dois pelo deus Dioníso, primo de Penteu, por se terem recusado a venerá-lo e pelo injusto descrédito em que pairava o nome de sua mãe, Sêmele.

Esta tragédia, escrita provavelmente no ano 406 a.C e muito apreciada na Antiguidade, gira em torno do deus mitológico Dioníso e sua chegada a Tebas, bem como a sua vingança por ali ter sido questionada a sua divindade.

As Ménades, também conhecidas como Bacantes, Tíades ou Bassáridas, eram pois mulheres de Tebas seguidoras e adoradoras fervorosas do culto de Dioníso, que, como vimos na crónica anterior, era essa divindade do vinho, das festas, do lazer, do prazer, filho de Júpiter (deus do dia) com a mortal Sêmele e que era também considerado, entre os Romanos, como um amante da paz e promotor da civilização.

Podemos, portanto, dizer que os cultos de Dioníso se inscrevem, como vimos na crónica anterior, nos cultos mistéricos que se tornara famosos na Antiguidade Ocidental, já que também aqui «a iniciação e a participação nos cultos e rituais de mistérios garantiam aos seus iniciados e neófitos, a partir da experiência do µυστικός (mystikós), uma relação mais estreita com a divindade e o benefício de um destino especial após a sua morte», como muito bem refere W. BURKERT em «Antigos Cultos de Mistério».

De acordo com a mitologia romana e também como vimos, atribui-se a Baco a forma de extrair o sumo da uva e produzir, desse modo, o vinho.
Ao que consta na Mitologia, invejosa do feito, a deusa Juno (Hera no panteão grego) transforma Baco num louco, vagueando pelo mundo, até que, ao passar pela Frigia, terá sido curado e instruído nos rituais religiosos por Cibele, a “Deusa Mãe” que simbolizava a fertilidade da natureza.

Parece ter sido inseridas nestas festividades dedicadas a Dioníso que se realizaram as primeiras representações teatrais.

Dionísio, esse deus boémio, apelava ao movimento, à alegria desenfreada, à paixão dos seus seguidores, os quais, guiados por sacerdotisas, organizavam festas ao ar-livre com danças, vinho, de molde a instaurar o delírio anárquico e criador.

Entre as manifestações da celebração, com cantos e acompanhamento musical, a população aderia aos prazeres hedonistas, defendendo-se que dessas representações, entre coros, terão nascido as comédias e as tragédias.

As festividades, de natureza ritual, em homenagem ao deus Baco, conhecidas por bacanais eram nocturnas, secretas e frequentadas exclusivamente por mulheres, realizavam-se durante três dias no ano, como antes vimos, provocavam nelas um estado de êxtase absoluto, porque se entregavam à desmedida violência, derramamento de sangue, sexo, embriaguez e autoflagelação, motivo pelo que acabaram por ser proibidas pelo Senado romano, em 186 a.C, embora tenham prevalecido.

As Ménades ou Bacantes apresentavam-se nuas ou vestidas com véus ou peles e, em grupo de nove, dançavam coroadas de grinaldas de hera e na mão levavam um tirso ou bastão envolto em ramos de videira, por vezes um cântaro, ou então tocavam um instrumento como uma flauta ou um tambolim, vagueando, como referimos na crónica anterior, pelas montanhas e campinas, entregando-se aos sátiros que também integravam o cortejo de Dioniso.

Eram, assim, acompanhadas dos sátiros embalados pelos sons dos tamborins dos coribantes, formando uma espécie de trupe que acompanhava o deus do vinho nas suas aventuras.

Por onde passavam actuavam como chamariz na conversão de outras mulheres atraindo-as para as festividades e a licenciosidade. Evidentemente que o comportamento livre e desregrado delas causava apreensão, senão pânico nos lugarejos e cidades onde o cortejo báquico passava. Quando assaltadas por um furor qualquer, não tinham limites ao descarregar a sua cólera. O maior divertimento das Ménades ou Bacantes era submeter os homens ao sofrimento, despedaçando-os antes de comê-los enquanto estavam em transe. Por isso, obrigavam-se a procurar refúgio no alto das montanhas, onde podiam exercer sua estranha liturgia sem a presença de olhares de censura ou reprovação.

As Ménades fazem parte do mito de Orfeu, que se recusava a olhar para outras mulheres após a morte de sua amada Eurídice. Furiosas por terem sido desprezadas, as Ménades acabaram por o atacar, atirando dardos e acabaram por matá-lo. Ao que reza a mitologia, depois terão despedaçado o seu corpo e atiraram a sua cabeça cortada ao rio Hebro, que flutuava cantando: "Eurídice! Eurídice!"

Terão sido as nove Musas as responsáveis por reunir os seus pedaços que foram enterrados no Monte Olimpo.

Pela sua crueldade, às Ménades não foi concedida a misericórdia da morte, motivo pelo que quando bateram os pés na terra em triunfo, sentiram-nos entranhar-se na terra. Quanto mais tentavam tirá-los, mais profundamente eles se enterravam, pelo que se transformaram em silenciosos carvalhos. E assim permaneceram castigadas e fustigadas pelos ventos furiosos.

Como dissemos, o culto primitivo a Dionísio era exclusivamente feito por mulheres e somente para mulheres.

Introduzido em Roma cerca de 200 a.C., a partir da cultura grega do sul da Itália ou através da Etrúria influenciado pela Grécia, os festivais «bacanais» eram realizados em segredo no bosque de Simila, perto da Aventino.
Posteriormente, os rituais foram sendo abertos à participação masculina, mas denunciado por um jovem que se recusava a participar das celebrações, o Senado, temendo que se originasse uma conspiração política, proibiu as festas prometendo recompensas a quem desse informações sobre os rituais.
Apesar da severa punição infligida àqueles que violassem o decreto, os bacanais continuaram a ser realizados no sul da Itália, podendo considerar-se, de algum modo, que Carnaval tem origem em antigos festivais, designadamente os Bacchanalia, Saturnália e Lupercalia.

Na obra intitulada «Bacantes» de Eurípedes, onde Dionísio enlouquece as mulheres como vingança pela morte da sua mãe ultrajada, Sêmele, vemos Penteu, também humano, enfrentar a divindade, travando-se como que uma luta entre a razão e a paixão, acabando por sair vitoriosa a divindade, através do uso da astúcia.

Nesta obra são nomeadas dezoito Ménades:

Acrete - o vinho sem mistura
Arpe - a flor do vinho
Bruisa - a florescente
Cálice - a taça
Calícore - a formosa dança
Egle - o esplendor
Ereuto - a corada
Enante - a foice
Estesícore - a bailarina
Eupétale - as belas pétalas
Ione - a harpa
Licaste - a espinhosa
Mete - a embriaguez
Oquínoe - a mente veloz
Prótoe - a corredora
Rode - a rosada
Silene - a lunar
Trígie - a vindimadora

O mito das Ménades ou Bacantes coloca-nos perante a apreensão do ser humano no que ele tem de selvagem, perigoso e sombrio.
Consideradas desregradas e devoradoras dos homens, essa característica das Bacantes tem um simbolismo muito marcante, pois o mito leva o homem enfrentar-se e a reconhecer sua emocionalidade e a sua irracionalidade que conduz à violência, à agressividade e à destruição.

Eurípedes inicia assim com esta obra um novo género na literatura: a fábula, cuja característica marcante é a lição de moral que impregna o texto, pois neste caso concreto, as Bacantes põem em causa a ordem vigente em Tebas, apelando ao mundo fora da organização da Acrópole e, por isso, se desenrolam também os festivais nas montanhas.

Talvez por isso Penteu, embora fosse um simples mortal, sobrevive, pois é ele o representante da Razão, da Ordem, nas normas sociais vigentes, em constante luta contra a sensação e a emoção que embora possam conduzir à destruição, também são criadoras. 

Ménade bailando. Cópia romana de um relevo grego de finais do século V a.C.
M. Prado, Sección Arqueología Cdl Madrid

E, não tarda, Dezembro está próximo e já se vai avizinhando o Solstício (do latim sol + sistere, que não se mexe) esse momento em que o Sol, durante seu movimento aparente na esfera celeste, atinge a maior declinação em latitude, medida a partir da linha do Equador.

Por essa altura falaremos da relação que os homens, desde remotas alturas, até pela sua relação íntima com a Natureza e com as estrelas, designadamente o Sol que rege a Vida e o Tempo, tiveram com vários cultos dedicados ao Astro Rei.

E será altura de voltar a falar desse festival em honra de Saturno, Saturnália era um, uma divindade de origem grega cujo culto foi importado para Roma, que ocorria no mês de Dezembro, também em correlação com o solstício de inverno (era celebrada no dia 17 de Dezembro, mas ao longo dos tempos foi sendo estendida a uma semana completa, terminando a 23 de Dezembro).

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

O Templo de Vénus (?) em Miróbriga


Uma construção do Forum de Miróbriga, de planta absidial, tem sido atribuída ao culto de Vénus (1) baseando-se na arquitectura do edifício, comum a outros templos dedicados à mesma divindade e nos dados arqueológicos[2] conhecidos.
Se, por um lado, a sua planta tem levantado algumas dúvidas, porque os templos basilicais são pouco usuais em edifícios religiosos, na Lusitânia [3], que aqui apresentam maioritariamente um aspecto rectangular (JIMÉNEZ, 19871: 53), sendo mais comum o seu uso em edifícios civis[4], é um facto que em Itália esta tipologia foi muito utilizada a partir dos começos da época imperial (GROS, 1996: 140).
O primeiro exemplar conhecido de “templo de abside” é exactamente dedicado a Venus Genetrix e foi construído em posição dominante do Forum Iulium para homenagear a origem mítica dos Iulii [5] (GROS, 1996: 140).
Data de 2 a. C. a inauguração do templo de Mars Ultor que também apresenta uma planta da mesma tipologia, ocupando a abside um lugar na cella análogo ao templo de Venus Genetrix (GROS, 1996: 142).
No entanto, o aspecto cenográfico do templo dedicado a Venus Genetrix, construído sobre um podium de 5m, poderá, a uma escala diferente, lembrar a localização sobranceira que no forum assume o templo absidial de Miróbriga. A escadaria pela qual se lhe acederia, contribuía para dar ao edifício um aspecto ainda mais imponente.
O facto de o culto a Vénus estar atestado em Miróbriga, quer arqueologicamente, através de fragmentos de uma estátua onde a deusa Vénus Capitolina é representada com a ânfora, quer epigraficamente[6], contribuiu para que a associação se fizesse.

Fragmento de estátua de Vénus (ânfora) proveniente de Miróbriga .
Museu Municipal de Santiago do Cacém. 

De facto, em Miróbriga existem duas inscrições dedicadas a Vénus: uma, cujo dedicante é Caius Iulius Rufinus, magister, indígena romanizado que adoptando o gentilício e um praenomen comum da gens Iulia , adoptou também o culto privilegiado da mesma gens (IRCP 146; JORGE DE ALARCÃO, 1985: 110) e que poderá ter desempenhado funções religiosas [7]; e outra, consagrada a Vénus Vencedora Augusta em honra de Lucília Lepidina (JOSÉ D'ENCARNAÇÃO, 1984: 224) [8] .
A equipa americana, atendendo à planta do edifício, caracterizou-o como assemelhando-se a uma «basílica cristã» (BIERS et alii, 1988: 15).
O acesso a este templo fazia-se através de uma escadaria escavada na rocha que o une à praça pública, como anteriormente referimos. Esta construção, edificada relativamente perto do templo centralizado, é também construída em opus caementicium . O seu pavimento é revestido com opus signinum , ou formigão, que assentava, por sua vez, numa obra com características semelhantes ao statumen utilizado no assentamento dos pavimentos ou estradas. Não há vestígios de terem sido aplicadas sobre o mesmo quaisquer placas calcárias ou marmóreas. No centro da abside é visível uma base de altar.
O templo era dividido em três naves, medindo as laterais cerca de 4m. A largura total do edifício é de 15m e o comprimento é de cerca de 10m.

[1] Segundo Vitrúvio os templos de Vénus deveriam situar-se fora das muralhas para que os jovens e as mães de família não se habituem às paixões de Vénus (De Architectura I, XII, 11).
[2] «por ali perto apareceram fragmentos de uma estátua de mármore branco (parte da perna e do pé esquerdo), bem como uma ânfora e a roupagem sobre ela colocada» (ALMEIDA, 1988: 27).
[3] No entanto o templo de Milreu, de cronologia tardia - século IV d. C. -, apresenta uma planta absidial (HAUSCHILD, 1989-90: 74 e 1997: 410). Em Clunia existe também um templo porticado cujo podium, na sua parte posterior, tem uma planta absidial (PALOL, 1989-90: 45 e 48).
[4] Sobre este tema ver BALTY, 1991: 179. No entanto, em Clunia existe um edifício de planta absidial, que P. Palol interpreta como capitolium (PALOL, 1987: 157).
Em Córdova foi construído, em finais do século III-inícios do século IV, um complexo monumental, onde um conjunto de construções de planta absidial, muito vinculada à arquitectura imperial (BALTY, 1991: 605), se articula com um pórtico (HIDALGO PRIETO, 1994: 207-208; HIDALGO, et alii, 1994: 51). Trata-se de edifícios administrativos, nomeadamente, de basílicas ou cúrias (ver BALTY, 1991: 402 e 404).
[5] Segundo Suetónio, Júlio César, no discurso fúnebre de sua tia Júlia, terá afirmado «é de Vénus que descendem os Júlios, que contituem a nossa família» (SUETÓNIO, ed. 1978: 23).
[6] Não obstante, também existe uma dedicatória homenageando Marte (ENCARNAÇÃO, 1984: 221), sem que alguma vez se tenha associado esta inscrição ao templo absidiado.
[7] O culto a Vénus sem um dos atributos habituais, Augusta, Victix ou Domina, está atestado pela primeira vez na Península (ENCARNAÇÃO, 1984: 222).
[8] Dedicada por uma mulher, Flavia Títia (ENCARNAÇÃO, op. cit: 223), da gens Flavia, que Jorge de Alarcão admite remontar à municipalização de Miróbriga (ALARCÃO, 1985: 110).