quinta-feira, 28 de maio de 2015

OLISIPO E A ROMANIZAÇÃO DO TERRITÓRIO, Museu da República e Resistência





    • BIBLIOTECA-MUSEU REPÚBLICA E RESISTÊNCIA - Espaço GRANDELLA Estrada de Benfica, 419
    • CONFERÊNCIA: OLISIPO E A ROMANIZAÇÃO DO TERRITÓRIO
      Por FILOMENA BARATA - Formada em História e com Mestrado em Arqueologia -Técnica Superior da Direcção Geral do Património Cultural - Sócia Fundadora da Associação Portugal Romano
      RAUL LOSADA – Jornalista - Sócio Fundador da Associação Portugal Romano - Director da Revista Portugal Romano
      Pretende-se fazer a apresentação do que foi o Processo de Romanização na Hispânia e, em particular, na Lusitânia, referindo-nos às grandes mutações que se operaram no território com a chegada dos Romanos. Debruçar-nos-emos sobre aspectos Administrativos; sobre a Vida Urbana e a Vida Rural; sobre a economia monetária e ainda sobre a exploração dos recursos designadamente os agrícolas, mineiros e piscatórios, durante a ocupação romana.
      Nesse contexto serão dados a conhecer os vestígios romanos de Olisipo a que algumas lendas quiseram atribuir uma fundação mítica a Ulisses.

       29 Maio - quarta - 19h30 BIBLIOTECA-MUSEU REPÚBLICA E RESISTÊNCIA - GRANDELLA Estrada de Benfica, 419 Lisboa ENTRADA LIVRE VISITA: ROTEIRO OLISIPO 01.06.3013 - sábado - 15,00h - Casa dos Bicos - Lisboa Casa dos bicos - Fábrica de preparados de peixe, cetárias romanas. Muralha tardia NARC/BCP - Fábrica de preparados de peixe, cetárias romanas Vestígios de habitação, mosaico e termas. Lápides das Pedras Negras - inscrições romanas que reflectem a religião e administração de Olisipo Claustros da Sé de Lisboa - estrada romana de acesso entre a zona ribeirinha e o teatro romano. Pedras romanas e visigóticas nas paredes da Sé. Teatro Romano de Olisipo Núcleo museologico do Castelo de S. Jorge. Evidências da primeira presença romana na cidade, instalação militar a época de Junio Bruto. Guias: FILOMENA BARATA e RAUL LOSADA VITRIOL – ASSOCIAÇÃO DIVULGAÇÃO LÍNGUA CULTURA LUSÓFONA T: +351 918 959 584 E: vitriol.portugal@gmail.com W: vitriolassociacaolusofona.blogspot.pt


 Claustros da Sé



  Lenda de Lisboa Ora conta a lenda que a costa que hoje é a de Lisboa, tinha um estranho nome: Ofiusa -que quer dizer "Terra de Serpentes". As serpentes tinham a sua rainha. Uma rainha muito estranha, metade mulher, metade serpente...senhora de um olhar feiticeiro, e de uma voz muito meiga.  Às vezes, esta estranha rainha subia ao alto de um monte e gritava ao vento, só para que pudesse ouvir a sua própria voz: "Este é o meu reino ! Só eu governo aqui, mais ninguém! Nenhum ser humano se atreverá a pôr aqui os pés: ai de quem ousar!Pois as minhas serpentes, não o deixarão respirar um minuto sequer!". De facto, durante muito tempo, ser humano nenhum se aventurou a desembarcar nesta costa que ela pensava que estaria amaldiçoada pelos deuses e também pelos homens. Porém um dia, vindo de muito longe, um herói lendário chamado Ulisses, famoso pelas suas aventuras guerreiras, atracou na cidade. Ficou deslumbrado com as belezas naturais que viu e ao desembarcar subiu a um monte, e com a sua máscula voz, gritou ao vento: "Aqui edificarei a cidade mais bela do Universo ! E dar-lhe-ei o meu próprio nome: será a Ulisseia, capital do Mundo !" E a sua profecia concretizou-se... e hoje, embora não tenha o nome dado pelo herói mitológico grego "Ulisseia", é uma das mais belas cidades do Mundo, e chama-se LISBOA.

Cit. a partir de http://lisboa.blogs.sapo.pt



Planta de GEO - Grupo de Estudos Olisiponenses.

 ET: Apenas uma nota, quando se afirma no texto acima que Lisboa já não é Ulisseia, não é uma informação totalmente correcta. Há quem afirme que Lisboa seja uma corrupção de Ulisseia, que, no tempo dos Romanos, derivou para Olissipo e que originou o topónimo Lisboa. No entanto, vale a pena retomar a história "mitográfica", como nos foi contada pela Monarchia Lusitana e pelos historiógrafos alcobacenses. E mais ainda há quem afirme que as sete colinas mais não são do que nós da serpente... mas também há quem queira justificar qua a ocupação de sete colinas de Lisboa advém de uma relação com a fundação mítica de Roma, também ela cidade de sete colinas. «Mas independentemente desta proveniência lendária popular foi Frei Nicolau de Oliveira (...) empenhado em arranjar um paralelo apressado com a cidade de Roma que as referiu pela primeira vez no século XVII. Com o crescimento urbano, estendeu-se a outras elevações e, no século XVI, Damião de Góis já a descrevia espalhada por cinco colinas: Esperança, São Roque, Sant'Ana, Senhora do Monte (ou Santa Catarina do Monte Sínai) e Castelo (ou São Jorge)». cit. a partir de Wikipédia Quanto a Ulisses, diz-se que: Após a guerra de Tróia, 
Ulisses e os seus companheiros teriam sido surpreendidos por uma tempestade junto a Gibraltar, franqueado as Colunas de Hércules e rumado a norte, tendo sido os primeiros gregos a avistar as costas de França e de Inglaterra. Nessa viagem, no fim da qual encontrou a morte, uma das paragens do herói teria sido no estuário do Tejo, pelo que o antigo topónimo Olissipo teria precisamente o significado de «onde Ulisses passou». Trata-se de um dos mitos preferidos dos poetas portugueses da Renascença, ao qual Camões consagrou várias estrofes d’Os Lusíadas, e cujas referências remontam a um autor romano, Caius Julius Solinus, a quem se devem muitas outras lendas. O assunto foi tratado por Dante, que na sua Divina Comédia se refere à tempestade, mas que não acreditava que Ulisses tivesse passado o estreito de Gibraltar. A descoberta de prováveis vestígios de um templo grego na colina junto ao Tejo fez com que os eruditos portugueses do séc. XIX recuperassem a lenda da fundação de Lisboa por Ulisses, pelo que a partir daí o mito passou a fazer parte da história da cidade. Contudo, que se conheça, não existe nenhuma estátua em Lisboa dedicada a Ulisses. Cit. a partir de http://insoniasoniricas.net
«Uma embaixada de olisiponenses, para esse efeito enviada, anunciou ao imperador Tibério que tinha sido visto e ouvido, numa gruta, tocando búzio, um Tritão cuja forma é bem conhecida. Também não é falsa a ideia que se tem das Nereides, com o corpo coberto poe escamas, mesmo na parte em que têm figura humana. De facto, também na mesma costa se avistou uma em agonia e cujo canto triste os habitantes ouviram ao longe».Plínio (N.H. 9,9). Versão comentada por Amilcar Guerra, Edições Colibri, 1995.

    • Filomena Barata «O Tejo dista do Douro duzentas milhas, ficando entre eles o Munda. O Tejo é famoso pelas suas areias auríferas. Distando dele cento e sessenta milhas, ergue-se o promontório Sacro, aproximadamente a meio da parte frontal da Hispânia». (Plínio H.N. 4, 115).
Refere Varrão que (...) entre o Anas e o ppromontório Sacro habitam os Lusitanos. Para lá do Tejo, as mais notáveis cidades da costa são Olisipo, célebre pelas éguas que concebem do favónio, Salácia, cognominada urbs Imperatoria, Meróbriga e, entre os promontórios Sacro e Cúneo, os ópidos se Ossónoba, Balsa e Mírtilis», (Plínio H.N. 4, 116).

  «Nas margens do rio fortificou Olisipo para ter mais livre o curso da navegação e o transporte dos víveres (...) O rio é muito rico em peixe e abundante de ostras» (Estrabão, Livro 30, I Parte), diz-nos Estrabão referindo-se a um dos momentos da conquista da Lusitânia por Décimo Júnio Bruto, em finais do século II a.C., quando encontra junto ao estuário do Tagus a antiga povoação de Olisipo, entreposto de Fenícios e Gregos.


A localização de Olisipo deve-se, muito possivelmente, ao facto de ser um local priveligiado do ponto de vista topográfico «ponto de confluência entre realidades mediterr<ânicas e atlântico-continentais, condicionando também decisivamente e nos seus mais diversos aspectos, a romanização da cidade e território envolvente.
A este facto se encontra, por exemplo, intimamente ligada a acção empreendida por Decimus Iunius Brutus, em 138 a.C. (...). O amuralhamento de Olisipo deve ser entendido como um dos fundamentais preparativos que antecederam as campanhas contra Lusitanos e Galaicos: na verdade, Brutus só fortificaria a cidade se lhe tivesse reconhecido prévia e inequívoca adesão à causa romana, e a considerasse seguramente fiel, inclusive numa eventual adversidade - ou seja, em conjuntura de derrota». José Cardim Ribeiro, Felicitas Iulia Olisipo, 1994, in Separata de Al-Madan,  admite, portanto que à época da campanha de Brutus já Olisipo fosse fortemente romanizada.

Vamos pois de braço dado para recordar esta Lisboa de tantas escalas, a das vielas tortuosas que às colinas se agarrou, a que foi cortada, aplanada desde que Roma a tomou, por terraças grandes onde o poder implantou os seus lugares amplos ou mesmo esmagadores. 

No lugar onde foi erguida a Sé veremos os restos de vias e habitações. Bem perto, os restos do Teatro Romano.
Foram primeiro ocupadas as zonas altas, com os fora e os templos, os teatros onde se falava latim.
 
 «O teatro romano da cidade de Olisipo foi edificado nos inícios do séc. I, possivelmente em época do Imperador Augusto. Apesar de não existir qualquer inscrição que nos confirme esta cronologia, existem indícios suficientes para que seja considerada segura.   Em contrapartida, encontra-se epigraficamente documentada a remodelação do teatro ocorrida em 57 d.C., comprovada pela inscrição do muro do proscaenium que refere as obras de renovação dessa mesma estrutura, bem como da orchaestra, custeadas pelo seviro augustal Caius Heius Primus. Este tipo de financiamento de obras públicas, que é antes de mais um acto de propaganda para quem as custeia, integra-se nas correntes beneméritas habituais por todo o Império, tendo em Olisipo atingido o auge na época julio-cláudia.

A Descoberta   O Teatro romano foi descoberto em 1798, na fase de reconstrução da cidade após o terramoto de 1755. Tradicionalmente deve-se ao arquitecto italiano Francisco Xavier Fabri a sua descoberta. Apesar dos seus esforços, novos edifícios foram construídos sobre as ruínas, tendo progressivamente sido esquecida a memória de ali ter existido um teatro romano».

Nas suas colinas e ruas há lápides que nos falam de tribunos e de deuses, a exemplo das da  Travessa do Almada que aí marcaram o tempo, a crença e o poder.



 «Quando da construção de um prédio pombalino na Travessa do Almada, conhecido justamente como "prédio do Almada", foram descobertas quatro lápides contendo inscrições latinas, duas das quais dedicadas aos deuses romanos Mercúrio e Cíbele. As lápides foram mantidas no local, integradas na fachada lateral do edifício, onde se encontram actualmente. Lápide e por um troço de coluna e pequeno pedestal, e nela se lê DEVM MATR / T. LICINIVS / AMARANTIVS / V. S. L. M, ou Tito Licínio Amarantio por voto dedicou à mãe dos deuses».

 


 Lápide e por um troço de coluna e pequeno pedestal, e nela se lê DEVM MATR / T. LICINIVS / AMARANTIVS / V. S. L. M, ou Tito Licínio Amarantio por voto dedicou à mãe dos deuses
Fotografias: Portugal Romano Mas lá em baixo pontuava a zona industrial, as fábricas de salda de peixe, e o ancoradouro que as escavações em curso nos permitem ver como Olisipo fervilhava de comércio, dando-lhe, desde remotas alturas, uma relação com o mar.

 «Os testemunhos do Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros foram postos a descoberto na sequência de trabalhos de remodelação num edifício pombalino, para servir de novas instalações ao BCP (Banco Comercial Português).

 
«Reconstituição hipotética do complexo industrial»
  ***   As intervenções arqueológicas, efectuadas por técnicos afectos ao ex-IPPAR (Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico), foram financiadas em grande parte por aquela instituição bancária. A recuperação das estruturas e vestígios arqueológicos encontrados nas caves do edifício, e a sua adaptação por meios modernos a espaço museológico, constituem um caso exemplar, a seguir em futuras obras na baixa lisboeta (e não só) pois que esta área da cidade mantém ainda escondidos muitos dos segredos do seu passado. A área ocupada pelo Núcleo abrange cerca1000 m², ou seja, o equivalente à largura do quarteirão pombalino e metade do seu comprimento, e nela pode ser feita quase de forma ininterrupta uma viagem no tempo desde a época ibero-púnica até à época pombalina».

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