domingo, 14 de fevereiro de 2021

MITOS NOS MUSEUS, NOS PALÁCIOS, NAS RUAS E NOS JARDINS. Revista Heródoto



                                            

MITOS NOS MUSEUS, NOS PALÁCIOS, NOS JARDINS E NAS RUAS 
(Revista Heródoto)


Maria Filomena Barata


Os grandes mitos da Grécia antiga estão, directa ou indirectamente, ainda presentes na nossa Cultura. De tal forma que os temas mitológicos e as alegorias são uma constante nos elementos decorativos ou de mobiliário de palácios, monumentos e jardins portugueses. Muitos espaços e coleções dos nossos museus contemplam esta temáticas, ao longo dos séculos, e nem os ambientes literários ou fílmicos eles estão ausentes, já para não falar das referências científicas, astrológicas ou mesmo da marcação do Tempo.

Tentaremos, assim, abordar a Mitologia «entendida como história de personagens sobrenaturais, cercados de simbologia e venerados sob a forma de deuses, semideuses e heróis, que regiam as forças da Natureza e do Cosmos, é contada através de um conjunto de fábulas que explicam a origem dos mitos, das divindades mitológicas, que tinham nas mãos o destino dos homens e regiam o mundo.
Mito, do grego, significa narrar, contar.
No sentido figurado significa coisa inacreditável. Mas significa ainda a personagem divinizada. Logia, do grego lógos, significa estudo, palavra, ciência.
Mitologia poderá ser, assim, encarada como um conjunto maior ou menor de mitos, ou como o estudo desses mitos».

Manuel Rodrigues

Quer para os Gregos, quer para os Romanos, os Mitos são parte integrante da sua crença.
Uma multidão de deuses, semideuses e heróis explicam a origem da vida, o Cosmos, as forças da Natureza e os fenómenos naturais, as estações do ano, a morte, a fertilidade, a guerra, a paz.

Entre muitos deuses da Natureza, pois, a seu modo, todos o são ou a tentam explicar, temos o mundo das divindades da Floresta, dos Faunos, dos Sátiros, das Ninfas, de Dioniso/Baco, das Bacantes, de Pomona, e todas as outras deidades dos bosques, das montanhas, dos mares, das propriedades agrícolas e dos ciclos do ano.

Assim, este projeto da  Associação Clenardus: Promoção e Ensino da Cultura e Línguas ClássicasGrupo de Cultura, tem como objectivo principal desenvolver um conjunto de actividades tendo como ponto de partida a mitologia clássica e visa promover:

·         A aprendizagem dos Mitos Clássicos Universais;
·         O gosto pela leitura das obras clássicas;
·         Acções de multidisciplinaridade (por exemplo cruzar a mitologia e as artes);
·         Acções com investigadores convidados de Cultura Clássica;
·         Realização de Encontros, Acções de Formação e visitas temáticas 
          relacionadas com a Mitologia.

A estratégia para o desenvolvimento do projecto passa por promover o
estudo dos Mitos, por organizar visitas comentadas a espaços onde a
Mitologia esteja presente, bem como organizar, gradualmente, um banco de dados desses mesmos lugares.





O Projecto iniciou-se, em 2018,  com um conjunto de acções realizadas no Palácio Nacional da Ajuda, no Museu Nacional dos Coches; no Museu Nacional de Arqueologia e no Museu Municipal de Loures.


Leda e o Cisne
Palácio Nacional da Ajuda


Gradualmente estendeu-se a outros locais, designadamente através da participação no «Festival Romano», actividade promovida pelo Museu de Odrinhas; no Festival Romano de Alter do Chão; em várias iniciativas promovidas no Palácio Nacional de Queluz; no Colégio Militar - Palácio de Mesquitela; em acções dinamizadas pela Associação para a Defesa do Património Cultural da Região de Beja e da Biblioteca de Beja, no Museu da Fundação da Cidade Romana da Ammaia, Marvão, no Museu Municipal do Fundão e no Museu Municipal de Serpa, entre outras.



Foram ainda realizadas várias conferências e acções de formação sobre o tema, a exemplo da que decorreu no Liceu Camões, promovidas pela Associação CLENARDVS e Centro de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras de Lisboa.


Em paralelo, foram prestados múltiplos contributos na execução de várias exposições virtuais para a Google Arts and Culture, com a colaboração da signatária, a exemplo do «Mosaico das Musas»;  «O Longo Caminho de Baco» e de «Uma longa Viagem: os Coches e os seus Mitos», realizada em torno dos três majestosos Coches da Embaixada de D. João V ao Papa Clemente XI (1716) – o Coche dos Oceanos, o Coche da Coroação de Lisboa, e o Coche do Embaixador -, que podem ser admirados no MNCoches. 

Os Coches da Embaixada, construídos em Roma no mais perfeito estilo barroco, apresentam diversos elementos simbólicos e alegorias à Pátria que se mesclam com a Mitologia clássica, sendo possível, através destas Exposições, conhecer episódios curiosos e inéditos da História de Portugal.


A exposição o «Longo Caminho de Baco» organizou-se me volta do Coche das Infantas, uma viatura de aparato, datada de meados do século XVIII, utilizada pelas quatro infantas filhas de D. José I: D. Maria Francisca, futura rainha D. Maria I, D. Maria Ana Francisca Josefa, D. Maria Francisca Doroteia e D. Maria Francisca Benedita.

Ricamente decorado com motivos rocaille, nele estão representadas muitas figuras mitológicas, a exemplo de Vénus e de Baco.







Também se efectuaram várias acções de formação e visitas orientadas a jardins de Museus e Palácios portugueses, a exemplo da Quinta da Regaleira; do Palácio de Queluz, e outros, onde estão presentes muitos dos deuses do Olimpo e divindades da Natureza: os Faunos e os Sátiros, as Estações do Ano, as ninfas em todas as suas feições, Deméter/Ceres, Baco, Vertumno e Pomona,  protegendo os jardins e as árvores de fruto, Zéfiro e Flora e todas as outras deidades dos bosques, das montanhas como Pã e Silvano.



Palácio Nacional da Ajuda 


Digital (DIG)
Instituição / Proprietário:Palácio Nacional da Ajuda
Categoria: Pintura
Denominação / Título: "O Conselho dos Deuses", Sala D. João VI
Autoria / Produção: Arcângelo Foschini
Fotógrafo: José Paulo Ruas, 2014
Copyright:© DGPC



O Consílio dos Deuses no Olimpo.
Óleo sobre tela. 1820 d.C. Sala dos Embaixadores. Palácio Nacional de Queluz.
Aqui

MatrizNet (dgpc.pt)


Concílio dos Deuses
André Gonçalves, André (n.1685; f.1762) atribuído a
Cirillo Wolkmar Machado
 Museu de Évora

Não podemos aqui deixar de invocar o grande poeta Luís de Camões (1524-1580), autor da grande epopeia Os Lusíadas. Tratando-se de uma das obras mais importantes da literatura portuguesa e expoente do Classicismo, onde se mesclam  factos da História Portuguesa e intrigas dos deuses grego-romanos, que procuram ajudar ou atrapalhar o navegador português. Camões inicia a sua epopeia com o Consílio dos Deuses. Este tema do "Consílio dos Deuses" será representado amiúde na pintura ou em tapeçarias, desde o século XVII.


"Quando os Deuses no Olimpo luminoso,
Onde o governo está da humana gente,
Se ajuntam em consílio glorioso
Sobre as cousas futuras do Oriente.
Pisando o cristalino Céu formoso,
Vêm pela Via Láctea juntamente,
Convocados, da parte do Tonante,
Pelo neto gentil do velho Atlante.
21
Deixam dos sete Céus o regimento,
Que do poder mais alto lhe foi dado,
Alto poder, que só co pensamento
Governa o Céu, a Terra, e o Mar irado.
Ali se acharam juntos num momento
Os que habitam o Arcturo congelado,
E os que o Austro tem, e as partes onde
A Aurora nasce e o claro Sol se esconde.
22
Estava o Padre ali, sublime e dino,
Que vibra os feros raios de Vulcano,
Num assento de estrelas cristalino,
Com gesto alto, severo e soberano.
Do rosto respirava um ar divino,
Que divino tornara um corpo humano;
Com uma coroa e ceptro rutilante,
De outra pedra mais clara que diamante.
23
Em luzentes assentos, marchetados
De ouro e de perlas, mais abaixo estavam
Os outros Deuses todos assentados,
Como a Razão e a Ordem concertavam:
(Precedem os antigos mais honrados;
Mais abaixo os menores se assentavam);
Quando Júpiter alto, assi dizendo,
Cum tom de voz começa, grave e horrendo:
24
"Eternos moradores do luzente
Estelífero Pólo, e claro Assento,
Se do grande valor da forte gente
De Luso não perdeis o pensamento,
Deveis de ter sabido claramente,
Como é dos Fados grandes certo intento,
Que por ela se esqueçam os humanos
De Assírios, Persas, Gregos e Romanos.
25
"Já lhe foi (bem o vistes) concedido,
Cum poder tão singelo e tão pequeno,
Tomar ao Mouro forte e guarnecido
Toda a terra, que rega o Tejo ameno:
Pois contra o Castelhano tão temido,
Sempre alcançou favor do Céu sereno.
Assi que sempre, enfim, com fama e glória,
Teve os troféus pendentes da vitória.
26
"Deixo, Deuses, atrás a fama antiga,
Que co a gente de Rómulo alcançaram,
Quando com Viriato, na inimiga
Guerra Romana, tanto se afamaram;
Também deixo a memória que os obriga
A grande nome, quando alevantaram
Um por seu capitão, que, peregrino,
Fingiu na cerva espírito divino.
27
"Agora vedes bem que, cometendo
O duvidoso mar num lenho leve,
Por vias nunca usadas, não temendo
De Áfrico e Noto a força, a mais se atreve:
Que, havendo tanto já que as partes vendo
Onde o dia é comprido e onde breve,
Inclinam seu propósito e perfia
A ver os berços onde nasce o dia.
28
Prometido lhe está do Fado eterno,
Cuja alta lei não pode ser quebrada,
Que tenham longos tempos o governo
Do mar, que vê do Sol a roxa entrada.
Nas águas têm passado o duro inverno;
A gente vem perdida e trabalhada.
Já parece bem feito que lhe seja
Mostrada a nova terra que deseja.
29
E porque, como vistes, têm passados
Na viagem tão ásperos perigos,
Tantos climas e céus experimentados,
Tanto furor de ventos inimigos,
Que sejam, determino, agasalhados
Nesta costa africana, como amigos.
E tendo guarnecida a lassa frota,
Tornarão a seguir sua longa rota.
30
Estas palavras Júpiter dizia,
Quando os Deuses por ordem respondendo,
Na sentença um do outro diferia,
Razões diversas dando e recebendo.
O padre Baco ali não consentia
No que Júpiter disse, conhecendo
Que esquecerão seus feitos no Oriente
Se lá passar a Lusitana gente.
31
Ouvido tinha aos Fados que viria
Uma gente fortíssima de Espanha,
Pelo mar alto, a qual sujeitaria
Da índia tudo quanto Dóris banha,
E com novas vitórias venceria
A fama antiga, ou sua ou fosse estranha.
Altamente lhe dói perder a glória,
De que Nisa celebra inda a memória.
32
Vê que já teve o Indo sojugado,
E nunca lhe tirou Fortuna, ou caso
Por vencedor da Índia ser cantado
De quantos bebem a água de Parnaso.
Teme agora que seja sepultado
Seu tão célebre nome em negro vaso
De água do esquecimento, se lá chegam
Os fortes Portugueses que navegam.
33
Sustentava contra ele Vénus bela,
Afeiçoada à gente Lusitana,
Por quantas qualidades via nela
Da antiga, tão amada sua, Romana;
Nos fortes corações, na grande estrela,
Que mostraram na terra Tingitana,
E na língua, na qual quando imagina,
Com pouca corrupção crê que é a Latina.

Canto I, Os Lusíadas
Edição Expresso.

Pintura mural "Neptuno é informado por Mercúrio da realização do conselho", Sala de D. João VI, tecto, poente/norte
Arcângelo Foschini
Fotógrafo:
José Paulo Ruas, 2014© DGPC
                                 Aqui


Verificamos, através das nossas visitas, que, quer na pintura parietal e azulejar ou na estatuária, em vários outros elementos decorativos e mesmo no mobiliário, desde o século XVIII, os deuses são uma contante e convivem com os humanos, nos mesmos espaços. 

Nos jardins, concentram-se muitos dos deuses protectores da Natureza e da Floresta: Faunos ou Sátiros; Flora e Fauna; Ninfas, Dioniso/Baco; Bacantes, Vertumno e Pomona, cuidando dos jardins e das árvores de fruto; Pã e de Silvano, esse deus de origem itálica que em si reúne a natureza animal e vegetal. as divindades da Natureza, e as Estações do Ano, entre tantos outros.


        

 

                              Vertumno e Pomona

Cheere, John (1709-1787)
Palácio Nacional de Queluz
Fotografia; Carlos Pombo. Aqui



Nas fontes de muitos jardins pontua Neptuno, o deus dos Mares, tão do nosso apreço, e o seu séquito, onde a intervenção de Tritão e de todas as outras entidades marinhas como as Nereidas, são bastante salientadas. 

Anfitrite, filha da ninfa Dóris e de Nereu, portanto uma nereida, esposa de Posídon e deusa dos mares, é também inúmeras vezes representada com o seu séquito marinho (Tritões e Nereidas) acompanhando o deus do mar.



D. Maria Francisca Benedita. Museu Nacional dos Coches. Segundo a tradição, este coche terá sido construído em Portugal a partir de um modelo estrangeiro, para ser utilizado pela Princesa D. Maria Francisca Benedita, por ocasião do seu casamento com o Príncipe D. José, seu sobrinho, em 1777 . 

Fotografia: Nuno Augusto.






















Jardins do Palácio de Belém. Erotes e golfinhos


O primordial Oceano, o grande Rio que rodeava a Terra, na Mitologia Clássica, era filho primogénito de Urano (Céu) e de Gaia (Terra), ou seja, o mais velho dos Titãs.  Era  como a personificação das águas correntes e de todas as fontes de água doce que existem no planeta Terra.

Tem, entre nós, representações desde a ocupação romana do território, salientando o fabuloso exemplar de Ossonoba, datável dos séculos II-III que parece indiciar a importância marítima da cidade, porto onde se cruzariam influências diversas do norte de África e do Oriente mediterrâneo.


O Mosaico do Oceano. Museu Municipal de Faro


Em épocas mais recentes da História, pós Renascimento, o Oceano e o Rio Tejo fazem-se representar, muitas vezes, com os atributos semelhantes ao de Posídon e as Nereidas são substituídas pelas Tágides, ou ninfas do Tejo, aludindo à obra camoniana.






Número de Inventário: 51840 DIG
Palácio Nacional da Ajuda

Pintura: "O Pai Oceano sentado sobre uma balêa, he acompanhado pelas suas filhas Nereidas", sala de D. João VI, tecto, topo Sul

Arcângelo Foschini
Descritores: pintura mural, tecto
Fotógrafo: José Paulo Ruas, 2014 Copyright:© DGPC Aqui


   

O Patrio Tejo distribuindo as grinaldas de flores pelas Tagidas", Pintura Mural, sala de D. João VI, tecto, Nascente/Sul

Arcângelo Foschini

Fotógrafo:
José Paulo Ruas, 2014© DGPC

 

MatrizPix (dgpc.pt)



O conjunto das divindades aquáticas são das mais recorrentes no território nacional, sob todas as suas formas, normalmente associadas a fontes, fontanários, embora também surjam noutros contextos, designadamente na pintura parietal, mas ainda em objectos decorativos.


Rio Tejo. Palácio do Marquês de Pombal. Fotografia Horácio Ramos



Fotografia Pedro Miguel.
Palácio Nacional de Queluz.

Queremos salientar a intervenção efectuada no século XIX no Palácio da Ajuda, um exemplo de como se leva ao expoente essa relação com as divindades do panteão clássico, quando o próprio rei, D. João VI, é representado a regressar a Portugal vindo do Brasil, no carro do deus dos Mares com todo o seu séquito



Alegoria do Feliz Regresso de D. João VI, Sala de D. João VI, parede poente

Palácio Nacional da Ajuda

Arcângelo Foschini, 1825. Fotografia José Paulo Ruas, 2014© DGPC


Também nas viaturas hipomóveis, sejam as Reais, da Nobreza ou mesmo as Clericais, nos seus painéis exteriores, se sente a presença da cultura clássica que já o grande poeta Camões havia consagrado na sua epopeia «Os Lusíadas». Nelas, como que cruzando o Tempo, se encontram Tritões, abrindo o Mundo à caminhada, onde nos acompanham todas as outras divindades.

Se algumas viaturas hipomóveis pudesse seleccionar como o expoente da consagração da cultura clássica seria o coche de D. Maria Francisca Benedicta, em exposição no antigo Picadeiro Real/Museu dos Coches, e o Coche das Infantas, no novo Museu dos Coches, bem como os Coches da Embaixada.

O Palácio do Marquês de Pombal, Oeiras, edificado entre 1720 e 1730, é um exemplo notável do património do século XVIII, projecto de Carlos Mardel, famoso arquiteto húngaro que teve papel privilegiado na reconstrução pombalina de Lisboa, aquando do terramoto de 1755, onde a presença clássica é bastante presente. 
Os Jardins do Palácio do Marquês de Pombal, planeados originalmente por Carlos Mardel são de influência francesa e inspirados nos do Palácio de Versailles e são de uma riqueza notável, no que respeita a elementos mitológicos, quer representados em azulejos, como em estatuária. Num desses painéis de azulejos sobressai a representação de Apolo e das Musas.

A presença da Abundância, no seu salão nobre, faz-nos lembrar outros lugares onde esta divindade alegórica, geralmente coroada de flores, segurando a cornucópia, garante a prosperidade da Casa ou da Viatura, a exemplo do Coche das Infantas de que falaremos.

Aqui, logo à entrada do Palácio Marquês de Pombal, embora não pertençam à sua construção original, deparamo-nos com duas estátuas colossais de Fauno e Polifemo, que nos introduz nos mitos da Natureza.



Fotografia a partir de Aqui

Também nas fachadas do Palácio pontuam outras divindades, como Juno/Hera, Atena/Minerva e Afrodite/Vénus.

As Estações do Ano, esse tema recorrente, ao longo dos séculos, desde Época Romana, também estão presentes no jardim do Palácio do Marquês de Pombal, bem como as divindades marinhas.

Lembramos que, na mitologia grega, as deusas Horas, filhas de Zeus e Témis, representavam as estações do ano  e personificavam a ordem do mundo e as horas do dia.
A palavra remete ao conceito de Tempo ou de “espaços de tempo” referentes às estações do ano. Posteriomente, com a subdivisão do tempo, a palavra foi assumindo outros sentidos.
Inicialmente eram referidas apenas três: Irene (paz), Dice (justiça) e Eunómia (disciplina). Mas existem mais nove Horas que são guardiãs do ciclo anual de crescimento da vegetação e das estações do ano. (Talo, Carpo, Auxo, Acme, Anatole, Dice, Diceia, uma deusa menor da Justiça, Eupória, Gimnásia).
Para alguns autores Clóris, deusa da primavera, correspondendo entre os Romanos à Flora, era também uma das Horas, esposa de Zéfiro (o vento da Primavera), protegendo as flores e presidindo a tudo que floresce.
As "Horae" eram também as guardiãs das portas do Olimpo, organizando a passagem das estrelas e participavam do cortejo de Afrodite e dos demais deuses e deusas relacionados ao trabalho agrícola e à passagem das estações como Perséfone. Eram responsáveis por guardar a ambrósia, alimento dos deuses e oferecê-lo aos humanos que merecessem a imortalidade e a divinização.
Por vezes foram associadas às Moiras que eram suas meias-irmãs. Cuidaram de Hera na sua infância e ajudaram no aperfeiçoamento de Pandora, tendo assistido ao nascimento de Hermes e Dioniso.
Gradualmente as Horas passaram a personificar a divisão do dia.
Quando passaram a personificar as horas do dia e da noite, foram consideradas filhas de Cronos - o Senhor do Tempo - e companheiras do Sol e da Lua, motivo pelo que a presença de Cronos de faz sentir até nos objectos de mobiliário e pessoais, com recorrência nos relógios.

Considerado o mais jovem da primeira geração de titãs, Cronos era a personificação do Tempo, associado à gadanha, um dos seus atributos. Era filho da Terra (Gaia, Geia) e do Céu (Urano/Saturno), que lhe deu inúmeros filhos, mantendo-os presos no Interior da Terra.

Na tradição Greco-Romana, Cronos, mutilou o seu pai Urano, atingindo-o com uma gadanha e cortando os seus testículos. Destronando o pai, Cronos torna-se o Rei dos Céus e o seu reinado (segunda geração divina) ficou conhecido como a “Idade do Ouro”, segundo o poeta Hesíodo.



Relógio de mesa (três mostradores)
Número de Inventário:16127 TC
Fotógrafia:
José Pessoa, 1996
Copyright:
© DGPC





A história deste relógio, identificado como Leroy 01, começa em 1867, quando o conde moscovita Nicolas Nostitz encomendou à famosa casa de relojoaria Le Roy & Fils, mais tarde L. Roy & Cie., um relógio com onze complicações, que veio a ser exposto na Exposição Universal de Paris de 1878. Com a sua morte, em 1897 António Carvalho Monteiro adquiriu o relógio, porém, mandou acrescentar-lhe mais complicações.
O relógio Leroy 01, actualmente em exposição no Museu do Tempo (Besançon, França), depois de adquirido, em 26 de Março de 1956, pelos habitantes da cidade, foi fabricado, entre Janeiro de 1897 e 1900, pelo relojoeiro Charles Piquet, da firma de Relógios de Precisão Le Roy, de Besançon (França).
A encomenda foi feita por António Augusto Carvalho Monteiro, de acordo com a sua idealização e minuciosas instruções.

Tampa gravada com ilustração mitológica encomendada por Carvalho Monteiro a Luigi Manini. Reverso
Fotografia: Museu do Tempo, Besançon
Comentário a partir de: Manuel J. Gandra
António Augusto Carvalho Monteiro
Imaginário e Legado



No Palácio Nacional da Ajuda deparamos como uma das mais belas representações de Cronos (Saturno).

Encontramos também, por diversas vezes, a representação de Cronos/Saturno, em colecções de Palácios e Museus.



Cronos devorando um dos filhos, enquanto Reia,segura uma das crianças no braço esquerdo.
Século XIX
PNQ 1884. Palácio Nacional da Ajuda


Cronos/Saturno, na mitologia romana, é também o deus grego da agricultura, das sementeiras e dos Grãos, parece ter sido o responsável por ter ensinado o cultivo da vinha aos habitantes itálicos.

"Só o grande Cronos de pensamentos tortuosos, destemido,
se dirigiu de imediato com estas palavras à sua mãe veneranda:
"Mãe, eu vou tomar a meu cargo executar
tal tarefa; não tenho medo de um pai que não deve pronunciar-se,
o nosso, pois foi ele quem primeiro se lançou em obras infames".
Hesíodo, Teogonia, Int. e Trad. Ana Elias Pinheiro e José Ribeiro Ferreira. Imprensa Nacional Casa da Moeda. 2014.

Hesíodo atribui-lhe a Idade de Ouro

"De ouro era a primeira geração de homens mortais
criada pelos imortais que habitam as mordas Olímpicas.
Eram do tempo de Cronos, quando ele reinava no céu;
como deuses viviam, com o coração liberto de cuidados,
longe e apartados de penas e misérias. Sem a presença da triste
velhice, sempre igualmente fortes de pés e de braços,
alegravam-se em festins, a recato de todos os males.
Morriam como se vencidos pelo sono. Todos os bens
tinham à disposição; para eles, a terra fértil produzia frutos
espontaneamente, muitos e copiosos; e eles contentes e tranquilos, partilhavam os trabalhos com alegrias infinitas".
Hesíodo, "Trabalhos e Dias", (trad. Ana Elias Pinheiro e José Ribeiro Ferreira) Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2014
Cronos devorará os próprios filhos, as suas criações, simbolizando o Tempo que se consome a si próprio.
O seu filho, Zeus-Júpiter, para fugir à fúria de Cronos, foi escondido numa gruta em Creta, sendo alimentado com mel e leite de cabra.
Zeus combaterá, por sua vez, o pai, e a partir a sua vitória encontraremos um mundo mais complexo de interação entre divindades, homens e semideuses.



Palácio Nacional da Ajuda

Da Antiguidade existem, em território nacional, vários exemplares da representação das Quatro Estações, enquanto alegorias do Tempo, e que salientamos os de Villa Romana do Rabaçal, de Conímbriga e de Pisões.

De época Clássica são também imensas as referências literárias às Quatro Estações, recordando o poeta Virgílio:

Era o primero a colher a rosa na Primavera e no Outono as frutas. E quando o Inverno frio fazia estalar de frio as rochas e parava com o gelo o curso das águas, ele já estava recortando as folhas do jacinto, maldizendo o atrazo do Verão e a demora dos céfiros
”.

Virgílio, As Geórgicas, IV (ed. Ruy Mayer, Livraria Sá da Costa, 1948.)

Para alguns autores Clóris, deusa da primavera, correspondendo entre os Romanos à Flora, era também uma das Horas, esposa de Zéfiro (o vento da Primavera), protegendo as flores e presidindo a tudo que floresce.

As Horae eram também as guardiãs das portas do Olimpo, organizando a passagem das estrelas e participavam do cortejo de Afrodite e dos demais deuses e deusas relacionados ao trabalho agrícola e à passagem das estações como Perséfone/Prosérpina. Eram responsáveis por guardar a ambrósia, alimento dos deuses e oferecê-lo aos humanos que merecessem a imortalidade e a divinização. Gradualmente as Horas passaram a personificar a divisão do dia.

Assim nos diz um texto de Claudiano (c. 370 - 404)

“Ó caríssimo pai da Primavera, que sempre reinas através dos meus prados com sopro folgazão e refrescas a estação com o teu contínuo hálito, observa a reunião das ninfas, a excelsa descendência do Tonante, pelos nossos campos dignando divertir-se (...) E o Zéfiro sacode as asas de um novo néctar impregnadas e fecunda as terras com um febril rocio. Para onde quer que voe segue-o rubor primaveril. Toda a terra rebenta em ervas, e a abóbada celeste descobre-se num sereno céu aberto. Pinta as rosas em sanguíneo esplendor, veste de negro os mirtilos e pinta as violetas com uma aprazível cor escura”

.
Claudiano, Rapto de Prosérpina


Já antes, Vírgílio (70 a. C. - 19 a. C) assim se referia :«É a primavera quem traz maior mercê à folhagem dos bosques e matas (...) O solo criador dá à luz os seus frutos; os campos oferecem o seu seio ao bafo tépido do Zéfiro; as moles seivas refluem de todas as plantas, e as ervas ousam, confiantemente, entregar-se a novos sóis (...). » 330.

As Geórgicas, Virgílio, Livro I. Ed. Ruy Mayer, Sá da Costa 1948

Mosaico das Estação do Ano: Primavera. Villa Romana do Rabaçal


Assim nos diz também o poeta Ovídio, poeta latino dos séculos I a.C – I d.C. (43 a.C. - 17 ou 18 d.C.), fazendo uma alegoria das estações do ano à vida individual.

"Não há coisa alguma que persista em todo o universo. Tudo flui, e tudo só apresenta uma imagem passageira. O próprio tempo passa como um movimento contínuo, como um rio…
O que foi antes já não é, o que não tinha sido é, e a todo instante traz algo novo. Vês a noite, próxima do fim, caminhar para o dia, e a claridade do dia suceder a escuridão da noite… Não vês as estações do ano se sucederem, imitando as idades de nossa vida? Com efeito, a primavera, quando surge, é semelhante à criança nova… A planta nova, pouco vigorosa, rebenta em brotos e enche de esperança o agricultor. Tudo floresce. O fértil campo resplandece com o colorido das flores, mas ainda falta vigor às folhas. Entra, então, a quadra mais forte e vigorosa, o verão: é a robusta mocidade, fecunda e ardente. Chega, por sua vez, o outono: passou o fervor da mocidade, é a quadra da maturidade, o meio-termo entre o jovem e o velho; as têmporas embranquecem. Vem, depois, o tristonho inverno: é o velho trôpego, cujos cabelos ou caíram como as folhas das árvores, ou, os que restaram, estão brancos como a neve do caminho.
Também nossos corpos mudam sempre e sem descanso… E também a natureza não descansa e, renovadora, encontra outras formas nas formas das coisas. Nada morre no vasto mundo, mas tudo assume aspectos novos e variados… Todos os seres têm sua origem noutros seres. Existe uma ave a que os fenícios dão o nome de Fénix. Não se alimenta de grãos ou ervas, mas das lágrimas do incenso e do sumo da amónia. Quando completa cinco séculos de vida, constrói um ninho no alto de uma grande palmeira, feito de folhas de canela, do aromático nardo e da mirra avermelhada. Ali se acomoda e termina a vida entre perfumes. De suas cinzas, renasce uma pequena Fénix, que viverá outros cinco séculos… Assim também é a natureza e tudo o que nela existe e persiste."


Ovídio, Metamorfoses (tradução de Bocage).




Mosaico das Estação do Ano: Verão e  Outono. Villa Romana do Rabaçal


O Grupo Escultórico com representação das Estações do Ano segue a figuração mais comum das mesmas. A Primavera é representada por uma jovem com flores e um pássaro numa mão; a deusa Ceres é a alegoria do Verão, com o usual ramo de espigas; Baco é a alegoria do Outono e um ancião com um braseiro nas mãos simboliza o Verão.

Das mãos de Ceres surgiu também o trigo, considerado o símbolo da Civilização, essa capacidade de os Humanos moldarem a Natureza.

Deméter era na Mitologia Grega filha de Crono e de Reia, segundo Hesíodo, ou de Ops, Vesta, ou Cibele, segundo outras versões do mito.
É a deusa da agricultura e das colheitas. Ensinou aos homens a arte de cultivar a terra, de semear, de fazer a colheita do trigo, e com ele fabricar o pão.
Deméter/Ceres surge em Roma, a par de Perséfone/Prosérpina e Dioniso/Baco, por volta do século V a. C., sendo-lhe conferidos amplos poderes:
Deusa da Terra, a «Deusa-Mãe», da Natureza, protectora das mulheres e dos partos, e do amor maternal.

Como era a deusa da agricultura, fez muitas viagens em companhia de Dioniso, deus da vinha e do vinho, para ensinar os homens a cultivarem a terra.
Teve uma filha com seu irmão Zeus chamada Perséfone (a Prosérpina romana) que vivia meio ano nas profundezas da Terra e outra metade vinha ajudar a sua mãe. Com o seu regresso inaugurava-se a Primavera, marcado pelo Equinócio da Primavera.

Segundo a versão do Mito do poeta Ovídio (43 a.C 43 — 17 ou 18 d.C), um certo dia de primavera, Zéfiro, o vento oeste, avistou a ninfa Cloris, apaixonou-se por ela e transformou-a em Flora. Como prova de seu amor, Zéfiro nomeou a sua amada como rainha das flores das árvores frutíferas e concedeu-lhe o poder de germinar as sementes das flores de cultivo e ornamentais, entre elas o cravo.

Flora foi também inúmeras vezes associada a Deméter-Ceres e Perséfone-Prosérpina.

Floralia era o festival romano realizado em honra à deusa, para consagrar as florações da Primavera.
Sob a protecção do oráculo dos livros Sibilinos, em 238 a. C, foi construído um templo em honra de Flora, dedicado em 28 de abril.




A Primavera. Fotografia Horácio Ramos

O Verão. Fotografia Horácio Ramos



O Outono. Fotografia Horácio Ramos



Quatro Estações. De frente: O Inverno. Palácio Marquês de Pombal. Fotografia: Horácio Ramos


Por sua vez, o Outono, é representado por Dioniso/Baco, o deus grego das festas, do vinho e da fecundidade, cuja representatividade no nosso território, ao longo dos séculos, merece destaque particular.

Segundo algumas versões do mito, foi morto pelos Titãs e cortado em 14 pedaços, é considerado uma divindade iniciática.

Outras versões assume-se Dioniso ou Baco como filho de Zeus/Júpiter e da princesa Sémele.

Associada a Liber Pater e sua divina esposa Libera, gradualmente estas duas divindades relacionadas com a fertilidade e o vinho foram assimiladas por Dioniso/Baco. Mas a vinha também aparece associada a Saturno, pela sua ligação `agricultura, e Príapo, enquanto representante da Fertilidade, a que agora não nos prenderemos.

«Até aqui tratei o cultivo dos campos e os astros do céu.
Agora, Baco, cantar-te-ei, e contigo as árvores silvestres
e os frutos da oliveira que crescem vagarosamente.
Vem até aqui, ó Leneu, meu pai! Aqui está tudo cheio das tuas oferendas. Para ti, carregado das outonais parras,
floresce o campo, espuma a vindima em talhas cheias.
Vem até aqui, ó Leneu, meu pai! E, tirando os coturnos,
tinge comigo as pernas nuas com o novo mosto».


Vergílio, Geórgicas, (Int. Tr. e notas: Gabriel A. F. Silva), Livros Cotovia. 2019.

Os temas báquicos são uns dos mais representados em território nacional, como acima dizíamos, usando-se todos os tipos de suporte: antigos mosaicos de Época Romana, estátuas, pinturas parietais ou cerâmicas, bem como nos coches e berlindas, ricamente ornadas com pinturas e esculturas nos seus painéis e alçados. 



Baco - Alegoria do Outono
Palácio Nacional da Ajuda




Quinta da Regaleira, Sintra


Outono, Carlos Pombo
Palácio Nacional de Queluz

A presença de Baco está atestada desde a ocupação romana do território atualmente português, destacando-se o célebre «Mosaico das Musas», proveniente da villa romana de Torre de Palma, Monforte, onde se representa «o Triunfo Indiano de Baco».

Na Mitologia é conhecida essa grande viagem percorrida por Baco no Oriente, até à Índia. De regresso, vitorioso, faz-se acompanhar por um séquito, onde participam Sileno; Bacantes; Ninfas; Sátiros e mesmo o deus Pã. Baco, o homólogo do deus grego Dioniso, foi uma das divindades que mais expressão teve na Lusitânia romana.

Uma das lendas sobre o deus grego do vinho dá conta que o seu nome original seria Zagreu, filho de Zeus que, sob a forma de serpente, violou Perséfone, a senhora do submundo onde reinava Hades, embora outras narrativas o refiram como filho de Hades.  

Zagreu era a criança eleita por Zeus para o substituir no governo do Olimpo, teve, contudo, outro destino.

Para proteger o filho dos ciúmes de Hera, Zeus confiou-a aos cuidados de Apolo e dos Curetes, deuses das montanhas, que o esconderam nas florestas do monte Parnaso.

Hera descobriu o esconderijo e encarregou os Titãs de raptá-lo e matá-lo. Disfarçados, os Titãs atraíram o pequeno Zagreu com brinquedos: ossinhos, pião, crepundia (chocalhos, argolas), amuletos e um espelho.

Depois os enviados de Hera desfizeram-no em pedaços, cozinharam as carnes num caldeirão e devoraram-no.

Zeus fulminou os Titãs e das suas cinzas nasceram os homens, explicando-se assim as suas duas facetas:  o mal, vindo dos Titãs, e o bem, vindo do Zagreu devorado.

Segundo outra versão, terá sido Atena (ou Deméter noutra lenda) a salvar-lhe o coração que ainda palpitava e, engolindo-o, a princesa tebana Sémele engravidou do segundo Dioniso.

Aceita-se ainda numa outra das versões que o coração de Zagreu tenha sido reduzido a pó que foi dado a beber a Sémele, que assim ficou grávida.

O filho de Zeus e da mortal Sémele viria a ser o famoso Dioniso, deus do vinho e da vinha, que, na verdade, era uma reencarnação do falecido Zagreu, conhecido entre alguns autores como o "primeiro Dioniso“. Por isso, ele é chamado “duas vezes nascido” ou “o de duplo nascimento” (dio-nisio).

Hera, ao ter conhecimento das relações amorosas de Sémele com o seu esposo Zeus, resolveu eliminá-la. 




Hera-Juno estante, em posição frontal, com a cabeça voltada à direita ostentando diadema e vestindo longa túnica. Na sua mão direita, recuada e erguida à altura da nuca, segura, pelo topo, um ceptro (ligeiramente oblíquo) e na esquerda, estendida, talvez uma pátera. Cornalina. Séc. II-III d.C. Colecção particular.
Agradecemos a Graça Cravinho a fotografia e descrição acima.


«E também a cadmeia Sémele lhe gerou um filho ilustre,
unida a ele com amor, Diónisos que traz muitas alegrias,
um imortal nascido de uma mortal; agora são ambos deuses.
(...)
Diónisos de cabelos de ouro tomou a loira Ariadne,
a filha de Minos, para sua feliz esposa
e o Crónida tornou-a imortal e isenta de velhice.»

Hesíodo, Teogonia, Ed. Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2014.«Em breve, toda a terra dançará – quem quer que conduza o tíaso, é o outro Brómio – a caminho, a caminho da montanha, onde aguarda a multidão feminina (…) Depois de misturarem a força báquica os Sátiros tomados de delírio, apropriaram-no às danças trienais, com que Diónisos se regozija».

EURÍPIDES, As Bacantes, Edições 70.

(…) o celebrante Baco instiga-as à corrida / e às danças, sacode as transviadas (…) que as mulheres nos abandonam as casas para irem a umas supostas bacanais, e que vagueiam pelas montanhas umbrosas, dançando em honra desse deus de última hora, esse Diónisos (…) e que no meio dos seus tíasos estão krateres cheios e que uma a uma se refugiam num recanto isolado para aí se submeterem à lascívia masculina. De pretexto servem-lhes, sem dúvida, os rituais das Ménades, mas à frente do culto de Baco colocam o de Afrodite. (…) Pois onde entra o fulgente líquido da videira em festins de mulheres, garanto que em tais mistérios já não há nada de são!
EURÍPIDES, As Bacantes, Edições 70, Col. Clássicos Gregos e Latinos, N.º 9, Lisboa, 1998 (tradução portuguesa, introdução e notas por Maria Helena da Rocha Pereira.

«(...) Ora, o sacerdote ordenara que um festival
fosse celebrado, e que as servas e as matronas, dispensadas
dos seus afazeres, cobrissem o peito com peles de animais,
soltassem do cabelo as fitas, e, de grinaldas na cabeça, tirsos
frondosos empunhassem. Vaticinara ainda que a ira do deus,
se ofendido, seria terrível. Obedecem matronas e jovens.
Pousam os teares e os cestos e os novelos deixados a meio,
queimam incenso, invocam Baco: chamam-lhe Brómio, Lieu,
Filho do Fogo, Nascido duas vezes, Único a ter duas mães.
A estes somam o nome Niseu, o de Tioneu de cabelo intonso,
E, com o de Leneu, o de Plantador da videira festiva,
e o de Nictélio e o de seu pai, Eleleu, e de iaco e de Évan,
e todos os outros títulos sem conta que os povos da Grécia
te conferem, ó Líber. Tu tens uma juventude inesgotável,
tu és o menino eterno, tu és admirado nas alturas dos céus
como o mais belo; tu, quando estás presente sem cornos,
tens um rosto divinal.
(…) Seguem-te Bacantes e sátiros,
e o velho ébrio que sustém o corpo cambaleante com o bastão
e nem se aguenta bem sobre a carupa encurvada do burrico»
(Ovídio, Metamorfoses, Livro IV vv: 1-25, Bolso Cotovia, Clássicos, 2004)



Transformando-se na ama da princesa tebana, aconselhou-a pedir ao amante que se apresentasse em todo o seu esplendor. O deus advertiu Sémele que semelhante pedido lhe seria funesto, uma vez que uma mortal não suportaria a epifania de um deus imortal.  Mas, como havia jurado pelas águas do rio Estige jamais contrariar-lhe os desejos, Zeus apresentou-se com seus raios e trovões e ela morreu fulminada, salvando-se apenas o seu filho.

O feto do futuro Dioniso, foi salvo por Zeus que o recolheu do ventre de Sémele e o colocou na sua coxa, até que se completasse a gestação normal. 

Mas o longo caminho de Baco não termina por aqui.

Temendo novo estratagema de Hera, mal nasceu o filho de Zeus, Hermes recolheu-o e levou-o às escondidas para a corte de Átamas, rei beócio, casado com a irmã de Sémele, Ino, a quem o menino foi entregue.  Irritada, Hera enlouqueceu o casal que matou os seus filhos.

Zeus transformou o filho num menino (ou em bode, segundo algumas narrativas) e ordenou que Hermes o levasse para o monte Nisa, onde foi confiado aos cuidados das Ninfas e dos Sátiros, que lá habitavam numa gruta profunda. 

Ainda assim a saga não termina e, enciumada, a deusa Hera transforma Baco já adulto num louco a vaguear pelo mundo.

Ao passar pela Frígia, foi curado e instruído nos rituais religiosos pela deusa Cibele.  Na Frígia, conheceu Cíbele, deusa da natureza e abundância, que o curou e o iniciou em seus ritos religiosos.

Assim, Baco começou a juntar discípulos por onde andava, ensinou-os a cultura da vinha e os seus mistérios por toda a Ásia.

As ménades, também conhecidas como bacantes, lenai, tíades ou coribantes (estas últimas ligadas ao culto de Cibele na Lídia) são as seguidoras de Baco, participantes das orgias e aliadas nos seus confrontos com tiranos.

Buscavam a vida nos bosques e dedicavam-se à dança, a festins de embriaguez e dilaceramento de animais selvagens.

São normalmente representadas nuas ou vestidas só com peles de veado, com grinaldas de Hera e empunhando um tirso.

Na presença do deus, ficam imbuídas do seu poder e podiam atingir o êxtase.



Triunfo de Indiano de Baco,  Mosaico das Musas. Villa romana de Torre de Palma. Museu Nacional de Arqueologia


Representação báquica.
Quinta do Conventinho, Loures


Cangirão de faiança, com representação de um Sátiro. Na tampa está figurada uma personagem feminina, muito possivelmente uma Ninfa. 

Fábrica de Louça de Sacavém, com marca gravada Sacavém e datado de 1925. Fotografia e comentário de Museus de Loures. Aqui.




Outono (Baco) Palácio Nacional de Queluz. Fotografia Pedro Miguel.



Caneca de prata e marfim 
N.º de Inventário:465. Palácio Nacional da Ajuda
 Bojo cilindrico decorado em alto relevo com sátiros e putti celebrando a festa do vinho.


O poeta da grande odisseia nacional Os Lusíadas os filhos ou companheiros de Baco como os progenitores da Lusitânia, fazendo-a equivaler ao atual Portugal. Baco, a quem o poeta Camões confere um particular papel, no Concílio dos Deuses, sendo opositor à viagem dos Portugueses até chegada ao Oriente, é contudo, um dos deuses mais representados, na iconografia mitológica.

"Esta é a ditosa pátria minha amada,
A qual se o Céu me dá que eu sem perigo
Torne, com esta empresa já acabada,
Acabe-se esta luz ali comigo.
Esta foi Lusitânia, derivada
De Luso, ou Lisa, que de Baco antigo
Filhos foram, parece, ou companheiros,
E nela então os Íncolas primeiros».

(Camões, Os Lusíadas, Canto III)


Pã é uma das personagens presentes no séquito de Baco.  Meio homem, meio animal, representa as forças da natureza.

(Lupércio ou Lupercus em Roma) era o deus dos bosques, dos rebanhos e dos pastores, filho de Hermes/Mercúrio e Penélope, segundo algumas narrativas mitológicas; de Júpiter com a ninfa Timbres ou Calixto, segundo outras; ou mesmo de Ar com uma Nereida ou ainda do Céu e da Terra. Nasceu com cornos de bode e era muito irrequieto, sendo representado com orelhas, chifres e pernas de bode.

Segundo o poeta Ovídio, na sua obra Metamorfoses (Livro I), terá sido ao seu desejo pela ninfa Siringe, escondida entre as canas para dele fugir, que se deve o aparecimento da flauta com o seu nome.


A música já aqui representa um elemento civilizacional, pois é graças a ela que Pã acaba por ser aceite pelas ninfas que dele antes  se afastavam, tal a sua figura que assustava, causando pânico.



Painel com representação de Pã e Siringe. Coche de D. Maria Francisca Benedita. Museu Nacional dos Coches


Pã, palácio Nacional de Queluz



Representação de Pã. Quinta da Regaleira.


Mas a riqueza da estatuária de cariz mitológico não termina por aqui, num dos espaços que visitámos, o Palácio Marquês de Pombal.

Uma outra Ceres já havia feito a aproximação ao jardim, na balaustrada que o antecede, bem como um conjunto de outras divindades como Diana/Selene, Minerva e ainda heróis, como Hércules. 



Diana/Selene (?) Fotografia Horácio Ramos. Palácio Marquês de Pombal.

Diana/Selene são também presença em inúmeros espaços, a exemplo do actual Museu Nacional do Traje, outrora Palácio Angeja-Palmela.



Diana. Museu Nacional do Traje


No Museu dos Coches, no Coche de D. Francisca Benedita,  há uma das mais belas representações do mito de Selene e Endimião, o jovem a quem a Lua visita diariamente.


Coche de D. Maria Francisca Benedita, painel lateral inferior esquerdo, frente.
Fotógrafo: Henrique Ruas, 1987
Copyright:© DGPC



Coche de D. Maria Francisca Benedita, painel lateral inferior esquerdo, frente. (pormenor) Fotografia Nuno Augusto



O seu amor pelo mortal Endimião, um caçador ou pastor, segundo a maioria das variantes, ou um rei, segundo Pausânias, ficou gravado em várias versões do mito.
 Zeus, a pedido de Selene, prometeu a Endimião cumprir um desejo, por mais difícil que fosse. Endimião pediu um sono eterno, para que pudesse permanecer jovem para sempre. Maravilhosamente belo, permanecia adormecido na encosta de uma montanha no Peloponeso, ou no monte Latmos, na Cária, perto de Mileto. Noite após noite, Selene descia atrás do monte para visitá-lo e cobri-lo de beijos.

O Coche de D. Maria Francisca Benedita terá sido construído em Portugal a partir de um modelo estrangeiro, para ser utilizado pela Princesa D. Maria Francisca Benedita, por ocasião do seu casamento com o Príncipe D. José, seu sobrinho, em 1777.

Mas regressemos ainda ao Palácio do Marquês de Pombal, onde também os heróis têm presença, a exemplo de Hércules.

 

Hércules Juvenil com pele de leão. Fotografia Horácio Ramos


As Quatro Estações estão também aqui presentes e a elas nos dedicaremos novamente, pela sua presença tão forte, recordando que a Primavera se associa à florestação. Ceres é uma das figuras mitológicas marcantes da entrada do jardim do Palácio do Marquês de Pombal.





Ceres, Fotografia Horácio Ramos



Mas já muito antes dele, Virgílio havia sagrado na sua obra poética Geógicas as estações do ano:

«É a primavera quem traz maior mercê à folhagem dos bosques e matas (...) O solo criador dá à luz os seus frutos; os campos oferecem o seu seio ao bafo tépido do Zéfiro; as moles seivas refluem de todas as plantas, e as ervas ousam, confiantemente, entregar-se a novos sóis (...).

(...) Quando renasce a Primavera, e frios regatos correm das montanhas cobertas de neve, e o Zéfiro desagrega as leivas, é chegada a ocasião dos bois começarem a gemer sob o peso do arado tanchando a fundo, e de rebrilhar ao sol a relha desgastada pelo roçar nos sulcos. (...)

Mãos à obra, portanto! Comecem os teus robustos bois, desde o primeiro dia do mês, a revolver a terra feraz, para que o poeirento Verão recoza com raios ardentes de sol as glebas que se lhe oferecem.

(...) o pai dos deuses, o próprio Jove, determinou que fosse árduo o cultivo das terras, pela primeira vez as mandou fabricar obedecendo a uma arte, e aguilhoou com preocupações o coração dos mortais, não consentindo que os seus domínios entorpecessem numa pesada modorra. Antes do reinado de Júpiter não havia agricultores em luta com os campos; não era permitido dividir a terra, e assinalar extremas; os homens buscavam o proveito para o bem comum, e o próprio solo produzia mais liberalmente, sem nada se lhe solicitar.

As Geórgicas de Virgílio, Livro I. Ed. Ruy Mayer, Sá da Costa 1948


Associada à Primavera, era também Clóris, divindade de origem grega das flores, equivalente à ninfa de origem latina Flora, que deriva da palavra latina flos (flores). A Floralia era o festival romano realizado em honra à deusa, para consagrar as florações da Primavera.

Sob a protecção do oráculo dos livros Sibilinos, em 238 a.C, foi construído um templo em honra de Flora, dedicado em 28 de abril.

Estes mitos e mistérios foram adoptados pelo Império Romano. Os ritos e crenças eram guardados em segredo, só transmitidos a novos iniciados, ou neófitos.

Segundo a versão do Mito do poeta Ovídio (43 a.C 43 — 17 ou 18 d.C), um certo dia de primavera, Zéfiro, o vento oeste, avistou a ninfa Cloris, apaixonou-se por ela e transformou-a em Flora. Como prova de seu amor, Zéfiro nomeou a sua amada como rainha das flores das árvores frutíferas e concedeu-lhe o poder de germinar as sementes das flores de cultivo e ornamentais, entre elas o cravo.

Flora foi também inúmeras vezes associada a Deméter-Ceres e Perséfone-Prosérpina, que encarna o Verão.

Deméter era na Mitologia Grega filha de Crono e de Reia, segundo o poeta Hesíodo, ou de Ops, Vesta, ou Cibele, segundo outras versões do mito. É a deusa da agricultura e das colheitas. Ensinou aos homens a arte de cultivar a terra, de semear, de fazer a colheita do trigo, e com ele fabricar o pão.

"Existem duas divindades (…) que ocupam o primeiro lugar no meio dos homens. Uma é a deusa Demetra ou Terra, seja qual for o nome que lhe deres, pois ela sustenta os mortais com alimentos sólidos. A outra divindade vem competir com esta e é o filho de Sémele. Ele descobriu uma bebida, o sumo de uva, e introduziu-a no meio dos mortais para libertar os infelizes humanos dos seus padecimentos, embriagando-nos com o néctar da videira. O seu presente é o sono, o esquecimento dos males de cada dia e não há outro remédio para as penas humanas. Ele, que é deus, oferece-se nas libações aos deuses; a ele, portanto, devem os homens todos os bens.”

Eurípides (480 AC - 406 a. C.), Bacantes, Clássicos Inquérito, Edição nº 16


Deméter/Ceres surge em Roma, a par de Perséfone/Prosérpina e Dioniso/Baco, por volta do século V a. C., sendo-lhe conferidos amplos poderes:
Deusa da Terra, a «Deusa-Mãe», da Natureza, protectora das mulheres e dos partos, e do amor maternal.
Em Deméter/Ceres reverenciava-se a Terra-mãe e a deusa da agricultura, enquanto os seus iniciados (filhos da lua) reverenciavam nela a luz celeste, mãe das almas, inteligência divina e mãe dos deuses cosmogónicos. Durante a Cerealia, eram famosos os jogos de Ceres (ludi cereales), que consistiam na procura de Prosérpina e eram representados por mulheres vestidas de branco que corriam com tochas acesas. O regresso de Proserpina, sua filha, raptada por Hades/Plutão, à Terra marcava, assim, o início da florestação.

A beleza de Proserpina seduziu o deus Hades-Plutão, o senhor dos mortos e do submundo, que dela se enamorou. Porém, Deméter-Ceres não queria essa união, mas Hades persistiu, até que, um dia, Perséfone, que estava colhendo narcisos, foi raptada pela divindade e levada para o mundo dos mortos. De Perséfone, que assume simbolicamente a vida, a morte e a ressurreição nos fala o escritor Claudiano, dos séculos IV-V, em o «Bordado de Prosérpina».

O Rapto de Prosérpina é também um tema mitológico recorrente, de que seleccionámos o grupo escultórico do Palácio Nacional de Queluz, da autoria de John Cheere (1709-1787). MatrizNet (dgpc.pt)



Rapto de Proserpina.
Cheere, John (1709-1787).
Palácio Nacional de Queluz.
PNQ 3266/1 Aqui



Flora, Quinta da Regaleira, Sintra


Ceres, Quinta da Regaleira, Sintra.




Ceres,  Museu Nacional do Azulejo.

                        

                                  Ceres/Deméter Palácio Nacional de Queluz

PNQ 3175
1757 d.C. - 1765 d.C. - 3º quartel do século XVIII
Sobre o braço esquerdo tem um molho de Espigas, que segura com a mão direita. Aqui


Também nas viaturas hipomóveis estão presentes as Quatro Estações do Ano, cada uma delas com a sua simbologia característica, sendo o Outono a personificação de Baco ou dos seus atributos. Sileno, o tutor de Baco, é também uma presença constante, bem como um conjunto alargado de outras divindades.

A Baco, que assume a alegoria do Outono, nos dedicaremos de seguida, pois merece-nos um particular destaque dada a sua representatividade.

O Inverno é normalmente representado por um ancião com uma candeia na mão.



Inverno. Coche do Oceano. Museu Nacional dos Coches.
O Inverno. Fotografia Horácio Ramos


O Inverno, Quinta da Regaleira


Também Vénus, a deusa da beleza e do amor, é a homóloga romana da divindade grega Afrodite, aceitando-se que nasceu da espuma das águas, é uma constante na iconografia nacional.

De Afrodite nos narra o poeta Hesíodo que foi nascida da espuma do orgão imortal do Céu, cortado pela foice de Cronos:


«Os testículos, por sua vez, assim que cortados pelo aço
e lançados desde terra firme ao mar de muitas vagas,
forem levados pelo mar, por longo tempo; à sua volta, um branca
espuma se libertou do orgão imortal e dela surgiu uma 
rapariga. Primeiro, foi em Citérios
que ela nadou, e de lá em seguida chegou a Chipre rodeada de mar;
aí aportou a bela e celebrada deusa que, à sua volta,
sob os seus pés ligeiros, fazia florescer o solo, Afrodite
(a deusa nascida da espuma e Citereia de belo toucado)
é esse o nome que lhe deram os deuses e homens, porque na espuma
surgira, e ainda Citereia, por ter aportado junto dos Citérios,
Ciprogeneia, por ter nascido em Chipre rodeada de ondas,
e ainda Filomedeia, porque surgida dos testículos,
Seguiu-a, sem demora, Eros e acompanhou-a o belo Desejo,
mal ela nasceu e se uniu à família dos deuses.
E, desde o início, teve como competências e foi 
seu destino, entre os homens e os deuses imortais,
as intimidades das meninas, os sorrisos, os enganos,
o prazer doce, o amor, a meiguice».


Hesíodo, Teogonia, 2014, Imprensa Nacional - Casa da Moeda




 
São conhecidas múltiplas representações de Afrodite/Vénus, desde a ocupação romana do território atualmente português, quer em inscrições, quer em estátuas de que destacamos a proveniente da "Villa" romana da Quinta das Longas, Elvas.                                                                                                                          
Vénus foi uma das divindades que mais expressão teve na Lusitânia romana.  

Divindade companheira dos Portugueses desde os Descobrimentos,  protectora de toda a epopeia marítima, segundo nos narra o poeta Camões, n' Os Lusíadas, é uma das divindades que têm entre os Portugueses grande representação, ao longo dos séculos.          

"Sustentava contra ele Vénus bela,
afeiçoada à gente Lusitana
por quantas qualidades via nela
da antiga, tão amada, sua Romana;
nos fortes corações, na grande estrela
que mostraram na terra Tingitana,
e na língua, na qual quando imagina,
com pouca corrupção crê que é a Latina".

Camões, Os Lusíadas, Canto I, O Consílio dos Deuses


Mas ela é uma presença em território nacional, desde Época Romana, havendo vários exemplares de estátuas ou fragmentos, bem como epígrafes em sua honra, como é o  exemplo da que  José d’Encarnação  estudou e publicou,  cujo dedicante é um magister.  Prestar culto a Vénus era prestar homenagem à família imperial».



Em Miróbriga existe também um edifício de planta absidial muito possivelmente dedicado a Vénus. Uma inscrição em honra de Vénus corrobora o culto que a divindade aí teve.






Vénus e Cupido. Palácio Nacional da Ajuda


Embora nos tenhamos centrado mais nos Museus e Palácios de Lisboa, não podemos deixar de destacar a belíssima tapeçaria flamenga que pertence ao acervo do Museu Nacional Machado de Castro.com a representação de um episódio das "Metamorfoses" de Ovídio (livro IV), em que Vulcano prende numa cadeia forjada por si, Vénus e Marte, de modo a serem expostos aos deuses do Olimpo. 

«ATÉ AQUELE, que todas as coisas governa com a sua luz astral,
o Sol, o amor conquistou. Vou contar-vos os amores do Sol.
Foi este o primeiro deus, julga-se, a dar conta do adultério
de Vénus com Marte: de resto, é o primeiro deus a tudo ver.
Escandalizado com o caso, revelou ao marido, o filho de Juno,
o amor secreto e o local dos furtivos encontros. A este caiu
a alma aos pés, tal como a peça que as suas mãos de artífice
seguravam. Logo fabrica com raro esmero finíssimas correntes
de bronze, uma rede e laços capazes de passar despercebidos
à vista (...).
"Quando a esposa e o adúltero vieram encontrar-se no leito,
na armadilha fabricada pela arte e a original técnica do marido
são ambos apanhados, e ficam presos nos braços um do outro.
De imediato, o deus de Lemnos escancarou as portas de marfim
e fez entrar os deuses. Eles jaziam vergonhosamente enredados!
E um dos deuses, divertido, diz que quem lhe dera ficar assim
envergonhado. Os deuses desataram a rir, e por muito tempo
esta foi de longe a história mais badalada em todo o céu"
Ovídio, "Metamorfoses", Liv. IV. Cotovia. 2007. Trad. e notas Paulo Farmhouse Alberto.
Marte e Vénus surpreendidos por Vulcano!!!
Museu Nacional Machado de Castro
N.º de Inventário:6050;T774
1530 d.C. - 1550 d.C. Flandres
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No Coche das Infantas, em exposição no Museu Nacional dos Coches, Vénus surge-nos acompanhada dos seus filhos Erotes ou Cupidos, cuja representação é bastante comum em território nacional, ao ponto de, por vezes, serem designados por putti.

Eros cavalgando o golfinho é, aliás, uma associação bastante recorrente aos ambientes marinhos ou mesmo de infraestruturas aquáticas.

O golfinho assume-se como o salvador de náufragos, relembrando o lendário salvamento de Dioniso. É por isso símbolo dionisíaco protector da vida e das actividades dos povos da beira-mar.

Segundo a mitologia grega, a deusa do amor Afrodite metamorfoseou-se em golfinho, tornando-se a “mulher do mar”. Mas também vemos os golfinhos associados ao mito de Dioniso, quando a divindade percebeu que os piratas que o atacavam tinham a intenção de vendê-lo como escravo. Transformou, então, os seus remos em serpentes, encheu o navio de hera e fez soar flautas invisíveis. Depois paralisou o navio com grinaldas de vinha. Os piratas, enlouquecidos (de uma loucura estranhamente parecida com a embriaguês sagrada), atiraram-se ao mar e transformaram-se em golfinhos.

Os golfinhos são muitas vezes representados junto com Posídon (Neptuno), o rei dos mares. 




Eros cavalgando golfinho, Época Romana. MNA Nº Inv. 987.55.38

Fotografia José Pessoa DDF/DGPC



Eros cavalgando um golfinho.
Museu Nacional do Traje


Eros Cavalgando o Golfinho. Fonte do Ourives. Castelo de Vide. Fotografia Joaquim Carvalho                  





Museu Nacional do Azulejo


                     


Nereidas.
Rafael Bordalo Pinheiro.
Museu Nacional do Azulejo




Eros "cavalgando" golfinhos e cisnes. Pormenor do Coche das Infantas. Museu Nacional dos Coches.


No Palácio Nacional da Ajuda, uma estatueta de  B. del A Paris Chez N. Bonnart, datada de 1888, remete-nos para o mito de Eros e Psique que nos foi tão bem descrito na obra do escritor  Apuleio, O Asno de Ouro, escrito no século 2DC. 




N.º de Inventário: 43259 Palácio Nacional da Ajuda. Aqui

A peça é uma replica executada por B. del A Paris Chez N. Bonnart da obra “Cupido e Psyché” de António Canova,  cujo original de encontra no Louvre.

 



Na mesma viatura das Infantas a que acima nos referimos o extraordinário painel com a representação de Baco, Cibele e Ceres é, sem dúvida, uma obra notável. Trata-se de uma viatura de aparato, datada de meados do século XVIII, utilizada pelas quatro infantas filhas de D. José I: D. Maria Francisca, futura rainha D. Maria I, D. Maria Ana Francisca Josefa, D. Maria Francisca Doroteia e D. Maria Francisca Benedita. Ricamente decorado com motivos rocaille, nele estão representadas muitas figuras mitológicas como Vénus. 




  

O Real Paço de Nossa Senhora da Ajuda é outro espaço impossível de esquecer, quando tratamos de Mitologia.  Mandado erguer por D. José I (1714-1777) no alto da colina da Ajuda, este edifício, construído em madeira para melhor resistir a abalos sísmicos, ficou conhecido por Paço de Madeira ou Real Barraca. Substituía o sumptuoso Paço da Ribeira que fora destruído no Terramoto que arrasou Lisboa em Novembro de 1755. A urgência da construção de um novo Palácio e o facto da Família Real ter sobrevivido ao cataclismo por se encontrar na zona de baixa sismicidade de Belém/Ajuda, justificou a escolha do local.

O novo Paço, habitável desde 1761, veio a ser a residência da Corte durante cerca de três décadas. Em 1794, no reinado de D. Maria I, um incêndio destruiu por completo esta habitação real e grande parte do seu recheio. Coube a Manuel Caetano de Sousa, Arquiteto das Obras Públicas, a tarefa de projectar um novo palácio de pedra e cal, cujo traçado remete ainda para uma linguagem barroca. Este projecto, iniciado em 1796 sob a regência do príncipe real D. João, foi suspenso decorridos cinco anos de construção, quando, em 1802, Francisco Xavier Fabri e José da Costa e Silva, arquitetos formados em Itália, foram encarregados de o adaptar, jà numa corrente neoclássica. 

Esta tarefa, continuada mais tarde por António Francisco Rosa nunca veio a ser concretizada integralmente, em parte devido à fuga da Corte para o Brasil, em 1807, na sequência das invasões napoleónicas, e a falta periódica de recursos financeiros. 

Nela trabalhavam os melhores artistas do reino: Domingos Sequeira, Arcângelo Foschini, Cirilo Wolkmar Machado, Joaquim Machado de Castro e João José de Aguiar, dedicados essencialmente aos elementos decorativos pictóricos e escultóricos.

Quando, em 1821, a Corte regressou do Brasil, o Palácio ainda estava inacabado, e era apenas utilizado para cerimónias protocolares. Em 1826, após a morte de D. João VI (1767-1826), estando as alas nascente e sul já habitáveis, a infanta regente D. Isabel Maria (1801-1876) e duas das suas irmãs escolheram-no para sua residência.

A intervenção efectuada no século XIX levou ao expoente a relação com as divindades, quando o próprio rei, D. João VI, é representado a regressar a Portugal vindo do Brasil, no carro do deus dos Mares com todo o seu séquito de Tritões, nereidas e Tágides, as ninfas do Tejo.

A entrada da família real no Tejo é uma pintura notável da autoria de Cirilo Volkmar Machado (1748-1823), onde Tritões anunciam a dupla realeza: a humana e a divina.

O príncipe regente vem sentado no carro de Neptuno que lhe cede o lugar e é acompanhado pelo séquito do rei dos Mares, ou sejam rodeado de Nereidas, tritões e tágides, ou seja, as ninfas do Tejo. 




Também as viaturas Reais, da Nobreza ou mesmo as Clericais, nos seus painéis exteriores, são transporte dessa cultura clássica que já o grande poeta Camões havia selado na sua epopeia «Os Lusíadas». Nelas, como que cruzando o Tempo, se encontram Neptuno, Anfitrite, Nereidas e Tritões, abrindo o Mundo à caminhada, onde nos acompanham todas as outras divindades.

Vénus, grande companheira dos Portugueses desde o tempo dos Descobrimentos, e Mercúrio, o Mensageiro e o Viajante, são divindades que têm entre nós grande representação, pois o seu destino também fora caminhar mundo fora.

Sobre a Afrodite grega, a Vénus romana, há inúmeras histórias em torno da sua origem, bem como da sua vida amorosa e descendentes.

O poeta Hesíodo que viveu por volta de 700 a. C. narra-nos que Afrodite foi nascida da espuma do orgão imortal do Céu, cortado pela foice de Cronos:
«Os testículos, por sua vez, assim que cortados pelo aço
e lançados desde terra firme ao mar de muitas vagas,
forem levados pelo mar, por longo tempo; à sua volta, um branca
espuma se libertou do orgão imortal e dela surgiu uma rapariga. Primeiro, foi em Citérios
aí aportou a bela e celebrada deusa que, à sua volta,
que ela nadou, e de lá em seguida chegou a Chipre rodeada de mar;
sob os seus pés ligeiros, fazia florescer o solo, Afrodite
(a deusa nascida da espuma e Citereia de belo toucado)
é esse o nome que lhe deram os deuses e homens, porque na espuma
surgira, e ainda Citereia, por ter aportado junto dos Citérios,
e Ciprogeneia, por ter nascido em Chipre rodeada de ondas,
e ainda Filomedeia, porque surgida dos testículos,
Seguiu-a, sem demora, Eros e acompanhou-a o belo Desejo,
mal ela nasceu e se uniu à família dos deuses.
seu destino, entre os homens e os deuses imortais,
E, desde o início, teve como competências e foi
o prazer doce, o amor, a meiguice».
as intimidades das meninas, os sorrisos, os enganos,
Hesíodo, Teogonia, 2014, Imprensa Nacional - Casa da Moeda


Aftodite/ Venus Calipigiam . Quinta da Regaleira



As rosas, eram atributos da deusa do Amor.


A mitologia diz-nos que, quando a apaixonada, Afrodite viu o seu amado Adónis ferido, pairando sobre ele a morte. A deusa foi socorrê-lo, tendo-se picado num espinho e o seu sangue coloriu de vermelho as rosas que lhe eram consagradas. Assim, na Antiguidade, as rosas eram também usadas sobre os túmulos como símbolo de luto.

Ainda aos amores de Vénus se refere a estátua de autoria de John Cheere, datada de 1756, hoje localizada nos jardins do Palácio Nacional de Queluz.

Este grupo escultórico representa Vénus (Afrodite) e Adónis, com um Cupido segurando uma Pomba (a ave de Afrodite/Vénus) e um Cão (galgo?). 




É deste amor infeliz que ficou a associação das rosas a Vénus, no mês que lhe era dedicado, pois a rosa teria ficado tingida de vermelho quando a divindade se picou para tentar proteger o seu amado Adónis.

Em Roma existia um festival em honra de Flora e de Vénus chamado “Rosália”, e todos os anos, no mês de Maio, as sepulturas eram adornadas com essas flores, provável.

Mas, sem dúvida, há algumas das representações mitológicas nacionais elementos novos. As Tágides, ou ninfas do Tejo, são exclusivas da mitologia nacional, sendo inspiração para muitos dos motivos decorativos abordados neste trabalho. É às Tágides que Camões pede inspiração para compor a sua obra Os Lusíadas


São uma adaptação das nereidas da mitologia greco-romana, as ninfas que vivem nos mares e nos rios. N' Os Lusíadas funcionam como as musas inspiradoras para o autor relatar os feitos grandiosos "nunca antes vistos", ou seja, os feitos dos "filhos dos lusitanos".

O Patamar dos deuses na Quinta da Regaleira é marcado pelo alinhamento de 9 estátuas de divindades clássicas, figurando Apolo citaredo, Venus Calipigia, Mercúrio, Fortuna (?), Fauno-Pã, e quatro alegorias: Flora, como Primavera; Ceres como Verão, Pã, Dioniso como Outono e um ancião com brasas incandescentes, alegoria do Inverno.


Fotografia a partir de: https://anamargaridapalmeiraebomeeugosto.blogs.sapo.pt/patamar-dos-deuses-entrada-da-quinta-da-5470

Destacamos aqui a Fortuna Primigenia, pois a sua representação é também recorrente em território nacional. Temida entre os Romanos, pois dela dependia, segundo os seus caprichos, a riqueza ou a pobreza, o poder ou a servidão, Fortuna comanda todos os acontecimentos da vida dos homens, motivo pelo que tem como atributo um leme.
Era representada com uma cornucópia ou corno da abundância, um dos seus atributos, e um timão, que simbolizavam a distribuição de bens e a coordenação da vida dos homens.

Também a cegueira ou a vista tapada (como a moderna imagem da justiça) são comuns nas suas representações, pois distribuía os seus desígnios aleatoriamente. Era ainda referida como calva, com duas asas nos pés e com uma roda.
Por vezes, é-lhe associado um Sol ou um Crescente, pois como eles, preside à vida na terra.

O mito da cabra da ninfa Amalteia diz-nos que Amalteia foi a cabra que alimentou com o seu leite o deus Zeus/Júpiter.
Quando criança, ao brincar com ela, o pequeno deus teria quebrado um de seus chifres.
Como prova de gratidão, Júpiter transformou-o no corno da abundância, a Cornucópia que é símbolo maior parte das personificações romanas da Abundância, a exemplo de Fortuna ou de Flora. Após a sua morte foi transformada na constelação Capricórnio.





Alegoria da Primavera. Coche dos Oceanos. MNCoches

Mercúrio é também uma divindade com ampla representação no território nacional, desde épocas remotas.
Mercúrio, o homólogo romano do Hermes grego, filho, segundo algumas versões do mito, de Júpiter (Zeus) e da deusa Maia, antes de se tornar o protector dos comerciantes e viajantes, era um deus associado à fertilidade, sorte, estradas e fronteiras.
O seu nome deriva da palavra herma, uma coluna quadrada ou rectangular de pedra, terracota ou bronze que servia como marco de encruzilhadas e caminhos protegendo viajantes ou pastores, e era colocada nas casas como garante da fecundidade.

As estátuas com a representação de Hermes tinham carácter apotropaico, pois a divindade, antes de ser o protector dos comerciantes e viajantes, era um deus associado à fertilidade, sorte, estradas e fronteiras

Mercúrio tem como atributos o elmo; as sandálias aladas e o caduceu com duas cobras enroladas, símbolo que concentra toda a natureza dualista (noite-dia; luz-trevas; feminino e masculino; racional-irracional) e os pés alados que o permitem ser muito rápido e, portanto, mensageiro do Olimpo.

Simbolicamente o bastão representa o poder; as duas serpentes, a sabedoria ou o Bem o o Mal; a doença e a convalescença; o equilíbrio das tendências contrárias em torno do eixo do mundo; as asas, a velocidade e a diligência; o elmo ou Pétaso, uma peça de armadura antiga (capacete) que protegia a cabeça, permitia que se tornasse invisível.

O bastão tem ainda a capacidade de tudo transformar em ouro.



Mercúrio representado de pé, como jovem efebo desnudo, segurando com a mão esquerda o emblemático caduceu e apresentando, sobre a cabeça, o correspondente chapéu alado - o petasus, de abas largas, característico dos viajantes. Na mão direita, semifechada, segura a parte superior da bolsa. Monte Molião MNA.


Escultura em mármore, em vulto perfeito, de homem jovem, de corpo inteiro, em pé, virada à esquerda, representando Mercúrio/Hermes. Palácio Nacional de Queluz

N.º de Inventário: PNQ 3157

Aqui




Mercúrio. Quinta da Regaleira

Da divindade mensageira que com o seu caduceu transformava em ouro tudo em que tocava ...
"E tu, Padre de grande fortaleza,
Da determinação, que tens tomada,
Não tornes por detrás, pois é fraqueza
Desistir-se da cousa começada.
Mercúrio, pois excede em ligeireza
Ao vento leve, e à seta bem talhada,
Lhe vá mostrar a terra, onde se informe
Da índia, e onde a gente se reforme."
Camões, Lusíadas, Canto I


Coche de D. Maria Francisca Benedicta. Museu Nacional dos Coches
Fotografia Nuno Augusto. MNC



Mercúrio. Museu dos Coches




Quer Apolo, na sua versão citaredo, quer as Musas são representações constantes na iconografia desde Época Romana.

Apolo, também identificado como Febo (brilhante), era considerado o deus da juventude e da luz da verdade.




Coche da Embaixada.
Fotografia Pedro Beltão


Reconhecido primordialmente como uma divindade solar, surgindo, muitas vezes associado a Hélios.

Era irmão gémeo de Artemisa, conotada com a Lua.
Era descrito como o deus da divina distância, que ameaçava ou protegia desde o alto dos céus. 

Assim o canta o poeta Ovídio  ( 43 a.C.—17 ou 18 d.C.):

Ostentando uma veste púrpura, Febo
achava-se sentado em um trono
de esmeralda resplandecente. À direita e à
esquerda, achavam-se os Dias, as Horas,
dispostas em espaços iguais. Também lá
se encontravam-se a Primavera, cingida
de uma coroa de flores, o Verão nu e
trazendo uma grinalda de espigas, e o
Outono sujo com as uvas espremidas
e o glacial Inverno, com a cabeleira branca
desgrenhada”. (Metamorfoses).

Os amores de Febo-Apolo pela ninfa Dafne são commumente representados ao longo do tempo.



Apolo e Dafne, Mosaico das Musas. Villa romana de Torre de Palma. MNA

Febo-Apolo apaixonou-se pela ninfa Dafne que não lhe correspondeu. Dafne não aguentava mais a perseguição do belo deus Apolo e pediu a seu pai Peneu que lhe mudasse a forma. O pai atendeu ao pedido e transformou-a num loureiro. Com as folhas desta árvore Apolo teceu uma coroa. Passou a ser o símbolo da divindade, representando a vitória e a glória.



Museu Nacional do Azulejo


O poeta Ovídio dá a este episódio um relevo extraordinário nas suas Metamorfoses:

«O PRIMEIRO amor de Febo foi Dafne, filha de Peneu. Não foi o acaso ignaro a induzir-lho, mas a cólera cruel de Cupido. (...) Logo este se enamora, a outra foge à ideia de um amante»


Salva com pé. Urbino, Itália. (1540-1555)
Depósito do MNAA no Museu Nacional do Azulejo.


Assim o canta o poeta Ovídio  ( 43 a.C.—17 ou 18 d.C.):

“Ostentando uma veste púrpura, Febo achava-se
sentado em um trono de esmeralda resplandecente.
À direita e à esquerda, achavam-se os Dias, as Horas,
dispostas em espaços iguais. Também lá se encontravam
a Primavera, cingida de uma coroa de flores,
o Verão nu e trazendo uma grinalda de espigas, e o
Outono sujo com as uvas espremidas
e o glacial Inverno, com a cabeleira branca desgrenhada”.

(Ovídio, Metamorfoses).

Também no Palácio Nacional da Ajuda e no do Correio Mor, Loures, existem belíssimas pintura com a representação deste mito, a última das quais da autoria de José da Costa Negreiros. (1714-1759), entre outras igualmente dedicadas a temas mitológicos.


Sala dos Últimos Quartos do Rei. Palácio Nacional da Ajuda

Assim como Hélio, a partir de sua identificação com Apolo, é chamado Febo ("brilhante"), Selene, a partir da sua homologação com Artemisa, também é comumente referida pelo epíteto Phoebe (forma feminina).  Tal como Hélio conduz o carro do sol, Selene é a deusa lunar e conduz o seu carro, até ao raiar da aurora, personificada em Eos.


Seléne/Diana, Palácio do Marquês de Pombal. Oeiras


Várias são as cenas mitológicas aí representadas, para além da cena do painel já referido, a exemplo de Pã e ninfa Siringe e ainda cenas mitológicas marinhas: Anfitrite e o seu séquito marinho (tritões e nereides) entre outras.


Coche de D. Maria Francisca Benedita .Museu Nacional dos Coches. Fotografia Pedro Beltrão



Apolo citaredo. Quinta da Regaleira, Sintra.


Os três coches da
Embaixada de D. João V ao Papa Clemente XI
Fotografia: Pedro Beltrão





Museu dos Coches. Coche dos Oceanos
Fotografia: Pedro Belrtão



Apolo, Palácio Mesquitela.

Apolo. Escadaria do Cortejo. Palácio Nacional da Ajuda

A presença das Musas é também uma constante nos nossos Palácios.
As inspiradoras irmãs e acompanhantes de Apolo assim nos são introduzidas por Hesíodo:

«São estas aquelas que nos leitos de homens mortais,
sendo elas imortais, geram filhos semelhantes aos deuses.
(E, agora cantai, também a raça das mulheres, ó Musas
Olímpicas de voz doce, filhas de Zeus detentor da egide...)

Hesíodo, Teogonia, Imprensa Nacional-Casa da Moeda S.A, 2014



As Musas. Palácio Nacional da Ajuda

O célebre Mosaico das Musas provém de escavações efetuadas na Villa Romana de Torre de Palma, Monforte, uma das mais notáveis casas agrícolas de Época Romana conhecidas no Sul de Portugal.
Trata-se de um mosaico tardio de uma oficina itinerante africana (possivelmente da Tunísia).
Descoberto em 1947, foi levantado por uma equipa de técnicos italianos de Florença, após escavações efectuadas por Manuel Heleno, Director do Museu Nacional de Arqueologia.
Era constituído por 11 painéis figurativos com temas mitológicos: Painel I (As nove Musas); Painel II (Cena Báquica); Painel III (Sileno e Sátiro); Painel IV (Duas Ménades); Painel V (Dois Membros do Tiaso); Painel VI (Apolo e Dafne); Painel VII (Hércules e Mercúrio); Painel VIII (Medeia Infanticida); Painel IX (Mégara e Hércules); Painel X (Triunfo de Baco); Painel XI (Teseu e Minotauro).
Partindo do mosaico, faremos uma longa viagem em torno desta importante casa romana e da sua relevância no contexto da Lusitânia.





Friso de tampa de sarcófago – filósofos e Musas – representação de Clío (pormenor). Mármore

Museu Nacional de Arqueologia. Inv.: 994.21.1

III d.C. - Época Romana

Fotografia: José Pessoa DDF/DGPC

Aqui





Também a Medusa nos acompanha desde Época Romana, sendo comum reconhecê-la ao longo do tempo. A sua representação tinha carácter apotropaico, estando bastante bem atestado o seu uso, na Lusitânia.

A Medusa era esse monstro de onde saiam serpentes da cabeça com poder de transformar em pedra todos aqueles que a olham directamente, fazia parte das Górgonas. A mitologia grega referia a existência de três : Medusa, Esteno e Euríale. Ao contrário das outras duas, Medusa era mortal e, por isso, foi decapitada por Perseu. Este utilizou a sua cabeça como arma que foi oferecida à deusa Atena, pelo que aparece representada no escudo da divindade. É também por esse mesmo motivo que a imagem da cabeça da Medusa surge representada nos amuletos e mesmo nos escudos de alguns imperadores com carácter apotropaico, ou seja, protector.
Um dos exemplares mais extraordinários do mito de Perseu é a Pátera da Lameira Larga, Penamacor.




Pormenor da Pátera com o Mito de Perseu. Lameira Larga, Museu Nacional de Arqueologia


Nesta pátera três personagens dominam a composição: Perseu que ocupa o lugar central, de espada empunhada e na direcção das Górgonas; Atena (Minerva), do lado esquerdo, e Hermes (Mercúrio), do lado direito.




«Conta os reais perigos da longa viagem;
mares e terras vistas sob si lá de cima;
e os astros que tocou ao bater suas asas.
Mas antes do esperado, calou-se. Um dos próceres
perguntou por que só uma destas irmãs
tinha serpentes aos cabelos entrançadas.
O hóspede diz: “Já que perguntas algo digno
de relato, direi o motivo. Belíssima,
ela foi a esperança e a causa de ciúmes
de muitos; e mais belo que os cabelos nada
tinha. Conheci um que disse tê-la visto.
No templo de Minerva, o deus do mar violou-a,
dizem. Volveu, cobrindo o rosto casto, a filha
de Jove com o escudo. E como punição,
gorgóneas tranças converteu em torpes hidras.
E ainda agora, para infundir o terror
nos rivais, leva ao peito as cobras que criou” ».
Metamorfoses, Livro IV


O carácter apotropaico da Medusa acompanhará os Tempos e, por isso a encontramos inúmeras vezes representada, quer em pinturas no interior de edifícios, quer em viaturas

Segundo ficha técnica de um escudo de torneio do Museu Nacional dos Coches, "nos antigos jogos equestres, a destreza e habilidade dos cavaleiros eram postas ao serviço da selecção dos afamados ginetes hispânicos. A uma função fundamentalmente prática, os jogos associavam um carácter lúdico e de aparato, para o qual concorriam a riqueza e o colorido dos arreios e demais acessórios de cavalaria. Não menos importantes eram as armas utilizadas pelos participantes - lanças, espadas, canas e pistolas -, bem como os escudos, decorados com motivos figurativos e simbólicos que, pelas suas características formais e significado intrínseco, serviam os intentos desta equitação vigorosa e arrojada. Pelas descrições e gravuras coevas, é possível concluir que um dos motivos recorrentes era o da "cabeça da Medusa", usado tanto em escudos como em alvos fixos. O objectivo era idêntico: petrificar o atacante que, num misto de horror e encanto, seria compelido a investir, simultaneamente para abater o adversário (cumprir uma tarefa) e para conquistar o "fruto" apetecido. Esta ambivalência é, de facto, uma constante intemporal, conotada com a mais famosa das três Górgonas. Castigada por Palas Atena, a bela Medusa transforma-se num ser hediondo, com a cabeleira repleta de repulsivas serpentes, mas extremamente poderoso, poder esse que lhe era conferido pelo olhar e que usava sem compaixão contra todos os que, atraídos pelo desconhecido e pela aventura, dela se aproximavam. Apenas Perseu conseguiria enfrentar a pérfida criatura, derrotando-a com as suas próprias armas, ou seja, fazendo reflectir no seu escudo brilhante os olhos da Medusa, para logo a decapitar. O escudo tem, portanto, uma função simultaneamente defensiva e ofensiva, através do qual o herói se apropria da força do adversário, tornando-se invencível. O mesmo duplo sentido pode ser encontrado na representação da cabeça da Medusa em acessórios de torneio e de jogos equestres do século XVIII. Para o cavaleiro que a transporta no seu escudo, a Medusa simboliza a inquestionável supremacia e a certeza de uma vitória fulgurante; ela é o seu aliado na luta, ao mesmo tempo que assegura um combate aguerrido ao produzir um efeito perverso sobre o inimigo, para quem a superação do horror passa, inevitavelmente, pelo ataque. Esta noção de triunfo sobre o aterrador e o misterioso é tanto mais clara quando a figura mitológica surge representada sob a forma de alvo imóvel, pronto a ser trespassado pela cana ou pela lança do cavaleiro, que a encara como a personificação do Mal, da probição e da fealdade.

«Atravessadas as ondas que separam os dois continentes, caminharás até ao luminoso oriente, onde alcançarás a gorgónica planície de Cistene, habitação dos Forcíades, essas três crianças velhas que têm a forma de cisne e que partilham apenas dum olho e um dente. (...).
Junto delas habitam as três irmãs aladas e de cabeleiras de serpentes, as Gorgonas ... »
Ésquilo, «Prometeu Agrilhoado».
Fotografia: Górgona, Museu dos Coches.



Disco de lucerna com representação de Medusa
Séculos II d.C. - III d.C. Museu Nacional de Arqueologia
«Fragmento de disco de lucerna de tipo Deneauve VIII C, com a representação de cabeça de Medusa com os cabelos ondulados, formando cachos largos. Apresenta vestígios de um orifício de alimentação descentrado. A pasta apresenta-se coberta, na parede externa, por um engobe de cor alaranjada.
Proveniência: Cemitério de Sampão
Descrição a partir de Aqui
Fotografia: Paulo Alves. DGPC


Escudo de torneio

Museu Nacional dos Coches
N.º de Inventário:
A 2575
1770 d.C. - 1795 d.C.





Atena e a sua homóloga romana Minerva têm também inúmeras representações em Portugal, quer de Época Romana, quer em fase pós renascentista. 

Na Mitologia é «filha de Zeus detentor da égide, Atena de olhos garços» (Hesíodo, Teogonia, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2014).

«Zeus, rei dos deuses, tomou por primeira esposa Métis,
a que mais sabe sobre os deuses e os homens mortais.
Mas, quando ela estava prestes a dar à luz a deusa Atena de olhos garços,
nessa altura, ele enganou o seu espírito,
com palavras ardilosas, e engoliu-a no seu ventre,
por conselho da Terra e do Céu coberto de estrelas.
Ambos o aconselharam assim, para que o poder régio
não pertencesse a nenhum dos outros dos deuses
que vivem sempre, senão a Zeus.
Porque estava predestinado que dela nascessem filhos
muito inteligentes:
a primeira, a filha de olhos garços, a Tritogénea,
detentora de força e de uma sábia vontade igual à do pai;
depois seria a vez de um filho, rei de deuses e de homens,
que ela daria à luz, um filho de coração soberbo.
Mas, antes, Zeus engoliu-a no seu ventre,
para que a deusa lhe pudesse aconselhar o que é bom
e o que é mau»

(Hesíodo, Teogonia, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2014)


Deusa da Sabedoria e da Razão, «Minerva, da oliveira a inventora», como a menciona Virgíllio nas suas Geórgicas é também a deusa das artes da guerra, motivo pelo que se faz representar com uma lança.

A célebre pátera da Lameira Larga é uma dos mais belos exemplares com a representação do mito de Perseu.





Pátera com cena do mito de Perseu. Lameira Larga,, Penamacor. N.º de Inventário: Au 69                             


Tétis, filha de Urano e de Gaia, era mãe de Métis, a primeira esposa de Zeus, «a que mais sabe sobre os deuses e os homens mortais», no dizer de Hesíodo.

Minerva, por sua vez,  é filha de Júpiter e de Métis, considerada a reflexão personificada, primeira esposa do pai dos deuses. 
Quando estava grávida, Métis anunciou a Júpiter/Zeus que teria em primeiro lugar uma filha e, de seguida, um filho que se tornaria senhor do céu. 

O rei dos deuses, assustado com tal profecia, engoliu Métis. Passado algum tempo, foi acometido de fortíssima dor de cabeça, tendo pedido a Hefesto/Vulcano que lhe rachasse a cabeça com o machado de onde nasceu Atenas, já adulta e armada com capacete e lança para ajudar os deuses na guerra contra os Titãs


Será ela também a nova encarnação da sabedoria divina.

Tecedeira como nenhuma, Atena, cuja homóloga romana é Minerva, aceitou competir com a sua rival na arte de trabalhar a lã, Aracne que «não era famosa pela terra nativa nem pela origem da família, mas sim pela arte» e que «Quantas vezes para contemplar os seus admiráveis lavores não abandonaram as ninfas os arvoredos do seu Timolo, não abandonaram as suas águas as ninfas do Pactolo. E não era só um prazer contemplar as vestes por ela tecidas, mas também vê-la trabalhar (tal encanto presidia à sua arte!) » como nos relata Ovídio, Metamorfoses, Livro VI). Foi-lhe duro o destino e Palas condenou-a, após uma tentativa de suicídio, a viver sempre pendurada.



Estatueta de Minerva com égide de pele de cabra, onde está representada a Medusa.
A divindade, nascida da cabeça de Zeus, faz-se representar com o capacete coríntio. Deveria segurar a lança na mão erguida e ter uma pátera na mão estendida, para fazer uma libação.
Sobre o peito enverga a égide de pele de cabra e ao centro tem a Cabeça de Medusa, que, segundo a Mitologia, lhe foi oferecida.




Atena. Painel de Azulejo 1725 d.C. - 1759 d.C.
Museu Nacional do Azulejo N.º de Inventário:
MNAz 6116 Az Fotografia: Teresa Henriques. Aqui





Minerva - Alegoria do Conhecimento e da Sabedoria
N.º de Inventário:
PNQ 970/20
Óleo sobre tela do teto da Sala dos Embaixadores, representando uma mulher de traje militar, sentada nas nuvens. Trata-se da Alegoria do Conhecimento e da Sabedoria, sob a forma de Minerva
XVIII d.C. - XIX d.C.






Minerva. N.º de Inventário: PNQ 3197. John Cheere.. Palácio Nacional de Queluz Aqui



Tapeçaria Triunfo de Minerva/ Série Triunfo dos Deuses
Urbanus Orley, Jan Van Orley
Augustin Coppens
Local de Execução: Países Baixos, Bruxelas
1728 d.C. - 1729 d.C.
Palácio Nacional da Ajuda
Fotografia: Henrique Ruas, 2003 Localização: Arquivo de imagens do PNA


Pertencente ao Palácio Nacional da Ajuda, é esta gravura, que integra um álbum com recolha de estampas das mais belas pinturas de França da autoria de Jean Jerôme Frezza. A deusa Pallas / Atena, representada em pose majestática, está em posição central. Na cabeça tem um elmo e, na mão direita, um ceptro. Na outra mão tem a deusa alada Nike, ou a deusa Vitória romana.



Coche da Embaixada de D. João V ao Papa Clemente XI - Embaixador
O alçado dianteiro do coche é dominado por quatro figuras mitológicas: Sileno e um cavalo marinho e  duas  personagens em tamanho natural da deusa Palas (Guerra), representada com a mão direita erguida em acto de comando, e da Esperança Renascida, à esquerda, com um ramo de flores na mão. 

                    Fotógrafo: Henrique Ruas, 1987

Copyright: © DGPC









A Fama é também recorrente uma representação recorrente em Palácios e mesmo nos coches.
A Fama, ou Rumor, como é denominada em Ovídio, era a mensageira de Júpiter. Os romanos descreviam-na como um monstro com asas e muitos olhos e orelhas, que ecoava pelo mundo todas as novidades, verdadeiras ou falsas. Residia num palácio nos confins da terra, do mar e do céu.
Como portadora de boas novas, é representada iconograficamente sob a figura de uma mulher formosa a tocar trombeta. Como propagadora da mentira, identifica-se com a Calúnia.


 Fama, Palácio Nacional da Ajuda. Fotografia: Alice Costa


Assim se refere à Fama ou Rumor o poeta Ovídio (43 a. C. - 17 ou 18 d. C.).

«NO CENTRO do mundo há um lugar situado entre as terras,
o mar e as regiões celestes, os limites do tríplice universo.
Dali se avista tudo o que acontece em qualquer sítio, mesmo
no mais distante, e todas as vozes lhe chegam às orelhas ocas.
Mora ali o Rumor. Escolhera casa para si no cimo da cidadela.
À mansão proporcionou entradas sem conta e mil aberturas,
mas com portas nenhumas fechou os umbrais: de noite e de dia
permanece escancarada. (...)
O átrio formiga de gente; vêm e vão, multidão insusbstancial,
e por toda a parte vagueiam milhares de rumores, falsidades
à mistura com verdades, e fazem rebolar conversas confusas.
Estes atafulham os ouvidos ociosos com mexericos,
aqueles levam aos outros o que ouviram contar, e a invenção
cresce de tamanho: cada um junta algo novo ao que ouviu»
Ovídio, «Metamorfoses», Livro XII (39-63), Livros Cotovia, 2007.

«Mora ali o Rumor. Escolhera casa para si no alto da cidadela.
À mansão proporcionou entradas sem conta e mil aberturas,
mas com portas nenhumas fechou os umbrais: de noite e de dia
permanece escancarada. É toda feita de bronze ressonante:
ela vibra toda, e ecoa as palavras todas, e repete o que ouve.
Lá dentro não há sossego nem silêncio em parte alguma.
Não é porém, um clamor, mas antes um murmurar baixinho,
tal como costumam soar as ondas do mar quando se ouvem
ao longe, ou como o som do troar dos derradeiros trovões
quando Júpiter faz ribombar as negras nuvens.
O átrio formiga de gente, vêm em vão, multidão insubstancial,
e por toda a parte vagueiam milhares de rumores, falsidades
à mistura com verdades, e fazem rebolar conversas confusas»

Idem, Livro XII, Metamorfoses. Livros Cotovia, 2007.



Carro Triunfal que integrava a Embaixada enviada por D. João V ao Papa Clemente XI, em 1716.

Fotografia Pedro Beltrão. Museu Nacional dos Coches.




Pórtico da Fama. Palácio Nacional de Queluz.


"Atlas e Europa", Sala de D. João VI, sul/nascente
Palácio Nacional da Ajuda
Arcângelo Foschini

José Paulo Ruas, 2014
© DGPC
 
  

«Olha, até Atlas está bem aflito,
e a custo sustém nos ombros o eixo incandescente do céu».
Ovídio, Metamorfoses, Livro II)


De muitas outras divindades vos poderíamos falar, não podendo esquecer o pai dos deuses e tantas outras mais, mas esta foi a nossa primeira abordagem ao tema que temos vindo a tratar nos últimos anos e a que daremos continuidade.





Museu Nacional do Azulejo


Lisboa, Fevereiro 2021

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